A mansão já não parecia a mesma. Havia algo errado no ar, uma presença invisível que se infiltrava entre as paredes, alterando o equilíbrio do ambiente. Eu sentia isso. Era como se um sussurro persistente se arrastasse pelos corredores, murmurando promessas que eu ainda não conseguia decifrar.E aquele sussurro tinha um nome. Cassandra.Nos últimos dias, ela parecia sempre presente, orbitando Damian com uma frequência que ultrapassava qualquer justificativa lógica. A cada evento da Blackthorn Enterprises, a cada reunião que ele participava, lá estava ela. Sempre próxima, sempre com aquele sorriso que parecia esconder algo. Chegando ao ponto de ir com seu carro até a frente da mansão Blackthorn para buscá-lo algumas vezes.Eu tentei ignorar. Tentei convencer a mim mesma de que era somente uma coincidência. Mas coincidências não aconteciam repetidamente.E o pior? Damian não a afastava.Ele não era um homem que tolerava proximidade desnecessária. Desde o nosso casamento, ele se mostrou
DamianHavia algo errado.Desde que conheci Cassandra, um peso estranho havia se instalado dentro de mim, algo que eu não conseguia nomear. Como se um fio invisível estivesse sendo puxado dentro da minha mente, forçando-me a questionar coisas que antes eram certezas, ou que se quer tinha pensado antes.A voz de Cassandra ecoava nos meus pensamentos."E se ela estiver tentando te mudar?""Você realmente acha que ela pode te amar pelo que você é?"Eu deveria ignorar. Deveria seguir minha intuição e esquecer suas palavras. Mas, pela primeira vez, havia uma parte de mim que não conseguia ignorar. E aquilo me deixava inquieto.A noite estava fria quando cheguei em casa. As luzes estavam apagadas, exceto por uma única lâmpada na sala, lançando um brilho amarelado sobre a poltrona onde Lin estava sentada. Seu corpo estava tenso, os braços cruzados, e seus olhos verdes brilharam no momento em que me viram entrar.Parecia que ela conseguia sentir a mudança. A distância. O cheiro que não era o
O cheiro dela estava por toda parte. Doce, enjoativo, invasivo. Uma mistura de algo floral e especiarias que se infiltrava nas paredes da mansão Blackthorn como veneno. Era uma presença que não deveria estar ali. Uma intrusa.E agora, ela estava na minha casa.Meus passos eram firmes quando entrei na sala, mas cada célula do meu corpo parecia em alerta. Eu soube que ela estava ali antes mesmo de vê-la. Meus sentidos captaram sua presença, meu estômago se revirou, e algo quente se espalhou sob minha pele. Era como se algo dentro de mim rosnasse em advertência.E então, lá estava ela.Casual. Confortável. Como se pertencesse àquele lugar.Seus cabelos negros caíam sobre os ombros em ondas sedosas, e seus olhos púrpura me analisavam com um brilho afiado, cheio de diversão. Ela segurava uma taça de vinho com elegância exagerada, os lábios pintados de vermelho se curvando em um sorriso satisfeito.Ela estava se divertindo. Comigo.— Então, você é Lin. — Sua voz soou quase como um ronronar,
O silêncio entre nós, jamais foi tão sufocante.Eu estava ali, diante dele, esperando, praticamente implorando, por uma resposta. Mas Damian não dizia nada. Nenhuma negação, nenhuma explicação. Apenas me encarava com aqueles olhos dourados indecifráveis, como se estivesse acima de tudo aquilo. Como se minha presença não o afetasse.Mas eu sabia que era mentira. Eu via a rigidez em seus ombros, o leve apertar de seus punhos, a forma como seu peito subia e descia em um ritmo controlado demais. Ele não era indiferente. Ele estava segurando algo dentro de si, algo que ele não queria que eu visse.O problema é que eu já via. E aquilo estava me destruindo.— Diga alguma coisa. — Minha voz saiu firme, mas carregada de dor contida.Ele não piscou. Apenas sustentou meu olhar.A raiva borbulhou dentro de mim. A frustração e o medo que vinham se acumulando nos últimos dias explodiram de uma vez, sem permissão. Parecia que uma fera selvagem dentro de mim havia se libertado, tomada pela fúria.— C
Por mais que estivesse magoada e ferida, havia uma força dentro de mim que não me permitia desistir do Damian e nem daquele casamento.Talvez fosse orgulho. Talvez fosse meu instinto sobre aquela mulher. Ou talvez fosse algo muito mais profundo, algo que eu não conseguia nomear, mas que queimava sob minha pele como uma ordem silenciosa: lute.Quanto mais Damian ficava com Cassandra, mais ele se afastava de mim. Seu olhar se tornava mais frio, suas palavras, cada vez mais curtas. Ele voltava para casa cada vez mais tarde e, às vezes, nem voltava.Mas se ele achava que poderia simplesmente me empurrar para longe, estava enganado.Eu não era o tipo de mulher que aceitava ser deixada para trás.— Você está se ouvindo, Lin? — A voz de Eva estava carregada de frustração, e eu sabia que ela se segurava para não me sacudir. — Você realmente vai continuar se sujeitando a isso? Ele está claramente escolhendo outra mulher, e você está fingindo que nada está acontecendo!Respirei fundo, sentindo
Não vou mentir, pensei em recuar, mas naquele momento, uma evasiva estava fora dos meus planos. Não era apenas pelo meu orgulho, assim como não era apenas desejo. Era algo muito mais profundo, como se algo dentro de mim quisesse mostrar que Damian era meu e que não permitiria outras mulheres por perto.Aquele instinto jamais me permitia desistir de algo que eu sabia que pertencia a mim.Se Damian queria continuar se escondendo atrás de desculpas e distância, eu quebraria cada uma dessas barreiras até não restar nada além da verdade.Eu o queria e estava na hora dele aceitar que também me queria.Fui trazida de meus pensamentos quando notei Damian passando a mão pelos cabelos, exausto. O cansaço não era físico, mas seus olhos dourados não apresentavam o mesmo brilho de quando nos conhecemos.Eu me aproximei, inclinando meu corpo para ficar em seu campo de visão enquanto deslizava os dedos sobre a mesa de madeira escura, segurando seu olhar.— Preciso que me acompanhe hoje à noite. — M
DamianO uísque queimava em minha garganta, mas não era o suficiente para acalmar meu corpo ou silenciar os ecos do passado.A brisa fria da noite entrava pela sacada do meu escritório, mas tudo o que eu sentia era o calor sufocante. Meus sentidos estavam confusos, fragmentos de memórias preenchiam minha mente. O cheiro de sangue impregnado no ar, os gritos, o estalar dos ossos. O corpo do Rei Alfa tombando sem vida diante de mim.E então, os olhos dela.― Lin? ― Não, não era a minha esposa. Era Ayla. Tão jovem e inocente.A mulher que me olhava como se eu fosse seu lar, sua promessa, sua proteção. A mulher que foi arrancada de mim naquela maldita noite. Como era possível que fossem tão parecidas? Eu odiava admitir isso, mas algo na Lin me fazia hesitar, fazia meu lobo se inquietar, fazia minha própria existência parecer um paradoxo. Lin me fazia sentir algo que passei os últimos anos da minha vida tentando reprimindo. E era por isso que eu precisava me afastar.Então veio aquele pri
Achei que já tivesse me acostumado ao silêncio daquela casa, mas a verdade era que ele só piorou com o tempo.Nos primeiros meses, eu achava que era uma questão de tempo até que Damian finalmente olhasse para mim como algo mais do que um peso dentro da sua vida. Então… depois de tudo, a mansão Blackthorn não era somente um prédio frio, ela estava se tornando um túmulo, o meu túmulo.Eu estava me afogando dentro dela. Dia após dia, as paredes pareciam se fechar ao meu redor a cada noite que ele não voltava, a cada manhã em que acordava sozinha, sentindo apenas o cheiro amadeirado dele impregnado nos lençóis como uma provocação silenciosa.E, o pior de tudo, era que, mesmo sabendo disso, eu não conseguia desistir do Damian. Parecia que alguma coisa dentro de mim continuava a lutar, tentando trazê-lo para perto, mesmo que minha mente gritasse que tudo era um absurdo e uma perda de tempo.— Lin, você precisa parar. — A voz de Eva cortou minha linha de pensamento, arrastando-me de volta pa