OS DIAS PASSANDO...NOITE DE BAILE NA VK:RAFAMais uma vez estou passando pela entrada da VK e percebo o quanto esta comunidade é maior e mais populosa do que a Pedreira. Embora seja o mesmo mundo ao qual estou acostumada, parece tão distante do modo como meu pai age.Desde criança, ouço todos na nossa comunidade dizerem o quanto ele é um cara discreto. E realmente é: sempre viveu longe dos holofotes negativos que o mundo do tráfico traz. Provavelmente, por isso, nunca enfrentou grandes problemas durante seu comando.Agora que finalmente tenho amigas de verdade, que coincidentemente também são filhas de traficantes, percebi que minha realidade é bem diferente da de outros familiares de chefes de comunidades. Meu pai sempre me deu uma liberdade incomum, permitindo que eu fosse a praticamente todos os lugares que quisesse, sem que ninguém soubesse quem ele é. Isso é algo quase impossível.Milena e Antonela são vigiadas o tempo todo, mas eu entendo, afinal, os pais delas, diferentemente
Thayla Minha tia quase infartou quando me viu com o Gabriel e agora praticamente não fala comigo; apenas conversa coisas necessárias. E eu não a julgo, afinal, me envolvi com um bandido. Ela quer que eu vá embora da comunidade, quer que eu viva em outro estado, onde ela tem conhecidos que poderiam me ajudar. Me recusei, óbvio. Isso não tem lógica alguma... ou será que tem? Thierry vai surtar quando souber que estou me relacionando com o dono do morro. Ele não queria que eu morasse aqui, imagina isso! Vai me querer muito longe daqui, assim como a tia Célia. Sei que eles querem o melhor para mim, mas o Gabriel jamais aceitaria isso. Para eu ir, teria que ser escondida. Porém, tenho medo de que ele faça alguma coisa contra minha tia. Fico aterrorizada só de pensar nessa possibilidade. Minha cabeça parece um software sendo instalado, com um monte de códigos e palavras processados muito rapidamente. Eu preciso me afastar do Gabriel. Sei que vai ser melhor assim, mas as lembranças do q
LECOEntre uma festinha privê na Penha e um baile em comemoração ao aniversário do gerente de segurança da VK, eu preferi o baile. Afinal, essas festinhas que o G4 tá fazendo sempre rolam, então eu vou na próxima.Céu estrelado, noite quente e quadra lotada, tudo excelente até eu chegar no camarote.Após fazer o toque com todos os parças, incluindo o aniversariante e o LC, percebo que a noite seria ainda mais quente do que apenas o calor do Rio de Janeiro. Em um canto, vejo a Milena acompanhada daquela amiga que peguei e pelo mané do pagode. Ela só pode estar de sacanagem com a minha cara.Que putariä é essa? Ela aqui, se esfregando com esse imbëcil na frente dos pais dela?Nosso olhar se encontra. O dela de aflição, o meu de raiva.Analiso tudo: o local, os olhares entre eles, os beijos carinhosos que, vez ou outra, trocam.Era isso que a Milena queria o tempo todo? Um mané babando em cima dela sem se importar dela estar ali dançando quase pelada?Já me arrependi de ter vindo e puxo
LECO— Qual foi, LC? O que tá pegando?Minha cabeça a milhão, só faltava o LC querer vir falar de trabalho logo agora.— Leco, eu te vi nascer, te vi crescer, e eu te conheço assim como conheço a Milena!Gelei ao ouvir, mas nada respondi e bebi um gole grande do whisky. LC é um cara calado, mas muito direto.— Tá achando que sou algum otärio e não percebi o que rolä entre você e a minha filha?— Não sei que papo é esse, LC! — bebi mais um gole sem olhar na cara dele.— Sabe, sabe sim! Sabe exatamente do que eu tô falando! Você e a Milena estão se pegando há muito tempo. Eu só não sei quando isso começou e não falei nada antes porque achei que era uns pegas de adolescência.Tentei responder, mas ele levantou um dedo, me impedindo, e continuou:— Fiquei na minha porque somos família e tento dar certa liberdade à Milena, dentro do que essa nossa vida permite, é claro. Mas hoje vi você extrapolar. Qual foi? Intimar o cara porque tá com ela, bem debaixo dos meus olhos? Você tá maluco?— Fi
MILENA Assim que saí do banheiro, não encontrei mais o Thierry, e só de olhar para o Leco, já vi em seu semblante o deboche. Ele fez ou disse algo para o Thierry, tenho certeza. Saio do baile, pego meu carro e vou até a entrada do morro. Os mesmos soldados do início da noite ainda estavam lá, pois o turno deles só termina quando amanhece. Perguntei a eles se viram o Thierry. Eles iriam lembrar, porque Thierry não é morador e precisam prestar atenção nessas coisas. Os soldados confirmaram que Thierry passou por ali e, de certa forma, fiquei aliviada, pois sei que o Leco não fez nada físico contra ele. Liguei para a Thayla, que se assustou, afinal, já era madrugada. Pedi a ela que me passasse o endereço do Thierry, e ela ficou ainda mais apavorada. Tentei deixá-la tranquila, e então ela me enviou por mensagem a localização de onde ele mora. Meu telefone tocou. Era minha mãe, preocupada, obviamente. Eu não tenho segredos com ela e falei que iria para a casa do Thierry. Ela penso
G4Os dias foram passando e eu não mandei mais mensagem pra Thayla. Aquele monte de bobagens que a tia dela falou ficou na minha cabeça, e talvez faça algum sentido. Sei que não sou um cara pra ela. O fodä é que eu sou amarradão nela. Nenhuma mulher mexeu comigo assim. A única com quem tive um lance um pouco mais sério, foi a Bruna, mas isso foi coisa de adolescente.A Thayla também não me procurou. Deve estar bem assim. Vida que segue, vou dar esse espaço pra ela pensar.Dia de festinha privê na antiga mansão, e tá tudo no esquema. Essas festinhas sempre rolam, coisa normal nessa vida do crimë.Churrasco, bebida, lança, pó e haxixe, tudo em grande quantidade. Aqui não tem miséria. A mulherada tá doida, dançando até o chão. Gostam de bandido e também de um pó. Uma delas eu já coloquei pra mamar e logo mandei ralar. É só mais uma como tantas outras que não têm nenhum atrativo. Aliás, só minha loira faz minha cabeça, e essa porrä não sai da minha mente.Pulo na piscina pra tentar refre
Thayla Os dias foram passando e, com eles, também a minha motivação para fazer qualquer coisa. Eu não tinha mais ânimo para nada. Até na faculdade, eu estava indo mal. Era como se eu estivesse no automático, fazendo as coisas com a cabeça em outro lugar. Não há uma noite sequer em que eu não durma chorando e pensando no Gabriel. Me sinto burrä e arrependida por ter me envolvido com ele, achando que poderia dar certo, mas não consigo deixar de amá-lo. Não contei os detalhes para minha tia, pois não queria preocupá-la; apenas falei que Gabriel e eu terminamos. Ela disse que foi melhor assim, e eu sei que ela está certa. Pedi para que me deixasse apenas na cozinha da lanchonete. Assim, eu não ficaria no balcão, tendo a oportunidade de vê-lo em algum momento, e tia Célia concordou. Ele não me procurou; eu também não o procurei, e não nos vimos mais. Melhor assim. Antonela se mostrou ser uma amiga verdadeira e não apoia as atitudes do irmão. Ela conta que ele está cada dia mais se
AntonelaO tempo fechou entre o Gabriel e eu. Nós tivemos uma discussão horrível após ele ter voltado da tal festa privê, que, por sinal, ele chegou em casa somente na tarde do outro dia. Só de pensar que ele estava em orgia regada a muita droga, me causa nojo.Nossa briga foi tão séria que cheguei a pensar que ele iria me agredir. Acho que só não fez isso porque sabe que seria cobrado por nossos pais; afinal, nenhum deles nunca levantou a mão para mim.É inacreditável o Gabriel pensar que eu o apoiaria nessas safadezas. Embora ele seja meu irmão, eu não passo pano para homem escrotö, sem contar que a Thayla é minha amiga, e eu não esconderia isso dela.Conforme os dias estão passando, a minha saudade do Cold só aumenta, e sinto que estou perdendo ele. Afinal, que tipo de relacionamento sobreviveria apenas por chamadas de vídeo?Chamadas essas que diminuíram muito, inclusive. Ele está de saco cheio, já percebi. E o pior é não poder contar a verdade. Apenas falei que minha família é ba