EXÍMIA CAÇADORA
Meridian Water
Adentrei a grandiosa sala, onde o imponente Rei Fondark estava sentado em seu trono de obsidiana. Eu havia sido convocada para uma audiência especial, mas não fazia ideia do que esperar. Enquanto meus passos ecoavam pelo salão, sentia a intensidade do olhar de todos os presentes sobre mim. Guerreiros poderosos e conselheiros influentes observavam-me com uma mistura de curiosidade. Era uma honra e um desafio ser reconhecida diante de tantas figuras importantes. Quando finalmente cheguei diante do trono, ajoelhei-me em sinal de respeito. O olhar do rei pousou sobre mim, analisando-me com atenção.
"Meridian, a exímia caçadora", disse o rei com uma voz grave e imponente. "Seus feitos e habilidades como caçadora têm ecoado por todo o reino. Você tem se destacado como uma das nossas mais valorosas defensoras."
Senti um misto de orgulho e gratidão pelo reconhecimento. Mas mantive-me de cabeça erguida, atenta às suas palavras, decorando-as para lembrar-me sempre de quem eu era.
Uma das mais valorosas defensoras do reino de Umbra.
"É com grande honra que lhe ofereço um papel ainda mais importante", continuou o rei.
"A partir deste momento, você será designada como a protetora do nosso príncipe herdeiro. Sua missão será garantir sua segurança. Protegendo-o com sua vida."
Os murmúrios ecoaram pela sala do trono, este não era o papel comum para uma renegada. E eu podia sentir o peso da responsabilidade que me era confiada. Ergui a cabeça, encontrando o olhar do príncipe herdeiro, que estava ao lado de seu pai.
"Será uma honra e um privilégio proteger o príncipe." Respondi com firmeza e determinação. "Prometo que dedicarei minha vida a essa missão e farei tudo o que estiver ao meu alcance para garantir sua segurança."
O rei sorriu com satisfação diante da minha resposta. Ele reconhecia a minha devoção, e isso era o que eu precisava para me destacar dentro da guarda real. Para chegar aonde sempre sonhei em chegar.
"Que assim seja", declarou o rei. "A partir deste dia, Meridian, você é a Protetora do Príncipe Herdeiro. Cumpra seu dever com dedicação e lealdade, e nossa gratidão será eterna."
Após a consagração, foi me dado um quarto dentro da casa principal. Onde a família real morava. Eu não imaginava que me tornaria protetora do príncipe e tudo que sonhei um dia foi apenas fazer parte da cavalaria real. Não poderia descrever o que estava sentindo, e embora a sensação de vazio sempre estivesse presente comigo, como uma lacuna me lembrando do quanto minha história era tão vazia... Eu me sentia, de certa forma, feliz por essa nomeação. O príncipe não parecia ser alguém que precisava de mim, ele lutava tão bem quanto eu. Mas eu faria isso com maestria. O defenderia com a minha vida.
Nunca havíamos tido contato em não ser no último dia do treinamento, ele sempre fora muito reservado, imaginava que por ser o príncipe. Mas não parecia haver nele o mesmo instinto de deboche e ironia que os magos carregavam, sua marca registrada era a
seriedade. Nunca o vi sorrindo. Sequer falava muito, e sempre que falava era sobre suas responsabilidades. Ele parecia diferente do seu reino, seu poder lhe denunciava, mas sua personalidade diferenciada era intrigante.
Umbranos geralmente eram desordeiros, irônicos, debochados, e estavam sempre deixando seu amargor evidente. Eram sedentos de guerra, e destruição e caos eram seus sobrenomes. Faziam festas e estavam sempre dispostos a consumir almas luxuriosas.
Banquetes, mulheres e almas infelizes eram servidas sempre que uma guerra estava ganha. Mas embora sua reputação fosse de que ele sempre se servia desses banquetes, em todas às vezes em que o vi, ele não parecia um desordeiro. Parecia mais um ser solitário. Eu poderia facilmente confundi-lo com uma alma infeliz se não fosse sua aparência e áurea mágica.
O primeiro dia começou com uma apresentação minuciosa da casa principal, uma construção imponente que exalava história e autoridade. Seus salões amplos, decorados com tapeçarias bordadas à mão, exibiam cenas das grandes batalhas do reino. O piso, de madeira escura, rangia levemente sob os passos, enquanto lustres de cristal pendiam do teto alto, iluminando o ambiente com um brilho cálido. Os quartos eram igualmente majestosos, com camas de dossel adornadas por tecidos finos e janelas largas que ofereciam uma vista privilegiada dos campos ao redor.
Havia ainda as saídas de emergência, escondidas atrás de painéis discretos, cuja existência apenas um seleto grupo conhecia — uma lembrança constante de que, mesmo na segurança do lar, o perigo era iminente.
Mais tarde, fui conduzida à sala de reuniões, um espaço com uma longa mesa de carvalho polido cercada por cadeiras pesadas, onde os líderes já estavam reunidos. As paredes eram decoradas com mapas detalhados do reino, marcados por pinos que indicavam territórios conquistados e zonas de ameaça. O ar estava carregado de tensão e murmúrios baixos entre os comandantes, interrompidos apenas quando a porta se abriu para o início oficial da reunião.
Eu, agora como protetora oficial do príncipe, tinha uma posição de destaque ao lado dele.
Ele estava sentado à cabeceira da mesa, mas seu comportamento era curioso: permaneceu em completo silêncio, os olhos fixos em cada pessoa que falava, como se registrasse tudo sem demonstrar qualquer emoção. Sua postura era tão contida que, por vezes, parecia que ele não estava ali.
Quanto a mim, minha memória apurada estava em pleno uso. Cada palavra dita era absorvida, cada plano traçado se fixava em minha mente. O itinerário do príncipe foi apresentado com precisão — deslocamentos pelo reino, eventos diplomáticos e visitas a zonas de conflito eram apenas parte da rotina que eu deveria acompanhar.
A partir de agora, eu comandaria sua segurança, assim como fazia com os caçadores em nossas missões passadas. Minha reputação entre eles era o que me garantia sucesso; eles obedeciam sem questionar, e eu esperava que o mesmo se aplicasse aos homens que agora estariam sob minha supervisão.
O foco principal da reunião, no entanto, era a ameaça crescente. Pequenos territórios haviam sido anexados ao reino, despertando a fúria de nossos rivais. Mas a verdadeira preocupação era maior: a alcateia prateada, cujos próximos passos eram imprevisíveis.
Enquanto os líderes discutiam estratégias, mapas eram apontados, rotas de fuga sugeridas, e possibilidades de emboscada consideradas.
Embora a tensão fosse palpável, senti uma estranha sensação de familiaridade. Planejar, antecipar e liderar em meio ao caos era algo em que eu era boa. O que era novo, no entanto, era a presença silenciosa do príncipe ao meu lado, como um lembrete constante de que agora minha missão ia além da sobrevivência: eu era a guardiã da peça central do reino.
Enquanto as palavras se desenrolavam na sala de reuniões, o peso da história parecia ecoar em cada pedra das paredes. A tensão era palpável, e os líderes começaram a traçar suas estratégias. Eu me mantive em silêncio, como o príncipe, mas meus ouvidos estavam atentos a cada palavra.
“A alcateia prateada não é apenas um inimigo forte; eles são calculistas. Há anos eles têm usado a guerra para nos desgastar, esperando o momento certo para o golpe final. Mas desta vez, não cometeremos os mesmos erros.” Disse o General Luthor. Ele apontou para o mapa na mesa, indicando os territórios perdidos. “Estas três regiões ao norte são nossas prioridades. Se não as recuperarmos, eles terão acesso direto ao coração do reino.”
“Concordo, mas precisamos ser inteligentes. Atacar diretamente pode ser suicídio. Se plantarmos espiões nos postos deles, podemos descobrir as rotas de suprimento e enfraquecê-los.” Disse capitão Exalin.
“Não acho que espiões seriam uma boa ideia. Não temos magia suficiente para esse disfarce, seria perigoso. Temos que nos defender.” Disse a comandante Vanya.
“Defender não é o suficiente, a cada dia eles ficam mais fortes.” Retrucou o General Luthor.
“Esse é o momento de agir!”
Eu aproveitei o silêncio que se seguiu para intervir, consciente de que minha voz era uma novidade na sala.
“Posso falar?”
Os olhos de todos se voltaram para mim, surpresos.
“Vocês têm razão em suas preocupações, mas precisamos de equilíbrio. Se usarmos os caçadores para rastrear os movimentos da alcateia e interceptarmos suas comunicações, saberemos exatamente onde atacar. Além disso, eu mesma liderarei a escolta do príncipe. Qualquer movimento que fizerem será coberto por minha equipe. Nossa força está na precisão, não no impulso.”
“E o que garante que sua equipe esteja pronta para um inimigo como a alcateia?” O general Luthor me encarou, cruzando os braços.
“Minha reputação.” Minha resposta foi firme, e o silêncio que se seguiu foi prova de que não havia muito o que contestar.
“Então está decidido. Usaremos os caçadores para rastrear e reunir informações. Reforçaremos as defesas e lançaremos um ataque coordenado assim que soubermos os pontos fracos da alcateia.” Foi a comandante Vanya quem confirmou.
O príncipe, ainda em silêncio, fez um leve movimento com a cabeça, aprovando o plano. A reunião continuou com os detalhes sendo afinados, mas eu sabia que aquele momento era apenas o início de algo muito maior. As sombras do reino de Umbra estavam se movendo, e a guerra estava cada vez mais próxima.
Meridian Water UM QUARTO PARA DOISHoje o príncipe Sweeney estaria no lado leste de Umbra, onde veria como está a região e se os guardiões estão cumprindo com o seu dever. O trajeto seria feito pela carruagem real, onde pararemos em pelo menos três regiões para descansar, pois seriam três dias de viagem.Eu já estava servindo como sua protetora há um mês, e estar em constante movimento como sua sombra não estava sendo difícil, porque hoje seria a primeira vez em que ele de fato dormiria fora da casa real. Eu havia estudado todos os pontos onde pararíamos, avaliando cada ponto de fuga necessário para o caso de um ataque de desordeiros.Demônios rebeldes que não respeitavam a realeza.Realizei as minhas necessidades básicas e coloquei uma calça de couro juntamente com um cropped, adicionando minha adaga à cintura, e mais outras duas adagas pequenas dentro da bota também de couro que ia até o meu joelho. Prendi meu cabelo em um rabo de cavalo e segui para fora, sabendo que os serviçais
Meridian Water Repreendi o meu pensamento ao imaginá-lo tomando banho, meu corpo formigou em resposta e eu praguejei baixinho. O que estava acontecendo comigo? Em dois anos, embora tivesse dormido com muitos homens, nunca tive tempo para brincar em missão, principalmente quando essa missão era proteger o príncipe e o alvo dos meus pensamentos era o PRÍNCIPE.Ignorei a excitação que me invadiu quando uma imagem do seu peitoral nu se acentuou em meu pensamento e decidi ver o que tinha para comermos. Carne de porco banhada em sangue e um copo do que provavelmente eram lágrimas. Sim. Magos sombrios costumam se alimentar do sofrimento humano, lágrimas de amargor são um dos copos mais servidos em festas e locais públicos. Nada de novo sob a sombra. Quando ele saiu do quarto vestindo apenas uma calça de pano macio e sem camisa, eu quase quis sair dali. O ambiente pareceu aquiescer de forma bastante rápida e embora já convivêssemos fadados ao inferno, o calor daquele corpo sob minha visão e
PRÍNCIPE SWEENEYEla me disse para voltar a dormir. Como se fosse tão simples assim.Fechei os olhos, fingindo indiferença, com a respiração firme e calma, mas estava longe de estar tranquilo. Minha mente estava inquieta, meus pensamentos emaranhados. A voz de Meridian permanecia no ar, suave e perturbada, e o leve odor de seu suor misturado com sua fragrância natural - selvagem e pura - invadiu meus sentidos. Era enlouquecedor. Tive de lutar contra o instinto de me aproximar, de respirá-la.Em vez disso, forcei-me a ficar imóvel, com os músculos tensos sob o cobertor. Eu podia senti-la ao meu lado, a apenas uma respiração de distância, sua presença como uma chama queimando perigosamente perto da minha pele. A escuridão do quarto não me oferecia nenhum refúgio. Suas palavras ecoavam em minha mente.Guerras, mortes, caos, criaturas… ela sonhava. Com o caos, com a perda, com seu passado esquecido. Ela falava sobre isso de forma tão casual, mas eu podia ouvir o peso de sua voz, a fragili
Meridian Water Quando despertei, percebi que o príncipe não estava ali, soltei um bocejo e espreguicei os meus braços e então percebi que o príncipe estava no banho.Ouvi o barulho de água caindo. Ajeitei o meu corpo na cadeira de frente para a janela, onde permaneci pelo restante da noite até o raiar do sol. Não consegui ficar na cama, e nem consegui voltar a dormir. Me levantei e abri a porta e pedi ao soldado que nos preparasse algo para comer. Não era surpresa que ele já estivesse ali, a runa desenhada em seu pescoço lhe garantia servidão vinte e quatro horas, logo era como se ele fosse um robô que ficaria de prontidão onde o colocassem pronto para fazer o que pedissem e para dar a sua vida pelo príncipe. Claro que não durava mais de um dia, logo na outra noite trocaríamos o soldado para que este pudesse desfazer a runa e ir dormir. Demônios não são incansáveis. O café da manhã chegou, olhos de boi e lágrimas de automutilação. Ele saiu do banheiro já pronto para seguirmos via
Meridian Water Desenhei com a ponta da adaga uma série de linhas entrelaçadas e curvas, formando um padrão único, enquanto sentia a energia da magia negra sendo carregada ao nosso redor. Enquanto as linhas de sangue escureciam como se estivessem sendo desenhas com tinta, brilhavam com uma luminosidade atraente e uma aura sombria tomava nossa mão. No centro da runa, desenhei o ponto focal, que seria o nosso destino. E logo esse ponto foi consumido por uma chama que acendeu sobre minha mão, simbolizando a energia ardente do poder que impulsionaria o nosso teletransporte. As sombras dançavam em torno da runa quando a chama se apagou, a medida em que cresciam e nos tomavam, nos envolvendo em um véu escuro e misterioso, liberando energia e nos consumindo a medida em que vamos nos desintegrando em um lapso de segundos e então, quando abrimos os olhos, estávamos um beco escuro. Apoiei uma das mãos na parede ao sentir meu corpo ainda flutuando em meio á uma vertigem. “Inferno.” Praguejei.
PRINCIPE SWEENEYFoi muito simples achar algo que pudéssemos comer. Embora me alimentar de almas fosse algo mais saciável para mim que era um mago sombrio, carne animal também ajudava a me manter saciado por um tempo, e isso tinha muito na geladeira dos humanos. Também achamos roupas comuns em um guarda-roupa que parecia ser de um casal, o que foi muito bom para nós. Embora em nosso reino o amor seja uma perda de tempo já que somos regados à luxúria. Não amamos, somos consumidos por desejo carnal, matamos o nosso desejo e partimos para o próximo. Esse é o preço de conjurar magia negra, você se torna uma espécie de ser demoníaco, sem sentimentos fúteis. “Você prefere tomar banho antes ou depois de mim?” Ela perguntou me encarando. Hesitei porque a resposta que sairia não estava em sua pergunta, mordisquei o lábio inferior contendo minha imaginação. “O que for melhor para você.” Respondi e desviei o olhar porque sabia que a resposta que eu queria não viria tão fácil assim. “Foi uma
Meridian Water Despertei antes do sol raiar. Havia apenas cochilado, pois meu senso de alerta não me deixaria dormir em terras desconhecidas. Segui para o banheiro e tomei rapidamente um banho, voltando a colocar minhas roupas de couro. Quando sai do banho, ele já estava sentado na cama, seus olhos se voltaram para mim. Passou as mãos nos cabelos e suspirou. “Tome um banho, seguiremos.” Respondi guardando minhas adagas. “Ok, vossa alteza.” Ele ironizou passando por mim e me fazendo revirar os olhos. Para quem era fechado e raramente falava, ele estava se mostrando até demais para mim. Após o término do seu banho, saímos pelo mesmo lugar que entramos, e seguimos nas sombras até a beirada da cidade. Desenhei novamente a runa do teletransporte colocando como ponto focal um local ao leste do reino de Umbra que não quebrasse a barreira de proteção e nos denunciasse. Quando pousamos algo estranho me atingiu, um sentimento de nostalgia antes desconhecido por mim. Senti sua mão segurar me
Meridian Water Eu estava correndo pela floresta, sentia a terra sob meus pés e me sentia livre. As árvores me aplaudiam, seus galhos balançando com o rastro da ventania que eu deixava para trás. Até que meus sentidos entraram em alerta, parei, observando ao meu redor, buscando pela ameaça que meus instintos captaram. Puxei o ar com força tentando captar o cheiro, era o mesmo. Procurei, girando sob os pés, até que o encontrei. Ele se aproximou lentamente, mas de trás dele saíram mais, me cercando, todos rosnando para mim. Até que um choro esganiçado escapou de seus lábios. Ele me encarou, seus olhos azuis cristalinos penetrando os meus, ele parou de frente para mim a apenas cinco passos de distância. Mas nossa conexão foi quebrada quando outro lobo saltou sobre mim, antes que eu pudesse me colocar em posição de ataque, senti mãos rodeando meu corpo, e uma sombra negra me envolveu. Eu reconhecia aquelas mãos, eram as mãos do príncipe. “Meridian!” Ele sussurrou e eu me levantei em sal