Deixei o apartamento de Jonathan muito pensativa. Em que mundo uma pessoa é julgada de assassina sem sair de casa? Eu poderia ser morta a qualquer momento e nem ao menos saberia o motivo da minha morte. O mundo é cruel demais, e as pessoas que não sabem viver nele são presas fáceis para predadores maiores. Jonathan me prometeu que não deixaria nada de ruim acontecer comigo; todavia, eu jamais permitiria que alguém colocasse sua vida em perigo por minha causa. Já basta o que aconteceu com Talita, e por mais que esse perigo que eu esteja correndo seja por um erro dela, ainda assim eu jamais conseguiria sentir raiva ou qualquer sentimento contrário ao amor que sinto por ela. Talita já pagou por seus erros no momento em que morreu por minha culpa, pois naquela noite quem deveria ter morrido era eu, apenas eu e mais ninguém. Sei que posso estar sendo vista como vítima, ou que outras pessoas possam achar que estou me vitimizando, mas no meu coração, até uns meses atrás, eu era apenas uma p
Nunca tinha percebido que o prédio em que eu morava era enorme, pois parecia que do meu apartamento até o de Jonathan eram quase mil quilômetros, e não que ele estivesse abaixo do meu. No momento em que o elevador parou no andar de Jonathan, respirei fundo e comecei a caminhar rapidamente até seu apartamento. Não deu tempo de bater à porta, pois logo ela se abriu. Jonathan saiu e me olhou, procurando resposta apenas no olhar, mas ele não teria nenhuma resposta para suas perguntas silenciosas, pois primeiro ele teria que responder as minhas. — Você está bem? Senti o cheiro de medo em você antes mesmo do elevador chegar ao meu andar. — Caminhei até ele e, no impulso dos sentimentos que estavam emaranhados, uma bagunça sem fim, acertei-lhe um tapa. — Tamara, o que houve? — Jonathan nem mesmo fez cara de dor. Eu até duvido que meu tapa o fez sentir cócegas. — Seu desgraçado, você não podia fazer isso comigo. — Comecei a socar o peito dele com toda a força que existia em mim; eu queria
Nos dias em que eu não dava aula na faculdade, era o dia em que eu ia até a minha alcateia ver como estava o andamento dos planos para proteger Tamara. Era uma viagem curta e cansativa, pois eu tinha que estar em frente ao prédio onde estava morando para ter um momento a sós com a minha deusa. Com a volta de sua loba, Tamara mudou muito; ela conseguia enfrentar qualquer um que aparecesse à sua frente, mas parecia que seu temperamento forte era reservado apenas para uma pessoa (eu). — Está com essa cara de frustrado por quê? — Estava no meu escritório na casa da alcateia quando ouvi a voz de Túlio. Levantei minha cabeça e vi ele entrando. — Como foi por lá? — Mudei de assunto. — Não vou contar até você me dizer o porquê dessa cara de quem comeu e não gostou. — Isso aqui é por culpa de um bocudo que não devia falar as coisas que não convêm. — Poxa! Mano, passamos esses dias todos sem nos ver, e na primeira oportunidade você j**a na minha cara que sou bocudo. — O miserável perguntou,
Senti o veneno correndo por minhas veias. O lobo que Rocco matou, arrancou seu pescoço e estava, de alguma forma, cheio de um veneno que é fatal para os lobos. Meu lobo estava começando a ficar tonto. Rocco não queria desistir; nós poderíamos morrer jogados no chão daquela estrada. Entretanto, Rocco não daria gosto para aqueles lobos verem o nosso fim. Meu pai já tinha me ensinado uma forma de controlar e atrasar o veneno em nosso corpo; tudo dependia da respiração, e assim conseguiríamos controlar qualquer reação que o veneno poderia ter em meu corpo. — Você tem pouco tempo de vida. — O lobinho à frente se aproximou de Rocco. — Se você entregar a lojinha assassina sem luta, podemos pensar em te dar o antídoto. — Rocco, mate esse lobo. — Ordenei ao meu lobo. — Ele conseguiu me tirar do sério. — Tínhamos que avançar no líder, pois, sem líder, os lobos não passavam de canídeos indefesos. Rocco esperou o lobo se aproximar mais alguns passos e se jogou para cima dele. O lobo foi be
Os últimos dias eu tenho me questionado se me tornei uma péssima pessoa, pois, durante o dia, eu me dedicava aos estudos; porém, no momento em que estava perto do anoitecer, eu só desejava ir para casa e aproveitar os únicos minutos que tinha ao lado de Jonathan. Dhara até tenta me lembrar que esse desejo de estar ao lado dele pode ser consequência da marca, e é nisso que tento acreditar: que toda a necessidade que sinto é culpa apenas da marca. Após me despedir de Ian e ver seu carro se distanciando, virei em direção ao meu prédio procurando por Jonathan, mas não havia nenhum sinal dele por perto. Caminhei pela portaria, olhando em cada canto, e mais uma vez Jonathan não estava por lá. Fui até meu apartamento e fiquei a noite toda esperando por Jonathan, mas ele não apareceu. Meu corpo estava em chamas por falta do contato com o corpo de Jonathan. — Dhara, eu acho que isso está muito estranho; ele nunca deixaria de vir me ver. — No momento em que conectei com minha loba, e antes d
Duas semanas sem ter nenhum contato com Jonathan, duas semanas em que não consegui focar em nada. Ian marcava encontros e eu inventava algo. A primeira vez foi que eu tinha que estudar para um trabalho de grupo, a segunda foi dor de cabeça, e assim foi indo até que eu não consegui mais me esconder dele. — Estou sentindo você distante, como se estivesse fugindo de mim. — Estávamos abraçados em frente ao meu prédio. — Já tem duas semanas que sinto que você está comigo e, em simultâneo, não está. — É impressão sua. — Não, não era. — Acho que só estou me acostumando com o ritmo da faculdade. — Você sabe que, se estiver pesado demais para você, pode deixar de trabalhar e eu posso pagar sua faculdade. — Ian, já conversamos sobre isso. — Afastei-me dele. — E, por favor, não repita mais essas palavras. — Tamara, eu faço isso pelo seu bem. Eu vejo que você não tem família, vive aqui sozinha, e até mesmo aquele seu primo que vivia colado a você sumiu. Então, você poderia deixar de ser orgul
Minha cabeça estava uma confusão sem fim, meus olhos estavam pesados. Sabia o nome de cada um que estava ao meu lado antes mesmo de abrir os olhos. Ouvia o fungado de minha mãe e sua voz pedindo para eu abrir meus olhos, e eu até estava tentando abri-los, porém não estava conseguindo. Tentava me comunicar com meu lobo; todavia, ele não respondia. Eu o sentia, sabia que ele estava fraco, então permiti que ele descansasse. — Descanse, Rocco. — Conectei-me mentalmente com ele. — Nossa deusa precisa de nós dois, então descanse e, no momento em que abrir os olhos, vamos até ela. Dormimos um pouco mais e, quando abri os olhos, vi uma sala conhecida. Observei os cantos daquela sala e só após ficar mais consciente percebi que aquela sala era meu quarto. Olhei para a mesinha que ficava ao lado da minha cama e vi a foto da minha deusa. Lembrei do dia antes da tragédia que levou a vida de Talita; eu tinha ido até a casa de Túlio, na intenção de ver Tamara, e foi nesse mesmo dia que roubei aquel
Já estava ficando saturado; nunca iria me acostumar a ser tratado da forma que todos que entravam no meu quarto me tratavam. Pedi ao meu pai que ele permitisse que apenas pessoas que eu autorizasse pudessem entrar no meu quarto. Então, passava os dias sozinho, e nesses momentos de solidão, eram os momentos em que rezava à deusa para meu lobo se recuperar o mais rápido possível, para podermos voltar para perto de nossa deusinha. Túlio me contou, no último dia que ele veio me visitar, que conversava com Tamara diariamente e que ela sempre procurava saber como eu estava. Não sei se vou descobrir que ela estava me esperando, mas algo aconteceu dentro de mim. Eu sentia meu lobo despertando e mostrando força de vontade para estar ao lado da nossa companheira. Sei que, ao lado dela, iríamos nos recuperar mais rápido, e foi pensando em estar ao lado dela que mandei chamar o médico. — Boa tarde, Alfa! — Doutor Fernandes entrou no meu quarto. — O senhor pediu para me chamarem? — Sim. — Pedi pa