Henrique arrumou os papeis em sua mesa com precisão. Olhou para o relógio se perguntando como Regina estaria e o que estaria fazendo naquele instante. Eles já estavam longe um do outro há mais de um ano e por mais que tentasse não conseguia, e nem queria, esquecê-la. O seu dia havia começado bem e nenhum problema havia sido relatado em seus hotéis, o que era um ótimo sinal. Já estava indo ler outro relatório quando o seu secretario entrou pela porta com um sorriso no rosto.
–O que deseja Bruce? – Henrique indagou confuso. Era raro ver aquele brilho de diversão em seus olhos.
–Vim falar que tens uma visita.
–E desde quando recebo alguém sem estar na agenda?
–Imaginei que teria um tempo para sua esposa, Sr Avellar – Bruce falou sério. Henrique já estava prestes a desmenti-lo quando se lembrou do contrato com os gregos.
–Mande-a entrar – falou de mau humor. Ele não sabia o que Isabella queria, mas tinha certeza que iria se irritar.
Isabella entrou com um largo sorriso na face. Ela tinha certeza que o mau humorado do Sr Avellar iria ser contra a ideia, mas estava pronta pra implorar se fosse preciso. Ajeitou a alça de sua blusa que teimava em cair. Ela trajava uma calça jeans, uma blusa de alças finas branca, pouco decotada, e sapatilhas.
–Feche a porta – ele disse ao vê-la entrar. Não conseguiu evitar de olhá-la de cima a baixo perguntando-se onde ela havia deixado a mulher sensual da noite em que haviam se conhecido. –O que deseja? – perguntou assim que ela se virou para ele após fechar a porta.
–É sempre tão direto assim ou é porque quer se livrar de mim o mais rápido possível? – indagou em tom de brincadeira.
–Quero me ver livre da senhorita, é obvio – falou sério deixando-a sem graça.
–Bem... Pelo que vejo é sincero ate demais – resmungou – Como aceitou a minha proposta, chegou a hora de nossa, primeira, atuação.
–Primeira atuação? – repetiu confuso.
–Sim. Nicole me chamou para jantar com ela e.. Como sabe, ela acha que somos casados.
–Deseja me levar como seu marido em um jantar, é isso?
–Sim – respondeu firme o encarando.
Henrique fechou os punhos com força para não falar algum impropério. Ele sabia desde o inicio que não deveria ter compactuado com aquela loucura, mas não tinha mais jeito. Suspirou fortemente ao olhar para ela.
–Tudo bem, marque o dia, a hora e o local com meu secretario antes de sair. – disse dispensando-a, mas ela permaneceu em pé. – o que foi?
–Não é estranho a esposa marcar algo com o secretario do seu marido? Quero dizer... Irá parecer que temos problemas.
–E acha que eu me importo com o que vão pensar? – sua voz saiu alto deixando-a sentida.
–Me.. Desculpe então – falou de cabeça baixa. Ela sabia que ele não estava gostando da ideia, mas não tinha outro jeito. – Vou marcar com ele então. Ate lá – despediu-se sem entusiasmo o que não passou despercebido por ele.
–Será que eu exagerei? – se perguntou, recriminou-se em seguida por estar se sentindo culpado.
***
Oliver segurou-se para não rir do que Henrique estava lhe contando com o semblante de desespero.–Oliver, o que faço? Não quero continuar com essa loucura.
Oliver apertou os lábios com força para não sorrir, respirou fundo diversas vezes, mas quando foi abrir a boca para dizer alguma coisa gargalhou com vontade, atraindo a atenção de todos do café onde estavam. Henrique revirou os olhos em sinal de desagrado. Recostou-se na poltrona e esperou o cessar dos risos.
–Me perdoe, mas foi impossível não rir com isso tudo – Oliver de explicou ainda sorrindo – quero dizer, não é todo dia que uma mulher consegue te tirar do sério e ainda levá-lo para o altar.
–Não brinque com coisas desse tipo. Sabe tão bem quanto eu que nunca vou me casar com alguém que não seja Regina.
–Eu sei, mas é realmente divertido. Basta pensar com calma e verá uma ótima comedia. Se isso fosse um filme, com toda a certeza seria um sucesso – disse pensativo – ei, acho que irei fazer isso.
–O que?
–Um filme com a historia de vocês, mas o final tem que ser bonito. Vocês dois se casando de verdade – falou pensativo. Já estava começando a imaginar o roteiro, o ganho financeiro quando sentiu um tapa em sua cabeça.
Henrique olhou com desprezo para o seu amigo. Ele sabia da imaginação fértil do mesmo e de seu excesso de bom humor, mas estava perdendo a paciência com ele. Voltou para o seu lugar, sentando-se em silencio. Segurou a xícara do café com força para não fazer algo a mais.
–Ei, não precisava ter me batido.
–Estou perdendo minha paciência – disse apenas fazendo com que Oliver ficasse sério.
–Tudo bem, vamos falar seriamente agora. Vai jantar com ela?
–Tenho que fazer isso, preciso dela para que o contrato seja finalizado.
–Ela já sabe?
–Que a estou usando? Não, mas ela também está me usando. Estamos apenas em um contrato para que ambos de favoreçam. Apenas isso.
–Sei, isso não me parece muito certo.
–E o que é certo? Ela ficar me perseguindo? Ora. Depois disso, cada um irá para o seu lado e não precisaria mais olhar para ela. É perfeito.
–Se você diz... – murmurou com um leve sorriso nos lábios.
***
Alice estranhou o olhar perdido de Bella, mas tentou não dizer nada. Ela sabia que sua amiga não estava bem. Isabella chegou do trabalho e jogou-se no sofá com um pote de sorvete em mãos.“Talvez eu devesse dizer a verdade a Nicole” Isabella pensou ao ver o programa distraída.
***
Nicole olhou pelo reflexo do espelho para o seu marido, Jackson, sem conseguir evitar uma expressão de desagrado em seu rosto.
–Então viu Bella e marcou um jantar?
–Foi – disse natural sentando na cama.
–Acha que está agindo certo? Sabe muito bem que ela teve uma queda por você.
–Ora, isso é bobagem. Éramos apenas amigos. Ela não sentia nada por mim.
–O único que acha isso é você – resmungou mal humorada.
Jackson tentou esconder a sua ansiedade ao escutar que Bella havia gostado dele. Desde o primeiro instante em que havia a visto no colégio, se apaixonou por ela, mas sempre imaginou que ela o via como amigo e como não queria perde-la optou por guardar seus sentimentos para si.
“Talvez eu tenha sido covarde” pensou.
Alice meneou a cabeça ao ver Isabella retirar um vestido da sacola de uma butique cara. Ela não conseguia entender ou imaginar ate aonde a mentira iria.–Não está exagerando? – Alice indagou ao ver Isabella sorrir para si mesma em frente ao espelho – não acha que deveria contar a verdade agora?–É obvio que não – disse entusiasmada. – Mostrarei a Nicole que ela nunca mais pisará em mim.–Ela não pisou em você – a lembrou.–Pisou sim. Ela sabia quanto eu amava Jackson e mesmo assim... Fez questão de tê-lo para ela.–Bella, se ele gostava de você não acha que ele teria feito algo?–Não – falou rápido – ele era tímido.–Acho que está apenas tentando se enganar.–E eu acho que você precisa conhecer alguém.
Henrique levou o copo de uísque aos lábios. Vislumbrou a noite estrelada da janela de seu apartamento pensativo. A expressão de Isabella ao beijá-lo ainda permeava em sua mente deixando-o ansioso de uma forma estranha.–Isso é ridículo – murmurou para si mesmo ao afrouxar a sua gravata – a única que eu amo é Regina. Apenas ela e ninguém mais.***Oliver entrou com um largo sorriso na sala de Henrique logo que chegou ao hotel. A sua felicidade era perceptível a milhas de distancia.–Conte-me tudo – disse entusiasmado ao se sentar na cadeira em frente a mesa de Henrique – como foi o jantar?–Começo a achar que não é meu amigo – o olhou severamente antes de dar de ombros – foi um desastre.–O que houve?–A louca se atreveu a me beijar pra impressionar a sua amiga.&n
Henrique olhou para o seu relógio com a sobrancelha franzida. Já fazia uns quarenta minutos em que sentia um mal estar. Levou a mão a sua barriga e recriminou a si mesmo por ter provado a comida de Isabella.–Maldita hora em que fui confiar nela – resmungou ao levantar-se de sua cadeira. Estava indo para o seu banheiro privativo quando seu secretario surgiu segurando uma agenda. – Depois – disse mal humorado.–Mas.. precisa ir para a reunião agora.–Reunião? Que se dane.. estou muito ocupado – a medida que andava em direção ao banheiro sentia o seu secretario o seguir – eu estou indo, droga Bruce – deu-se por vencido ao respirar profundamente. – “O que eu estou sentindo é apenas azia.. azia”repetiu inúmeras vezes ao seguir o seu secretario pelo hotel implorando aos céus para que isso fosse verdade.
Henrique olhou para o seu reflexo no espelho do banheiro e lastimou-se pelo seu estado. Seus olhos estavam sem brilho e sua face pálida. Molhou o seu rosto na água gelada da pia e suspirou implorando aos deuses que Isabella, seu pesadelo, já tivesse ido embora e lhe deixado em paz. Abriu a porta do banheiro temeroso. Saiu apreensivo e ao escutar um barulho na cozinha, segurou-se para não gritar em frustração. Caminhou em direção a cozinha encontrando Isabella de costas para ele, colocando algo no fogão.–Realmente veio terminar o serviço sujo – Henrique disse assustando Isabella, a qual virou-se segurando a colher. Olhou para ele e sorriu levemente – Esta preparando alguma comida envenenada? Deve ter esquecido de acrescentar algum ingrediente mais cedo, não é?–Me parece estar melhor – comentou mentindo ao ver a palidez em seu rosto – porque n&a
Nicole olhou para Jackson com desprezo ao vê-lo chegar em casa carregando uma pilha de papeis. O ignorou continuando a assistir o programa em sua televisão, o viu passar por trás dela tendo consciência do olhar entristecido dele, entretanto optou por fingir que nada via.–Nicole, o que tem para comer? – Jackson perguntou ao retirar a sua gravata e seu paletó após depositar os papeis em cima da mesa.–Veja na cozinha, Jack – respondeu sem olhar para ele. – Isabella teve muita sorte em casar-se com Henrique, quem iria imaginá-la tão bem de vida agora. – comentou sem olhar para o semblante de seu marido, o qual demonstrava arrependimento. Arrependimento por não ter dito a sua amada que a amava.“Pena que seja tarde”pensou ao sentar-se e começar a trabalhar tentando esquecer-se da forma que o consumia. A fome de ser amado.*
Isabella deixou-se cair em sua cama assim que entrou em seu quarto no final da tarde. Há dias esperava pela ligação de Henrique ou algum sinal de vida, mas recebera apenas a visita de seu amigo uma, única, vez e nunca mais tivera noticias do Avellar, a quem deveria um favor agora.–Talvez ele não precise mais de mim – ela resmungou ao fechar os olhos. –Eu nem gosto dele, então porque estou pensando nisso? Ah! Porque Nicole pode querer sair novamente comigo e meumarido– cuspiu a ultima palavra ao fazer uma careta.–Bella, esta tudo bem? – Alice perguntou ao vê-la entrar em silêncio e ir direto para o seu quarto – fiquei preocupada.–Esta tudo bem Al, apenas.. não estou com bom humor.–Problemas no colégio?–Não, meus alunos estão burros, mas bem – disse ao abrir os olhos &ndash
Henrique desligou o telefone com um péssimo pressentimento. O grego Alexander desejava encontrá-lo para jantar junto com a sua esposa aquela noite. Já fazia duas semanas desde a ultima vez que vira Pesadelo Stuart, ele já estava esquecendo-se dela e de seu problema quando a ligação o recordou.–Bruce – Henrique falou ao vê-lo entrar em sua sala segurando a sua agenda – ligue para Isabella Stuart e diga que vamos jantar hoje a noite com os gregos. Mande-a se vestir de forma elegante.–Senhor.. Porque chama a sua esposa pelo nome de solteira dela? – indagou ao segurar um sorriso.–Apenas faça isso e fique calado se quiser manter o seu emprego – respondeu sério ao voltar a sua atenção para o computador a sua frente. Por mais que não quisesse rever o pesadelo Stuart, sabia que o próximo investimento dependia disso. Ele não
O restaurante com o ar sofisticado remetia a Isabella Stuart um novo modo de prisão. A cada instante ela sentia-se ainda mais incomodada. Desde que chegara, via o modo com que Henrique a olhava, era como se ele tivesse esperando uma chance para criticá-la e ela tinha que ser sincera, a chance dele estava se aproximando. A esposa do grego a olhava com simpatia, e o que fez Isabella relaxar um pouco.–Então gostando da vida de casados? – Alexander indagou com um sorriso na face – os primeiros anos são os melhores.–Anos? – Isabella disse engasgando com o vinho – desculpe – pediu tossindo ao olhar de relance para Henrique, o qual mantinha-se impassível – Ainda estamos a pouco tempo casados.–Isso é verdade – o grego assentiu – mas o tempo passa rápido. Parece que foi ontem que nos casamos, não foi Bernadette? – sorriu para a su