2

Eu caminhei pelo corredor até chegar no quarto que tinha uma porta roxa com um quadrinho pendurado na maçaneta, escrito "nie em sono", bati na porta duas vezes e depois de não obter nenhuma resposta eu entrei no quarto e vi que Melanie ainda estava dormindo em sua cama. Droga. Eu disse pra ela não ficar até tarde vendo Steven Universo. Caminhei até a ponta de sua cama e me agachei, comecei a acariciar suas costas já que ela estava dormindo de barriga pra baixo e a chamei na tentativa(Inútil) de lhe acordar.

- Só 3 minutos manhi - Melanie Resmungou e virou sua cabecinha pro outro lado.

- Melanie acorda, filha, a gente vai se atrasar pra sua escolinha, vamos meu amor - Falei, mas novamente não obtive qualquer resposta. Suspirei profundamente e logo pensei que teria que ir para o plano B. Voz e nome do terror, como a minha filha gostava de chamar.

- Melanie Collins Manoban, levanta! A gente tá atrasada! Você tem cinco minutos pra ir escovar o dente e colocar a roupa! Eu vou estar na sala te esperando e se você não aparecer nada de lanche com a Clarisse!!! - Falei e sem qualquer espera me retirei do quarto de Melanie. Parei no meio do corredor para conseguir me ver no espelho que tinha alí e passei as mãos pelo vestido preto para deixá-lo ajustado ao meu corpo. Modéstia parte, eu deveria ganhar um prêmio por me manter tão bem assim.

Muitas mulheres dizem que depois que tiveram seus filhos, seus corpos não voltaram mais a ser como antes, porém eu tive a sorte de ser mãe nova e consequentemente meu corpo não demorou muito tempo pra voltar ao que sempre foi. Tive Melanie quando eu tinha somente 18 anos de idade, me casei cedo demais, me tornei mulher cedo demais. Eu e o pai de Melanie éramos da mesma sala durante todo o ensino médio, ele era o cara mais bonito e popular, eu era a garota mais bonita e popular, faríamos o casal perfeito, certo?! Errado!. Bom, na verdade meio certo, fizemos o casal perfeito por 3 anos, até ele descobrir que seria pai. Mark sempre disse que seu sonho era ter uma menininha com meus olhos grandes, minhas bochechas, meu sorriso largo e meus fios escuros e longos de cabelo, um dia fizemos sexo bêbados e sem camisinha quando já estávamos casados e o sonho dele se realizou, porém não como o esperado. Mark surtou quando soube que eu estava grávida, disse que eu deveria tirar o bebê e eu disse que nunca tiraria, no primeiro momento ele não insistiu, mas depois de algumas semanas o comportamento dele ficou estranho. Até um dia em que eu estava com 3 meses de gravidez e o Mark me deu um chá um pouco estranho, o cheiro me lembrava canela, porém ele disse que era só erva doce. Quando eu provei um pouco senti o puro gosto de Canela e remédio, comecei a cuspir automaticamente, lembro de ter me sentido tonta depois de ter tomado aquilo, acabei tendo um sangramento minutos depois e não era difícil de associar uma coisa na outra, depois disso eu pedi divórcio. Passei toda a minha gravidez morando sozinha, mas tendo ajuda dos meus pais e minha irmã. Eles cuidaram de mim e Melanie da melhor forma possível e o pai de Melanie, Mark, só quis aparecer no dia em que ela nasceu pra registrar, porém, eu não deixei. Por isso seu nome é Melanie Collins Manoban, assim como o meu é Lisandra Collins Manoban.

Dei uma última olhada no espelho e joguei meus fios loiros para trás. Olhei para a raiz do meu cabelo e anotei mentalmente que eu precisava muito dar um retoque na raiz do meu cabelo. Nem que eu ficasse careca, mas morena eu não voltaria a ser. Queria me distanciar a cada dia de tudo o que Mark gostava em mim, ele amava meus cabelos escuros e eu pintei de loiro pra apagar isso, ele não queria que eu realmente investisse na empresa de cosméticos que eu sonhava em montar e essa foi a primeira coisa que eu fiz quando nos separamos, ele odiava pensar em mim como modelo e hoje em dia eu viajo exatamente por isso. Durante o tempo eu quis apagar a pessoa que o Mark conheceu porque nem eu mesma conhecia aquela lisa, por isso quis dar uma nova oportunidade para novas versões de mim e isso funcionou melhor do que eu esperava.

Abaixei um pouco do vestido preto tubinho com mangas longas que eu estava usando, balancei um pouco os pés para ajustar os saltos Scarpin que eu estava usando e fui pra sala. Me sentei no sofá e comecei a olhar o Feed do I*******m enquanto esperava pela Melanie, que inclusive, apareceu 4 minutos depois de eu ter me sentado com a boca formando um biquinho e sua expressão levemente mau humorada.

- Já tô pronta - Melanie disse assim que saiu do corredor e adentrou a sala.

- Tudo bem, vamos filha? - Perguntei e ela assentiu.

- Mas mãe e o meu lanchinho? - Melanie perguntou já formando uma leve carinha de choro.

- Está tudo dentro da sua mochila, eu coloquei aí dentro enquanto você ainda dormia - Falei e então ela sorriu e desfez a carinha de choro. Eu a peguei no colo e a ouvi rir um pouco por isso, logo fui caminhando até a garagem da nossa casa com ela em meus braços, coloquei Melanie na cadeirinha junto ao cinto de segurança e adentrei minha Mercedez. Demorei cerca de 15 minutinhos pra chegar a escolinha de Melanie, ou seja, eu me atrasei. Mas ela entraria na creche, aí daquela escolinha se ela não entrasse.

Eu estacionei em frente a escolinha e sai do carro primeiro pra tirar a Melanie da cadeirinha onde ela estava, depois de ter tirado seu cinto de segurança eu a segurei em meu colo com um dos meus braços e com a mão livre peguei sua mochila. Caminhei até a porta da escolinha dela, que inclusive estava fechada e tinha somente um porteiro alí.

- Olá, bom dia, eu sou Lisandra Collins Manoban e vim conversar com a professora..- Falei assim que me aproximei e tentei me lembrar do nome da professora da Melanie, qual era mesmo o nome dela?.

- Tia nie, mama - Melanie disse e eu suspirei e só assenti.

- Isso, com a tia nie. Não, espera, sua professora não era a Mariana? - Perguntei levemente surpresa e a Melanie assentiu.

- Sim mama, mas a tia Mariana teve que sair daqui e a tia nie virou minha professora e isso já faz tempo - Melanie explicou e eu só assenti.

- Bom, senhora Manoban eu vou liberar a sua entrada com a sua filha, mas ela não pode se atrasar tanto. Vocês estão 10 minutos atrasadas - O Sr. Ricardo disse e eu sorri como agradecimento quando o vi abrir o portão e me permitir entrar com a Melanie. Eu já estava sentindo meus braços pesarem com a Melanie em meu colo e por isso eu coloquei ela no chão e segurei sua mão para caminhar ao lado dela, meu anjinho já não era mais tão levinho assim. Melanie já tinha quatro aninhos de idade e era muito saudável, mas, era pesadinho ficar com ela muito tempo em meus braços.

Eu e Melanie caminhamos pelo corredor vazio até chegarmos a sua salinha. Quando parei em frente a porta da sala de Melanie, ela soltou minha mão e saiu correndo e gritando "Clarisse!!!" E foi se sentar com sua amiga, me deixando ali sozinha com uma leve cara de taxo.

- Olá, bom dia, você é irmã da Melanie? Ocorreu algo com a Sra. Manoban para que ela não conseguisse vir hoje? - Eu estava tão submersa por ver minha filha correndo e me deixando sozinha que não percebi a presença de uma mulher aparentemente jovem, bem mais jovem do que eu aos meus olhos. Honestamente eu deveria estar com a maior cara de sem graça no momento porque a menina que estava a minha frente parecia realmente convicta de que eu era irmã da Melanie.

- Desculpa, quem é você? - Perguntei, talvez um pouco rígida, já que ela pareceu um pouco assustada e então cruzou seus dedos e baixou um pouco a cabeça. - Desculpe, não quis ser grosseira.

- Tu-Tudo bem, eu sou a nova professora da Melanie. Me chamo Jennie Ruby Kim e você é..? - Jennie disse e eu suspirei antes de responder. Ser confundida com a "Irmã da Melanie", não era algo tão fora da minha rotina, mas eu me sentia meio ofendida quando esse tipo de coisa acontecia. Sempre que eu corrigia as pessoas tinha que lidar com os olhares que me cercavam logo em seguida, olhares que basicamente me chamavam de irresponsável e puta.

Não que eu ache que ter filhos cedo seja algo a se orgulhar, porque não é. Bebês dão muito trabalho, te deixam cansada fisicamente e mentalmente, e por mais que ninguém goste de admitir; Ser mãe as vezes é um porre. E eu não estou dizendo que ser mãe é um porre por culpa do seu bebê, mas sim porque aparentemente todo o mundo resolve se intrometer na sua criação e na forma como seu filho ou filha vive a própria vida, você precisa ter mais psicológico pra ter que aguentar os outros do que aguentar seu próprio filho e no geral do geral eu senti isso na pele, principalmente ao ser mãe quando eu tinha só dezoito anos.

- Eu sou Lisandra Manoban, mãe da Melanie - Respondi já prendendo todo o ar que eu ainda tinha em meus pulmões pra me preparar para o olhar dela que com toda a certeza iria me julgar. Mas, diferente do que eu imaginei, ela somente arregalou os olhos e tossiu um pouquinho.

-M-Mãe?! Você é mãe da Melanie? Nossa..Uau..É..- Jennie não conseguia nem me olhar direito, somente arregalava seus olhos tentando assimilar aquela informação e por mais que eu sentisse a maior vontade de ficar irritada, eu não fiquei. Eu só achei engraçado a reação que ela teve.

- Sim, eu sou a mãe da Melanie. Vim falar sobre o ocorrido do dia anterior com lanchinho da amiga dela e o menino chamado Camillo - Falei e Jennie aparentemente teve um estalo de profissionalismo e ajeitou sua postura e me olhou. Finalmente pude realmente me atentar a sua aparência e percebe-la melhor. Jennie era mais baixa que eu e não, isso não era culpa do salto que eu estava usando. Ela era naturalmente mais baixa do que eu. Tinha cabelos longos e lisos, em um tom loiro bem clarinho. Não parecia ser natural, era claro demais pra ser natural, mas dava um contraste quase que angelical com seu rosto que era redondinho e dócil. Jennie estava usando um gloss em seus lábios, um vestido azul e florido longo e um tênis branco, nada que a fizesse parecer mais velha, honestamente nem se ela quisesse conseguiria. Eu não acreditava que Jennie pudesse ter menos de 22 anos.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo