- Eu nem sei o que dizer...
- Bom, Ana, você ainda é de menor e supostamente você só teria acesso aos bens de Carmem quando você fosse de maior, mas não encontrei noticias sobre a sua mãe. Na verdade, eu não encontrei nada sobre a sua mãe e olhe que eu procurei muito. Também não existe muita coisa sobre você, mas Carmem deixou muito especificado quem você era e para o ponto de vista jurídico, é válido. Eu serei seu advogado e seu conselheiro enquanto você permitir que eu seja. Como você está morando de favor na casa dos pais de seu namorado. Eu gostaria de começar a verificar a possibilidade de emancipar você.
- Eu poderia ser responsável por mim mesma.
- Sim, é isso. E eu gostaria que você fosse muito sincera comigo, Ana. Preciso que você seja muito verdadeira. Não entendo o motivo de n&atild
- Encontraram a bebê?- Infelizmente não. Conseguiram descobrir que a babá estava envolvida no tráfico de crianças e que ela já era até procurada em alguns outros estados do país, mas ela desapareceu junto com a criança. Meus clientes ficaram arrasados, ainda estão. Nunca vão desistir de encontrar a filha, mas sabem que as chances disso acontecer agora, são muito pequenas. Por isso eu acredito em você e sei que também pode ser algo muito perigoso. Acho que o melhor a se fazer, Ana, é conseguir a emancipação para você e eu vou tentar muito conseguir isso. Vou falar com algumas pessoas que conheço e acho que o melhor seria você sair do Rio de Janeiro por um tempo. Por um bom tempo. Você terá dinheiro para isso.- O senhor acha que isso é possível?- Acho que sim e vou tentar resolver essa situaç&a
- Eu também tenho sentido isso. Ando bem preocupada com relação a essas coisas. Acho que deveriamos sair o mais rápido possível daqui do Rio de Janeiro.Ana e Davi não sabiam, mas eles realmente estavam correndo mais riscos do que antes. Os dias passavam, mas Bichão não havia se esquecido deles. Tico havia dito para Bichão que não conseguia chegar até a menina, que tinha muita polícia envolvida no meio e ele não queria correr riscos.- Tico, eu sei que você está fazendo o seu melhor, mas o seu melhor não está sendo o suficiente. A garota já foi para a delegacia e estava de papo com aquele policial que parece ser um chiclete na nossa sola.- Chefe, ele nem sabe de nada. Tenho certeza de que a menina não falou nada pra ele.- Eles encontraram o corpo da diretora, Tico. Como que isso aconteceu?- Eu nã
Ana saiu do carro do advogado e foi correndo contar para Davi sobre as novidades.- Davi! Davi! Nós conseguimos. Eu fui emancipada e agora tenho acesso ao dinheiro que vai poder nos tirar daqui!.- Meu deus, Ana! Que bom. Que maravilha! Vamos poder ficar seguros.Davi e eu estávamos tão felizes que nem notamos que dona Mariete estava nos ouvindo.- O que? Como assim vão poder ficar seguros?Dona Mariete acabou ouvindo o que estavamos falando. Não notamos que ela estava dentro de casa.- Sobre o que vocês estão falando? Vocês não estão seguros aqui, como assim? O que está acontecendo?- Nada, mãe, não é nada. - Davi falou.Eu estava um pouco assustada, não era daquela maneira que eu gostaria que ela descobrisse o que estava acontecendo. Eu tinha medo que ela não entendesse ou não acreditasse, até porque era
- Meu deus, Ana...- E ainda não cheguei na pior parte, dona Mariete. Eu acabei me aproximando muito da diretora Carmem desde que eu entrei no colégio. Eu demorei um tempo para entender o que ela era exatamente para mim, porque eu comecei a nutrir um sentimento diferente pela diretora Carmem. Eu tinha um sentimento materno por ela. Ela foi uma mulher que me ensinou tudo o que podia, não só em questões de matérias ou algo do tipo. Ela me ensinava sobre a vida, me perguntava como havia sido o meu dia, se eu estava precisando de algo, se ela podia fazer alguma coisa por mim. Desde que eu entrei no colégio ela me perguntava sobre a minha vida em casa, ela desconfiava da Lúcia, mas eu nunca falava nada. Eu não queria ter que falar sobre as coisas que aconteciam em casa, mas a diretora Carmem conseguia me ver tão bem e parecia que já me conhecia tão bem, que ela não acreditava nas coisas que
- Mas eu acabei fazendo, não é, dona Mariete? Eu acabei colocando o Davi em uma posição de perigo...- Não foi você quem fez isso, querida. Foram pessoas ruins.- Então nós podemos ir com ela, mãe? - Davi perguntou.- Como assim, ir com ela?- Ana vai precisar se mudar, sair do Rio de Janeiro para ir para um lugar seguro. Aqui não é mais seguro para ela. E eu quero ir junto com ela, mãe. Não temos nada de bom aqui. Quero que a senhora venha junto com a gente.- Eu não sei, meu filho. Essa é uma decisão muito importante que precisamos tomar. E o seu pai? Você acha que ele largaria o mercado para ir embora com a gente? Ele nunca vai largar esse lugar.- Eu não falei sobre o papai, mãe. Falei sobre nós dois.- Mas e o seu pai, meu filho? Você não pensa nele?- Ele nunca pensa na sen
Carlos acabou gastando dinheiro demais e começou a deixar o mercadinho de lado, começou a fazer dívidas em cima de dívidas. Eu entrei em desespero nessa época, porque eu vi o mercadinho de meus pais falindo e morrendo pouco a pouco. Eles amavam aquele mercadinho. Lutaram por anos para conseguir construi-lo e sempre cuidaram com muito carinho de tudo. Eles trabalhavam porque realmente gostavam muito. Era o sonho da vida deles, conseguir ter algo próprio. Nada veio de mão beijada para eles. Me doeu muito ver tudo aquilo virar ruínas e ver a cada dia o sonho de meus pais virar pó. Me senti muito culpada e ainda me sinto até hoje, porque eu deveria ter feito algo para mudar aquilo. Eu deveria ter me imposto. Deveria ter lutato pelo legado de meus pais. Eu sei que não era muita coisa. Eu sei que não era um império, que era apenas um mercado, como tantos vários outros que existem por aí
- É impossível não sentir, Ana. Ele fez o que fez com a minha mãe e é verdade o que ela falou, ele é um criminoso. Não é como se fosse possível esquecer ou não se importar com o que ele fez com você. Eu tenho tentado, todo esse tempo, ficar quieto. Não trata-lo com mais diferença do que eu já estou fazendo, mas tudo isso é porque eu não quero que ele expulse você daqui, porque infelizmente eu não sei se tenho capacidade para bater de frente com ele. A vontade que eu tenho é de quebrar a cara dele. Eu não suporto quando ele olha para você e ainda bem que ele nem dirige a palavra para você, porque eu acho que um "bom dia", seria o suficiente para eu me descontrolar. Eu não vou conseguir mais ficar aqui por muito tempo, Ana. Não olhando na cara desse homem. Eu tento "esquecer" o que ele fez com você, porque eu pensava
- Sim, o Carlos, o pai do Davi. Ele é louco pelo Davi, mesmo sendo um péssimo ser humano e como pai, acredito que ele tenha direitos e se quisesse, poderia ir atrás do Davi...- Sim, provavelmente. E a justiça daria razão para ele. Mas me diga, Ana, não foi ele o homem que abusou de você?- Sim, foi ele mesmo.- Eu acho que podemos usar isso ao nosso favor. O que eu mais gostaria era poder colocar esse homem atrás das grades, mas entendo que isso é algo quase impossível de acontecer agora, porque seria a sua palavra contra a dele. E já se passaram muitos anos. Poderíamos tentar, mas sendo muito sincero, os casos similares que eu já vi, acabaram tendo um resultado muito decepcionante.- Eu acredito no que o senhor diz, por isso também eu não tenho muito interesse em ir na polícia para denuncia-lo, porque eu não teria provas do que ele fez c