Henrique Avellar, um dos mais notórios homens de negocio de Los Angeles, ajeitou o seu paletó antes de entrar em um dos restaurantes mais caros da cidade. Aquela noite, nada importava. Ele não se lembrava de Isabella Stuart e muito menos de ser conhecido como um homem casado. Para ele, o que importava era fechar o negocio com os gregos.
–Boa noite – Henrique disse sério ao se aproximar de uma mesa com um casal – Sou Henrique Avellar, me perdoem o atraso.
–Não tem problemas – o velho homem disse simpático segurando a mão de sua esposa por cima da mesa – enquanto esteve fora podemos conversar e isso foi muito bom.
–São recém-casados? – perguntou sentando-se a mesa.
–Somos casados há vinte e cinco anos – o homem disse sorrindo – nunca me canso de olhar para ela. – Disse como um verdadeiro apaixonado ao olhar para a sua esposa que sorria encantada com o que ele dizia – Vejo que não trouxe a sua esposa.
–M...Minha... Esposa? – disse sem jeito ao olhar para o homem a sua frente – Sr Alexander, do que está falando?
–Soube que é um recém-casado – sorriu – por isso aceitei o seu convite de vir jantar hoje. Gosto de ver como os recém-casados são. Me fazem lembrar de meu tempo.
–Acho que há algum...
–Espero que entenda Sr. Avellar que como um verdadeiro grego, prezo a família acima de tudo. Não sou de estreitar relações comerciais com homens solteiros, acho-os muito volúveis. Acredito que quando temos alguém ao nosso lado, tudo se torna mais fácil e faz com que nos esforcemos mais, não concorda?
–Deixe-me ver se eu entendi – Henrique disse pálido – está me dizendo que aceitou jantar comigo para discutir a negociação apenas porque sou casado? – perguntou sem acreditar em suas palavras - é isso mesmo?
–Precisamente – Alexander sorriu – admito que sua proposta foi uma das mais tentadoras que já havia recebido, mas sou a favor de fazer negócios com alguém em quem confie.
–Sabe que isso é um tanto ridículo, não é? – Henrique disse nervoso. Ele não estava acreditando no que a sua vida havia se transformado – Isso... sobre eu ser casado, de quem escutaram?
–De todo mundo – Alexander disse natural – era algum segredo?
–Eu não diria segredo.. Só acho imprudente a sua forma de fazer negócios Sr Alexander. Não deve confiar em alguém apenas por ele ser casado. Já vi muitos solteiros sérios e compromissados.
–Parece-me que está defendendo a sua classe – Alexander comentou incerto – Isso sobre o seu casamento é verdade?
–Sr Alexander, se for fazer algum negocio comigo será comigo e não com uma esposa. Espero que entenda o que estou falando.
–Estou e prezo muito o seu ponto de vista, entretanto prefiro os homens casados. Espero que não se importe.
–Não de forma alguma – mentiu sorrindo.
–Então porque não nos encontramos da próxima vez e o senhor traz a sua esposa?
–Minha... Esposa?
–Sim, tenho certeza que minha mulher irá adorar ter alguém com quem conversar. As reuniões de negócios costumam ser tão chatas para ela.
–Eu imagino – murmurou incomodado ao se dar conta da situação em que se encontrava. – “Tudo isso é culpa daquela louca” pensou ao sorrir para o grego a sua frente. Para ele aquela noite estava sendo um desastre e ela estava apenas começando.
***
Isabella sorriu ao entrar na sala onde daria aula para os seus alunos. Assim que entrou todos ficaram em silencio a espera que ela dissesse algo.–Bom dia, meus alunos queridos – ela falou sorrindo ao colocar o livro que trazia em sua mão em cima da mesa – hoje iremos discutir sobre um livro de William Shakespeare, a megera domada.
–Professora – uma menina ruiva de óculos disse ao erguer a mão – Esse livro não é muito avançado para a nossa classe? Estamos na quarta série ainda.
–Nenhuma literatura é avançada demais quando se quer aprender – Isabella falou sorrindo – muito bem, irei colocar um filme baseado no livro e em seguida iremos começar a lê-lo.
Isabella suspirou antes de ir ate o notebook que estava em cima da mesa e colocar o DVD que havia levado. Ligou o retroprojetor e não demorou para a sala ficar em silencio a espera do filme. À medida que o filme avançava ela se lembrou do Sr Avellar.
–Incrivel como ele e a megera são idênticos – murmurou concentrada no filme. – talvez eu consiga tirar algo daqui para fazer com que ele me ajude – disse esperançosa. O filme já estava chegando a seu final quando avistou a secretaria da diretora na porta lhe chamando. Saiu, silenciosamente, e ao abrir a porta estranhou o sorriso forçado dela – deseja alguma coisa?
–Preciso que venha ate a diretoria – disse séria – eu ficarei com a turma. Pode ir.
Isabella estranhou ainda mais o jeito bondoso da mulher a sua frente. Após pensar em diversas coisas andou em direção a diretoria com medo. Ela não era uma má professora, mas tinha receio que a sua mentira fosse interferir em seu trabalho de alguma forma. Antes de bater na porta, respirou fundo, colocou um sorriso no rosto e surpreendeu-se quando a abriu a porta. A diretora não estava na sala, em seu lugar um homem alto, com olhos azuis esverdeados a fitava sem uma expressão em sua face.
–Sr. Avellar? O que faz aqui? – perguntou confusa ainda o olhando demoradamente. –Veio entregar a intimação? Imaginei que isso ficasse a cargo de seus advogados. – disse séria lembrando-se das palavras dele.
–O que tinha proposto.. Ainda esta valendo? – falou direto, ignorando o comentário anterior dela – eu aceitarei ser seu marido por quatro meses.
–Como? Acho que.. Estou tendo alucinações – murmurou buscando algo em que se apoiar. Sentou-se no sofá perto de si, respirou fundo e o olhou – está falando sério? Quase me expulsou, não.. Na realidade me expulsou de sua empresa antes, o que mudou?
–15 milhões de Euros. Esta é a diferença.
–Eu... Não tenho como lhe pagar isso e convenhamos, o senhor não vale tudo isso – fez uma careta – não pagarei nem 30 libras por um homem sem expressão como o senhor. Com toda a certeza deve continuar com o seu negocio, não fique desesperado se estiver sem dinheiro. A prostituição não é um caminho honrável. – se levantou colocando a mão no ombro dele ao parar em sua frente – Todos temos nossos dias ruins.
Henrique não conseguia acreditar em que escutava. Ele havia ido atrás da mulher que destruía, lentamente, a sua vida para lhe propor um acordo onde ambos se beneficiavam e em troca escutava tais barbáries. Ficou parado sem saber o que dizer ou se ria ou chorava diante da situação.
–Isso é ridículo – disse por fim afastando-se dela – sou Henrique Avellar, o dono de uma rede de hotéis e cassinos. Acha mesmo que eu iria me prostituir para uma mulher tão barata e escandalosa como a senhorita? – falou ultrajado – 15 milhões é o valor do meu negocio que estou prestes a fechar. O grego com quem fecharei o negocio escutou de alguém que estou casado. CASADO – falou alto libertando, um pouco, de sua fúria – sabe o quão ridículo foi escutar sobre casamento durante duas horas? Duas horas escutando sobre a importância de se estar casado quando estou solteiro por culpa s-u-a.
Isabella engoliu em seco tentando transparecer calma.
–Mas.. Não fui eu que espalhei...
–Esqueça – a interrompeu caminhando, impaciente, pela sala – iremos fingir que estamos casados. Preciso deste contrato e a senhorita de um marido, correto? – ao vê-la assentir assustada continuou – Precisarei que vá há alguns jantares e talvez festa. Apenas isso. Não quero escândalo e muito menos foto em revistas, estamos entendidos?
–Porque acha que vou aceitar a sua proposta? – cruzou os braços séria. Ela estava louca para gritar de felicidade só não entendia a súbita mudança dele apesar do dinheiro envolvido – “E também preciso deixar claro que EU estou no COMANDO” pensou.
–Porque a única culpada por tudo isto é você, minha querida esposa – ironizou vociferando.
–A culpa não é bem minha... – sorriu sem graça. De tanto escutar que a culpa era sua começava a se questionar de não havia errado – além do mais.. só aceitarei se aceitar sair comigo e uma amiga minha. Ela tem que pensar que estamos juntos de qualquer forma. Se concordar, eu aceito.
–É a única pessoa neste mundo que persegue alguém, trama contra ele, faz todos pensarem que sou um canalha para no final impor a sua opinião como se estivesse certa. Eu não mereço isso – passou a mão pelos cabelos em sinal de exaustão. Ele havia pensado em todas as possibilidades possíveis sem conseguir encontrar uma saída que não a envolvesse – eu aceito – falou por fim – A diferença é que fará tudo o que eu disser.
–Como se eu fosse fazer isso – sussurrou com um sorriso vitorioso nos lábios – Nicole, agora irá morrer de inveja de mim.
Alice olhou perplexa para Isabella, a qual sorria descontroladamente há minutos. Desde que chegou do trabalho, ela olhou para Alice e gargalhou. Gargalhou de felicidade por poder tirar da face de Nicole toda a altivez dela.–Eu Consegui, Al – Isabella disse após parar de sorrir – Jackson finalmente irá se arrepender de ter a escolhido.–Como assim? Seu plano não era contra a Nicole? E o que está havendo afinal?–É obvio que quero mostrar a Nicole que não sou uma derrotada, mas seria muito bom ver um olhar de arrependimento dele, certo?–Isso esta parecendo que quer esfregar na cara dele que conseguiu alguém. Apenas isso. Sabe que não gosto disso, certo?–Eu sei – murmurou – mas.. Não é isso que penso, de verdade. Quero apenas me livrar desse sentimento de inferioridade. Apenas isso e nada mais.–Esta bem &n
Henrique arrumou os papeis em sua mesa com precisão. Olhou para o relógio se perguntando como Regina estaria e o que estaria fazendo naquele instante. Eles já estavam longe um do outro há mais de um ano e por mais que tentasse não conseguia, e nem queria, esquecê-la. O seu dia havia começado bem e nenhum problema havia sido relatado em seus hotéis, o que era um ótimo sinal. Já estava indo ler outro relatório quando o seu secretario entrou pela porta com um sorriso no rosto.–O que deseja Bruce? – Henrique indagou confuso. Era raro ver aquele brilho de diversão em seus olhos.–Vim falar que tens uma visita.–E desde quando recebo alguém sem estar na agenda?–Imaginei que teria um tempo para sua esposa, Sr Avellar – Bruce falou sério. Henrique já estava prestes a desmenti-lo quando se lembrou do contra
Alice meneou a cabeça ao ver Isabella retirar um vestido da sacola de uma butique cara. Ela não conseguia entender ou imaginar ate aonde a mentira iria.–Não está exagerando? – Alice indagou ao ver Isabella sorrir para si mesma em frente ao espelho – não acha que deveria contar a verdade agora?–É obvio que não – disse entusiasmada. – Mostrarei a Nicole que ela nunca mais pisará em mim.–Ela não pisou em você – a lembrou.–Pisou sim. Ela sabia quanto eu amava Jackson e mesmo assim... Fez questão de tê-lo para ela.–Bella, se ele gostava de você não acha que ele teria feito algo?–Não – falou rápido – ele era tímido.–Acho que está apenas tentando se enganar.–E eu acho que você precisa conhecer alguém.
Henrique levou o copo de uísque aos lábios. Vislumbrou a noite estrelada da janela de seu apartamento pensativo. A expressão de Isabella ao beijá-lo ainda permeava em sua mente deixando-o ansioso de uma forma estranha.–Isso é ridículo – murmurou para si mesmo ao afrouxar a sua gravata – a única que eu amo é Regina. Apenas ela e ninguém mais.***Oliver entrou com um largo sorriso na sala de Henrique logo que chegou ao hotel. A sua felicidade era perceptível a milhas de distancia.–Conte-me tudo – disse entusiasmado ao se sentar na cadeira em frente a mesa de Henrique – como foi o jantar?–Começo a achar que não é meu amigo – o olhou severamente antes de dar de ombros – foi um desastre.–O que houve?–A louca se atreveu a me beijar pra impressionar a sua amiga.&n
Henrique olhou para o seu relógio com a sobrancelha franzida. Já fazia uns quarenta minutos em que sentia um mal estar. Levou a mão a sua barriga e recriminou a si mesmo por ter provado a comida de Isabella.–Maldita hora em que fui confiar nela – resmungou ao levantar-se de sua cadeira. Estava indo para o seu banheiro privativo quando seu secretario surgiu segurando uma agenda. – Depois – disse mal humorado.–Mas.. precisa ir para a reunião agora.–Reunião? Que se dane.. estou muito ocupado – a medida que andava em direção ao banheiro sentia o seu secretario o seguir – eu estou indo, droga Bruce – deu-se por vencido ao respirar profundamente. – “O que eu estou sentindo é apenas azia.. azia”repetiu inúmeras vezes ao seguir o seu secretario pelo hotel implorando aos céus para que isso fosse verdade.
Henrique olhou para o seu reflexo no espelho do banheiro e lastimou-se pelo seu estado. Seus olhos estavam sem brilho e sua face pálida. Molhou o seu rosto na água gelada da pia e suspirou implorando aos deuses que Isabella, seu pesadelo, já tivesse ido embora e lhe deixado em paz. Abriu a porta do banheiro temeroso. Saiu apreensivo e ao escutar um barulho na cozinha, segurou-se para não gritar em frustração. Caminhou em direção a cozinha encontrando Isabella de costas para ele, colocando algo no fogão.–Realmente veio terminar o serviço sujo – Henrique disse assustando Isabella, a qual virou-se segurando a colher. Olhou para ele e sorriu levemente – Esta preparando alguma comida envenenada? Deve ter esquecido de acrescentar algum ingrediente mais cedo, não é?–Me parece estar melhor – comentou mentindo ao ver a palidez em seu rosto – porque n&a
Nicole olhou para Jackson com desprezo ao vê-lo chegar em casa carregando uma pilha de papeis. O ignorou continuando a assistir o programa em sua televisão, o viu passar por trás dela tendo consciência do olhar entristecido dele, entretanto optou por fingir que nada via.–Nicole, o que tem para comer? – Jackson perguntou ao retirar a sua gravata e seu paletó após depositar os papeis em cima da mesa.–Veja na cozinha, Jack – respondeu sem olhar para ele. – Isabella teve muita sorte em casar-se com Henrique, quem iria imaginá-la tão bem de vida agora. – comentou sem olhar para o semblante de seu marido, o qual demonstrava arrependimento. Arrependimento por não ter dito a sua amada que a amava.“Pena que seja tarde”pensou ao sentar-se e começar a trabalhar tentando esquecer-se da forma que o consumia. A fome de ser amado.*
Isabella deixou-se cair em sua cama assim que entrou em seu quarto no final da tarde. Há dias esperava pela ligação de Henrique ou algum sinal de vida, mas recebera apenas a visita de seu amigo uma, única, vez e nunca mais tivera noticias do Avellar, a quem deveria um favor agora.–Talvez ele não precise mais de mim – ela resmungou ao fechar os olhos. –Eu nem gosto dele, então porque estou pensando nisso? Ah! Porque Nicole pode querer sair novamente comigo e meumarido– cuspiu a ultima palavra ao fazer uma careta.–Bella, esta tudo bem? – Alice perguntou ao vê-la entrar em silêncio e ir direto para o seu quarto – fiquei preocupada.–Esta tudo bem Al, apenas.. não estou com bom humor.–Problemas no colégio?–Não, meus alunos estão burros, mas bem – disse ao abrir os olhos &ndash