1. O presente

O vento soprava forte sobre o belo rosto da jovem que cavalgava pelo campo aberto de propriedade de seus pais. Se seus pais a vissem usando o vestido que lhe haviam dado pela manhã, ela estaria em grandes apuros, pois ainda não deveria estar usando, mas a tentação levou a melhor, e ela queria ficar bonita naquele momento. Selene impulsionou seu cavalo e cavalgou pelo terreno até chegar a uma das áreas rochosas que ela costumava visitar todas as semanas. Toda vez que ele vinha vê-la.

— Henry? — gritou ela metade, perguntou a outra metade e continuou procurando ansiosamente pelo homem.

Selene desceu das costas do cavalo e caminhou até chegar debaixo da sombra de uma árvore frondosa, onde amarrou sua sela a um dos galhos e sentou-se em uma pedra redonda, certificando-se de não estragar seu vestido.

— Henry! — ele ligou novamente após alguns minutos e nenhuma resposta do homem.

Selene suspirou e esperou mais alguns minutos, ela estava ficando impaciente e preocupada em igual medida.

— Henry! — gritou insistentemente, pois era muito estranho que ele não estivesse lá, além disso, não vê-lo estava machucando o coração dela.

— Pare de gritar, você é uma senhora, e as senhoras não gritam — o homem a repreendeu, enquanto saltava sobre as pedras uma a uma até alcançá-la, mas sem mostrar seu rosto.

— Você está atrasado — repreendeu Selene. — Você sabe que nosso tempo é limitado, e esperar uma semana não é agradável — disse ele, cruzando seus braços.

— Desculpe — sussurrou o homem, ainda não a encarando.

— Por que você não olha para mim? — assim, perguntou Selene, colocando sua mão sobre o ombro de Henry.

— Você não deveria me tocar, não é como uma dama — disse o rapaz, pedindo desculpas.

Selene corou e arrancou a mão rapidamente. Ela não podia ceder ao impulso, porque ele estava certo e não era como se fosse uma dama, tocando assim qualquer homem que não fosse seu marido.

— Desculpe, eu não queria deixá-la desconfortável — ela pediu desculpas prontamente.

Henry deixou sair um riso suave e melodioso.

— Não tenho nenhum problema em você me tocar, mas você é que não quer que eu fale com seus pais e os deixe saber de nossos sentimentos — disse ele.

Selene mordeu seu lábio.

— Não é tão fácil, Henry, papai sempre cuidou de mim e não me deixa ter nenhum contato com outros meninos — disse ele.

— Eu sei e não o culpo, gostaria de mantê-lo trancado em uma torre também e impedir que alguém o veja e se apaixone por você — disse ele.

Selene sorriu e deu um passo à frente para olhar para seu rosto. Ela susteve a respiração ao notar a contusão no osso do rosto direito dele.

— O que aconteceu com você? — Selene perguntou com um franzir o sobrolho.

— Foi um acidente — respondeu ele com um sorriso que não alcançou seus olhos. Selene pôde ver que por trás dessas três palavras havia algo mais.

— Você está me mentindo, Henry, por favor me diga, o que aconteceu com você? — insistiu Selene, acariciando seu osso do rosto ferido.

— Selene... — Henry hesitou.

— Foi o seu primo, não foi?

Henry suspirou

— Ele e eu sempre teremos desacordos — disse ele, tentando evitar o assunto, embora certamente sempre houvesse algum comentário a ser feito sobre ele.

— Isso não lhe dá nenhum direito de bater em você! — exclamou ele —Quem ele pensa que é? — perguntou ele com raiva.

Henry sorriu e riu interiormente, mas não disse nada.    

— Deixemos meu primo de lado, tenho muito que aturar sua presença o dia todo em casa, por isso, hoje quero que falemos apenas de você.

Selene corou, era inevitável, pois Henry conseguiu produzir coisas que ela não conseguia explicar.

— Os meus pais prepararam uma surpresa para o meu aniversário, eles vão me levar para sair hoje à noite — disse ela.

Henry ousou tomar as mãos de Selene nas dele, fazendo com que ela corasse a ponto de queimar as bochechas.

— Você está me tocando — disse ela, envergonhada.

Henry acenou com a cabeça e gostou da reação que ela estava tendo, especialmente porque ela não se afastou dele.

— Eu o faria em todos os sentidos, mas sou um cavalheiro, e você é uma senhora boa e honrada, Selene. Ainda assim, não posso deixar de desejar ter você, e ter todas as aventuras de um casamento com você — disse ele.

— Henry... — Selene sussurrou suavemente e prendeu a respiração quando ele chegou até ela e acariciou seu rosto.

— Você é tão bela, Selene, a mulher mais bela e excepcional que já tive a alegria de conhecer, você me dá tanta felicidade quanto me dá medo — disse ele.

— medo? — perguntou ela, intrigada, porque essa palavra não se enquadrava nos sentimentos que ela tinha por ele.

—temo que seus pais não aceitem um homem sem família e sem nome como seu marido. — Tenho medo de que eles queiram tirá-lo de meus braços e entregá-lo a outro homem — disse ela, regando seus olhos.

— Isso não vai acontecer, Henry, vou dizer aos meus pais que nos conhecemos há muito tempo, que estamos ansiosos para começar uma família em breve e... — Henry colocou seu dedo nos lábios.

Henry colocou seu dedo nos lábios de Selene e a silenciou.

— Não quero pensar no amanhã, Selene, muito menos se tenho que pensar em deixá-la — sussurrou ele, aproximando-se de seus lábios jovens e virgens.

Selene sentiu o hálito quente de Henry acariciar sua já quente e vermelha bochecha, fechou os olhos e esperou pelo próximo movimento dele, enquanto sentia seu coração bater e ela podia jurar que ele podia ouvir.

Henry traçou os lábios de Selene com a ponta dos dedos, sem pressa e calmamente, ele se aproximou lentamente do rosto dela até colocar seus lábios nos dela. Era um simples pincel de lábios, mas fazia Selene tremer da cabeça aos pés, e quando Henry se afastou, seu coração batia com força contra o peito, ameaçando quebrar sua carne e deixar seu peito.

— Henry...

— Eu te amo — confessou ele.

Selene abriu os olhos e cobriu sua boca com as mãos.

— Eu sei que não deveria falar com você desta maneira, Selene.

Ela negou, levou a mão ao peito e retirou o broche que se agarrava ao seu peito.

— Aqui — disse ela, suplicando.

— Selene...

— Selene... Há apenas dois destes, e ambos me pertencem, e sou livre para dá-los a quem eu quiser — disse ela.

Henry estendeu a mão e Selene colocou o broche em sua palma. Era um broche de lágrima, raro no reino, tornando-os algo muito especial. O desenho do broche em sua mão era único, ele tinha pedras preciosas como zircões, rubis, pequenos diamantes negros e esmeraldas que faziam do broche uma beleza, especialmente a pedra em forma de gota da qual seu nome nasceu.

— Não posso aceitá-lo, Selene, isto vale uma fortuna.

— Por favor, aceite, é a única coisa que eu posso lhe dar hoje — insistiu ela.

Henry tentou refutar, porém, não conseguiu dizer nada, pois um grito tocou.

— Miss Selene, Srta. Selene! — Os gritos se tornaram cada vez mais insistentes, então Selene correu para o seu cavalo.

— Vejo-a mais tarde — sussurrou ela para evitar ser ouvida pelo povo de seu pai.

Henry, por sua vez, mexeu nas pedras o mais rápido que pôde para evitar ser visto, subiu em seu cavalo e partiu para o palácio, ele estava chegando em tempo suficiente para a festa em honra ao aniversário de seu primo.   

Enquanto isso, Selene entrou em sua casa como um vendaval.

— Você mandou chamar-me? — assim, perguntou Selene, de pé diante de seu pai.

— O que será que a mantém longe de casa nos fins de semana? — assinalou seu pai, convidando-a para sentar-se ao seu lado.

— Vou dar um passeio, pai, não pense em coisas que não estão lá — disse ela calmamente, uma que não sentia.

— Não estou pensando nada, minha filha, confio em você e em sua prudência — Robert Russell esclareceu quase ternamente, mas quem o conhecia sabia que seu tom trazia um aviso implícito. 

— Não fique mais com a criança, minha querida, temos uma viagem a fazer — observou a mãe, ao entrar na pequena sala onde seu marido e sua filha estavam reunidos.

Selene engoliu quando sua mãe parou e franziu o sobrolho para ela, detalhando o vestido que ela estava usando.

— Que horas você vestiu o vestido?  Eu a avisei para não sujá-lo, e foi por isso que enfatizei que ele deveria ser usado no passeio que estamos fazendo.

— Tratei disso... — ela respondeu nervosa e apressada para se levantar, para verificar se nada tinha realmente acontecido com o vestido.

— Onde está o seu broche?! — perguntou ela, chocada quando não viu a gota d'água no peito de sua filha.

A cor de Selene mudou, ela colocou sua mão no peito, sem saber o que dizer.

— Selene... — ele a chamou com expectativa.

— Em meu quarto — ela respondeu hesitante e temerosa.

— Vai buscá-lo e depressa, não podemos nos atrasar — apontou com aspereza.

Selene não esperou que sua mãe lhe dissesse duas vezes, pegou seu vestido entre os dedos, pegou-o e correu para seu quarto para pegar o segundo broche, sem saber o verdadeiro significado daquela jóia linda e única.

Uma hora mais tarde, a carruagem desenhada por quatro corcéis brancos parou em frente ao impressionante palácio de Astor.

— Temos chegado, Sr. Russell — anunciou o motorista da carruagem, abrindo a porta da carruagem.

Robert foi o primeiro a sair da carruagem, depois Clarice, e finalmente Selene. A jovem ficou atônita ao ver o imponente palácio, ela sabia que somente pessoas privilegiadas tinham o direito de entrar no lugar, o que estavam fazendo ali?

— Pai? — ela perguntou intrigada.

— Não pergunte, Selene, e por favor, comporte-se de acordo com as maneiras que nos esforçamos para lhe ensinar — disse Robert admoestando.

Selene acenou com a cabeça e curvou ligeiramente em obediência, não querendo envergonhar seus pais na frente das pessoas do lugar.

A família Russell desfilou pela entrada principal, tratada com reverência e respeito, algo que surpreendeu Selene, mas ela permaneceu quieta e não fez perguntas.

O palácio estava cheio de gente elegante e não é de admirar que ali vivesse a família real, gente que todos conheciam, mas que os mais privilegiados podiam ver diretamente e, especialmente, compartilhar algum evento.

Eles foram feitos para caminhar por um tapete vermelho impecável e Selene teve que controlar sua respiração, assim como o calor em suas bochechas, pois ela não estava acostumada aos olhos de todos sobre ela.

Ela estava tão concentrada em não cair ou desmaiar de ansiedade que quase colidiu com seus pais, que haviam parado. Ela levantou seu rosto e seu coração parou quando viu Henrique de pé junto ao trono real. Surpresa e confusão foram vistas por um instante nos rostos dos jovens, mas rapidamente o rosto de Henry voltou à serenidade.

— Suas Majestades — os pais de Selene saudaram em uníssono, fazendo uma reverência, e Selene fez uma segunda reverência mais tarde, de onde ela não pôde ser vista pelo homem que prendeu a atenção de seus pais.

— Barão Russell... Sra. Russell — uma voz feminina adulta os saudou. Bem-vindos ao Castelo Astor. — Permitam-me apresentar meu filho, o Rei Frederick de Astor — disse a mulher com firmeza, mas ela ainda não conseguia ver ninguém além de Henry.

— Sua Majestade, é um prazer finalmente conhecê-lo, especialmente no seu aniversário — disse o pai de Selene. — Esperamos que o presente que trouxemos para você seja do seu agrado.

— Selene, filha — ligou sua mãe e se retirou. — Por favor, venha.

Selene caminhou com medo, ela não conseguia entender nada, pois era seu aniversário, mas eles tinham acabado no palácio real, onde outra pessoa também estava tendo um aniversário.

Na frente deles estava um homem, da mesma idade de Henrique, mas com um olhar sério e calculista, além da óbvia coroa que enfeitava sua cabeça. Selene engoliu e baixou sua cabeça.

— Esta é Selene Russell, nossa filha, sua futura esposa e rainha de Astor — disse seu pai.

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