POV AbigailOs dias e as noites já haviam se misturado para mim. Minhas refeições chegavam em horários diferentes todos os dias, baldes de água gelada eram lançados sobre mim, me mantendo sempre acordada, dificultando contar o tempo dentro daquela cela. A única vez que vi Rafael, foi quando cheguei a alcateia, ele apenas olhou para mim, me humilhou e ordenou que eu fosse presa naquele buraco nojento. Não havia janelas, a única passagem de ar vinha da pota no topo das escadas, que estava sempre fechada. Eu era a única naquele lugar, eu e os esqueletos com teias de aranhas espalhados pelo chão. O silêncio era melhor do que as visitas regulares que eu recebia de Benjamin, na verdade, ele era o único que aparecia.Me mantinha calada, sentado no canto mais afastado da cela, onde Benjamin não poderia me alcançar, a menos que ele abrisse a cela. Minhas pernas e braços estavam presos por uma corrente de prata, que queimava minha pele e cortava a carne, impedindo que eu mudasse para a minha f
POV AbigailEstava cansada, com fome, com frio, com sede, prestes a desistir de tudo e aceitar qualquer coisa que eles trouxessem. Não queria mais ser forte, não queria mais lutar, eu só queria ter paz. Não aparece ter passado muito tempo quando ouvi a porta pesada sendo aberta novamente, mas, ao invés dos passos pesados de Benjamin, o som era mais fino, como saltos altos.Estava de costas para as grades e não me dei ao trabalho de me virar conforme os passos curtos e pesados se aproximavam.― Que cheiro nojento. ― A voz aguda de Evangeline quebrou o silêncio. Me mantive imóvel e não respondi a sua provocação. ― Quem diria que você conseguiria se esconder tão bem e por tanto tempo. Uma loba tão burra conseguindo o favor de um alfa como o Nigthshade foi um choque para mim.Ao ouvir o nome do Felix, não consegui ficar mais quieta. Virei o rosto, vendo Evangeline em um vestido branco elegante, cabelos arrumado e uma maquiagem sensual. Ela sorria com uma das mãos sobre a boca, seus olhos
POV AbigailMuitas coisas pareciam diferentes, o que dificultou ainda mais para me localizar e encontrar minha antiga toca. Sento o cheiro de vários animais diferentes, indicando que ela foi ocupada na minha ausência. Entrei com dificuldade e comecei a mexer nas poucas coisas que estavam lá, inclusive o perfume da minha mãe. Por mais que eu desejasse descansar e lembrar da minha mãe, não seria possível, eu não tinha tempo. Encontrei algumas ervas secas, as coloquei, de forma desajeitada, em um trapo e as levei em minha boca. Antes de sair, farejei ao redor. Tentando descobrir se havia alguém próximo, mas o ar gelado dificultava distinguir os odores mais sutis. Sai da toca, tomando cuidado para pisar exatamente onde eu já havia deixado pegadas, evitando assim que me encontrassem mais rápido. Ao chegar em uma área coberta com neve sólida, segui pelo caminho que levava até as fronteiras.Estava tão cansada, era difícil manter os olhos abertos. Minha boca estava seca e o vento gelado que
POV FelixA neve estava se acumulando rapidamente. Assim que recebi a notícia de um dos meus infiltrados na Umbra, de que a loba mantida presa havia escapado, eu corri para a fronteira. Quando Abi foi levada de mim, eu fui impedido de ir buscá-la. O filho da puta do Angenna me superou preparando tudo com antecedência, quando ainda estávamos em Idaho. Estava pronto para matar todos aqueles lobos malditos quando um mensageiro da Aliança apareceu com um comunicado.― A vontade da deusa é irrevogável. ― Que merda você está falando? ― Rugi, pronto para incluir mais um corpo a pilha que eu pretendia erguer. O lobo recuou e Henrique se colocou entre nós.― Não é hora nem lugar, Felix. ― Ri de suas palavras, já descontrolado pela raiva.― Está me dizendo que devo acatar essa ordem sem sentido? ― Rugi para o meu beta, que, mesmo tremendo por sua vida, manteve seu olhar firme e sua posição diante de mim.― Estou dizendo que precisamos encontrar outra forma de trazê-la de volta. Se formos contr
POV FelixIgnorei todos, passando direto por Esmeralda e entrando na minha casa. Levei Abi para o quarto, onde deixei duas lobas responsáveis por cuidar dela e proibindo qualquer outro além de mim e o beta de se aproximarem daquele quarto. Voltei para o meu antigo quarto e, após assumir minha forma humana, tomei um banho e vesti algumas roupas. Infelizmente eu tinha de lidar com Esmeralda antes do que havia previsto, mas talvez fosse melhor daquele jeito.Desci as escadas e voltei para a porta, onde ela continuava, mas sem um sorriso. Seu rosto estava vermelho, claramente irritada por ser ignorada. O beta do falecido alfa se mantinha indiferente, o que era o mais sábio. Coloquei minhas mãos nos bolso e olhei de cima para ela, o que pareceu irritá-la ainda mais.― Não me lembro de ser comunicado da sua chegada, Luna viúva. ― Disse com a vez ríspida.― E não foi. Vim por conta de alguns rumores. ― Sorri, cobrindo minha boca com a mão.― Não sabia que tinha tanto tempo livre para se desl
POV FelixA cama estava coberta de sangue, Abigail estava em sua forma humana, magra e frágil, a pele tão pálida quanto um fantasma enquanto abraçava a barriga em posição fetal. Seus dentes perfurando os lábios rachados enquanto a outra loba corria para socorrê-la.― O que está havendo? ― Perguntei, chamando a atenção da loba, que se aproximou de mim com um olhar desesperado.― A senhora precisa ir ao hospital imediatamente, ela está perdendo muito sangue.Meu corpo inteiro tremeu com aquela informação. Será que eu tinha deixado algum ferimento passar, ou poderia ser algo interno? Envolvi Abigail em um lençol limpo e corri com ela para fora. Do andar inferior, Henrique me viu e correu para fora, deixando o carro pronto quando cheguei. Abigail se contorcia e gemia de dor nos meus braços, mais sangue saindo de entre as suas pernas. Suas pequenas mãos agarraram minha camisa com força, puxando enquanto ela escondia seu rosto no meu peito.Precisava me acalmar, depois eu pensaria naquilo,
POV AbigailMinha cabeça doía e meu olhos ardiam. Tentei abri-los, mas a luz forte me cegava. Minha mão foi até a minha barriga, como se instintivamente meu corpo quisesse me lembrar que eu estava vazia por dentro. Sentei na cama, olhando a paisagem branca do lado de fora, o inverno no seu auge. Olhei para as minhas mãos, tão finas e pálidas, a pele ressecada. A vergonha me dominou, eu fiz com que Feliz visse uma versão tão patética minha. Apoiei minha cabeça nas mãos, escondendo meu rosto com meus cabelos, os deixando cair para frente.― Ele vai me odiar agora. ― Disse para mim mesma. A lembrança do rosto de Felix, tanta dor refletindo em seus olhos enquanto ele tentava me consolar.A porta se abriu, me assustando um pouco, mas mantive meus olhos baixos. O cheiro apimentado de baunilha e canela me envolvendo no mesmo instante. A cama cedeu ao meu lado, o calor de seu corpo era tão tentador, tão bem-vindo naquele momento onde eu me sentia fria como o gelo que se acumulava do lado de f
POV AbigailDepois de uma longa semana no hospital, recebi a tão sonhada alta, mas com várias restrições. Mesmo para uma loba, os ferimentos que tive, assim como a perda do meu bebê, demorariam um pouco mais para se recuperar. O que o médico não entendia era que eu não tinha esse tempo.Aproveitei que Felix e Henrique tiveram de ir à empresa para uma reunião importante de parceria e me esgueirei para a academia. Meu corpo já não estava mais tão magro, minha resistência também estava voltando ao seu normal, então achei que não faria mal um pouco de atividade física. Antes que eu pudesse começar, Georgina entrou desesperada na academia, olhando para os lados com um rosto pálido, o suor acumulando em sua testa e a respiração ofegante. Quando ela me viu perto das esteiras, caiu de joelhos no chão.― O que está acontecendo? ― Perguntei enquanto continuava a amarrar meus tênis.― Minha luna, a senhora desapareceu do quarto sem dizer nada. ― Georgina se levantou, se aproximando de onde eu e