Capítulo 5

Sinto meu corpo ficar cada vez mais gelado, e só então me dou conta de que ainda estou no banheiro

Guio minha cadeira para o quarto e vou até meu armário pegar algo para vestir, as palavras daquela faladeira ainda estão presentes em minha mente, e o fato dela talvez está certa é algo que me deixa louco

Admito que as vezes não sou uma pessoa fácil de lhe dar, mas também não sou o monstro que ela pintou, ou sou?faz tanto tempo que deixei de me socializar com as pessoas que já não sei mais em que nível de mau humor estou

Fecho meus olhos e a imagem dela parada me olhando me deixa possesso, minha privacidade é algo que não aceito ser violada

Odeio ver nas pessoas o olhar que vi nela, olhar de pena de confusão como se quisessem me perguntar o que aconteceu comigo

Olho para as cicatrizes em meu corpo,e as lembranças são muito mais dolorosas do que o modo como elas foram feitas,não há mais como ser a mesma pessoa de antes depois de tantos danos

Por mais que eu tente viver nada me trará de volta o ano que perdi naquela cama de hospital

Desvio meus pensamentos para algo que no momento requer mais importância de minha parte, se aquela faladeira levar a sério o que eu disse ela deve estar arrumando suas coisas nesse momento

E sabendo o que devo fazer me dirijo até o chalé, as luzes estão acessas e uma música alta toca preenchendo a noite silenciosa

Bato algumas vezes na porta, mas não sou ouvido devido ao barulho

Verifico que a porta está aberta então a empurro

O lugar está diferente, tem algumas cortinas e um tapete, e até algumas flores, estava acostumado com o ambiente totalmente masculino, mas até que não ficou ruim como está agora e tento certeza que tem dedo da Ana em tudo por aqui

Ela parece está no banheiro já que escuto barulhos vindo de lá,a música que antes era barulhenta e alta da lugar a um blues suave e calmo

Sou surpreendido quando ela começa a cantar e sua voz é muito linda, sou um apreciador do blues e do jazz e há muito tempo não ouvia uma voz tão bonita quanto a dela

Ela sai do banheiro tão entretida cantando que não me vê ali

-Até que você canta bem_digo lhe dando um grande susto

Ela grita levando a mão ao peito, seus olhos estão assustado

-Puta que pariu que susto, o que está fazendo aqui?_ela tenta se cobrir mais com a toalha

— Esse chalé também é meu, e agora estamos quites já que você também entrou na minha casa sem avisar_tento não olhar para o seu corpo

Suas curvas são generosas, pernas bem desenhadas com um belo quadril só sendo cego para não ver o quanto essa faladeira é bela

Isso não é certo, não deveria estar aqui_ela pega um roupão o vestindo rapidamente

— Você acabou de me ver nu então não me venha dizer o que é certo ou errado, já estou indo embora,esteja pronta amanhã às seis em ponto, quero que você receba o novo gado, da última vez vieram muitos bezerros com carrapatos_abro a porta

— Mas o senhor me mandou embora e é o que vou fazer, eu fiz errado em entrar sem ser convidada, mas o senhor também não fez o certo me tratando daquela maneira_ela cruza os braços

— Se está esperando um pedido de desculpa ouque eu implore para ficar está perdendo seu tempo, apesar de tudo você está se saindo bem, mas não serei eu que irei impedi-la de ir embora_saio deixando a parada na porta

Eu queria dizer muitas coisas para ela, mas não consigo e talvez seja melhor assim

Volto para a fazenda e subo direto para o quarto, me sinto cansado e com sono preciso ligar para o meu médico e conversar sobre esse cansaço excessivo que ando sentindo

E como imaginava acordei tarde já que Ana não estava aqui para me chamar, ela tem sido o meu despertador nos últimos dias

Visto uma roupa qualquer e desço para procurar os meus remédios, sei que estou ficando viciado em analgésicos, mas no momento não me imagino sem eles, estou passando por um novo tratamento extremamente doloroso e maçante que eu só estou levando adiante por insistência de Ana, e sempre que consigo pego alguns comprimidos sem que ela perceba, coloco em um vidro e escondo na minha cadeira

-Se Ana souber você estará bem encrencado_João me pega no flagra

— Ela só irá saber se você contar, e eu tenho certeza que você não irá dizer nada _o fuzilo com os olhos

— Ok, para quem saber ler um pingo é letra, mas me diga Porque os outros peões não estão ajudando a Eliza?quando fui pedir explicações eles disseram que foram ordens suas _ele cruza os braços

Sorrio internamente ao saber que ela não foi embora como disse que faria

-Peça para Inácio ajuda-la, no mais ela fará o resto, sozinha _saio da cozinha

— Não sei se é uma boa ideia deixá-la sozinha, alguns dos novos peões fizeram comentários bem pesados a respeito dela

— Que tipo de comentários?_cruzo meus braços

— Você sabe como são os homens, a maioria deles não tem mulher e ver uma tão bonita por aqui está mexendo com a imaginação deles

— Vamos até o curral, e chame todos os peões_saio de dentro da casa me sentindo incomodado com o que acabo de ouvir

De longe já vejo ela debruçada sobre a cerca olhando um bezerro

Três peões estão parados atrás dela, e o modo como eles olham para ela me deixa irritado

-Voltem ao trabalho, vocês não são pagos para ficarem parados_grito com os três fazendo com que eles saiam apressados

— Eliza você irá ficar no escritório de agora em diante, basta dizer ao Inácio o que deve ser feito e ele fará com os outros peões_me aproximo dela fazendo com que ela desça da cerca

— Mas o senhor disse que eu teria que fazer de tudo_ela me olha confusa

— Apenas faça o que te mandei, pode ir agora, a sala está suja precisa ser limpa, Inácio vai te entregar a chave

Ela passa por mim e posso ver em seu rosto um grande ponto de interrogação, os peões se aproximam e antes de chegarem até mim eles param para vê-la passar

-Pedi que chamassem todos vocês aqui, pois creio que ainda não fui direto o suficiente com todos_olho para os três malandros que ainda não sei o nome

— A veterinária não vai participar?_um deles pergunta com um sorriso de lado

E para mim ele demonstra ser o mais perigoso dos três

-Não,e é sobre ela que quero falar, sei que o ambiente é cercado por homens e que as mulheres não andam por aqui, a senhorita Eliza será uma exceção por tanto eu exijo que a respeitem, não quero saber de brincadeiras ou piadas a respeito dela, qualquer reclamação vinda dela ou de João será demissão por justa causa, não irei aceitar dentro das minhas terras nenhum tipo de preconceito ou assédio

Todos me olham fazendo um sinal de que concordam e se retirando em seguida

-Logo você falando de preconceito, chega a ser hilário _João faz uma de suas piadas

— Eu não sou preconceituoso, mas é bem óbvio que esse lugar não é para ela, em apenas um dia ela colocou tudo de cabeça para baixo_digo irritado

— Ei a culpa não é dela, e a única coisa que aconteceu foram as piadas de mal gosto daqueles babacas_ele se senta em um amontoado de cilo

— Não foi só isso o que aconteceu, Ontem a noite ela foi no meu quarto e entrou no meu banheiro_sinto o sangue correr mais rápido em minhas veias ao me lembrar dela parada lá me olhando

-Eita! lasqueira, eu sabia que ia rolar, vocês dois tava na cara _ele começa a rir

— Não é nada do que está pensando, você sabe mais do que ninguém que eu jamais deixaria ninguém entrar no meu quarto que não fosse a Ana, ela entrou lá de enxerida que é, só de lembrar dela lá dentro me dá vontade de manda-la embora_aperto minha mão na cadeira

-E porque não manda?já mandoupessoas embora por bem menos que isso_ele tem um sorriso de lado

— Eu mandei, mas apesar de ser uma faladeira enxerida, ela está fazendo bem o seu trabalho e será difícil ter que procurar outra pessoa de novo, e agora chega dessa conversa que tenho muito o que fazer

Eu jamais diria-lhe o que de fato ela fez comigo, a dois anos que todos a minha volta diz ser normal que agora eu seja assim frio e rancoroso, e só agora percebe que todos estão fingindo estar tudo bem,mas, na verdade não está, eu não estou bem fisicamente e muito menos mentalmente

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