4. A propriedade Mints

JULIE

DOR.

Tudo simplesmente doía. Era como se um incêndio tivesse começado no fundo do meu estômago, espalhando-se rapidamente por cada centímetro do meu corpo. Embora as feridas que Scott me causou já estivessem quase todas secas, a dor física não era nada comparada à sensação constante que me sufocava.

Quando o sinal da minha escola tocou, pulei da minha cadeira e agarrei a mochila, que já estava pronta. Eu sempre me preparo minutos antes do final da aula, com os dedos firmemente enrolados na alça da mochila. Conhecia cada detalhe dos horários dali, sabia exatamente quanto tempo as alunas demoravam para sair, o tempo das conversas no corredor, até as pausas para o banheiro. Mas, às vezes, o timing falhava e esses erros nunca terminavam bem.

Com passos rápidos, segui em direção à liberdade representada pelas grandes portas duplas. Pegaria o ônibus para Rupert City, de onde andaria até Mints. O ônibus não passava por lá, e eu não tinha dinheiro para um táxi, então andar era minha única opção. Seguro a respiração até alcançar o ônibus, apenas para soltá-la em um longo suspiro de descanso assim que senti no banco de couro.

Eles não me pegaram.

Me abaixei no assento, torcendo para que ninguém percebesse que eu estava ali. A cada fechamento das portas do ônibus, um peso caía de mim, mesmo a segurança da cidade parecia insuficiente.

As ruas lamacentas e cheias de casas destruídas foram desaparecendo conforme nos aproximávamos da Cidade. Os prédios altos da cidade projetavam sombras sobre nossa pequena cidade, como se não tivéssemos importância para eles. Para aqueles cidadãos ricos, eram apenas sombras de um mundo que preferiam ignorar, comprando os poucos terrenos que restavam para erguer novas construções.

Ao descer do ônibus, agradeci discretamente ao motorista e ignorei os olhares imediatos de desprezo que recebia das pessoas ao redor. New City jamais nos acolheria. Mas nada importa agora, pois o cartão dourado na minha mão era minha chave para a liberdade. Começo a caminhar em direção à propriedade Mints, terminando as pernas começarem a arder depois de alguns minutos.

Quando cheguei ao portão de aço imponente da mansão , pressionei o botão dourado, onde esperava que o porteiro atendesse, e quase soltei um grito quando uma voz rouca e entediada ecoou pelo alto-falante.

— Saia do local. O Sr. Salvatore não está interessado em entrevistas, nem em doações para sua instituição de caridade, e muito menos em biscoitos de escoteiras.

Engoli em seco, tentando parecer confiante.

— Estou aqui para um trabalho. Tenho um cartão e tudo — respondi, segurando nervosamente a carta dourada diante da câmera, mesmo que ele não tivesse pedido para ver.

Uma breve pausa, então um clique alto e o portão começou a abrir, revelando uma mansão colossal. Cada detalhe da propriedade gritava riqueza as fontes, os arbustos meticulosamente podados, os empregados cuidando do jardim. Caminhei até a entrada, e a ansiedade só aumentava à medida que me aproximava.

Uma mulher de alta, com os cabelos presos em um coque e uma expressão gelada, abriu a porta.

— Me dê o cartão — estendendo a mão. Tenti conter o nervosismo ao entregar o cartão, e ela começou a examiná-lo meticulosamente.

— Nome?

— Julie Cooper — respondo, entrelaçando as mãos para controlar o nervosismo.

— Quem te deu isso? — Ela perguntou, lançando um olhar desconfiado por trás dos óculos.

— Hum... um velho, ele só me deu. Ele foi muito gentil, um homem impressionante... — Parei quando ela levantou um dedo, interrompendo minha fala.

— Esse é o Sr. Giovani, e ele não precisa dos seus elogios. Aqui todos recebem cheques generosos. — Ela virou-se e começou a andar pelo corredor. — Agora, siga-me.

Sra. Carmen, como ela se apresentou mais tarde, tinha uma postura rígida e um olhar severo. Caminhei pelo que parecia ser um castelo, com móveis tão luxuosos que deviam valer mais do que tudo o que eu possuía.

Quando finalmente paramos, ela me mostrou uma área reservada para os empregados, onde várias outras empregadas passavam apressadas, lançando-me olhares curiosos.

— Em geral, não contratamos garotas jovens por causa de escândalos passados. Espero que você corresponda às expectativas do Sr. Giovani — ela afirmou, enquanto eu ficava intrigada com o que ela queria dizer com “escândalos”.

Me levou até um pequeno escritório e começou a digitar meu registro no computador.

— Você estuda na escola particular Corli Dickso? — Disse sem tirar os olhos da tela.

Fiquei em silêncio, sabendo que contar sobre minha escola em Rimelford seria um erro.

— Estudo em uma cidade pequena... Rimelford.

Ela soltou uma bufada antes de voltar ao computador.

— A família Agosti é muito generosa com estudantes esforçados. Terá seu próprio alojamento aqui e entrada gratuita para a escola Corli — declarou.

Pisquei, surpresa demais para responder. Eu teria meu próprio alojamento? Frequentaria uma escola de elite? Era como um sonho.

Ela me entregou meu uniforme e um papel com meu horário de trabalho. Meus turnos começariam às 4 da tarde e iriam até tarde da noite, com dias ainda mais longos nos fins de semana. Peguei tudo que ela me entregou, mal acreditando em como minha vida estava prestes a mudar.

—Sra. Carmem, muito obrigada. Estou realmente grata...

Ela revirou os olhos, como se a minha gratidão fosse irrelevante.

— Só estou cumprindo o meu trabalho — murmurou. Ela me levou até um quarto impecável, onde eu ficaria.

— Uau, é lindo — disse baixinho, encantada com o espaço.

Ela me observou com um olhar cético, quase debochado, provavelmente achando estranho que eu ficasse tão feliz com um quarto simples.

— Traga todos os seus pertences amanhã e peça aos seus pais para assinarem este termo de consentimento — ela disse, entregando um papel amarelo.

Olhei para o papel e equilibrei a cabeça.

— Eu... eu não tenho pais, Sra. Carmem.

Ela hesitou por um momento, mas uma chamada em seu walkie-talkie interrompeu nossa conversa.

— A Família Salvatore chegou de Dubai, está entrando na propriedade Mints.

A expressão dela mudou rapidamente, e ela me dispensou, dizendo:

— Saia pelos fundos. Vamos resolver o formulário de registro mais tarde.

Antes que eu pudesse perguntar onde era a saída dos fundos, ela já havia partido apressada, me deixando sozinha para descobrir meu caminho naquele lugar desconhecido.

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