AMANDA ABRAMOVICH respira fundo e se alegra consigo mesma, pois está à frente de toda a plateia e sorri satisfeita por ter finalmente conseguido alcançar a glória tão cedo, olha para a galeria à sua esquerda e vê seu pai que acena confiantemente com a cabeça e com o olhar fixo para ela demonstrando confiança que ela precisava naquele momento.
Ela sabia o quanto era importante a presença dele ali, seu trabalho impediu que participasse de muita coisa, mas ele se programou para que pelo menos no primeiro dia estivesse e participasse da noite mais especial e inesquecível de sua vida, tudo estava planejado desde o começo para aquela apresentação que seria a primeira de toda a sua vida.
Amanda admirou por um instante a beleza do teatro, muitas pessoas talentosas haviam passado por ali e ela seria mais uma que tinha gravado seu nome na história da música clássica russa, mas aquilo de certa forma a deixou triste porque não queria ser mais uma, ela sempre se sentiu única e era assim que iria encarar a sua carreira na música clássica, não seria uma nova Paganini ou um novo André Rieu, seria a mais espetacular violinista russa que aquele mundo já viu e sua longa jornada começava naquela noite.
O TEATRO DE DRAMA da Academia Estatal Russa Pushkin foi construído para a trupe imperial de Petersburgo (a trupe imperial foi fundada em 1756), foi aberto em 12 de setembro de 1832.
Desde 1832, o teatro tem ocupado um edifício de estilo Império que foi projetado por Karl Rossi. Foi construído entre 1828 e 1832 na Praça Alexandrinsky, agora Praça Ostrovsky, que está situado na Nevsky Prospekt, entre a Biblioteca Nacional da Rússia e o Palácio Anitchkov.
O teatro e a praça foram nomeados em homenagem à Imperatriz consorte Alexandra Feodorovna. O edifício faz parte do Patrimônio Mundial da UNESCO Centro Histórico de São Petersburgo e Conjuntos Monumentais Relacionados.
Era um dos muitos teatros da trupe imperial. Dramas, óperas, e balés estavam no palco. Somente nos anos 1880, o teatro se tornou de temática dramática e trágica.
As estreias de numerosas peças russas foram realizadas no palco do Alexandrinsky, incluindo peças de Alexandr Griboiedov, Alexander Ostrovsky e Anton Tchekhov. Os diretores famosos que encenaram o trabalho no teatro incluem Vsevolod Meyerhold, Grigori Kozintsev, Georgy Tovstonogov, e Nikolay Akimov.
ALGUÉM CHEGA POR TRÁS de Ivan Abramovich, pai de Amanda, e diz algo em seu ouvido, e rejeita gentilmente qualquer intervenção naquele momento, para ele, a estreia de sua única filha em um dos teatros mais respeitas do mundo era mais importante do que qualquer coisa que existisse no mundo.
Hoje o trabalho pode esperar...
O emissário diz que irá retransmitir a mensagem e sai sem fazer nenhum barulho.
Ivan havia dedicado a sua vida ao Exército Vermelho, o KGB e agora como chefe da SVR, mesmo a sua mentora, África de las Heras, já havia-o orientado que de vez em quando precisava se desligar do serviço, pois uma mente tranquila enxergava coisas que durante um furacão eram essenciais enxergar.
Naquele momento a coisa mais importante no mundo era a apresentação de sua filha, ele havia dedicado a sua vida ao país e estava prestes a se aposentar e começar sua carreira na política, mesmo ele sendo um legítimo representando da velha guarda soviética, ainda era visto com bons olhos pela sociedade.
AMANDA AJUSTA SUAVEMENTE o violino entre seu ombro e seu queixo, desanuvia sua mente de qualquer distração que tire a sua concentração e o silêncio absoluto da plateia que estava ali para vê-la ajudava, ela estava completamente compenetrada em sua música, eram um só naquele momento.
Seu pai sempre a ensinara que seu potencial máximo em qualquer coisa na vida era a concentração, se estivesse focada, com a respiração certa enxergaria coisas que nenhuma outra pessoa enxergaria na mesma situação.
Amanda faz o sinal para o maestro que bateu a batuta, os músicos se posicionaram e ele dá o sinal contando até três e começa a regência no mesmo instante que ela começa a tocar.
O tempo estava perfeito e o clima foi favorável para tudo o que aconteceria naquele instante.
NO GABINETE DE IVAN começa uma pequena e quase imperceptível luta entre os seguranças e um indivíduo mata os dois com uma pistola com um silenciador e logo em seguida mata Ivan que, por mais que fosse o agente de campo do KGB mais experiente que tinham, ninguém poderia sonhar que algo daquele tipo pudesse acontecer, algo bem parecido com o que aconteceu com o décimo sexto presidente americano Abraham Lincoln.
O ASSASSINO OLHA para seu assistente que confirma a morte dos seguranças do gabinete.
— Alguém notou alguma coisa?
— Está limpo, todos estão prestando atenção na apresentação na garota.
O assistente sorri satisfeito.
— Então vamos embora antes que alguém perceba.
AMANDA TERMINA a música ainda extasiada de emoção, era a sua primeira vez e ardentemente queria fazer aquilo pelo resto de sua vida, seu coração pulava de alegria e emoção em seu peito, tudo estava perfeito, principalmente sabendo que seu pai estava vendo.
Ela olha para o gabinete onde seu pai estava sentado e não o vê e não queria imaginar nada antecipadamente, ele havia prometido que não teria nada relacionado ao seu trabalho, ela o perdoou durante toda a vida e continuaria perdoando pelo resto que vivessem, mas aquele dia era exclusivamente dela e ele não poderia estragar aquele momento só porque o país estava em perigo.
Ela agradece à plateia da forma tradicional conforme o protocolo exigia, abaixando levemente o tronco e ficou longos cinco segundos sentindo e experimentando a energia que os aplausos fervorosos transmitiam a ela.
Se há sensação melhor do que esta eu desconheço...
Quando ela percebe que há algo de errado no lugar em que seu pai está, sai correndo em sua direção, ajoelhou-se ao seu lado e chora como nunca chorou em toda a sua vida, ela já havia perdido a mãe, seus dois irmãos e agora o pai...
E não tinha mais ninguém na vida em quem pudesse confiar.
O ASSASSINO AJEITA a gravata borboleta, olha para trás e vê a movimentação em torno de Ivan e sorri satisfeito por ter finalmente acabado com seu grande inimigo e sai tranquilamente do teatro como se a vida estivesse começando a partir daquele momento.
AMANDA TIRA UM ESPELHO de sua bolsa e dá uma leve retocada em sua maquiagem e vê as pessoas se levantando para o desembarque, um homem vestido de forma muito elegante e razoavelmente bonito olha para ela e lhe direciona um sorriso convidativo, mas a expressão de Amanda era fria como o gelo e o rapaz logo percebeu que não teria absolutamente nada com ela.O avião estava taxiando na pista do Aeroporto Internacional da Cidade do México, também conhecido como Aeroporto Benito Juárez, em homenagem ao ex presidente homônimo cinco vezes eleito, o primeiro a não ter passado militar e o primeiro de origem indígena a assumir um país ocidental em mais de trezentos anos.Amanda pega sua pequena bolsa acima do banco e caminha elegantemente até a saída e desce do avião e recebe uma saraivada de calor do local e retira a sua blusa visivelmente incomodada com o calor.Esse
ANDREY ASAYEV ACENDEU um cigarro e baforou para cima tentando imaginar tudo o que estava acontecendo na agência.Aqueles miseráveis quase me mataram...Ele não gostara da forma como tinham feito o contato, tinha sido criado para que acordos fossem respeitados, mas quando se tratava com os russos era como brincar de roleta-russa com a arma totalmente carregada e esperar um milagre para que a munição falhasse e não um golpe de sorte.— Senhor Andrey, creio que a pessoa que o senhor está esperando acabou de chegar.Ele assentiu e apagou o cigarro, quando o viu chegar, se levantou e estendeu a mão para cumprimentá-lo.— Bom vê-lo ainda com vida, Andrey.— Vamos torcer para que continuemos assim.O homem sorriu e se sentou.— Você tem alguma preferência ou posso escolher algo para você?— Desde que seja
AMANDA ENTRA, tira a roupa, abre o chuveiro e deixa no gelado, ela precisava se lembrar um pouco do frio da sua terra, colocou uma música clássica em seu celular para tocar – pois ela não ouvia outro gênero, para ela não existia outro tipo de música além da clássica, no máximo era poluição sonora, música mesmo era Bach, Mozart, Beethoven, Paganini e outros do mesmo gênero – e entra debaixo do chuveiro e deixa a água correr por um longo tempo.Seu treino havia sido árduo, precisava estar pronta na metade do tempo que geralmente as pessoas demoram para ter uma ideia básica de como seriam as missões, mas ela só tinha uma única missão, não era o que queria para a vida dela, só queria matar Andrey e consumar sua vingança...Nada mais... Nada menos...— Pai, eu juro que isso não
SERGEI ISINBAYEV era considerado um dos últimos românticos na agência, seu sonho desde criança era ser um agente da KGB e tinha estudado o máximo que alguém poderia estudar, se tornou um exímio atleta olímpico ganhando diversas medalhas para ganhar pontos e no dia em que foi convocado era a última semana, o comunismo estava acabando, assim como o seu grande sonho, mas ainda haviam pessoas que pensavam como ele:Você pode mudar o nome, mas a essência do que ela representava estaria sempre presente em suas vidas...E ser treinado por Ivan que tinha sido treinado por África era a maior prova de que aquele sonho estaria longe demais de acabar, assim como o comunismo, o fato do mundo achar que tinha acabado, nunca acabou de verdade, eles mudaram o nome, mas a vida continuava a mesma para todos.Sergei nasceu no subúrbio de Liubertsy, cidade fronteiriça de Moscou e a
AMANDA SAI DO CHUVEIRO, pega a toalha e começa a se enxugar, quando ela sai do banheiro e se assusta com a presença de seu chefe.— O que está fazendo aqui? – Diz ela de forma indiferente à presença de seu chefe e amigo pessoal de seu pai, o que para ela era o mesmo que nada.— Só me certificando que tudo sairá bem.Amanda vira os olhos impacientes para cima enquanto coloca a roupa.— Um tanto quanto desnecessário, não acha?— Depende do ponto de vista, querida, apenas mantenho o protocolo ativo enquanto estivermos nesta missão.— É protocolo ficar olhando mulheres nuas?— Se eu gostasse seria.Amanda não disse nada quanto àquela revelação, ela sabia que poderia ser um truque, ainda mais sabendo que ser gay na Rússia praticamente era um crime.— Não acha qu
ANDREY ESTAVA FUMANDO um charuto tranquilamente quando seu telefone tocou, ele não disse nada, apenas ouviu e após ouvido as informações, quase todas codificadas, desligou o celular e ficou pensando sobre o que diabos a CIA queria que ele se aproximasse de Amanda Abramovich.A viagem a Moscou tinha sido um grande sucesso, ele só tinha que enganar meia-dúzia de agentes arrogantes e foi exatamente o que fez, sua saída daquele inferno desde o começo era se aproximar de Ivan Abramovich e seu estoque infinito de saídas mirabolantes.Ivan e Andrey trabalharam juntos em meia-dúzia de missões estratégicas entre a CIA e a SVR.Andrey imaginava algo totalmente o contrário de Ivan, para ele todos os russos eram pessoas caladas, arrogantes, introvertidas e sem educação, mas Ivan era completamente o oposto, uma pessoa carismática, de sorriso fácil e com um m
AMANDA TIRA DO BOLSO um cartão com o nome do bar e o nome de quem ela deve procurar.— Eu gostaria de falar com o Petrik.— Ele aguarda a senhorita no privativo – apontou o garçom o canto do salão.Ela assente e o segue até o local.— Está ainda mais linda do que na apresentação em São Petersburgo, minha querida – disse enquanto cavalheirescamente beijava a sua mão, puxou a cadeira para que ela se acomodasse.Amanda dá um sorriso mordendo os lábios, ela tinha visivelmente um ponto fraco, bastava elogiá-la que quebrava o gelo do momento.— Obrigada!— Vou te mostrar as nossas instalações enquanto fica pronto seu almoço, gostaria de comer algo específico ou fica a escolha por minha conta?— Pode escolher.Ele assentiu e fez sinal para o garçom que enten
AMANDA SAI do restaurante perplexa por ter ficado cara-a-cara com o assassino de seu pai quando começa a atravessar a rua sem prestar a atenção e é puxada por Andrey com um carro parando quase em cima dela.— SAI DA RUA, SUA MALUCA – gritou o motorista que logo em seguida engatou marcha e saiu cantando pneu de raiva.Amanda olha para trás para ver quem havia sido seu herói e quase beija Andrey— Calma, gata… não precisa me agradecer, “ainda”.— Desculpa… eu…Ela tenta se desvencilhar de Andrey, mas ele a está segurando firmemente pelo pulso, ela só olha mal-encarada para a sua mão e em seguida para ele.— Desculpa… força do hábito.Ele solta o seu pulso.— Maus hábitos pelo jeito.— Talvez, mas… existe uma forma de corrigir isso?—