JULIE
DOR. Tudo simplesmente doía. Era como se um incêndio tivesse começado no fundo do meu estômago, espalhando-se rapidamente por cada centímetro do meu corpo. Embora as feridas que Scott me causou já estivessem quase todas secas, a dor física não era nada comparada à sensação constante que me sufocava. Quando o sinal da minha escola tocou, pulei da minha cadeira e agarrei a mochila, que já estava pronta. Eu sempre me preparo minutos antes do final da aula, com os dedos firmemente enrolados na alça da mochila. Conhecia cada detalhe dos horários dali, sabia exatamente quanto tempo as alunas demoravam para sair, o tempo das conversas no corredor, até as pausas para o banheiro. Mas, às vezes, o timing falhava e esses erros nunca terminavam bem. Com passos rápidos, segui em direção à liberdade representada pelas grandes portas duplas. Pegaria o ônibus para Rupert City, de onde andaria até Mints. O ônibus não passava por lá, e eu não tinha dinheiro para um táxi, então andar era minha única opção. Seguro a respiração até alcançar o ônibus, apenas para soltá-la em um longo suspiro de descanso assim que senti no banco de couro. Eles não me pegaram. Me abaixei no assento, torcendo para que ninguém percebesse que eu estava ali. A cada fechamento das portas do ônibus, um peso caía de mim, mesmo a segurança da cidade parecia insuficiente. As ruas lamacentas e cheias de casas destruídas foram desaparecendo conforme nos aproximávamos da Cidade. Os prédios altos da cidade projetavam sombras sobre nossa pequena cidade, como se não tivéssemos importância para eles. Para aqueles cidadãos ricos, eram apenas sombras de um mundo que preferiam ignorar, comprando os poucos terrenos que restavam para erguer novas construções. Ao descer do ônibus, agradeci discretamente ao motorista e ignorei os olhares imediatos de desprezo que recebia das pessoas ao redor. New City jamais nos acolheria. Mas nada importa agora, pois o cartão dourado na minha mão era minha chave para a liberdade. Começo a caminhar em direção à propriedade Mints, terminando as pernas começarem a arder depois de alguns minutos. Quando cheguei ao portão de aço imponente da mansão , pressionei o botão dourado, onde esperava que o porteiro atendesse, e quase soltei um grito quando uma voz rouca e entediada ecoou pelo alto-falante. — Saia do local. O Sr. Salvatore não está interessado em entrevistas, nem em doações para sua instituição de caridade, e muito menos em biscoitos de escoteiras. Engoli em seco, tentando parecer confiante. — Estou aqui para um trabalho. Tenho um cartão e tudo — respondi, segurando nervosamente a carta dourada diante da câmera, mesmo que ele não tivesse pedido para ver. Uma breve pausa, então um clique alto e o portão começou a abrir, revelando uma mansão colossal. Cada detalhe da propriedade gritava riqueza as fontes, os arbustos meticulosamente podados, os empregados cuidando do jardim. Caminhei até a entrada, e a ansiedade só aumentava à medida que me aproximava. Uma mulher de alta, com os cabelos presos em um coque e uma expressão gelada, abriu a porta. — Me dê o cartão — estendendo a mão. Tenti conter o nervosismo ao entregar o cartão, e ela começou a examiná-lo meticulosamente. — Nome? — Julie Cooper — respondo, entrelaçando as mãos para controlar o nervosismo. — Quem te deu isso? — Ela perguntou, lançando um olhar desconfiado por trás dos óculos. — Hum... um velho, ele só me deu. Ele foi muito gentil, um homem impressionante... — Parei quando ela levantou um dedo, interrompendo minha fala. — Esse é o Sr. Giovani, e ele não precisa dos seus elogios. Aqui todos recebem cheques generosos. — Ela virou-se e começou a andar pelo corredor. — Agora, siga-me. Sra. Carmen, como ela se apresentou mais tarde, tinha uma postura rígida e um olhar severo. Caminhei pelo que parecia ser um castelo, com móveis tão luxuosos que deviam valer mais do que tudo o que eu possuía. Quando finalmente paramos, ela me mostrou uma área reservada para os empregados, onde várias outras empregadas passavam apressadas, lançando-me olhares curiosos. — Em geral, não contratamos garotas jovens por causa de escândalos passados. Espero que você corresponda às expectativas do Sr. Giovani — ela afirmou, enquanto eu ficava intrigada com o que ela queria dizer com “escândalos”. Me levou até um pequeno escritório e começou a digitar meu registro no computador. — Você estuda na escola particular Corli Dickso? — Disse sem tirar os olhos da tela. Fiquei em silêncio, sabendo que contar sobre minha escola em Rimelford seria um erro. — Estudo em uma cidade pequena... Rimelford. Ela soltou uma bufada antes de voltar ao computador. — A família Agosti é muito generosa com estudantes esforçados. Terá seu próprio alojamento aqui e entrada gratuita para a escola Corli — declarou. Pisquei, surpresa demais para responder. Eu teria meu próprio alojamento? Frequentaria uma escola de elite? Era como um sonho. Ela me entregou meu uniforme e um papel com meu horário de trabalho. Meus turnos começariam às 4 da tarde e iriam até tarde da noite, com dias ainda mais longos nos fins de semana. Peguei tudo que ela me entregou, mal acreditando em como minha vida estava prestes a mudar. —Sra. Carmem, muito obrigada. Estou realmente grata... Ela revirou os olhos, como se a minha gratidão fosse irrelevante. — Só estou cumprindo o meu trabalho — murmurou. Ela me levou até um quarto impecável, onde eu ficaria. — Uau, é lindo — disse baixinho, encantada com o espaço. Ela me observou com um olhar cético, quase debochado, provavelmente achando estranho que eu ficasse tão feliz com um quarto simples. — Traga todos os seus pertences amanhã e peça aos seus pais para assinarem este termo de consentimento — ela disse, entregando um papel amarelo. Olhei para o papel e equilibrei a cabeça. — Eu... eu não tenho pais, Sra. Carmem. Ela hesitou por um momento, mas uma chamada em seu walkie-talkie interrompeu nossa conversa. — A Família Salvatore chegou de Dubai, está entrando na propriedade Mints. A expressão dela mudou rapidamente, e ela me dispensou, dizendo: — Saia pelos fundos. Vamos resolver o formulário de registro mais tarde. Antes que eu pudesse perguntar onde era a saída dos fundos, ela já havia partido apressada, me deixando sozinha para descobrir meu caminho naquele lugar desconhecido.JULIE Minha cabeça espia pela porta do quarto enquanto olho ao redor, tentando adivinhar onde seria a saída. Hesitante, subo as escadas lentamente. A Sra. Carmen de repente me vê sozinha e me lança um olhar confuso antes de marchar até mim e agarrar meu braço. – Você está louca? Eu disse para você ir embora, por que você ainda está aqui? – Eu... sinto muito não consegui encontrar a saída. – Este não é o momento para se perder. Eu suspiro quando de repente faço contato com algo duro, cambaleando para trás e caio no chão. – Merda, me desculpe. – Uma voz profunda diz acima de mim, e eu olho para cima do chão para ver um cara incrivelmente atraente, com cabelo loiro escuro e olhos azuis, que parecia ter 1,93 m. – Você está bem? – Ele pergunta, estendendo a mão. Meus olhos se movem em direção à mão estendida dele, então para o rosto bravo da Sra. Carmen. Lentamente, me levanto sozinha. O cara olha para sua mão rejeitada, com um pequeno sorriso no rosto enquanto seus olhos se mo
JULIE Minhas mãos roçam o tecido macio da roupa mais cara que já usei. Olho para mim mesma em pé na frente do pequeno espelho, vestida com meu novo uniforme escolar, que consistia em uma saia plissada escura, jaqueta preta justa e uma camisa social branca por baixo coberta com um laço perfeitamente dobrado. Infelizmente, meus sapatos sujos e rasgados não combinavam exatamente com a extravagância do tecido bonito, mas não me importei muito. Eles eram confortáveis, e isso era tudo o que realmente importava para mim. Eu escovo meu longo cabelo castanho, olhando para o relógio que marcava exatamente 6 da manhã. Pulando do meu assento, pego minha bolsa e meu telefone que já tinha as instruções de caminhada prontas. Era uma caminhada de 30 minutos, então tive que me preparar mais cedo, já que eu não era a mais rápida em caminhar com todos os meus ferimentos me atrasando. Eu já tinha todos os meus livros didáticos embalados na minha mochila velha. Eu esperava que o peso deles não ras
JULIE Assim que voltei da escola, troquei de roupa e vesti meu uniforme de trabalho. Pego a lista de tudo que tenho que terminar para meu turno hoje à noite na mão enquanto saio, meu cabelo já preso em um rabo de cavalo baixo. Eu me sentia esgotada, vazia. Não me lembro de nenhum pensamento sequer passando pela minha cabeça enquanto eu caminhava até o armário de limpeza, pegando tudo para limpar os quartos. A Sra. Carmen me deu a má notícia de que eu teria que continuar limpando os quartos até que a outra empregada melhorasse. Eu só esperava que nenhum deles estivesse em seus quartos. – Ei, você. – Uma voz profunda ecoa em meu ouvido e eu olho para cima, sentindo meu corpo congelar completamente quando vejo Marco caminhando em minha direção. Ele parecia estar vestido para sair com os amigos. Seu cabelo grosso estava puxado para trás e ele usava um moletom creme com calças pretas. – Um..h..oi Sr. Marco. – Eu digo nervosamente. Eu provavelmente parecia louca com meu rabo de
JULIE Eu não conseguia realmente compreender as palavras na tela do meu telefone. Eu podia vê-las, mais ou menos, através dos meus olhos que estavam lentamente se enchendo de lágrimas grossas. Eu não queria chorar, nunca quis mesmo, mas nunca consegui parar. Minhas lágrimas sempre tomaram conta de mim, era a única maneira de sentir algum tipo de alívio. Como se estivesse removendo toda a dor do meu corpo. Quando o nome de Sebastian apareceu na tela enquanto eu caminhava para a escola, pensei que estava tendo alucinações, até que passei os olhos pela linha de palavras que pareciam me aterrorizar mais do que qualquer palavra jamais me aterrorizou. Faltam 2 semanas, querida. Eu realmente não tinha opções. Se eu não desse o dinheiro ao Sebastian, minha vida acabaria instantaneamente, e eu não estava pronta para isso. Eu só sonhei em experimentar pelo menos um pouco de normalidade, por anos. Eu sabia que não havia como meu cheque cobrir os US$ 35.000 restantes da dívida da min
JULIE – Senhorita Cooper, você está 15 minutos atrasada. – A Sra. Carmen diz, com um olhar de decepção no rosto enquanto corro para a cozinha com meu uniforme. Ela me disse para encontrá-la aqui antes de começar a procurar nos quartos para me contar algo. – Peço desculpas, Sra. Carmen, uma das minhas professoras teve que falar comigo depois da aula. – Eu murmuro, meus dedos entrelaçados nervosamente. Eu odiava ter que mentir para ela, mas se ela descobrisse o verdadeiro motivo do meu atraso, eu não ficaria surpreso se fosse demitida na hora. – Quero que você ajude a servir bebidas durante o jantar hoje às 19h. Certifique-se de que os quartos também estejam limpos antes do seu turno terminar, como sempre. – Ela diz enquanto inspeciona as empregadas e os chefs que estavam preparando o jantar. Só de pensar nisso, fiquei enjoada, mas tudo que pude fazer foi concordar com as ordens da Sra. Carmen. Eu tinha algumas horas antes do jantar, então decidi limpar o quarto do Augusto pr
JULIE – O...o quê? Eu...nada. – Eu tropeço para fora, tentando evitar contato visual para que ele não notasse minha mentira. Embora fosse ruim nisso, tenho certeza de que ele já percebeu. Ele olha para trás de mim, seus olhos em Augusto e sua mãe. Assim que ele viu Augusto, sua mandíbula apertou, seu olhar queimando de raiva enquanto olhava para seu irmão. – Você quer dar uma volta comigo? – Marco me pergunta de repente, ainda olhando para seu irmão. Eu olho para cima, chocada com as palavras repentinas que saíram de sua boca. – Para...andar agora? – gaguejo, olhando para ele confusa. Era quase uma da manhã. – Sim, agora. Senão, você pode continuar espiando minha família. – diz brincando enquanto dá de ombros, virando-se enquanto caminha pelo corredor. – Por que eu iria querer fazer isso? – digo nervosamente, correndo até Marco enquanto começo a andar ao lado de sua figura alta. Ele olha para mim, uma pequena risada saindo de sua boca. Eu apenas olho para ele confusa sobr
AUGUSTO Cada coisa, cada som, cada voz, tudo era abafado pelo som dos carros esportivos acelerando ao meu redor. Meus olhos focam na estrada à minha frente enquanto ouço motores soando de cada lado. Não me incomodo em olhar para os dois filhos da puta que achavam que tinham uma chance de me vencer na única coisa que eu mais gostava. Eu sei que vou vencer, eu sempre venço. Quando a bandeirada baixa, meu pé, por instinto, pisa fundo no acelerador do Bugatti Chiron vermelho e o carro acelera pela estrada vazia. Eu podia sentir toda a raiva que eu tinha reprimido dentro de mim se liberando enquanto eu só acelerava mais. Meus olhos estavam concentrados na estrada enquanto eu deixava o som do meu carro encher meus ouvidos. Tudo passou por mim como se não fosse nada, tudo apenas se confundiu. Nada. Nem me incomodo em verificar se os outros dois motoristas estavam logo atrás de mim, eu sabia que estava muito mais à frente. Eu sabia que já tinha passado da linha de chegada, sem me preocu
JULIE Eu soube assim que o som da porta batendo e o Sr. Silas parando no meio da frase que ele estava aqui. Eu não queria acreditar, e por um momento eu tentei dizer a mim mesmA que poderia ser qualquer um, até que o Sr. Silas esmagou todas as minhas esperanças. – Sr. Salvatore, você se atrasou todos os dias deste ano, quando vai aprender? – Ele resmunga e sinto meu corpo enrijecer, minha mão no lápis não se move mais enquanto evito olhar naquela direção . Ele não responde ao Sr. Silas, apenas senta-se em sua mesa. Tento acalmar meus nervos focando apenas no Sr. Silas, que estava nos apresentando um projeto para o qual seríamos parceiros amanhã, mas não consegui evitar que minhas pernas tremessem nervosamente. Sua presença na sala me deixa aterrorizada e desconfortável. O Sr. Silas nos disse que não daria os detalhes até amanhã. Fora isso, tínhamos que terminar no fim de semana, e que era para entregar na segunda-feira, o que não era muito tempo, já que amanhã era sexta-feira