ANDREY ASAYEV ACENDEU um cigarro e baforou para cima tentando imaginar tudo o que estava acontecendo na agência.
Aqueles miseráveis quase me mataram...
Ele não gostara da forma como tinham feito o contato, tinha sido criado para que acordos fossem respeitados, mas quando se tratava com os russos era como brincar de roleta-russa com a arma totalmente carregada e esperar um milagre para que a munição falhasse e não um golpe de sorte.
— Senhor Andrey, creio que a pessoa que o senhor está esperando acabou de chegar.
Ele assentiu e apagou o cigarro, quando o viu chegar, se levantou e estendeu a mão para cumprimentá-lo.
— Bom vê-lo ainda com vida, Andrey.
— Vamos torcer para que continuemos assim.
O homem sorriu e se sentou.
— Você tem alguma preferência ou posso escolher algo para você?
— Desde que seja acompanhado por vodca.
— Esse é o menor dos seus problemas.
O jantar chegou e ambos comeram sem tocar no assunto que estavam ali para tratar, a hora da refeição era sagrada e não deveria ser interrompida, da mesma forma que uma negociação.
— A comida estava ótima.
— Tenho certeza que sim.
— Trouxe o que combinamos?
— Primeiro preciso saber se o que pedi será atendido.
— Quanto a isso não haverá problema algum.
Andrey estendeu um pen drive que o homem espetou em seu tablet e viu as informações.
— Acredito que tenha uma cópia disso tudo, não é mesmo?
— Está no banco, caso não cumpram o prometido, venderei a outro interessado.
— E se nós cumprirmos o prometido?
— Ficará no banco como salvaguarda da minha vida, só tenho interesse pelo dinheiro e poder aproveitar cada centavo, afinal, há a possibilidade de quererem me matar, então há um contato com o código no banco e entregará à CIA no dia seguinte.
O homem assentiu, pegou o celular, digitou alguns números e o celular de Andrey tocou mostrando que a transferência havia sido concluída com sucesso.
— É muito bom poder negociar com vocês.
— E os russos, o que farão com você?
— Não precisa se preocupar, existem muitos lugares no mundo em que eles são odiados e adorariam saber algumas coisinhas que sei.
ANDREY PAROU e entrou em uma loja que vendia charutos cubanos.
— Quero esta caixa.
A atendente ficou surpresa, aquela era um Gurkha Black Dragon, os mais caros do mundo.
— Custa Mil e duzentos dólares por charuto.
Andrey sorriu.
— Vou levar a caixa.
A atendente receberia uma comissão maior que o próprio salário naquele dia.
ANDREY ENTROU em seu apartamento e as luzes se acenderam automaticamente, ele jogou as chaves no aparador e caiu exausto no sofá.
Agora sim sou um homem rico...
Mas ele sabia que aquela riqueza poderia lhe custar a vida, precisava cuidar de todos os detalhes para que os russos não armassem algo contra ele.
Andrey abriu uma caixa em cima da mesa, era um legítimo Gurkha Black Dragon, ele tinha tantas lembranças com aquilo.
— Queria muito que estivesse aqui se deliciando com este presente, meu amigo... obrigado por tudo.
Andrey pegou seu cortador de charutos e preparou tudo, acendeu e deu uma tragada.
Ele tinha razão... o aroma disso aqui é inigualável...
Andrey olhou para seu celular e sorriu satisfeito sabendo que poderia sumir no mapa para algum paraíso, mas perderia boa parte da emoção do que a vida ainda poderia lhe proporcionar, Ivan sempre o orientava que a vida de espião era a mais emocionante que um ser humano poderia sonhar.
Se pelo menos Ivan ainda estivesse aqui daria para negociar com eles...
Mas ele sabia melhor do que ninguém que Ivan não voltaria do mundo dos mortos, ele sabia muito bem quem havia apertado o gatilho...
AMANDA ENTRA, tira a roupa, abre o chuveiro e deixa no gelado, ela precisava se lembrar um pouco do frio da sua terra, colocou uma música clássica em seu celular para tocar – pois ela não ouvia outro gênero, para ela não existia outro tipo de música além da clássica, no máximo era poluição sonora, música mesmo era Bach, Mozart, Beethoven, Paganini e outros do mesmo gênero – e entra debaixo do chuveiro e deixa a água correr por um longo tempo.Seu treino havia sido árduo, precisava estar pronta na metade do tempo que geralmente as pessoas demoram para ter uma ideia básica de como seriam as missões, mas ela só tinha uma única missão, não era o que queria para a vida dela, só queria matar Andrey e consumar sua vingança...Nada mais... Nada menos...— Pai, eu juro que isso não
SERGEI ISINBAYEV era considerado um dos últimos românticos na agência, seu sonho desde criança era ser um agente da KGB e tinha estudado o máximo que alguém poderia estudar, se tornou um exímio atleta olímpico ganhando diversas medalhas para ganhar pontos e no dia em que foi convocado era a última semana, o comunismo estava acabando, assim como o seu grande sonho, mas ainda haviam pessoas que pensavam como ele:Você pode mudar o nome, mas a essência do que ela representava estaria sempre presente em suas vidas...E ser treinado por Ivan que tinha sido treinado por África era a maior prova de que aquele sonho estaria longe demais de acabar, assim como o comunismo, o fato do mundo achar que tinha acabado, nunca acabou de verdade, eles mudaram o nome, mas a vida continuava a mesma para todos.Sergei nasceu no subúrbio de Liubertsy, cidade fronteiriça de Moscou e a
AMANDA SAI DO CHUVEIRO, pega a toalha e começa a se enxugar, quando ela sai do banheiro e se assusta com a presença de seu chefe.— O que está fazendo aqui? – Diz ela de forma indiferente à presença de seu chefe e amigo pessoal de seu pai, o que para ela era o mesmo que nada.— Só me certificando que tudo sairá bem.Amanda vira os olhos impacientes para cima enquanto coloca a roupa.— Um tanto quanto desnecessário, não acha?— Depende do ponto de vista, querida, apenas mantenho o protocolo ativo enquanto estivermos nesta missão.— É protocolo ficar olhando mulheres nuas?— Se eu gostasse seria.Amanda não disse nada quanto àquela revelação, ela sabia que poderia ser um truque, ainda mais sabendo que ser gay na Rússia praticamente era um crime.— Não acha qu
ANDREY ESTAVA FUMANDO um charuto tranquilamente quando seu telefone tocou, ele não disse nada, apenas ouviu e após ouvido as informações, quase todas codificadas, desligou o celular e ficou pensando sobre o que diabos a CIA queria que ele se aproximasse de Amanda Abramovich.A viagem a Moscou tinha sido um grande sucesso, ele só tinha que enganar meia-dúzia de agentes arrogantes e foi exatamente o que fez, sua saída daquele inferno desde o começo era se aproximar de Ivan Abramovich e seu estoque infinito de saídas mirabolantes.Ivan e Andrey trabalharam juntos em meia-dúzia de missões estratégicas entre a CIA e a SVR.Andrey imaginava algo totalmente o contrário de Ivan, para ele todos os russos eram pessoas caladas, arrogantes, introvertidas e sem educação, mas Ivan era completamente o oposto, uma pessoa carismática, de sorriso fácil e com um m
AMANDA TIRA DO BOLSO um cartão com o nome do bar e o nome de quem ela deve procurar.— Eu gostaria de falar com o Petrik.— Ele aguarda a senhorita no privativo – apontou o garçom o canto do salão.Ela assente e o segue até o local.— Está ainda mais linda do que na apresentação em São Petersburgo, minha querida – disse enquanto cavalheirescamente beijava a sua mão, puxou a cadeira para que ela se acomodasse.Amanda dá um sorriso mordendo os lábios, ela tinha visivelmente um ponto fraco, bastava elogiá-la que quebrava o gelo do momento.— Obrigada!— Vou te mostrar as nossas instalações enquanto fica pronto seu almoço, gostaria de comer algo específico ou fica a escolha por minha conta?— Pode escolher.Ele assentiu e fez sinal para o garçom que enten
AMANDA SAI do restaurante perplexa por ter ficado cara-a-cara com o assassino de seu pai quando começa a atravessar a rua sem prestar a atenção e é puxada por Andrey com um carro parando quase em cima dela.— SAI DA RUA, SUA MALUCA – gritou o motorista que logo em seguida engatou marcha e saiu cantando pneu de raiva.Amanda olha para trás para ver quem havia sido seu herói e quase beija Andrey— Calma, gata… não precisa me agradecer, “ainda”.— Desculpa… eu…Ela tenta se desvencilhar de Andrey, mas ele a está segurando firmemente pelo pulso, ela só olha mal-encarada para a sua mão e em seguida para ele.— Desculpa… força do hábito.Ele solta o seu pulso.— Maus hábitos pelo jeito.— Talvez, mas… existe uma forma de corrigir isso?—
AMANDA PEGA o telefone e liga para Petrik.— Sim… ele já dormiu, podem procurar.Ela desliga o telefone e fica olhando para ele, chega perto e afaga seu rosto— A qualquer momento será seu último suspiro, e eu estarei lá para ver isso…Ela dá um beijo em sua testa e fica esperando notícias de Petrik que invade o quarto de Andrey.— ELA CONSEGUIU, podemos entrar já.O companheiro assentiu, eles saíram do carro e entraram no prédio.AMANDA ESTÁ ESPERANDO impacientemente quando o telefone toca.— Pronto… como assim não está aí? Eu cumpri com a minha parte no acordo… mas… O telefone foi desligado abruptamente.Amanda olha para Andrey com raiva no olhar...— A sua hora vai chegar, desgraçado...Amanda percebe o
ANDREY ENTRA em seu apartamento ainda um pouco grogue do que ele imaginou ser um sonífero potente que derrubaria até um cavalo e vê o quarto todo revirado, então pega o seu celular e percebe o que aconteceu.— Mas que puta, desgraçada...Seu telefone toca e ele não diz nada, apenas ouve a mensagem e desliga.Não sei o que está acontecendo, mas vou ter que descobrir o que esses desgraçados estão fazendo aqui...ANDREY INBAYEV nasceu na Macedônia e era filho de um renomado diplomata que estava na embaixada americana do país há muitos anos e cresceu viajando o mundo ao lado do pai que decidiu não o matricular em nenhuma escola formal, tinha alguns poucos professores particulares que davam o norte para ele e depois só fazia uma prova para passar de anos e se graduar.Esse tipo de vida cigana ao lado do pai trouxe a ele uma