Mulherzinha faladeira essa Eliza, mas confesso que ela despertou um lado meu que a muito eu não via
O de ser desafiado, se ela acha que será fácil ter a vaga está muito engana,irei transformar sua vida em um verdadeiro inferno,e se no final de tudo ela ainda estiver disposta a trabalhar lhe darei a vaga -No que está pensando?te conhecendo bem como conheço essa moça não terá boa vida por aqui_João começa a espalhar a palha pelo curral - Não estou pensando em nada, a faladeira queria uma oportunidade e eu dei, basta agora mostra ser capaz_guio minha cadeira para fora do curral - E eu tenho certeza que será bem difícil para ela provar isso, ou talvez suas intenções sejam outras, sejamos sinceros a mulher é um espetáculo, Maria que não nos ouça, mas a danada é muito bonita _ele ri - Não tenho intenção alguma com ela, ela não faz o meu tipo_paro quando vejo ela se aproximando Olho em meu relógio e constato que ela não se atrasou nem um minuto, chegou na hora combinada -Fico feliz em saber que não faço seu tipo afinal estou aqui trabalhar, creio que prefira loiras dos olhos azuis_ela alfineta se referindo a sua prima - Minha vida particular não está em pauta,me acompanhe quero te mostrar os bois que serão os primeiros da lista em seus cuidados _aponto para uma fileira de bovinos que acaba de chegar Ela passa por mim e por um minuto admiro seu corpo, ela veste uma calça, jeans que se acentua em suas curvas com uma camisa branca de botões que dá um contraste incrível com seu tom de pele Os cachos estão presos em um coque bagunçado lhe deixando com uma aparência ainda mais jovem -Tem certeza que ela não faz seu tipo?_João diz em um tom que apenas eu ouça - Vá trabalhar e me deixe em paz, ou será você quem estará em teste por aqui _começo a observar o trabalho dela João b**e continência rindo da minha cara e sai indo cuidar dos seus serviços, ela lê atentamente o exame de cada animal, pois precisará fazer uma triagem com cada um deles antes de se juntarem aos outros no curral Ela faz carinho em cada um deles antes de aplicar a primeira dose do medicamento para a engorda dos bovinos Ela é carinhosa e gentil com elesmostrando que realmente ama o que faz e admito que isso é um ponto a seu favor, entretanto não será tão fácil conseguir a minha confiança Cada funcionário dessa fazenda passou por inúmeros testes até ter a minha confiança, depois de tudo o que aconteceu confiança é algo valioso para mim -Já estão todos devidamente vacinados agora é só o João dar a ração para eles_ela vem sorrindo tirando suas luvas - João hoje está muito ocupado, então pensei que você mesma poderia fazer isso_olho em seu olhos - Claro sem problemas, eu disse que posso fazer qualquer coisa _ela olha apreensiva para o saco de ração empilhado em um amontoado de sacos - Precisa chamar um dos peões para te ajudar, e provavelmente terá que fazer isso sempre já que a maioria das vezes os sacos estarão na pilha - Acredito que poderei chamar sempre que precisar, a menos que você me proiba_ela está irritada - Você mesma me disse que não é um homem, mas consegue fazer qualquer coisa _a provoco - Eu disse qualquer coisa que estivesse ao meu alcance e isso claramente não está, e também não está ao seu_ela diz ríspida olhando para a cadeira - Você está certa eu não consigo _dou lhe as costas guiando minha cadeira para longe dali Há muito tempo eu deixei de ser um homem completo, hoje sou apenas a parte de um E odeio quando alguém diz o que não quero ouvir, ouvir que não sou mais capaz de cuidar do meu gado é algo que me destrói -Espere senhor Montenegro, perdão pelo que eu disse eu preciso controlar a minha língua, já é a segunda vez que te ofendo, mas eu juro que não tive a intenção de ser tão grosseira_ela corre atrás de mim ofegante - Inácio, a ajude com o saco de ração e mostre-lhe tudo o que ainda precisa ser feito hoje_chamo um dos meus peões e saio sem nem menos olhar para ela Desço a rampa que leva para a casa grande, e no meio do caminho minha cadeira para de funcionar Bufo irritado sabendo que ficarei com dores nos braços já que a casa não fica tão perto Eu poderia chamar algum funcionário para me ajudar, mas não quero me sentir ainda mais inútil do que já me sinto agora -Meu filho você veio empurrando a cadeira sozinho?_Ana vem ao meu encontro com cara de quem quer puxar minha orelha - Eu já cheguei e é o que importa, vou para o escritório assinar uma papelada me prepare um suco por favor_sigo para meu escritório louco para tomar meu remédio de dor - Eu preciso ir até à cidade ver a minha irmã, ocê vai ficar bem sozinho?_ela vem atrás de mim - Sim, pode ir tranquila João estará por perto caso eu precise de algo - Vou deixar o seu jantar pronto e um lanchinho caso sinta fome na madrugada _ela me olha com carinho - Obrigado, agora preciso trabalhar pode se retirar por favor e não se esqueça do meu suco - Eu sei que está com dor, o seu remédio que fica aí na mesa acabou, vou trazer outro_ela pisca o olho para mim Assino uma papelada que não parecia ter fim e me despeço de uma Ana chorosa por me deixar sozinho -Ana é só por um dia, amanhã você já estará de volta e eu estarei bem aqui te esperando _beijo sua mão - Ai meu filho, depois do acidente eu sinto medo diariamente de te perder de novo_seus olhos estão preocupados - Ana, aquilo não vai se repetir nunca mais _digo para ela e também para mim Assim que ela sai subo para o meu quarto e tiro minhas roupas me preparando para entrar na banheira, a água está fria do jeito que gosto Tomo um relaxante muscular e deixo que as memórias mais uma vez inundem minha mente Eu penso nela todos os dias, penso em como seria ter ela aqui comigo,eu seria feliz como era antes, mas ao mesmo tempo, estaria iludido por suas mentiras -Por que você fez isso comigo?você acabou com a minha vida_aperto as bordas da banheira com força Uma abertura brusca na porta me tira das minhas lembranças, abro meus olhos encontrando Eliza -O que você está fazendo aqui?_pergunto furioso Ela não poderia ter chegado em piorar hora, sinto a raiva das lembranças ainda vivas em meu corpo -Eu procurei o senhor por toda a casa e chamei, mas ninguém respondeu,pensei que poderia ter acontecido algo_seus olhos estão assustados, mas ao mesmo tempo, curiosos - Sai daqui, saia da minha fazenda agora mesmo, invadir o meu espaço é algo que eu não posso aceitar_grito com ela Ela abre a porta e me dá as costas saindo em silêncio Ninguém nem mesmo Ana chegou a me ver tão vulnerável como agora, tento pegar a minha toalha, mas estou muito longe, forço meu corpo para fora da banheira e acabo caindo ao chãoNunca imaginei que já no meu primeiro dia trabalharia como uma condenadaO peão Inácio não me deu tempo nem para respirar, e sei bem que noventa por cento das coisas que fiz não eram minha funçãoMas se aquele arrogante pensa que vou desistir ele está muito enganado, se existe algo que não conheço nessa vida é me dar por vencidaChego no chalé com meus pés latejando e implorando para serem libertados, tiro minha bota e faço uma massagem generosa naqueles que me carregaram por todo o diaTiro minha roupa ficando apenas de lingerie e vou até à geladeira procurar algo para comer, ainda não me acostumei com toda a fartura que á nesse chalé, é tanta comida e bebida que daria para uma família de no mínimo quatro pessoas viverem por mais de um anoCozinho alguns legumes com carne e faço uma massa que ficará divina acompanhada de uma garrafa de vinho, e preciso colocar o orgulho de parte em relação à qualidade do que aquele ogro compra para os empregadosInácio me confessou que Montenegro é q
Sinto meu corpo ficar cada vez mais gelado, e só então me dou conta de que ainda estou no banheiroGuio minha cadeira para o quarto e vou até meu armário pegar algo para vestir, as palavras daquela faladeira ainda estão presentes em minha mente, e o fato dela talvez está certa é algo que me deixa loucoAdmito que as vezes não sou uma pessoa fácil de lhe dar, mas também não sou o monstro que ela pintou, ou sou?faz tanto tempo que deixei de me socializar com as pessoas que já não sei mais em que nível de mau humor estouFecho meus olhos e a imagem dela parada me olhando me deixa possesso, minha privacidade é algo que não aceito ser violadaOdeio ver nas pessoas o olhar que vi nela, olhar de pena de confusão como se quisessem me perguntar o que aconteceu comigoOlho para as cicatrizes em meu corpo,e as lembranças são muito mais dolorosas do que o modo como elas foram feitas,não há mais como ser a mesma pessoa de antes depois de tantos danosPor mais que eu tente viver nada me trará de vo
Esse homem só pode ter algum problema na cabeça isso sim, penso enquanto me dirijo para o escritório-Ei Inácio, será que eu fui contratada?por isso o patrão me mandou para cá?_uma esperança se acende em mim— Não, o patrão só não quer que os peão novo fique de zói no cê _ele abre a porta do escritórioOlho em volta e o lugar está até bem arrumado, não a muito o que se fazer-Eu não entendo, como assim de zói em mim?_faço aspas com as mãos ao enfatizar a palavra zói— Aqueles peão chegaram um pouco antes do cê, foram mandados por um amigo do patrão então ainda não sabemos se podemos confiar neles, é uma moça bonita todo cuidado é pouco _ele acena puxando a aba de seu chapéu e me deixado sozinhaVou levar o que ele disse como um conselho e ficar bem longe dos peões, eu preciso desse emprego e não quero arrumar mais problemas para mimEu estava decidida a ir embora, mas meia hora conversando com Jaque e ela me fez mudar de ideia, ela me fez ver que orgulho não enche barriga e nem paga a
Vez ou outra algum de seus cachos fazem cócegas em meu rostoSeu cheiro é incrível uma mistura de baunilha e morangos, estou acostumado com mulheres de perfumes caros e famosos, nunca imaginei que um creme de cabelo poderia ter um cheiro tão bom-Qual creme de cabelo você usa?_pergunto tentando prestar atenção por onde passamos— Há é uma mistura de dois cremes_ela os uni em um coque deixando-os longe de meu rosto— O cheiro é bom, muito bom_olho em seus olhos negros como a noite— Estão todos olhando para mim_ela olha em volta e depois abaixa a cabeça— Não, eles estão olhando para mim, não é todo dia que eles veem o patrão carregando alguém _olho para eles que logo param de me olhar e voltam a seu serviçoParo em frente a porta do chalé e espero que ela abra a porta, ela fica em pé com certa dificuldade, mas consegue abrir a porta-Obrigada por me ajudar, eu não conseguiria chegar aqui sozinha _um sorriso tímido brota em seus lábiosAs lembranças dela invadem a minha mente, ela sorr
Após dois dias pulando para todos os lados parecendo o saci, eu finalmente estou conseguindo andar, mesmo que ainda com certa dificuldade eu estou andandoNesses dois dias Montenegro simplesmente sumiu, ele não apareceu no escritório e não o vi na fazenda, algo está acontecendo, mas Ana não quer me contar, e também por não, ser algo que diz respeito a mim eu decido focar no trabalhoUm dos bezerros que nasceu na fazenda acabou perdendo a mãe durante o parto, senti o pesar de ver um animal morrer em minhas mãos, fiquei muito abalada, mas sei que faz parte da vida e irei vivenciar outros episódios como esse, e agora estou dedicando um pouco do meu tempo ao pobre filhotinho que está sozinho, ele logo terá que ir para o outro curral ficar com os outros filhotes-Ocê não pode ficar o tempo todo com ele, ele precisa se acostumar a ficar sozinho _José fala ao me ver fazendo carinho no animal— Eu sei, mas ele é tão frágil tem apenas um dia de vida e já vai ter que encarar tudo sozinho_passo
O que está acontecendo comigo?eu digo a mim mesmo que irei me manter longe delaMas é como se eu fosse o ferro e ela o ímã, quando dou por mim já estou perto dela, e com ela eu esqueço de todo o passado e volto a ser o Augusto de antes.Hoje eu não me tranco no quarto como faço diariamente, descido descer e jantar na mesa com Ana como eu fazia antigamente, ela nunca aceitou se sentar a mesa, mas sempre me fez companhia-Espero que você ainda não tenha guardado o meu jantar_guio minha cadeira até a mesa-À meu São Judas Tadeu, tô nem acreditando no que tô vendo, a comida tá quentinha no fogão, quer que eu traga ou faça o seu patro?_ela está feliz e faz questão de mostrar o quanto a agradou me ver ali— Quero que traga a comida e se sente comigo para comer _sorrio para ela— Pois hoje eu vou aceitar, eu tô tão feliz de vê ocê aqui que até vou me sentar com cê_ela corre até o fogão de lenha colocando a comida na louçaEm poucos minutos a mesa já está posta, ela não para de sorrir nem por
Acordo assustada sem saber direito onde estou, o cheiro amadeirado domina todo o ambiente me fazendo entender onde estou, estou no quarto dele em sua camaPasso a mão pelo lençol suave negros como a noite, e me dou conta de que nada que ele tenha ou use possui cores, tudo é preto ou branco e às vezes cinzaAs lembranças começam a vir em minha mente e me lembro do que aqueles homens tentaram fazer comigo, e só não aconteceu o pior por que Montenegro me salvouOlho para meus braços e as marcas estão por toda parte, sinto vontade de chorar ao imaginar o que iria acontecer comigo e onde eu estaria agoraOlho para frente e lá está ele, me observando com seus grandes olhos azuis-Se sente melhor?_ele cruza as mãos mantendo os cotovelos apoiados na cadeira— Sim, apenas a minha cabeça dói um pouco, eu não sei como agradecer pelo que fez por mim, eu poderia não estar aqui agora _um grande nó se forma em minha garganta— Eu nunca me perdoaria se algo acontecesse a você, eu sou o culpado não de
Ana se retira nos deixando a sós, ela passa por Eliza tocando sua mão e lhe dando um sorrisoBárbara não consegue esconder sua ira, seus olhos verdes estão escuros de raiva, sua mandíbula se contrai enquanto ela olha para Eliza-Isso é uma piada de mal gosto ou o quê?você ainda é meu marido _seu olhar é sério— Não, nós já nos separamos, você é que não aceita a nossa separação e me atormenta de todas as maneiras possíveis, mesmo que você pegue todo o meu dinheiro eu nunca voltaria para você, não depois de tudo o que fez comigo_digo amargo— Eu já disse várias vezes que eu não fiz nada com você, eu não sabia que aquela enfermeira estava te torturando _ela tenta fazer uma expressão de tristeza, mas falha miseravelmente— E eu volto a dizer que não acredito, diga logo o que você quer dessa vez, outro carro?ou mais um apartamento?_movo minha cadeira ainda segurando na mão de Eliza fazendo com que ela se sente ao meu lado— Eu não vou conversar com você na frente dela, o que aconteceu com