Na manhã seguinte, para surpresa das recepcionistas do escritório Ramos Advogados Associados, Guilherme saiu do elevador carregando uma miúda bebê, nos ombros uma bolsa cor-de-rosa e ao seu lado uma mulher pequena de preocupados olhos amendoados, os dedos apertando nervosamente a alça da valise dele.Assim que caminharam em direção as portas de vidro que separavam a recepção do escritório, Mila e Vanessa, as duas recepcionistas, interromperam a conversa para olhar na direção deles.— Ah, meu Deus! São elas! — Vanessa exclamou, os olhos brilhando diante da mais nova fofoca para o almoço, provavelmente da semana toda.Foi impossível prosseguir com ambas acenando e pedindo para eles se aproximarem do balcão.— Ela é ainda mais fofa do que nas fotos! — Mila comentou, apoiando o queixo nas mãos enquanto sorria para o bebê.— Fotos? — Tábata perguntou, olhando de Guilherme para as recepcionistas. — Ah, sim! Ele nos mostrou várias fotos de vocês — Vanessa contou animada. — No celular, na te
Antes de Tábata voltar para casa, segurando Lean no colo, ao sair da sala de seu colega, Guilherme levou ambas em direção à própria.O ambiente do escritório parecia fluir em sua habitual movimentação: Papéis espalhados sobre as mesas, teclados soando, o barulho da impressora ecoando e o burburinho pairando no ar. Porém, conforme prosseguiam, papéis eram esquecidos, teclas paravam de ser pressionadas, a impressora foi desligada e o burburinho diminuiu.Guilherme compreendia a curiosidade dos colegas, e agradecia a discrição.— Ora, ora, Perez. Decidiu trazer a família para a firma? — Guilherme inspirou fundo ao reconhecer a voz inconfundível de Julian Carelli. O colega barrou a passagem, no sorriso e olhar uma mistura de curiosidade e provocação. — Então essas são as mulheres que laçaram o grande Guilherme Perez? Não vai nos apresentar?Tábata mordeu o lábio, rindo baixinho, enquanto Guilherme revirou os olhos com exasperação. Julian adorava qualquer oportunidade de provocá-lo. No ent
Guilherme e Tábata caminharam lado a lado em direção ao estacionamento do prédio do escritório Ramos Advogados Associados. Ela segurava a filha contra o peito, embalando-a, acalmando os próprios nervos após a cena que a ex dele causou.— Você está bem? — ele perguntou ao chegarem ao veículo.Ela respirou fundo, tentando controlar-se para não acabar transmitindo seus sentimentos à bebê.— Estou bem. Mas confesso que ela me assusta — confessou olhando para baixo, como se o ato de admitir em voz alta a tornasse mais vulnerável.Girando-a distraidamente entre os dedos a chave da caminhonete, Guilherme a observou com mais atenção.— A Simone não é perigosa, só voluntariosa — disse para tranquilizá-la. No entanto, não foi suficiente para convencê-la.— Não sei. — Tábata balançou a cabeça, tentando organizar os pensamentos. — Ela parece descontrolada às vezes. Sempre tão intensa, lançando ameaças e hoje... ela está claramente perto de explodir a qualquer momento.Chegando ao veículo, Guilh
O silêncio preenchia o quarto, quebrado apenas pela respiração suave de Lean no berço. Tábata ajeitou o cobertor delicadamente, um gesto quase ritualístico, enquanto Guilherme observava da porta. A luz amena do abajur iluminava os traços serenos da bebê, e, por um momento, tudo parecia perfeito e sem as complicações ameaçando a paz de ambas. Depois de ligar a babá eletrônica, afastou-se devagar, fazendo o mínimo barulho possível para não despertá-la, deixando a porta entreaberta.No corredor, Guilherme a envolveu a cintura de Tábata por trás, pousando o queixo em seu ombro ao seguirem vagarosamente em direção ao quarto principal. — Amor, o que está te incomodando? — ele perguntou fazendo-a virar o rosto para olhá-lo, a confusão estampada em seus olhos, fazendo-o explicar: — Desde que cheguei está calada, desanimada e distante. Nem mesmo Lean arrancou um sorriso desse seu rosto lindo — complementou beijando-a de leve.Ela desviou o olhar, deslizando os dedos pelo braço mantendo-a cat
Tábata ficou imóvel, piscando devagar enquanto absorvia e tentava compreender o que ouviu. Procurou por qualquer traço de dissimulação no rosto dele. Não encontrou nada além de genuína perplexidade.— Não entendo...— Tampouco entendo ela usar essa mentira pra nos afastar. — Guilherme caminhou de um lado para o outro, o semblante tenso. — Te garanto que Simone nunca esteve grávida, pelo menos não de um filho meu. — Diante do olhar surpreso e incrédulo dela, contou com desgosto: — Nem posso te condenar por acreditar nela, porque também acreditei quando ela me contou estar grávida. — Ele parou de andar e soltou uma risada amarga, deslizando os dedos pelos cabelos castanhos e longos, bagunçando-os ainda mais. — Quando ela me contou, fiquei tão feliz que vendi o apartamento onde morava. Comprei essa casa, por ter um parque perfeito para crianças... E era tudo uma maldita mentira. Tábata sentiu um aperto no peito ao ouvi-lo, mas não o interrompeu, permaneceu em silêncio, observando-o com
Prontos para enfrentar mais uma etapa no relacionamento, convidaram os parentes de Guilherme para almoçarem com eles no domingo.Na mesa um bolo simples, trazido pela prima dele, dividia espaço com travessas de massas e saladas, compondo a alimentação familiar. Lean descansava no moisés da sala, perto o suficiente do olhar atento dos dois. Entre garfadas a conversa seguia fluída, embora somente três conduziam a conversa: Guilherme, o pai dele e a prima mais nova. O tio dele não era de muitas palavras. A prima mais velha parecia área, embora lançasse sorrisos fracos. Tábata se sentia tensa com o que ocorreria mais adiante e preferia conduzir acenos e resmungos sorridentes.Perto do fim da refeição a bebê exigiu a atenção de Tábata. Quando retornou da troca e alimentação, estavam reunidos na sala e Guilherme fez um gesto sinalizando a chegada do motivo daquela pequena reunião familiar.Sentou ao lado dele, acomodando Lean em seus braços, necessitando dela para se sentir segura de algum
Após algumas horas os Perez que moravam na mansão Salvatore partiram, restando Paulina que acomodou-se ao lado de Tábata para conversar, sem pressa para partir. Guilherme saiu para trocar Lean e colocá-la para dormir, deixando as duas sozinhas.Tranquila, o peso de tantas semanas de incerteza finalmente encontrando um caminho para escapar, Tábata confessou:— Estava morrendo de medo de contar para sua família sobre mim e o Gui, porque sabia que também precisaria falar do pai da Lean. Achei que reagiriam pior... — Engoliu seco, desviando o olhar para as próprias mãos. — No fim só seu pai se mostrou contra.— Meu pai tem ideias conservadoras — Paulina explicou. — O que importa é que a maioria dos Perez gosta de você e do Guilherme juntos. Nós vemos como ele cuida e se importa com você e a Lean... — Paulina alisou o tecido da almofada em seu colo. — Fiquei sem graça quando percebi que só eu não tinha notado que havia algo entre você e o Guilherme.— Tentei esconder.Paulina riu baixinh
Não querendo passar outra tarde solitária em casa se martirizando pelo medo de perder a filha, depois que Guilherme saiu para o trabalho e Paulina partiu após outra breve visita, arrumou as coisinhas de Lena, o carrinho e foi para a casa de seus pais. Aproveitou e mandou uma mensagem para as amigas, marcando de encontra-las na hora de almoço delas.Logo que chegou a casa foi recebida pelo sorriso caloroso do pai e o frio inclinar de lábios de sua mãe, algo comum ao longo de sua vida.A sala estava iluminada pela luz suave que atravessava as cortinas de renda, e o ar carregava o leve aroma de chá recém-preparado, colocado sobre a mesinha de centro. Tábata tinha acomodado Lean no carrinho, ajustando o apoio e a mantinha florida da bebê, que esticava os dedinhos para brincar com os enfeites acima de sua cabeça. Em sua cadeira de rodas, Claudiano observava a cena fascinado, os olhos brilhando de ternura.— Essa menina vai crescer forte e esperta como a mãe — disse ele, a voz fraca e hesit