Capitulo 4

TALITA.

Quando peguei a chave do carro e sai ao encontro daquela menina, só conseguia pensar em duas coisas: o quanto me via nela e que deveria ter um motivo muito grande para Deus ter cruzado nossos caminhos.

Desde o momento que resolvi ser professora sabia que era muito mais que uma profissão, eu queria salvar almas, salvar jovens que como eu, um dia se sentiram perdidos sem saber o que fazer na vida. E no meio deles aquela garota se destacava, Sara sempre andava com sua amiga, raramente eu a via sorrir. Várias vezes parecia perdida em seu próprio mundo, isso quando não fazia alguma coisa absurda para chamar atenção dos colegas ela estava carente, mas não era apenas uma carência física, sabia que não, já me senti igual a ela, essa necessidade de ser amada e aceita pelos outros.

Logo notei que havia brigado com Júlia, ficou evidente o quanto eu precisava agir rápido, não queria que aquela garota pagasse o preço que paguei por falta de conhecimento da palavra de Deus.

Existem pessoas que são difíceis de ganharmos, mas ela não era uma delas. E cá estou no caminho para resgatá-la.

As luz do farol estavam bem forte, de longe avistei o orelhão. A encontrei sentada na calçada com a mão cobrindo o rosto, seu corpo estava encolhido como se estivesse tentando se proteger de algo. Estacionei o carro devagar, as luz forte iluminou seu rosto, virou o rosto e olhou imediatamente de forma assustada, tirei a chave da ignição e o cinto de segurança abrindo a porta. Ela me fitou alguns segundos e dei alguns passos em sua direção. Seu olhar parecia aliviado e seu rosto estava borrado e vermelho, me aproximei lentamente.

___ Vem cá querida, está tudo bem agora. Disse abrindo os braços. Passou as mãos sobre a coxa nervosa, finalmente se levantou e veio ao meu encontro ainda meio relutante. Cheguei perto o suficiente para analisá-la, e a abracei de forma aconchegante e carinhosa, seu corpo estava tenso por isso não correspondeu o abraço, seus braços se mantiveram soltos de cada lado do corpo e suas mãos fechadas mostrando um nervosismo fora do comum.

__ Sara me responde, você está bem? Eles fizeram algo? Balançou a cabeça negando.

___ Estou bem.

___ Vem, vamos embora! Você vai ficar em casa hoje está bem? Concordou e a guiei até o carro. Abri a porta para que entrasse, estava de cabeça baixa e eu sabia que estava escondendo algo.

___ Sara por que não me conta o que realmente aconteceu? Por que estava sozinha nesse lugar? Eu não vou te julgar, só quero saber a verdade.

___ A culpa é minha. Eu queria assustar meu pai, me vingar dele. No último segundo não consegui, não quis usar a droga que me deram, então me bateram e me roubaram. Desvia o olhar para suas proprías mãos.

___ Você fez a coisa certa, não sei qual é o seu problema com seu pai, mas acredite, não é se drogando ou fazendo coisas que vão te prejudicar que irá resolver os problemas, essa não é a maneira certa de chamar sua atenção. Alerto e ri nervosa.

__ Não existe uma maneira, meu pai nunca vai se importar comigo.

___ Ei, não diga uma coisa dessas, não conheço seu pai, mas se existe algo que acredito, é que seu pai se importa com você, ele pode ter sim uma maneira errada de demonstrar.

__ A senhora é muito boa, mas como disse, não conhece meu pai. Retruca aborrecida, apenas fico em silêncio. Ela estava muito machucada e nada que eu dissesse poderia mudar a mágoa que ela sente do pai, a não ser ele mesmo.

Descemos do carro, como já era tarde quase todos estavam dormindo exceto minha mãe, que veio ao nosso encontro preocupada.

___O que houve? Quem é essa menina?

___ É minha aluna mãe, ela vai passar a noite aqui, depois te explico tudo.

___ Querida, você está com fome? Posso preparar um lanche. Minha mãe oferece preocupada.

___Não, obrigada. Sua barriga roncou em seguida mostrando o oposto.

__ Sim mãe ela quer, aliás, faz dois por que estou morrendo de fome. Sorri. ___ Vou ter guiar para meu quarto e te apresentar alguém, aliás pode tomar banho e vestir uma das minhas roupas. Agarrei sua mão e forçou um sorriso, parecia menos nervosa que antes. No caminho analisa tudo com certa curiosidade, assim que entramos no meu quarto a Nega vem em nossa direção latindo e pulando.

___ Aqui está quem eu queria te apresentar, nega minha filha de criação. Abre um sorriso que não chega aos olhos admirando a cachorra, soltou minha mão a acaríciando.

__ Ela é muito linda.

__ Sim ela é. Sorri de volta, vou até o guarda-roupa e pego umas peças confortáveis para se vestir, as coloco em cima da cama, a observei brincar com minha cachorra agora sentada na cama, não sabia explicar o que eu sentia por essa garota, desde o momento que eu a vi tive a sensação de que um dia eu teria que ajudá-la, pedi a Deus várias vezes a sua direção.

___ Pode tomar um banho, enquanto ajudo minha mãe com nosso lanche. Aviso e dá um leve sorriso pegando as roupas.

___ Nunca ninguém fez isso por mim, obrigada. Me lança um olhar agradecido.

__ Não agradeça a mim, mas ao Pai. olho para cima. Acena e a acompanho até o banheiro.

.........

Volto para cozinha e ajudo minha mãe a preparar nossos lanches, explico tudo que tinha acontecido. Preparamos tudo com muito capricho como sempre fizemos e sentamos na mesa esperando ela sair do banho.

___ Você está bem? Minha mãe segura minha mão fixando seus olhos nos meus levemente preocupada.

___Estou sim.

___ Saiba que tenho orgulho de você, da mulher que se tornou. Sei que vai ajudar essa menina, posso ver o carinho que sente por ela.

___ Onde coloco minhas roupas? Sara aparece na cozinha e minha mãe a ajuda com as roupas. Em seguida sentamos para comermos juntas.

___ Está gostoso? Minha mãe pergunta.

___Sim senhora, obrigada.

___ Você deveria ligar para seu pai, ele deve estar preocupado.

___ Duvido muito. Murmura enquanto terminava de saborear o lanche.

___ De qualquer forma vou ligar. Me levantei pegando meu celular.

Confesso que fiquei um pouco nervosa assim que ele atendeu, ele estava prestes a dar uma bronca pensando que era a filha, então fui curta e objetiva passando o recado. Às duas me olharam curiosas.

___ Sejam sinceras, vocês acham que exagerei. Pergunto segurando o aparelho, Sara balança a cabeça negando e suspiro aliviada.

___ Talvez um pouco. Minha mãe contradiz e a encarei séria.

___ De qualquer forma ele merece. Se levanta. ___ Podemos ir dormir agora? Pergunta e aceno. Despeço da minha mãe.

Já no quarto, pego a coberta e entrego a ela, que deita olhando para o telhado pensativa, em seguida vou para o outro lado e me ajoelho na beira da cama.

___ O que vai fazer? Pergunta curiosa.

__ Vou agradecer a Deus; você deveria fazer o mesmo, afinal hoje ele te salvou de uma enrascada das grandes, imagino que mereça um obrigado não? Sugiro e se ajoelha na cama.

___ Não sei como fazer isso. Confessa suspirando.

___ Vem cá que te ajudo. Orar não é tão difícil como pensa, é como conversar com um amigo, apenas feche os olhos e tenha certeza que Deus está te ouvindo. Veio até meu lado, descendo da cama e se ajoelha perto de mim, seguro sua mão fechando os olhos.

__Meu Deus , obrigado por esse dia, por ter nos guardado e ter me usado para ajudar nossa amiga Sara. Sabemos o quanto o senhor a ama, e mesmo todas às vezes que ela se sentiu sozinha e as vezes que achava que ninguém a amava o senhor sempre esteve lá, tentando fazer com que veja o quanto é amada não só por mim, pelo pai, mas principalmente pelo senhor e foi por esse motivo que atendeu seu pedido e secou suas lagrimas e é por esse motivo que hoje ela está aqui , porque o senhor jamais desampara um filho.

Escutei soluços, percebi que sara estava chorando. Abracei forte que agora correspondeu na mesma intensidade.

___ shiii.. Coloca tudo para fora, desabafe com ele ,sei que você tem muita coisa guardada nesse coraçãozinho. Afasto limpando suas lagrimas.

___Eu não sei.

___Sim você sabe, apenas não esta com coragem para falar, mas esse é o momento Sara. Ele está aqui e quer te ouvir da forma como está.

Me levanto e vou até à porta da varanda a deixando confortável. Mesmo que não fosse minha intenção, pude ouvir o que ela dizia, e suas palavras quebraram meu coração.

___Eu não sei ao certo como dizer isso ao senhor, porque na realidade eu sempre me questionei sobre a sua existência, hoje tive a certeza que o senhor existe, não foi por mal, apenas entendia que se meu próprio pai não se importava comigo e tem coisas mais importantes para fazer , porque alguém dono do universo se importaria?

Porém, quando aqueles caras levantaram aquela barra de ferro na minha direção,eu estava preparada para morrer, mas no último segundo eu tive medo e pedi ajuda ao senhor, e naquele momento tive a certeza que era comigo, não penso que mereço alguma coisa do senhor, mas se realmente me escolheu eu quero mudar, espero que o senhor tenha paciência comigo e não desiste de mim. _Muito obrigada por me salvar hoje, e por colocar a professora no meu caminho e se pudesse escolher uma mãe queria que fosse alguém como ela, alguém que me amasse pelo que eu sou.

As lágrimas molharam meu rosto, me sinto honrada por ouvir que  gostaria que eu fosse sua mãe, mas minha tristeza era descobrir que Sara é muito mais carente do que imaginava, sua família não é unida e teria que fazer algo a respeito disso.

***********************************

O dia amanheceu, tive que pular cedo da cama, pois tinha que dar aulas, aproveitei para acorda-la, logo seu pai viria busca-la.

___Está me dizendo que aquele bonitão, dono daquela empresa importante, vai vir aqui e você vai receber ele vestida assim? Cruza os braços incrédula.

___O que tem demais? Ele vai vir buscar a filha, não tenho que impressionar ninguém. Aliás, gostaria de tentar impressionar-lo, mostrando o quanto a filha precisa de um pai presente. Balança a cabeça negativamente.

___Por isso está encalhada, Bruno vive te paquerando e você se esquivando dele, agora tem a hipótese de ganhar um ricaço e o recebe assim.

___ Prefiro esperar em Deus, lembre-se, você foi por aparência e dinheiro, e agora está se escondendo de um noivo psicopata. Respondo sincera e sua expressão muda para triste novamente. Droga! Eu e minha boca grande a abraço. ___Desculpa, não devia ter dito isso, agora que você voltou a sorrir te faço lembrar dele.

___Tudo bem, você tem razão. Eu que não deveria te dar maus conselhos. Sorri fraca. ___Porém, julgo que o problema não é o tempo de Deus, e sim o quanto seu passado te mudou,  pronto falei. Se retira me deixando pensativa. No fundo, sabia que tinha razão.

Terminei a mesa, Sara chegou e tomamos o café todos juntos, obviamente que meu pai ficou fazendo mil perguntas a menina, ela por sua vez parecia feliz, estava bem comunicativa, algo raro de ver, assim que terminamos sentamos na sala, não demorou muito escutei me chamarem.

___Seu pai parece que chegou, Yuri está chamando. Olho para ela que revira os olhos.

___Yuri? Espera,esse não é aquele Yuri não é mesmo? Fanny diz preocupada e sorri.

___Seu namoradinho na quinta série? Aquele que o papai pegou vocês se beijando e te deu uma surra. Ele mesmo.

___ Sua infeliz! Talita por que não me avisou. Ela bradou se arrumando e  dou de ombros.

___ Pensei que ele não era tão importante assim.

___Não é, quero dizer ele foi meu primeiro namorado, agora vai me ver  acabada com um filho e divorciada. Era tudo que eu sempre sonhei. Sorrio irônica.

___Divorciada sim, acabada não irmã, você está linda..__Bom deixa eu ir, não vou deixar ele esperando.

.....

Saiu rapidamente indo em direção a eles, yuri me abraça de forma calorosa, nós dois sempre fomos como irmãos desde pequenos, e sempre soube que ele morria de amores pela minha irmã,confesso que já cheguei a gostar dele, coisas da juventude. Direcionei para o Senhor ao seu lado que me analisava de uma forma estranha.

___ Vai entrar ou ira continuar me analisando? Disse sorrindo que disfarça sem jeito.  O peguei pelo braço e o arrastei para dentro, na verdade, fiz de propósito o jeito formal dele de homem intocável, era bem engraçado e segundos depois aconteceu a melhor cena do dia, eis que nega me aparece toda manchada de tinta latindo na direção dele, e o homem até então discreto e inatingível, gritou como um garoto assustado se escondendo atrás de mim, tentei segurar para não rir, mas foi em vão.

___Calma bonitão é só a Nega. O soltei envergonhada, o que acabei de dizer, bonitão sério Talita? De fato Fanny tinha entrado na minha mente só pode, não era cega ele realmente era um homem bonito. Mas dai chama-lo dessa forma, ter tido amigos homens quase toda minha vida me trouxe alguns problemas de afeição.

O levei para dentro e depois de analisar se a filha estava bem, notei que realmente a ama, só que como  já desconfiava não tem a mínima ideia do que a filha queria, na realidade parecia não conseguir saber a diferença entre palavras e atitudes, sabia que se quisesse ajuda-los teria muito trabalho pela frente, e tive começar intervindo para que não

 a agredisse, algo que jamais permitiria.

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