POV Abigail.A chuva não estava dando trégua naquele dia, meu pelo estava encharcado e os resíduos que eu deveria descartar pareciam ainda mais pesados enquanto eu os arrastava pela terra lamacenta. Escorreguei várias vezes, caindo de lado no chão gelado da floresta de Nemadji, ao sul de Duluth. Nunca tive permissão de ir até a cidade, como outros jovens lobos da minha idade, o alfa jamais permitiria se eu pedisse. Como uma simples ômega, não recebi nenhum tipo de instrução, não sabia assumir minha forma humana e todos me viam apenas como um peso para a alcateia Umbra. Tudo o que eu conhecia vinha de ouvir as conversas enquanto eu passava despercebida e o que eu observava do topo das colinas.Parei por um momento, tomando algumas respirações e permitindo um momento de descanso para os meus músculos doloridos. Estava fraca pela falta de alimentos. Fazia dias que eu não conseguia me alimentar, pois a alcateia vinha passando por uma séria escassez de alimentos enquanto nosso alfa estava
POV Abigail.A alcateia Umbra há dias andava bem agitada. Marcus fazia rondas constantes enquanto Benjamin era visto com alguns anciões. Jason estava sempre ao lado de Rafael e todos os lobos pareciam preocupados. Como eu vivia mais afastada, não tinha ideia do que estava acontecendo, mas ao que parecia, era algo muito sério.Consegui encontrar um pequeno coelho e estava me alimentando quando o alarme soou. Um som que fez meu corpo inteiro tremer. A última vez que a alcateia foi convocada, foi para a execução da minha mãe diante de todos. Com relutância, me limpei e voltei para a alcateia. Todos estavam em suas formas lupinas para ouvir as palavras do alfa. Pensando bem, já tinha um bom tempo que ninguém via o alfa, desde que ele tinha partido em campanha para alfa supremo.Os cochichos estavam espalhados entre os vários grupos que aguardavam ansiosos pelas notícias. No toco do grande carvalho, bem no centro da alcateia, Rafael e Jason surgiram, ambos tinham um ar de autoridade enquan
POV Abigail.Trabalhei com afinco, decidida a mostrar para Rafael o meu valor dentro da alcateia. Mesmo a função de uma ômega era importante para o bem-estar de todos. Todos estavam como eu, animados e trabalhando duro, pois viam em Rafael uma nova era para a alcateia Umbra.Após levar as últimas carcaças para longe do território, fui até um riacho próximo para limpar meus pelos. Olhando meu reflexo, percebi o quão horrível eu estava. Meus longos pelos estavam emaranhados e cobertos por sangue seco e lama, meu corpo era pequeno e magro, por conta da desnutrição que passei desde filhote. Eu sabia que não era atraente para os machos por vários motivos, mas eu também sabia que tinha atributos que se destacavam, como meus olhos de cor dourada. Apenas minha mãe e eu dividimos essa característica, enquanto os demais tinham, em sua grande maioria, olhos verdes ou castanhos.Sentei-me sobre uma grande pedra, aproveitando os poucos raios de sol para me secar, quando ouvi alguém se aproximando.
POV AbigailPor mais que estivesse feliz, sentia uma barreira entre mim e Rafael. Minha cauda não parava de abanar enquanto o silêncio prolongava. Os lobos ao nosso redor estavam tensos, olhando para Rafael, esperando alguma palavra dele. Eu também estava.Conseguia entender o choque do Rafael, afinal ninguém espera ter seu destino ligado a uma loba ômega, mas o lobo por quem me apaixonei era justo e gentil, ele jamais olharia para um lobo e julgaria por sua casta, mas sim por seu real valor. ― Rafael. ― Marcus se aproximou de Rafael, o surpreendendo. Os pelos cinza de Rafael se eriçaram e um rosnado baixo ecoou pela floresta, como um aviso silencioso.― Vamos voltar. ― Rafael disse se virando, sem olhar uma segunda vez para mim. O medo me dominou por um momento e antes que pudesse me deter, saltei na frente dele o olhando diretamente e sentindo mais uma vez a forte conexão de destino que nos ligava.― Meu alfa, perdoe a minha ousadia, mas eu gostaria de solicitar um momento…― Saia.
POV AbigailTentei encontrar com Rafael no dia seguinte, mas ele havia partido para uma reunião com a aliança das alcateias. Sem um alfa supremo, as relações entre os alfas estava ficando cada vez mais tensa. Ragnar era o mais cotado, mas sua morte surpreendeu a todos e deixou uma grande dúvida sobre o futuro da aliança. Eu preferi me manter a margem, escondida de todos, afinal Rafael ainda não havia oficializado nada e eu não tinha o direito de falar pelo alfa. Mantive minha rotina e suportei os maus tratos dos lobos. Fui até o rio após cumprir meus deveres, em um local mais escondido e longe do caminho que alguns lobos pudessem tomar. Lavei meu pelo o melhor que consegui, afinal a futura companheira do alfa não podia ser vista suja. Aquele pensamento me fez pular na água, espalhando gotas por todos os lados enquanto eu dava gritinhos de alegria.― Eu serei a companheira do Rafael. Minha deusa! ― Continuei pulando feliz, até que ouvi passos se aproximando.Diferente da outra vez, nã
POV AbigailPassei aquela manhã me arrastando pela margem do rio. A dor por todo o meu corpo, até mesmo por dentro, era horrível. Me arrastei pela margem do riacho, até um trecho que eu sabia ser mais raso e tranquilo. Tentei me erguer, mas minha pata traseira direita estava quebrada, eu gemia e chorrava baixinho, com medo de que alguém pudesse me ouvir.Entrei no riacho e segui por ele, subindo até um grande lago. O sol estava alto, o calor e a fome já se tornando insuportáveis, mas eu não podia parar. Meu cheiro estava muito forte por conta do sangue e do abuso que sofri. Me sentia suja, então deitei na água corrente, deixando que o fluxo da água levasse tudo para longe. Acabei adormecendo e acordei com o anoitecer.O calor deu lugar ao frio, meus pelos encharcados e pesados dificultaram um pouco minha movimentação. Pelo menos o sangramento havia parado. Manquei para fora do riacho e entrei na floresta. Eu conhecia bem aquela região e logo encontrei uma pequena toca onde poderia me
POV AbigailMinhas patas batiam com força contra a terra seca da floresta, poeira subindo cada vez que eu deslizava, escapando de um ataque lateral. Ainda sentia muitas dores por todo o meu corpo, mas não podia me dar ao luxo de parar de correr, ou seria morta pelos lobos da alcateia Umbra, o lugar que um dia chamei de lar.Estava ficando mais difícil respirar, minhas costelas ainda doíam muito e tive medo que um movimento mais repentino pudesse causar algo mais sério. Os uivos e risadas ecoavam pela mata enquanto eu era caçada, mas nenhum deles conhecia aquela floresta como eu. Mesmo ferida, eu ainda tinha várias coisas ao meu favor e usei todas elas para me manter viva.Umbra fazia fronteira com outra grande alcateia, a Rivermoon. Maior em território e força, Umbra nunca teve o poder de ir contra o alfa da alcateia vizinha, mantendo assim a política do bom vizinho e respeitando as fronteiras, mas havia uma área neutra que poucos conheciam. Aquele lugar era utilizado para os descarte
POV FelixNão fazia ideia de onde aquele cachorro tinha aparecido, quando percebi já era tarde e não tinha mais como desviar dele. Tinha acabado de pegar minha moto no concerto e já estava destruída novamente. Minha vontade era chutar aquela bosta de cachorro, mas quando olhei com mais atenção percebi que se tratava de um lobo, uma loba para ser mais exato. Aproximei meu rosto de seu focinho, sentindo a respiração fraca.― Ei, loba. Você está viva? ― Não tive nenhuma resposta. Os batimentos estavam cada vez mais fracos e, mesmo que eu não quisesse me envolver com a merda de uma errante, não podia apenas ignora-lá.Peguei meu celular e mandei algumas mensagens, mas não tinha tempo para esperar uma resposta. Levantei minha moto, confirmando que tudo estava funcionando, então peguei a loba e tentei imaginar a melhor forma de colocá-la na minha moto. ― Que merda. ― Coloquei a loba no chão, tirei minha jaqueta e a vesti na loba, prendendo suas patas com cuidado. Depois de acomodar a gran