DaniAcordo com gritos e muitos barulhos, demoro a entender o que está acontecendo, meu telefone toca e eu atendo sem olhar quem era.— Alô! — digo sem ainda conseguir processar muita coisa.— Dani! Pelo amor de Deus vocês estão bem? — era o Andrey do outro lado da linha.Ouço tiros, muitos. Era uma invasão.– Estamos, quero dizer, vou no quarto da Fernanda olhar, não falei com ela ainda! Você tá onde, biba? – eu falava nervosa.Pausa, gritos e mais tiros.— Estou de baixo da cama com minha mãe! Amiga tá um inferno aqui embaixo, tiro pra todo lado. — ele diz.Ainda não sei se é invasão policial ou de alguma facção rival, Andrey mora numa parte mais baixa que a nossa e enquanto falamos ao telefone, eu escutava muitos gritos e barulhos, vou me arrastando até o quarto da Fernanda e o pânico toma conta de mim, ela não está ali, procuro na cozinha, banheiro e nem sinal dela. Impossível sair pra procurar ela com o terror que está lá fora.Ligo pra ela e escuto o celular tocando em seu quarto
JapahTodos nós havíamos dormido muito tarde, adentramos madruga em reunião, precisávamos discutir detalhes e estratégias, afinal, dois frentes de total confiança minha e do Carioca haviam sido mortos na nossa área, então houve uma falha grande na segurança.Não era possível que alguém entrasse de forma infiltrada na VK sem que ninguém percebesse nada, isso só me faz acreditar que o traidor paga muito bem alguém para se infiltrar aqui, o pente fino precisa ser feito logo. E após uma noite de poucas horas de sono, sou acordado com os celulares tocando, rádio apitando e os carai.Era um tsunami, terremoto ou quê?Não, nada disso, era o LC avisando que a Bope tá invadindo o morro, então o estrago é pior do que terremoto e tsunami juntos.Eu não tô acreditando que isso tá acontecendo e na loucura do momento, saio feito doido querendo colocar o bonde na pista pra ir pra Penha, mas sou contido pelo Vitinho e os outros, e eles tinham razão, seria missão suicida ir.Eu tô surtando aqui e que
FernandaQuatro meses se passaram desde que o Felipe foi preso e tanta coisa mudou, mas outras continuam exatamente iguais...O Japah assumiu o lugar do irmão até que ele volte, com certeza está tentando de tudo pra tirar ele da cadeia. O LC assumiu o comando da VK pois o Japah precisava de alguém de confiança pra ajudar ele nos “negócios”, então o LC se mudou para lá e não aceitou que a Rebeca ficasse aqui longe dele, então montou uma casa para ela e a levou com ele.No dia da invasão policial, quando acordei daquele pesadelo, o dia recém estava amanhecendo, meu coração estava acelerado e eu suava frio, não foi um simples pesadelo, foi como se fosse um... PresságioE talvez tenha sido mesmo...Sem pensar muito, levantei, coloquei a primeira roupa que encontrei no guarda-roupas, calcei um tênis, escovei os dentes, peguei o teste do laboratório e parti apressada até a casa do Felipe.O pesadelo não saía da minha cabeça e eu sentia uma necessidade de falar com ele, de alertar ou me expli
FernandaTodos estão empenhados em esconder junto comigo, o máximo que podem sobre a paternidade. Quando o Japah está aqui na VK, evito inclusive, sair do quarto, Dani disse que ele planeja a todo custo tirar o irmão da cadeia e eu espero que ele consiga somente quando eu estiver muito longe. Decidi que assim que o Gabriel nascer, eu vou pedir demissão do emprego e com o dinheiro da rescisão vou voltar pra minha cidade, não tenho familiares lá, mas tenho ainda o contato dos ex patrões da minha mãe, já conheço a cidade e assim posso recomeçar minha vida com meu filho.Naquele dia de horror da invasão, eu quase perdi meu bebê, precisei ficar alguns dias afastada do trabalho, então todo cuidado é pouco. Não saio para lugar nenhum a não ser pra loja e para as consultas pré-natal. Às vezes tem baile, pagode ou resenha aqui, a Rebeca vai com o LC e a Dani já veio algumas vezes também para curtir, claro acompanhada do Japah e ela sempre vem aqui me ver.O Japah sabe que estou aqui, mas não f
CariocaTô aqui nesse inferno e enlouquecendo, me pegaram na covardia, armaram pra meu morro ficar enfraquecido, só assim pra conseguirem mesmo, às vezes preferia ter morrido do que tá aqui.Os primeiros dias foram de muita tortura, fiquei na solitária duas semanas apanhando dos fardas todos os dias, passava sede e comia uma comida que nem os porcos comeriam, vivi pior que bicho e contato com meus advogados só pude ter depois de 01 mês. Japah tá dando um duro pra cuidar de tudo lá fora e pra tentar me tirar daqui, é fod*!Penso todo dia na morena, essa porr* não sai da minha cabeça, como ela pôde me fazer de corno de baixo dos meus olhos? Parecia que gostava de mim, que amava tanto quanto eu amo ela, mulher é o diabo mesmo. Agora que tô aqui deve tá dando pra geral, só de pensar nisso já fico neurótico. Ela sumiu das redes sociais, pelo menos nunca mais postou nada, todo dia penso em ligar ou mandar uma mensagem, pedir perdão por ter quase matado ela, mas pela segurança dela mesmo, nã
JapahDepois da rebelião se passaram alguns dias até que os advogados conseguiram a informação de que o carioca, na medida do possível, tá bem e assim que liberarem para visitas, eles irão até lá ver de perto como ele tá. Mas de novo ele tá na solitária, esses fardas são uns vermes mesmo, assim ele fica incomunicável. Foi uma angústia todos esses dias sem saber se ele tava vivo ou não.Durante esse tempo que ele tá no privado, eu tentei tanto tirar ele daquele inferno, a primeira tentativa de libertação foi quando ele tava no hospital todo machucado de tanto apanhar dos fardas quando foi preso, mas tinha um verdadeiro exército vigiando o local, foi impossível.Depois tentamos um plano para o dia do julgamento, durante o percurso da cadeia até o tribunal, mas também não deu certo, eles provavelmente imaginando que tentaríamos algo, colocaram o triplo de policiais a mais do que o normal na escolta e meu plano fracassou, me sinto um nada por isso, meu irmão é importante demais pra mim e
CariocaCada dia que passa eu sinto menos esperança de sair daqui. No dia da rebelião tentaram me passar, foi coisa planejada, certeza que foi, esse lugar virou a capital do inferno mas eu não me entrego, mandei vários pra vala, matei sem dó, o mundo é dos fortes e eu nunca fui fraco. Fiquei dias na solitária, os fardas tem gosto em me mandar pra lá, passei fome, sede e lá eu só pensava na morena...Ela me esqueceu e como eu queria conseguir esquecer ela também, não sei nada dela, eu sabia que não podia deixar o sentimento entrar porque minha vida é essa, foi até bom ela se envolver com outro, porque eu jamais ia querer ela aqui dentro de um presídio me visitando, foi melhor assim ela ter me esquecido. Fico pensando se um dia vou ver ela de novo...Minha sentença saiu e me ferraram legal, se no Brasil tivesse perpétua, teriam me dado. Os dias aqui não passam, o Japah tá molhando a mão das pessoas certas pra eu ter algumas regalias aqui dentro, algum conforto, senão for assim a gente v
JapahSaio do mercadinho pilhadão e já ligo pra Dani que logo atende.Que porr* foi essa que acabou de acontecer ali? Só não falei nada pra não assustar o garoto.— Oi amor, vem almoçar? — Dani diz.— Daniela, me passa o número daquela mina tua amiga, a Fernanda.— Como assim? Pra que você quer...Tô sem paciência e já corto ela, exaltado.— PASSA A PORR@ DO NÚMERO, CAR@LHO! Minha conversa com você é depois... — gritei no telefone.—Tá, já mando no Whats*pp e para com essa grosseria! — ela falou e desligou.Logo chega o número da Fernanda e eu ligo no mesmo segundo, mas tive que fazer três tentativas até ela atender.— Alô! — ela parecia desconfiada.— Oi Fernanda, preciso falar com você!— Quem é?— É o Japah! E não tenta me enrolar não que eu quero desenrolar uma parada contigo pra ontem, te encontro onde? — falo logo o que eu quero, ela suspira e fica calada alguns segundos.— Bora Fernanda, não tenho o dia todo não!— Eu tô no trabalho agora! Pode ser no início da noite?— Claro!