- Eu também tenho sentido isso. Ando bem preocupada com relação a essas coisas. Acho que deveriamos sair o mais rápido possível daqui do Rio de Janeiro.
Ana e Davi não sabiam, mas eles realmente estavam correndo mais riscos do que antes. Os dias passavam, mas Bichão não havia se esquecido deles. Tico havia dito para Bichão que não conseguia chegar até a menina, que tinha muita polícia envolvida no meio e ele não queria correr riscos.
- Tico, eu sei que você está fazendo o seu melhor, mas o seu melhor não está sendo o suficiente. A garota já foi para a delegacia e estava de papo com aquele policial que parece ser um chiclete na nossa sola.
- Chefe, ele nem sabe de nada. Tenho certeza de que a menina não falou nada pra ele.
- Eles encontraram o corpo da diretora, Tico. Como que isso aconteceu?
- Eu nã
Ana saiu do carro do advogado e foi correndo contar para Davi sobre as novidades.- Davi! Davi! Nós conseguimos. Eu fui emancipada e agora tenho acesso ao dinheiro que vai poder nos tirar daqui!.- Meu deus, Ana! Que bom. Que maravilha! Vamos poder ficar seguros.Davi e eu estávamos tão felizes que nem notamos que dona Mariete estava nos ouvindo.- O que? Como assim vão poder ficar seguros?Dona Mariete acabou ouvindo o que estavamos falando. Não notamos que ela estava dentro de casa.- Sobre o que vocês estão falando? Vocês não estão seguros aqui, como assim? O que está acontecendo?- Nada, mãe, não é nada. - Davi falou.Eu estava um pouco assustada, não era daquela maneira que eu gostaria que ela descobrisse o que estava acontecendo. Eu tinha medo que ela não entendesse ou não acreditasse, até porque era
- Meu deus, Ana...- E ainda não cheguei na pior parte, dona Mariete. Eu acabei me aproximando muito da diretora Carmem desde que eu entrei no colégio. Eu demorei um tempo para entender o que ela era exatamente para mim, porque eu comecei a nutrir um sentimento diferente pela diretora Carmem. Eu tinha um sentimento materno por ela. Ela foi uma mulher que me ensinou tudo o que podia, não só em questões de matérias ou algo do tipo. Ela me ensinava sobre a vida, me perguntava como havia sido o meu dia, se eu estava precisando de algo, se ela podia fazer alguma coisa por mim. Desde que eu entrei no colégio ela me perguntava sobre a minha vida em casa, ela desconfiava da Lúcia, mas eu nunca falava nada. Eu não queria ter que falar sobre as coisas que aconteciam em casa, mas a diretora Carmem conseguia me ver tão bem e parecia que já me conhecia tão bem, que ela não acreditava nas coisas que
- Mas eu acabei fazendo, não é, dona Mariete? Eu acabei colocando o Davi em uma posição de perigo...- Não foi você quem fez isso, querida. Foram pessoas ruins.- Então nós podemos ir com ela, mãe? - Davi perguntou.- Como assim, ir com ela?- Ana vai precisar se mudar, sair do Rio de Janeiro para ir para um lugar seguro. Aqui não é mais seguro para ela. E eu quero ir junto com ela, mãe. Não temos nada de bom aqui. Quero que a senhora venha junto com a gente.- Eu não sei, meu filho. Essa é uma decisão muito importante que precisamos tomar. E o seu pai? Você acha que ele largaria o mercado para ir embora com a gente? Ele nunca vai largar esse lugar.- Eu não falei sobre o papai, mãe. Falei sobre nós dois.- Mas e o seu pai, meu filho? Você não pensa nele?- Ele nunca pensa na sen
Carlos acabou gastando dinheiro demais e começou a deixar o mercadinho de lado, começou a fazer dívidas em cima de dívidas. Eu entrei em desespero nessa época, porque eu vi o mercadinho de meus pais falindo e morrendo pouco a pouco. Eles amavam aquele mercadinho. Lutaram por anos para conseguir construi-lo e sempre cuidaram com muito carinho de tudo. Eles trabalhavam porque realmente gostavam muito. Era o sonho da vida deles, conseguir ter algo próprio. Nada veio de mão beijada para eles. Me doeu muito ver tudo aquilo virar ruínas e ver a cada dia o sonho de meus pais virar pó. Me senti muito culpada e ainda me sinto até hoje, porque eu deveria ter feito algo para mudar aquilo. Eu deveria ter me imposto. Deveria ter lutato pelo legado de meus pais. Eu sei que não era muita coisa. Eu sei que não era um império, que era apenas um mercado, como tantos vários outros que existem por aí
- É impossível não sentir, Ana. Ele fez o que fez com a minha mãe e é verdade o que ela falou, ele é um criminoso. Não é como se fosse possível esquecer ou não se importar com o que ele fez com você. Eu tenho tentado, todo esse tempo, ficar quieto. Não trata-lo com mais diferença do que eu já estou fazendo, mas tudo isso é porque eu não quero que ele expulse você daqui, porque infelizmente eu não sei se tenho capacidade para bater de frente com ele. A vontade que eu tenho é de quebrar a cara dele. Eu não suporto quando ele olha para você e ainda bem que ele nem dirige a palavra para você, porque eu acho que um "bom dia", seria o suficiente para eu me descontrolar. Eu não vou conseguir mais ficar aqui por muito tempo, Ana. Não olhando na cara desse homem. Eu tento "esquecer" o que ele fez com você, porque eu pensava
- Sim, o Carlos, o pai do Davi. Ele é louco pelo Davi, mesmo sendo um péssimo ser humano e como pai, acredito que ele tenha direitos e se quisesse, poderia ir atrás do Davi...- Sim, provavelmente. E a justiça daria razão para ele. Mas me diga, Ana, não foi ele o homem que abusou de você?- Sim, foi ele mesmo.- Eu acho que podemos usar isso ao nosso favor. O que eu mais gostaria era poder colocar esse homem atrás das grades, mas entendo que isso é algo quase impossível de acontecer agora, porque seria a sua palavra contra a dele. E já se passaram muitos anos. Poderíamos tentar, mas sendo muito sincero, os casos similares que eu já vi, acabaram tendo um resultado muito decepcionante.- Eu acredito no que o senhor diz, por isso também eu não tenho muito interesse em ir na polícia para denuncia-lo, porque eu não teria provas do que ele fez c
No momento que meu avô viu o menino, ele ficou encantado. Meu pai nunca se pareceu fisicamente com meu avô, ele se parecia muito com a familia da minha avó e era claro que isso mexia um pouco com o ego de meu avô. Então quando ele viu o menino, que era a cara dele, na porta da casa dele, visivelmente magro, com fome e com uma saúde meio debilitada, ele o acolheu. Deu uma quantia em dinheiro para a mulher e disse que ela não aparecesse mais. E ela foi embora, deixando o menino. Dizendo a ele que ele estaria melhor lá do que com ela, que ele teria o que comer e sempre teria um teto sobre a cabeça dele. O menino ainda era muito novo, mas parecia ser mais maduro do que uma criança da sua idade. Sua vida até ali não tinha sido nada fácil e talvez isso o tenha feito amadurecer bem cedo.Minha avó nunca gostou do menino. Dizia que ele era um bastardo e que ainda daria muitos
Meu avô dizia que não sabia o porquê dele ser daquele jeito. Ele tinha sido criado com muito amor e carinho, mas algo havia dado errado. Ele disse que minha avó sempre o mimou demais e que por muito tempo o tratou como um garoto mais novo do que ele realmente era. Ele se questionava se talvez o problema pudesse ter sido esse, que pudesse ter sido um dos problemas de criação que o fez se tornar desse jeito.Quando meu avô descobriu que tinha outro filho, ele disse que quis assumir a criança, mas minha avó sempre foi contra. Mas ele disse que mesmo sem ela saber, ele mandava dinheiro para a mãe do filho dele e para o menino. Ele disse que nunca quis que o menino ficasse vivendo em condições ruins. Ele disse que sempre quis conviver com o filho mais novo, mas ele se sentia culpado pelo o que havia feito minha avó passar e imaginou que seria muito dificil para ela ter que convive