FernandaAcordo de manhã e o Felipe não está na cama, vou até a sacada e vejo que ele está lá embaixo no quiosque com o Gabriel, sorrio ao ver a cena, mas o Felipe está para variar, falando ao celular e gesticulando bastante.Vou até eles e quando estou me aproximando, escuto ele falando com a Ângela.— Não mãe, nenhum dos dois tem passaporte!Uma pausa, provavelmente ela estava falando.— Ela não vai aceitar isso, mãe, e outra, eu também não vou ficar longe deles.Pausa novamente.— Não, car@lho! É claro que não tô querendo isso, tá maluca? — ele passa a mão no rosto aparentemente nervoso e faz um carinho na cabeça do Gabriel.— Você não conhece ela, mãe, ela é cabeça dura, não vai querer isso não. Não mãe, ja disse que eu resolvo isso! Tá, tá bom! — ele se vira e percebe a minha presença.— A Fernanda chegou aqui, tenho desligar. Depois nós conversamos.— assim que desligou, veio me abraçar e me deu um beijo.— Acordou a bela adormecida?— Vocês que acordaram muito cedo! Tava faland
CariocaO dia hoje foi pic@, pic@ das brabas, carregamento chegando, muitos devedores sendo cobrados sem dó, só hoje dois caíram. Não me importa se implora mais uma chance, um dia ou uma semana a mais pra conseguir o dinheiro, tá devendo vai pagar, não tô nessa vida pra fazer caridade pra noia viciado, não. Morador honesto a gente até fortalece doando uma cesta básica, um remédio, um presente pra criançada no Natal, mas viciado vai pro colo da capeta se não me pagar.E como se não bastasse, recebi uma ligação de um número privado:— É quem? — sempre atendo na retranca quando me ligam no telefone pessoal.— Então Carioca, teus dias de família feliz estão contados, tu já fez muita gente chorar, agora é a tua vez!Eu gelei nessa hora, mas tentei não transparecer.— Mostra a cara, filho da put@ que os próximos a chorar vão ser da tua família! — nem me deixou terminar de falar, desligando na minha cara e a minha cabeça fica como?Dias e mais dias atrás de pista e até agora nada, o cara ame
JapahA Jéssica simplesmente desapareceu, parece que foi varrida da terra mas algo me diz que ela tá por trás das ameaças contra o Gabriel, mas não posso ser injusto e acusar sem provas, então quando tiver tudo no esquema eu converso com o Carioca.Minha mãe foi pra São Paulo, ela tem aluguéis lá e foi pra resolver isso, essa é a versão que contamos pro Carioca, não que ela não tenha ido lá pra isso, ele foi. Mas ela foi também atrás da família da Jéssica que mora lá, minha mãe e eu conversamos muito sobre isso e ela foi ver se descobre algo, inclusive se a Jéssica fez algum contato com a família nós últimos dias.Não sabemos muita coisa sobre a Jéssica, por isso acho que ali tem escama, mas minha mãe é mulher de b@ndido, aprendeu a ser sagaz como ele e tem bons contatos, então em poucos dias já descobriu que há muito tempo a Jéssica não vai visitar a família mas faz contato frequentemente, então ela deve estar enfiada em algum buraco pronta pra aprontar alguma coisa, porque jamais ela
CariocaEu não acredito no que acabei de ler, não é possível que isso tá acontecendo, eu sou muito otário mesmo. Todo esse tempo mudando por ela, tentando ser um cara melhor pra ela e pro meu filho e levo uma dessas.Caminho de um lado a outro pelo quarto com o celular dela na mão, volto para a barra de notificação várias vezes pra ler até entrar na minha mente o que eu tinha lido realmente.Esse banho dela parece durar uma eternidade e talvez isso não seja tão ruim, até porque eu não sei o que vou fazer quando ela sair daquele banheiro, se eu vou conseguir me controlar. Ele chamou ela de princesa e se referiu ao Gabriel como “nosso Gabizinho”. Que porr@ é essa?O que ele quis dizer com isso?E essa intimidade toda? Tem alguma chance do Gabriel ser filho dele?Nessa hora meu olhos já ardiam e eu apertava tanto o celular que mais um pouco ele quebraria. Eu não posso perder o meu controle, não posso. Eu fiquei três anos enjaulado e eles aqui fora só curtindo, se eu tivesse metido uma ba
Ângela— Como você sabe disso, Ângela? — Fernanda perguntou com um olhar confuso.— Minha querida! Eu sempre vou atrás de descobrir as coisas, sempre quero saber as duas versões, pois sempre há duas. — falei erguendo meu dedo indicador e só pela pergunta dela, sei que sim, a mensagem era do mesmo rapaz.— Fernanda, você e eu temos uma coisa em comum: nós duas nos apaixonamos por homens desse mundo do crim€, que por si só já é muito pesado, mas aliado a isso, meu filho, assim como o pai dele era, é um homem possessivo, controlador e muito, muito impulsivo. Tenho certeza que ele já deve estar repensando tudo o que fez hoje. Mas posso te contar umas coisinhas do início do meu casamento?Ela concordou com a cabeça.— Gosto disso em você, sempre está disposta a ouvir, isso ajuda muito a resolver as coisas. Como já te contei em outro momento, eu conheci meu marido ainda muito jovem e logo fiquei grávida. Aos 15 anos eu já estava casada, era muito imatura e ele ciumento ao extremo. Vivemos o
ÂngelaTanto o Felipe quanto o Eduardo são muito temperamentais, mas o Felipe é exatamente igual ao Jorge e ver tudo que acontece entre ele e a Fernanda me faz temer que algo possa acontecer. Embora sejam histórias diferentes, em alguns pontos me lembra a minha com o Jorge e é inevitável não recordar do meu passado e meu pensamento volta a tantos anos atrás, a uma época em que ter um telefone residencial era luxo para poucos, celular e redes sociais nem se cogitava a existência, então um dos meios mais comuns de comunicação eram cartas e após estar morando no Jacarezinho, passei a receber algumas. Na verdade eram bilhetes anônimos, que sempre eram deixados na caixa de correio da minha casa. Em todos bilhetes o aviso era o mesmo:“Abre teu olho, a cobra está dentro da tua casa”No primeiro aviso não dei atenção, afinal, todos sabiam que eu era traída, pensei que era alguma das mulheres com quem Jorge se envolvia querendo acabar com a minha paz, mas os bilhetes continuavam aparecendo sem
FernandaQuando saí da casa onde eu e o Felipe passamos a noite, eu saí sem rumo, queria estar com meu filho, mas também precisava de um abraço, desabafar com alguém, então pensei em ir na loja do Andrey e da Dani.Já estava na metade do caminho quando desisti, pensei melhor, eu sou adulta, não posso toda vez que tiver um problema com o Felipe ir correndo encher a cabeça dos meus amigos com as minhas lamentações, eles têm a vida deles e eu tenho a minha, tenho que aprender a resolver as coisas sem envolver os outros nisso. Dou meia volta e vou pra casa ou casa do Felipe, já nem sei mais.Quando entro, passo direto pela sala e nem vejo se tem alguém ali ou não, e vou direto pro quarto. Gabriel ainda dorme.Pego minha mochila e vou colocando algumas roupas, logo entra a Ângela, que por sinal é uma pessoa muito bacana, me deu vários conselhos. Ela é experiente e sabe exatamente o que estou passando, pois o marido dela era como o Felipe, tanto na vida do crim€ quanto na personalidade.Lig
ÂngelaSaio da casa do meu filho apressada para chegar rapidamente até a confeitaria localizada no Leblon. O tempo todo fui me comunicando com o homem que coloquei para vigiar ela na porta do prédio e ninguém sabe que eu fiz isso. Durante o trajeto, Eduardo me mandou uma mensagem dizendo que encontraram a Jéssica, mau sabe ele que estou indo ao encontro dela.Assim que chego na localização que recebi, vejo Antônio, o homem que coloquei para vigia-la. Ele está a uma boa distância onde não a perderia de vista e nem seria percebido por ela, nos cumprimentamos quase que imperceptivelmente aos outros, apenas com um gesticular de cabeça.E lá estava ela, realmente acompanhada por um homem, alto, forte, atraente e pouco simpático. Óbvio que vou fingir coincidência.Entro na confeitaria colocando meu óculos de sol na cabeça, de maneira que prendesse os fios de cabelo que insistiam em cair sobre meu rosto e me aproximo dos dois.— Jéssica, você por aqui? Que coincidência! Tá um calor danado lá