Esse homem só pode ter algum problema na cabeça isso sim, penso enquanto me dirijo para o escritório
-Ei Inácio, será que eu fui contratada?por isso o patrão me mandou para cá?_uma esperança se acende em mim — Não, o patrão só não quer que os peão novo fique de zói no cê _ele abre a porta do escritório Olho em volta e o lugar está até bem arrumado, não a muito o que se fazer -Eu não entendo, como assim de zói em mim?_faço aspas com as mãos ao enfatizar a palavra zói — Aqueles peão chegaram um pouco antes do cê, foram mandados por um amigo do patrão então ainda não sabemos se podemos confiar neles, é uma moça bonita todo cuidado é pouco _ele acena puxando a aba de seu chapéu e me deixado sozinha Vou levar o que ele disse como um conselho e ficar bem longe dos peões, eu preciso desse emprego e não quero arrumar mais problemas para mim Eu estava decidida a ir embora, mas meia hora conversando com Jaque e ela me fez mudar de ideia, ela me fez ver que orgulho não enche barriga e nem paga as contas, e sem contar que aguentei coisa muito pior da esposa do meu tio e nem por isso fui embora Por tanto é hora de arregaçar as mangas e trabalhar, não vou jogar todos aqueles anos de faculdade no lixo por um homem mal-educado que não sabe tratar as pessoas Meus pais ficariam orgulhosos de ver que eu não me deixo abater por algumas coisas que não saem como o esperado, meu pai sempre me dizia que com as pedras do meu caminho eu construiria meu castelo Pego meu celular e coloco uma boa música para alegrar o ambiente Tiro algumas cadeiras de dentro do escritório e começo a arrumar algumas gavetas da mesa, eu acredito que sempre que se j**a algo fora alguma coisa em nossa vida melhora Logo depois jogo um balde de água no chão que já tinha ensaboado e começo a tirar toda a água com um rodo -Ai tá ocê, desde que cheguei que tô te procurando menina, o que tá fazendo aqui?_Ana entra sorrindo olhando em volta notando tudo que eu já havia feito — Fui mandada para cá, depois que a senhora teve a brilhante a ideia de que eu deveria dar uma olhada no patrão, eu tomei o maior esporro da minha vida_bufo lembrando de como fui tratada — Virgem Maria do perpétuo socorro o que ele fez dessa vez?_ela desce duas cadeiras e já me chama para sentar Conto tudo a ela desde a minha entrada na casa grande até a minha saída -Meu Deus eu nem sei o que dizer_ela está sorrindo — Eu te conto que levei uma bela bronca por sua causa e você ri?_olho para ela que continua rindo — Depois de tudo que me contou ocê continuar aqui é um ótimo sinal sua boba, ele tá mudando tá voltando a ser o meu menino de antes_ela sorri — Ana, todas aquelas cicatrizes foram feitas por ele?_pergunto a ele me lembrando das várias marcas que haviam em seu peito e braços — Não menina, a única que ele mesmo fez nele foi a do pulso, as outras eu nunca vi, ocê é uma das poucas pessoas que já viram_seu olhar feliz de antes da lugar a um triste e angustiante — Quem fez aquilo com ele?elas são grandes e profundas_sinto um nó se formando em minha garganta — Uma demônia que se dizia mulher dele, Augusto sofreu muito nas mãos dela pensei que eu nunca mais fosse ver ele de novo_ela respira fundo — Eu não vou perguntar como tudo isso aconteceu por que sei que não vai me contar, talvez um dia você me conte né?_seguro sua mão — Eu te peço que tenha mais paciência com ele, sei que aquele homi não é fácil, mas ele passou por tanta coisa e algo me diz que ocê vai ajudar ele — Eu sinto muito que ele tenha passado por algo tão terrível, apesar de não saber tudo sei que não é fácil para ele tudo o que passou, mas eu não sou bote salva-vidas de ninguém, não me veja como uma salvadora ou algo do tipo por que eu não sou, entre nós dois não vai haver nenhum tipo de envolvimento ele nem faz o meu tipo_finjo que estou limpando uma prateleira — Tudo bem eu não vou mais falar sobre isso, afinal você já está fazendo sem perceber _ela me dá um abraço e sai me deixando sozinha — Eu não estou fazendo nada ouviu bem?, por mim aquele cavalo que coma capim_grito indignada com o seu comentário Com toda a conversa acabado me esquecendo da água que havia no chão e levo um belo de um tombo Tento me levantar, mas meu pé dói, fico de pé com o auxílio do rodo, pela forma como já está inchado se trata de uma torção -Ótimo, nada é tão ruim que não possa piorar _grito nervosa Sento-me na cadeira pensando em uma maneira de sair daquela sala, estou longe do chalé e ainda mais longe do curral onde Inácio está — Algum problema?eu ouvi gritos_Montenegro para sua cadeira na porta e depois tirando seu chapéu me fazendo ver seu rosto — Esta tudo bem, eu apenas tive um pequeno acidente_aponto para o meu pé — Esta bem inchado, quer que eu te ajude?_ele apoia os braços na cadeira inclinando seu corpo para frente para ver o meu pé — Sua? Não obrigada eu despenso_digo nervosa pela dor — Ok, vou embora tenho mais o que fazer_ele da ré na cadeira saindo do meu campo de visão — Ei isso é sério?você vai me deixar aqui assim?não vai chamar alguém para me ajudar?_falo indignada com sua atitude -Eu oferece a minha ajuda e você recusou _sua expressão é séria — Não me leve a mal, mas não teria como você me ajudar_digo sincera Ele trinca seu maxilar engolindo seco com minhas palavras, guia sua cadeira para dentro do escritório parando em minha frente -Suba na cadeira _diz em um tom autoritário — O quê? Não isso não, eu só preciso que você chame alguém para vir me ajudar_tento colocar meu pé no chão, mas ele dói de novo — Pare com essa conversa fiada e suba na cadeira, quanto mais tempo ficar sem gelo mais inchado ficará o seu pé_ele está tão próximo de mim que consigo ouvir sua respiração — Ela não vai aguentar o nosso peso_digo sem jeito — Ela não é feita de plástico, e sim de metal reforçado te garanto que ela aguenta eu já fiz o teste várias vezes, agora suba logo antes que eu te deixe ai_ele diz nervoso Respiro fundo dando adeus ao resto de dignidade que me sobrava, e sem mais alternativas fico de pé me apoiando na cadeirae me sentando eu seu colo Tento não olhar para o seu rosto, mas é impossível, é como se ele tivesse um ímã que me atrai, o seu cheiro é sem dúvidas o melhor do mundo, estou morta de vergonha mas tem coisas que não há como não admirar -Por que está me olhando?_ele pergunta guiando sua cadeira pelo caminho de pedras — Desculpe_olho para o outro lado vendo ao longe alguns peões pararem para nos observar -Suponho que já pode pedir para alguns deles me ajudar _digo sem jeito — Não me diminua como homem isso eu não vou aceitar, eu posso não andar, mas consigo fazer tudo o que eles fazem_ele olha em meus olhosVez ou outra algum de seus cachos fazem cócegas em meu rostoSeu cheiro é incrível uma mistura de baunilha e morangos, estou acostumado com mulheres de perfumes caros e famosos, nunca imaginei que um creme de cabelo poderia ter um cheiro tão bom-Qual creme de cabelo você usa?_pergunto tentando prestar atenção por onde passamos— Há é uma mistura de dois cremes_ela os uni em um coque deixando-os longe de meu rosto— O cheiro é bom, muito bom_olho em seus olhos negros como a noite— Estão todos olhando para mim_ela olha em volta e depois abaixa a cabeça— Não, eles estão olhando para mim, não é todo dia que eles veem o patrão carregando alguém _olho para eles que logo param de me olhar e voltam a seu serviçoParo em frente a porta do chalé e espero que ela abra a porta, ela fica em pé com certa dificuldade, mas consegue abrir a porta-Obrigada por me ajudar, eu não conseguiria chegar aqui sozinha _um sorriso tímido brota em seus lábiosAs lembranças dela invadem a minha mente, ela sorr
Após dois dias pulando para todos os lados parecendo o saci, eu finalmente estou conseguindo andar, mesmo que ainda com certa dificuldade eu estou andandoNesses dois dias Montenegro simplesmente sumiu, ele não apareceu no escritório e não o vi na fazenda, algo está acontecendo, mas Ana não quer me contar, e também por não, ser algo que diz respeito a mim eu decido focar no trabalhoUm dos bezerros que nasceu na fazenda acabou perdendo a mãe durante o parto, senti o pesar de ver um animal morrer em minhas mãos, fiquei muito abalada, mas sei que faz parte da vida e irei vivenciar outros episódios como esse, e agora estou dedicando um pouco do meu tempo ao pobre filhotinho que está sozinho, ele logo terá que ir para o outro curral ficar com os outros filhotes-Ocê não pode ficar o tempo todo com ele, ele precisa se acostumar a ficar sozinho _José fala ao me ver fazendo carinho no animal— Eu sei, mas ele é tão frágil tem apenas um dia de vida e já vai ter que encarar tudo sozinho_passo
O que está acontecendo comigo?eu digo a mim mesmo que irei me manter longe delaMas é como se eu fosse o ferro e ela o ímã, quando dou por mim já estou perto dela, e com ela eu esqueço de todo o passado e volto a ser o Augusto de antes.Hoje eu não me tranco no quarto como faço diariamente, descido descer e jantar na mesa com Ana como eu fazia antigamente, ela nunca aceitou se sentar a mesa, mas sempre me fez companhia-Espero que você ainda não tenha guardado o meu jantar_guio minha cadeira até a mesa-À meu São Judas Tadeu, tô nem acreditando no que tô vendo, a comida tá quentinha no fogão, quer que eu traga ou faça o seu patro?_ela está feliz e faz questão de mostrar o quanto a agradou me ver ali— Quero que traga a comida e se sente comigo para comer _sorrio para ela— Pois hoje eu vou aceitar, eu tô tão feliz de vê ocê aqui que até vou me sentar com cê_ela corre até o fogão de lenha colocando a comida na louçaEm poucos minutos a mesa já está posta, ela não para de sorrir nem por
Acordo assustada sem saber direito onde estou, o cheiro amadeirado domina todo o ambiente me fazendo entender onde estou, estou no quarto dele em sua camaPasso a mão pelo lençol suave negros como a noite, e me dou conta de que nada que ele tenha ou use possui cores, tudo é preto ou branco e às vezes cinzaAs lembranças começam a vir em minha mente e me lembro do que aqueles homens tentaram fazer comigo, e só não aconteceu o pior por que Montenegro me salvouOlho para meus braços e as marcas estão por toda parte, sinto vontade de chorar ao imaginar o que iria acontecer comigo e onde eu estaria agoraOlho para frente e lá está ele, me observando com seus grandes olhos azuis-Se sente melhor?_ele cruza as mãos mantendo os cotovelos apoiados na cadeira— Sim, apenas a minha cabeça dói um pouco, eu não sei como agradecer pelo que fez por mim, eu poderia não estar aqui agora _um grande nó se forma em minha garganta— Eu nunca me perdoaria se algo acontecesse a você, eu sou o culpado não de
Ana se retira nos deixando a sós, ela passa por Eliza tocando sua mão e lhe dando um sorrisoBárbara não consegue esconder sua ira, seus olhos verdes estão escuros de raiva, sua mandíbula se contrai enquanto ela olha para Eliza-Isso é uma piada de mal gosto ou o quê?você ainda é meu marido _seu olhar é sério— Não, nós já nos separamos, você é que não aceita a nossa separação e me atormenta de todas as maneiras possíveis, mesmo que você pegue todo o meu dinheiro eu nunca voltaria para você, não depois de tudo o que fez comigo_digo amargo— Eu já disse várias vezes que eu não fiz nada com você, eu não sabia que aquela enfermeira estava te torturando _ela tenta fazer uma expressão de tristeza, mas falha miseravelmente— E eu volto a dizer que não acredito, diga logo o que você quer dessa vez, outro carro?ou mais um apartamento?_movo minha cadeira ainda segurando na mão de Eliza fazendo com que ela se sente ao meu lado— Eu não vou conversar com você na frente dela, o que aconteceu com
Ainda estou atordoada com tudo o que aconteceu, em doze horas eu fui de um extremo ao outroPrimeiro a angústia e o medo de que algo terrível acontecesse a mim, e depois o alívio de ver Montenegro lá me defendendo, me salvando como um verdadeiro cavaleiro de armadura,e depois veio aquele beijoAi o beijo,eu nunca imaginei provar algo tão bom como aquele beijo,sua boca era perdição,sua língua atrevida tomou todo o meu espaço me deixando completamente rendida ao beijoAinda sinto o roçar de sua barba em meus lábios,toco minha boca ainda sem acreditar que aquilo aconteceu,que eu realmente o beijei,e pode parecer loucura da minha cabeça, mas eu adoraria repetir-Obrigado pelo, o que fez por mim _sua voz grossa soa em meus ouvidos me dando um grande sustoEstou em seu quarto esperando que Ana traga minhas roupas-Eu fico feliz de que tenha te ajudado,era o mínimo que eu podia fazer depois de tudo,desculpe por vir para o seu quarto, mas eu não queria ficar de roupão pela casa_tento fechar o
Pedi a Ana que fosse até o chalé e buscasse as coisas de ElizaConfesso que me surpreendeu ver apenas uma mochila com algumas peças surradas e um tênisNão me atentei a ver o que ela possuía quando chegou aqui, e foi inevitável a comparação com BárbaraQuando nos casamos ela trouxe tantas roupas que não couberam no closet, e precisei fazer outro só para elaAgora estou aqui, olhando para o local onde ficava seu closet que hoje é apenas uma parede com um quadro, assim que voltei a fazenda mandei que o tirassem daqui e queimassem todas as suas roupas e sapatos-Ela já tá no quarto, não tava com uma cara nada boa quando sai de lá _Ana fala se sentando na minha cama— Pouco me importa se ela não gostou, eu e você sabemos que é o melhor para ela _continuo olhando para o quadro na parede— Ainda tô sem acreditar que o delegado soltou aqueles monstros_ela fala irritada— Eu também não consigo acreditar que a nossa lei possa ser tão branda com algo tão terrível como uma tentativa de estupro_r
Montenegro está deitando de bruços em minha frente.E eu não sei se o toco ou se saio correndo daqui, eu sabia que seria uma péssima ideia morar aqui com eleO cheiro do seu perfume está em toda a sala, e eu poderia jurar que ele está se divertindo com toda essa situação.Sem mais alternativas começo a massagear seus ombros, o certo seria eu subir em cima dele para ficar mais fácil, mas isso não posso fazer nem sei se ele aguentaria meu peso-É assim?eu nunca fiz massagem em ninguém antes_digo massageando seu pescoço e levando minhas mãos até o final de seus ombros— Há sim, está perfeito, sinto muitas dores no pescoço devido ao tempo em que fico sentado_ele respira fundo relaxando seus ombros— Posso te fazer uma pergunta?_eu disse que não iria me intrometer, mas a curiosidade fala mais alto— Diga_ele permanece de olhos fechados— A quanto tempo está assim?_paro minhas mãos com medo dele me mandar sair— Acordado a dois anos, mas se eu contar desde o acidente já Faz quatro anos _seu