DiannaFiquei por alguns minutos encarando a água, não sabia o que fazer. A mão ainda parada sobre a pedra em meu peito, processando o que ele quis dizer, o que tudo aquilo significava. A responsabilidade que me aguardava. Eu não queria aquilo, só queria sumir, ter minha vida em paz em algum lugar bem longe dali. Mas então o que seria dos outros? Não me permiti pensar.— Parabéns, Dianna, concluiu sua missão. Já podemos voltar. – Ouvi aquela voz atrás de mim. Não a ouvia desde aquele dia.Quando me virei para encara-lo, o mesmo homem que me retirou da prisão, que me deu aquela missão, estava ali bem diante de mim. Como ele chegou aqui? Quando?O manto escuro e capuz ainda cobria todo seu corpo, sua voz ainda era estranha, abafada por algo.— Não concluí minha missão. – Sem saber o que dizer, foi o melhor que achei.Uma risada abafada saiu dele. Seus passos lentos eram como o de um predador, me cercando e encurralando.— Tem certeza, Dianna? Ouvi tudo e não sou idiota, entendi muito be
Liam Já tinha se passado dois dias desde que deixei Dianna naquele navio e meu coração está apertado porque sei que algo aconteceu. Bem lá dentro do meu peito, eu sei que algo aconteceu. — O que está acontecendo com você, irmão? Está distraído. Olho para o rosto de preocupação de meu irmão, Thuzan, e me recrimino por estar sendo um péssimo guardião nos últimos dias. — Eu não deveria ter deixado Dianna lá naquele covil de cobras. Estava na área da frente da mansão de nossa família, escorado na coluna redonda da cor mais profunda do azul do oceano. As ondas quebravam ao redor da mansão que ficava em uma elevação de areia. — Não se culpe, Liam. – Ele parou ao meu lado. – Você não sabia onde ela estava, não pôde fazer nada antes e a garota não sabia sobre nós, sobre nada disso, não é fácil para ela também. — Eu sei disso, e por isso me culpo ainda mais. Se ele a achou, eu também poderia tê-la encontrado. – Enchi o pulmão ao máximo e soltei o ar lentamente, tentando me acalmar. — E
Haj Estavam todos agitados a procura de Dianna. Sinceramente não esperava toda essa comoção das pessoas que a acompanhavam no navio. Não esperava que ela havia se tornado amiga dessas pessoas. Achava Dianna uma pessoa interessante, seu gênio se tornava um desafio para mim e isso me dava incentivo para tentar me aproximar mais e ela ainda era uma mulher muito bonita. Mas mesmo com tudo isso, eu acreditei que neste navio só teriam mercenários que venderiam a própria alma para ter muito dinheiro, ainda mais uma pessoa. Principalmente depois de ficar sabendo o que aconteceu com eles no passado. Achei que cada um estaria mais preocupado em receber sua parte do dinheiro do que em descobrir o paradeiro de outra mercenária. — Como pode nos trazer até aqui, nos acomodar e não se importar com o paradeiro de Dianna? – Ida me questionou assim que mostrei às meninas o quarto grande e muito bem decorado que elas podiam ocupar. — Eu só cumpri o pedido do chefe: trouxe todos vocês ao meu reino. Ag
LiamPodia parecer loucura, mas eu estava feliz por estar com Dianna ao meu lado. Poderia conversar com ela, conhecê-la melhor e entender como foi sua vida longe de nós. E descobri que a mesma não foi fácil. Dianna cresceu nas ruas, viu o pior dos seres humanos quando era uma criança e se virou bem. Sozinha. Ela disse que nunca teve ninguém para cuidar dela e que quando confiou em alguém, esse alguém a abandonou. Senti um aperto no peito quando me contou suas decepções, como se elas fossem minhas.Notei que algumas lágrimas tentaram escapar de seus olhos, mas ela não as permitiu que rolassem. Toda aquela história ainda a abalava e eu não sabia se o que ela ainda precisava saber a abalaria ainda mais.— Sou mesmo uma sereia? Ainda não acredito.Ri com sua resposta. Era a milionésima vez em que ela me fazia a mesma pergunta, até já me fez belisca-la para ter certeza de que não era um sonho, mas ela ainda continua fazendo a mesma pergunta.— Quantas vezes vou precisar dar a mesma respost
DiannaPelos riscos que eu fazia na pedra já havia se passado mais de uma semana. Eu tinha Liam e ele tinha a mim. Era isso. Ninguém veio a este lugar nos dizer nada, mal lembravam de trazer comida e água, se é que o que nos traziam era comida. Sempre comida velha, de dois dias talvez. Às vezes com cheiro de azedo, mas era o que tínhamos.Como cresci na rua, nem sempre tinha comida fresca e nem sempre tinha comida, mesmo que velha. Então, não era novidade para mim, mas para Liam sim. Ele resmungava sempre que deixavam uma comida quase azeda para nós; ficava de mau-humor quando esqueciam de nos trazer água ou comida, mas eu não o condenava. Ele era o melhor que poderia ter me acontecido nesse lugar.O homem era uma companhia constante, não era inconveniente e nem um abusador, pois se fosse não haveria socorro para mim. Teria que me virar com meus punhos como já foi preciso uma vez, a diferença aqui é que ele é um guardião e não é humano, embora se pareça muito com um. Eu o observava e
Arlo — Vamos, temos que ser rápidos. – O príncipe estava com pressa. Havia anunciado uma missão e por fim, que deveríamos sair logo. Fill saiu do quarto logo depois de mim, as armas que carregava estavam expostas e penduradas por todo lado. Eu também não estava menos armado. Havia adagas e facas escondidas em todo canto e uma espada presa às costas. Segundo Haj, nossa missão era resgatar Dianna da Ilha D’Jared, onde o guardião de lá a mantinha trancafiada em algum lugar da enorme mansão que iríamos invadir. Fiquei tranquilo quando ele disse que as garotas estavam em um passeio pelo castelo. Haj se certificou de que elas estariam ocupadas demais para perceber nossa movimentação e querer vir conosco. Se haveria batalha, então eu preferia que Arya estivesse segura. Sem os poderes da Relíquia, a guardiã estava vulnerável, e eu não queria ter mais uma preocupação na cabeça. O castelo era amplo e bem no alto, entre as montanhas, a descida foi demorada, mas logo chegamos na parte baixa
Dianna Haj permitiu que eu voltasse ao barco, tomasse um banho, comesse e dormisse por horas. Eu não tinha percebido o quanto meu corpo estava sedento por estas coisas, como eu precisava comer e dormir e de um bom banho. O lugar para o banho não era mais do que um balde com água e um caneco em um cubículo, mas tirar aquela sujeira do meu corpo fazia muita diferença. Parte da exaustão foi embora apenas com este simples ato. Era início da noite quando Haj me acordou, dormi por horas e não percebi. — Vamos tentar novamente. Pronta? Ele falava como se fosse algo que eu queria e não algo que estava sendo obrigada a fazer pelo bem de meus amigos. Balancei a cabeça em confirmação, me levantei, milagrosamente renovada, e segui para fora do quarto onde ele me mantinha trancada. De volta ao mar, a brisa noturna era muito mais agradável, a água parecia brilhar sob a luz do luar. Fechei os olhos novamente, não sei o que tinha na noite, mas era quando eu sentia essa proximidade. Foi quando se
DiannaAinda me sentia diferente, não consigo explicar. Aquela experiência despertou em mim um lado adormecido, algo mais selvagem que eu não sabia que existia em mim. Quando encontrei com Haj no barco, ainda sob a forma de sereia, eu o via diferente, é difícil entender toda a sensação. E ainda tinha as visões. No começo não soube o que era os fleches que via, mas depois percebi que enxergava pelos olhos de Liam sempre que ele tinha alguma emoção. E sentia também, por isso senti a felicidade vinda dele e soube que ele percebeu o que estava acontecendo comigo e talvez até tenha visto.Chegamos ao castelo e fui guiada pelos corredores por Haj e seus guardas. Embora eu tivesse voltado à forma humana, não me sentia mais como antes. Tinha algo dentro de mim que não estava lá até poucas horas. Passamos pelos corredores que levariam às prisões e seguimos por outro que nos levou mais fundo nas montanhas, o local era frio, mas de alguma forma isso não me afetava mais. As rochas tornavam-se mai