Sara…Ayla desde muito nova, mostrava-se uma garota forte, e raramente chorava, mesmo quando era judiada por outras crianças ou se machucava fazendo alguma travessura, as reuniões entre mães do bairro sempre resultavam em questionamentos a respeito de como nós a criamos já que nunca presenciaram minha menininha fazendo uma das famigeradas birras nos mercados.E era justamente por motivos como aqueles que seu desabafo nos chocou tanto, ela era uma moça de mente muito racional, nunca havia nos dado problemas, então, quando seu emocional vinha à tona com tanta violência, causava uma sensação agonizante de desespero.Quando nos casamos, eu decidi que teríamos apenas uma criança, independe do sexo, pois, acreditava que somente assim, poderia ter um maior controle sobre seu comportamento, era um pensamento um tanto totalitarista, mas que na época, parecia o melhor a se fazer. Contudo, enquanto a via crescer, percebi o quanto se isolava em sua própria solidão, preocupando-me muito no início,
Foi impossível não me engasgar ao ouvir aquelas palavras, tossi algumas vezes tentando me recompor e ergui as mãos em frente ao rosto dizendo a mim mesma que poderia lidar com aquela situação, mesmo que longos arrepios escorressem por minha coluna enquanto pensava na gravidade daquela situação. Ayla estava praticamente adulta, então vê-la tão assustada, fazia com que meus instintos gritassem.– Eu parei de vê-los depois que você nasceu, agora eu apenas os sinto. – expliquei fingindo calma depois de refletir um pouco procurando pelas palavras corretas.– Eu estou vendo-as desde ontem... – ela choramingou, sussurrando e fazendo uma expressão de desânimo, chegando inclusive a formar um biquinho fofo. – A Susan disse que o estúdio de patinação era assombrado então achei que elas fossem de lá, mas agora passou outra correndo.Por um momento, a ideia de que aquelas crianças poderiam ter alguma relação com o culto me veio à mente, fitei fixamente na direção em que ela estava olhando e tentei
Felipe Percebi o quanto estava sendo egoísta quando pensei a respeito da minha estadia naquela casa, obviamente, a sensação de fazer parte daquela família era muito aconchegante, mas ao vê-los conversando animadamente entre si, entendi que, de certa forma, eu estava tomando o “lugar” da filha deles. Eu era um problema, um aborrecimento que não lhes pertencia e quando me dei conta disso, compreendi o porquê de me sentir tão introvertido, tive certeza de que precisava me esforçar ainda mais para retomar os rumos da minha vida, e esses eram os meus planos a partir daquele momento. Dessa vez estava sério quanto ao que faria com a minha vida, comecei a elencar alguns objetivos que precisaria para chegar a um grande propósito, algumas ideias me vinham à mente, e começava a pensar no que poderia fazer para melhorar a relação com o meu pai, mesmo instintivamente sabendo que a maior prioridade, na verdade, era me desculpar com a minha mãe. Estranhamente, às v
Sarah Mark, assim como eu imaginava, não trouxe o filho para dormir em minha casa naquela noite, dando indícios de que estavam em bons termos, e sorri, feliz comigo mesma por ver aquele desenvolvimento, no fim, nossas famílias estavam entrando nos eixos e o futuro parecia um pouco menos incerto. Recoloquei o telefone fixo no suporte e continuei meu caminho pelos corredores, trazia comigo um grande cesto de roupas limpas, distribuindo-as pelos quartos, não poderia guardá-las naquele momento, então apenas as deixava sobre as camas, e esperava que seus respectivos donos as guardassem. Parei em frente a porta do quarto de Ayla, e notei que estava sentada em frente à escrivaninha anotando algo em seu diário, aquele caderno era tão escondido que mais parecia um tesouro de piratas, ela nem imaginava que já havia lido todos os seus pensamentos quando o encontrei dias depois de ser comprado e escondido sob o colchão. Supõe-se que, na mente dela, estava bem escondido.
AylaNão havia palavras possíveis para descrever a sensação de finalmente poder dirigir tão livremente e com a permissão dos meus pais, suspirei sentindo a brisa fria bater em meu rosto, balançando meus cabelos e sorri, enquanto estacionava com cuidado numa das vagas disponíveis no estacionamento da editora, minha mãe pegou a grande bolsa de couro preto e ergueu o rosto fitando-me com um sorriso, despedindo-se antes de seguir seu caminho.No caminho para o colégio, o radialista explicava sobre uma forte tempestade que se aproximava, aparentemente, havia a possibilidade de desabar um temporal sobre as nossas cabeças a qualquer momento, mas não pensei muito a respeito, um congestionamento começava a se forma à minha frente e precisava me apressar para não perder a primeira aula.Quando parei em frente ao gigantesco colégio preparatório, me deparei com uma cena um tanto inusitada, Felipe estava parado em frente aos portões conversando com Allen, havia um pequeno monte de folhas ofício em
— Ayla, socorro! Me ajuda! – ela pediu sufocando quase sem ar, suas mãos tateavam o próprio pescoço em desespero, tentando se desvencilhar do que quer que estivesse aprendendo.Quando a mim, olhava ao redor, chorando sem saber o que fazer, tentei lembrar de algumas orações, pensando nas palavras da minha mãe e embolando os trechos, engasgando em meu próprio choro a cada grito dela.Ouvi passos se aproximando e quando me virei, notei que eram os rapazes, seus olhos arregalados, igualmente descrentes, caminhavam de um lado para o outro, procurando por algo que pudessem usar para ajudar a moça que tossia quase sem ar, tentando soltá-la.— Ela não está presa, está sendo sufocada... – sussurrei ignorando o medo do que eles poderiam pensar sobre mim depois de ouvir aquilo.Allen ficou estático por alguns instantes, incrédulo, mas rapidamente começou a tentar puxá-la novamente, sussurrando questionamentos que imaginei serem destinados ao espírito, continuei orando, pedindo pela nossa proteçã
FelipeNos dias que se passaram após aquele incidente, as palavras de Ayla ainda ecoavam em minha mente, causando desagradáveis noites insones, nas quais questionava-me a respeito dos fatos que ocorriam em minha vida, as vozes, as crises, eram situações que me deixavam confuso quanto ao que podia ser fantasias da minha mente, e pior, sequer podiam ser explicados pela espiritualidade.Mas se eram coisas da minha cabeça, então porque sentia-me assim?Eu não queria contar sobre aquela situação aos meus pais, muito menos aos meus padrinhos, mas logo percebi que estava fora da minha capacidade de escolha, então, depois de alguma relutância, fui arrastado para a sala de estar onde todos esperavam sentados ao redor da mesinha ovalada. E novamente eu era o centro das atenções, mas não estava gostando nenhum pouco disso.– Parece que teremos que contar a verdade afinal... – ouvi minha mãe sussurrando com apreensão, sua voz estava entrecortada e parecia incerta do que estava me dizendo. – Eu nun
Depois daquelas revelações bruscas, marquei a próxima consulta com a psicoterapeuta e tentei retomar meus estudos com mais afinco, focando em algo concreto antes que começasse a confundir a realidade novamente, imaginando que seria apenas o que faltava para me enlouquecer de verdade caso precisasse lidar além do processo de abstinência, com uma doença psiquiátrica.A expressão de surpresa no rosto da terapeuta quando contei toda a história era impagável, ela parecia prestes a pedir uma pausa em meio a aquele louco imbricamento de situações dramáticas que mais parecia uma novela mexicana, isso porque eu sequer havia contado as partes mais tendenciosas, omitindo o fato de que boa parte da minha família via espíritos.Ela concordava com os meus pais, julgando que havia uma possibilidade de ter ouvido aquelas histórias que parcialmente continham situações danosas, e mesmo que eu não me lembrasse de nada em específico, acreditava quando ela dizia que poderia ser alguma informação que ficou