Assim que chegamos na sala, a diretora Carmem se sentou na cadeira dela, que ficava atrás da mesa enorme que ela tinha e me disse que sentasse na cadeira em frente a ela. Geralmente não era lá que eu me sentava. Achei até que eu tivesse feito algo de errado, porque ela estava muito séria. Mas aí ela começou a falar:
- Ana, eu já atendi diversos alunos aqui. Conheci muitas crianças e muitas famílias. Já vi muitos casos ruins e difíceis. Eu não estaria ajudando você se eu não percebesse que é o que você realmente quer e se eu não pensasse que você precisa de algum tipo de ajuda. Mas eu vejo que você precisa. Vejo em você uma menina muito inteligente e esperta, que está correndo atr&aacut
No final daquele dia, eu encontrei o Davi na saída da aula.- Oi Ana. A gente quase não tem conseguido brincar esses dias.- É, Davi, porque eu estou estudando todos os dias após a aula.- Você já aprendeu bastante coisa?- Acho que sim. A professora Maria Auxiliadora e a diretora Carmem dizem que eu aprendo muito rápido, e que no final do ano eu farei uma prova para ver se poderei ir para a sua turma no ano que vem.
- Parabéns, Ana. - Disse a professora Maria. - Você acertou todas as questões. Estamos impressionadas com você. Sempre soubemos que você era muito inteligente, mas você nos surpreendeu.- Obrigada, professora Maria.- Eu sabia que você não nos decepcionaria, Ana. Isso foi resultado apenas de seu esforço e agora, ano que vem você irá para a turma dos alunos que tem a sua idade. Gostaria de lhe dar um presente, se você quiser, é claro.- Poxa, obrigada, diretora Carmem.A diretora Carmem me deu um presente que estava embrulhado em um papel tão bonito. Eu fiquei até com pena de rasgar. F
Antes do seu Carlos, as vezes, apareciam alguns homens em casa. Ela também me fazia esperar do lado de fora quando eles visitavam ela.Teve um desses homens, que eu lembro até hoje o nome. Era o João. Ele parecia ser mais jovem que mamãe. Todos os meses, em março, mamãe comprava um bolo de aniversário, mas nunca comia. Mas no ano em que ela era amiga do João, ele levou um bolo para ela e ela comeu. Foi o ano que eu menos apanhei e que ela mais me chamou pelo nome.Eu gostava muito do João. Ele me deu alguns brinquedos e algumas roupas que ele dizia que não eram novas, mas eu gostava mesmo assim.
Hugo recolheu Lúcia das ruas quando ela tinha cerca de 16 anos de idade, mas não foi por pena. Ele recolhia meninas e meninos menores de idade para que eles pudessem vender droga para ele. Ele tinha um barraco no morro onde haviam vários menores de idade e ela os recompensava com comida e abrigo. Lúcia não achou aquilo nada ruim, porque era melhor do que estar na rua e lá era não sofria nenhum tipo de abuso.Lúcia aprendeu a usar o seu corpo para conseguir coisas que queria, mas não era algo que a agrava muito, mas ela não tinha outra fonte de renda. Nunca foi para escola, então seu futuro era muito incerto.
Eu passei a gostar muito de ciência. Era um assunto que eu poderia ficar horas estudando e lendo sobre.- Você está se saindo muito bem nessa matéria, Ana. Quer dizer, você está se saindo muito bem em todas as matérias, mas em ciências você demonstra ser muito hábil. A professora sempre a elogia e diz que você apresenta os melhores trabalhos.- Obrigada, diretora Carmem. Eu gosto muito mesmo. Eu quero ser médica um dia, diretora Carmem e para isso eu preciso estudar muito. A professora Maria disse que é um dos cursos mais difíceis, mas se eu estudar muito eu posso conseguir.- Eu to
Eu sabia que algumas de minhas colegas de classe, que tinha 14 ou 15 anos, porque estavam atrasadas, estavam grávidas. Eu achava muito estranho no começo, mas depois se tornou algo normal.Mas eu nunca havia me interessado por meninos. Eu gostava de ficar com Davi, de conversar com ele, de brincar com ele, mas nunca havia pensado em meninos dessa forma. Eu não tinha interesse nenhum em namorar ou em qualquer coisa do tipo.Eu não reparava em como meu corpo estava mudando tão rápido, mas foi nesse época, 1 ano depois dessa conversa que tive com o doutor Alexandre e com a diretora Carmem, que um dia, quando Davi me cham
Quando o menino Maurício desapareceu, Carmem pediu que um de seus funcionários mais antigos, que trabalhava na limpeza e devia muita a Carmem, por toda a ajuda que ela havia lhe dado. Inclusive conseguindo esse emprego para ele. Ele sempre fazia tudo o que ela pedia. E ele sabia que ela tinha uma tendência a se preocupar muito com seus alunos. O nome dele era Robson.Robson era um antigo morador do morro da Rocinha e ele conhecia muita gente que morava ali. Ele conhecia os moradores mais antigos e sempre sabia das fofocas que rolavam por lá. Mas de todas as pessoas que Robson conhecia, Lúcia não era uma delas.- Diretora, eu já lhe falei que não sei muito sobre essa mulher. As poucas informaç
Paralelo as surras que eu levava, eu ainda tinha uma vida muito boa no colégio. Eu estudava cada vez mais e aprendia cada vez mais também. Até inglês eu estava começando a aprender sozinha. Davi continuava sendo meu melhor amigo, mas agora, um pouco mais moça, com 15 anos de idade. Eu começava a perceber que meu coração batia mais acelerado todas as vezes que eu estava muito perto dele. Davi tinha se tornado um belo rapaz. Muito diferente do menino branquelo, com óculos enormes e desengonçado que eu havia visto pela primeira vez. Ele havia crescido muito e o seu corpo se tornou muito bonito. O seu sorriso continuava sendo gentil como sempre foi. Eu amava aquele sorriso. Eu também já havia mudado muito. Meu corpo se tornou mais curvilíneo e eu notava que os rapazes me olhavam muito. A diretora Carmem havia me ensinado como cuidar e como pentear meu cabelo. Eu sempre guardava tudo o que me davam na sala da diretora Carmem. Ela me perguntou somente uma vez o porquê de eu não levar as