AMANDA TIRA UM ESPELHO de sua bolsa e dá uma leve retocada em sua maquiagem e vê as pessoas se levantando para o desembarque, um homem vestido de forma muito elegante e razoavelmente bonito olha para ela e lhe direciona um sorriso convidativo, mas a expressão de Amanda era fria como o gelo e o rapaz logo percebeu que não teria absolutamente nada com ela.
O avião estava taxiando na pista do Aeroporto Internacional da Cidade do México, também conhecido como Aeroporto Benito Juárez, em homenagem ao ex presidente homônimo cinco vezes eleito, o primeiro a não ter passado militar e o primeiro de origem indígena a assumir um país ocidental em mais de trezentos anos.
Amanda pega sua pequena bolsa acima do banco e caminha elegantemente até a saída e desce do avião e recebe uma saraivada de calor do local e retira a sua blusa visivelmente incomodada com o calor.
Esse filho da puta não tinha um lugar mais quente do que esse para vir se esconder não? Tipo o inferno...
— Este lugar é sempre tão quente assim?
Não... o lugar é que você veio é que é sempre frio...
A aeromoça sorriu gentilmente para cumprir os protocolos da empresa.
— É mais fácil se acostumar com o calor tropical do México que com o frio da Rússia, senhora.
Amanda sorri devolvendo-lhe a gentileza.
— Espero que sim...
A aeromoça não sabia porque, mas o sorriso da garota lhe arrepiou a espinha dorsal, era a primeira vez que sentia medo em ver alguém sorrir.
AMANDA ENTREGA os documentos para o policial federal no aeroporto que analisa, olha pare ela para conferir se é a mesma pessoa e se espanta com a frieza no olhar da garota, vê que está tudo em ordem:
— Muito obrigado e seja bem-vinda ao México.
Ele percebe que ela está carregando uma maleta que parece ser de um violino.
— A senhorita poderia por gentileza abrir a mala para conferirmos o que carrega.
Sem falar nada ela abre, ele confere que era realmente um violino.
Agradece e libera a sua passagem, ela olha para o teto, suspira fundo e vê uma pessoa segurando uma placa escrito:
AMANDA ABRAMOVICH
— Muito obrigada! – Disse secamente.
O policial assentiu e sorri de volta tentando ser galanteador, mas Amanda já estava andando sem olhar para trás.
— Seja bem-vinda à Cidade do México, senhorita Abramovich.
— Muito obrigada… como se chama?
— Nestor Olvera… eu que ficarei responsável pela estadia e deslocamento da senhorita enquanto estiver aqui na Cidade do México, o prefeito e o maestro mandam as mais sinceras desculpas por não poderem vir recepciona-la pessoalmente.
— Só preciso pegar minha bagagem, meu instrumento sempre carrego comigo e já poderemos seguir para o hotel.
— Pode ficar despreocupada, senhorita Abramovich que já colocaram no carro, o chefe não quer que a senhorita tenha nenhuma preocupação para poder se apresentar na semana que vem nas melhores condições possíveis, estão todos ansiosos por conhecê-la.
— Estou muito ansiosa também.
— Tenho certeza que sim, vi alguns vídeos da senhorita tocando e é muito talentosa.
Ela sorri agradecida, nunca negou que adorava ser elogiada, mesmo alguém de baixa renda poderia fazê-la imensamente feliz ao elogiá-la.
— Muito obrigada, senhor Olvera, é muito gentil da sua parte.
— Pode me chamar de Nestor se quiser, é assim que todos me chamam.
— Claro, Nestor, sem problemas algum.
Eles caminharam tranquilamente pelo hall do aeroporto e saem, Nestor abre a porta traseira do carro e ela entra.
— A senhorita tem algum lugar que queira ir ou conhecer antes de irmos ao hotel?
— Tem algum lugar específico que você me recomendaria?
— Se você gosta de futebol, tem o Estádio Azteca, onde estamos realizando no momento as eliminatórias para a Copa do Mundo, conhecida como CONCACAF.
Ela odiava futebol...
Amanda parecia indiferente com aquela informação, apesar de ser notificada quanto à possibilidade de ter que tocar no local.
— Em meu país não temos uma fixação muito grande por futebol.
— Mas a última Copa do Mundo foi lá…
— A próxima copa será no Qatar, quantos clubes de lá você já ouviu falar por aí?
— Não muitos – ele ri meio sem jeito – a Rússia deve ser um país incrível – disse mudando o rumo da conversa.
— Se você gosta de gelo, vodca, jogar xadrez e saber que vencemos Napoleão e Hitler com a mesma estratégia estapafúrdia, realmente é um país incrível…
— Não sabia que vocês já enfrentaram esse tipo de ameaça.
— Se algum dia conhecer a Praça Vermelha em Moscou, enterraram os canhões de Napoleão lá, é um excelente ponto turístico.
O carro parou em um semáforo e ela viu na esquina um homem tocando violino com o case do instrumento aberto no chão, tinha apenas algumas poucas moedas e três notas que ela imaginou serem locais, e se lembrou de seu pai a acompanhando em cada aula, aos ensaios… e também a morte em seus braços...
— Senhorita Abramovich… senhorita…
— Desculpe, o senhor disse algo?
— Chegamos ao hotel
— Ah! Obrigada… acho que estava sonhando acordada.
— Espero que eles sejam bons e se realizem, então…
— Ainda há um longo caminho para isso, mas estamos trabalhando bastante para isso acontecer...
Nestor saiu, abriu a porta e Amanda saiu sendo auxiliada por ele.
— Pode deixar que carregaremos a sua bagagem até o quarto.
Amanda foi até a recepção e o gerente a recepcionou.
— Estamos muito felizes pela presença da senhorita em nosso país.
— Muito obrigada… será que vocês poderiam levar meu almoço no quarto?
— Claro que sim, tudo o que a senhorita desejar será providenciado, temos ordens expressas para fazermos a estadia da senhorita a mais confortável possível.
Amanda Sorri e entra no elevador.
ANDREY ASAYEV ACENDEU um cigarro e baforou para cima tentando imaginar tudo o que estava acontecendo na agência.Aqueles miseráveis quase me mataram...Ele não gostara da forma como tinham feito o contato, tinha sido criado para que acordos fossem respeitados, mas quando se tratava com os russos era como brincar de roleta-russa com a arma totalmente carregada e esperar um milagre para que a munição falhasse e não um golpe de sorte.— Senhor Andrey, creio que a pessoa que o senhor está esperando acabou de chegar.Ele assentiu e apagou o cigarro, quando o viu chegar, se levantou e estendeu a mão para cumprimentá-lo.— Bom vê-lo ainda com vida, Andrey.— Vamos torcer para que continuemos assim.O homem sorriu e se sentou.— Você tem alguma preferência ou posso escolher algo para você?— Desde que seja
AMANDA ENTRA, tira a roupa, abre o chuveiro e deixa no gelado, ela precisava se lembrar um pouco do frio da sua terra, colocou uma música clássica em seu celular para tocar – pois ela não ouvia outro gênero, para ela não existia outro tipo de música além da clássica, no máximo era poluição sonora, música mesmo era Bach, Mozart, Beethoven, Paganini e outros do mesmo gênero – e entra debaixo do chuveiro e deixa a água correr por um longo tempo.Seu treino havia sido árduo, precisava estar pronta na metade do tempo que geralmente as pessoas demoram para ter uma ideia básica de como seriam as missões, mas ela só tinha uma única missão, não era o que queria para a vida dela, só queria matar Andrey e consumar sua vingança...Nada mais... Nada menos...— Pai, eu juro que isso não
SERGEI ISINBAYEV era considerado um dos últimos românticos na agência, seu sonho desde criança era ser um agente da KGB e tinha estudado o máximo que alguém poderia estudar, se tornou um exímio atleta olímpico ganhando diversas medalhas para ganhar pontos e no dia em que foi convocado era a última semana, o comunismo estava acabando, assim como o seu grande sonho, mas ainda haviam pessoas que pensavam como ele:Você pode mudar o nome, mas a essência do que ela representava estaria sempre presente em suas vidas...E ser treinado por Ivan que tinha sido treinado por África era a maior prova de que aquele sonho estaria longe demais de acabar, assim como o comunismo, o fato do mundo achar que tinha acabado, nunca acabou de verdade, eles mudaram o nome, mas a vida continuava a mesma para todos.Sergei nasceu no subúrbio de Liubertsy, cidade fronteiriça de Moscou e a
AMANDA SAI DO CHUVEIRO, pega a toalha e começa a se enxugar, quando ela sai do banheiro e se assusta com a presença de seu chefe.— O que está fazendo aqui? – Diz ela de forma indiferente à presença de seu chefe e amigo pessoal de seu pai, o que para ela era o mesmo que nada.— Só me certificando que tudo sairá bem.Amanda vira os olhos impacientes para cima enquanto coloca a roupa.— Um tanto quanto desnecessário, não acha?— Depende do ponto de vista, querida, apenas mantenho o protocolo ativo enquanto estivermos nesta missão.— É protocolo ficar olhando mulheres nuas?— Se eu gostasse seria.Amanda não disse nada quanto àquela revelação, ela sabia que poderia ser um truque, ainda mais sabendo que ser gay na Rússia praticamente era um crime.— Não acha qu
ANDREY ESTAVA FUMANDO um charuto tranquilamente quando seu telefone tocou, ele não disse nada, apenas ouviu e após ouvido as informações, quase todas codificadas, desligou o celular e ficou pensando sobre o que diabos a CIA queria que ele se aproximasse de Amanda Abramovich.A viagem a Moscou tinha sido um grande sucesso, ele só tinha que enganar meia-dúzia de agentes arrogantes e foi exatamente o que fez, sua saída daquele inferno desde o começo era se aproximar de Ivan Abramovich e seu estoque infinito de saídas mirabolantes.Ivan e Andrey trabalharam juntos em meia-dúzia de missões estratégicas entre a CIA e a SVR.Andrey imaginava algo totalmente o contrário de Ivan, para ele todos os russos eram pessoas caladas, arrogantes, introvertidas e sem educação, mas Ivan era completamente o oposto, uma pessoa carismática, de sorriso fácil e com um m
AMANDA TIRA DO BOLSO um cartão com o nome do bar e o nome de quem ela deve procurar.— Eu gostaria de falar com o Petrik.— Ele aguarda a senhorita no privativo – apontou o garçom o canto do salão.Ela assente e o segue até o local.— Está ainda mais linda do que na apresentação em São Petersburgo, minha querida – disse enquanto cavalheirescamente beijava a sua mão, puxou a cadeira para que ela se acomodasse.Amanda dá um sorriso mordendo os lábios, ela tinha visivelmente um ponto fraco, bastava elogiá-la que quebrava o gelo do momento.— Obrigada!— Vou te mostrar as nossas instalações enquanto fica pronto seu almoço, gostaria de comer algo específico ou fica a escolha por minha conta?— Pode escolher.Ele assentiu e fez sinal para o garçom que enten
AMANDA SAI do restaurante perplexa por ter ficado cara-a-cara com o assassino de seu pai quando começa a atravessar a rua sem prestar a atenção e é puxada por Andrey com um carro parando quase em cima dela.— SAI DA RUA, SUA MALUCA – gritou o motorista que logo em seguida engatou marcha e saiu cantando pneu de raiva.Amanda olha para trás para ver quem havia sido seu herói e quase beija Andrey— Calma, gata… não precisa me agradecer, “ainda”.— Desculpa… eu…Ela tenta se desvencilhar de Andrey, mas ele a está segurando firmemente pelo pulso, ela só olha mal-encarada para a sua mão e em seguida para ele.— Desculpa… força do hábito.Ele solta o seu pulso.— Maus hábitos pelo jeito.— Talvez, mas… existe uma forma de corrigir isso?—
AMANDA PEGA o telefone e liga para Petrik.— Sim… ele já dormiu, podem procurar.Ela desliga o telefone e fica olhando para ele, chega perto e afaga seu rosto— A qualquer momento será seu último suspiro, e eu estarei lá para ver isso…Ela dá um beijo em sua testa e fica esperando notícias de Petrik que invade o quarto de Andrey.— ELA CONSEGUIU, podemos entrar já.O companheiro assentiu, eles saíram do carro e entraram no prédio.AMANDA ESTÁ ESPERANDO impacientemente quando o telefone toca.— Pronto… como assim não está aí? Eu cumpri com a minha parte no acordo… mas… O telefone foi desligado abruptamente.Amanda olha para Andrey com raiva no olhar...— A sua hora vai chegar, desgraçado...Amanda percebe o