4 - Exímia caçadora

EXÍMIA CAÇADORA

Meridian Water

Adentrei a grandiosa sala, onde o imponente Rei Fondark estava sentado em seu trono de obsidiana. Eu havia sido convocada para uma audiência especial, mas não fazia ideia do que esperar. Enquanto meus passos ecoavam pelo salão, sentia a intensidade do olhar de todos os presentes sobre mim. Guerreiros poderosos e conselheiros influentes observavam-me com uma mistura de curiosidade. Era uma honra e um desafio ser reconhecida diante de tantas figuras importantes. Quando finalmente cheguei diante do trono, ajoelhei-me em sinal de respeito. O olhar do rei pousou sobre mim, analisando-me com atenção.

"Meridian, a exímia caçadora", disse o rei com uma voz grave e imponente. "Seus feitos e habilidades como caçadora têm ecoado por todo o reino. Você tem se destacado como uma das nossas mais valorosas defensoras."

Senti um misto de orgulho e gratidão pelo reconhecimento. Mas mantive-me de cabeça erguida, atenta às suas palavras, decorando-as para lembrar-me sempre de quem eu era.

Uma das mais valorosas defensoras do reino de Umbra.

"É com grande honra que lhe ofereço um papel ainda mais importante", continuou o rei.

"A partir deste momento, você será designada como a protetora do nosso príncipe herdeiro. Sua missão será garantir sua segurança. Protegendo-o com sua vida."

Os murmúrios ecoaram pela sala do trono, este não era o papel comum para uma renegada. E eu podia sentir o peso da responsabilidade que me era confiada. Ergui a cabeça, encontrando o olhar do príncipe herdeiro, que estava ao lado de seu pai.

"Será uma honra e um privilégio proteger o príncipe." Respondi com firmeza e determinação. "Prometo que dedicarei minha vida a essa missão e farei tudo o que estiver ao meu alcance para garantir sua segurança."

O rei sorriu com satisfação diante da minha resposta. Ele reconhecia a minha devoção, e isso era o que eu precisava para me destacar dentro da guarda real. Para chegar aonde sempre sonhei em chegar.

"Que assim seja", declarou o rei. "A partir deste dia, Meridian, você é a Protetora do Príncipe Herdeiro. Cumpra seu dever com dedicação e lealdade, e nossa gratidão será eterna."

Após a consagração, foi me dado um quarto dentro da casa principal. Onde a família real morava. Eu não imaginava que me tornaria protetora do príncipe e tudo que sonhei um dia foi apenas fazer parte da cavalaria real. Não poderia descrever o que estava sentindo, e embora a sensação de vazio sempre estivesse presente comigo, como uma lacuna me lembrando do quanto minha história era tão vazia... Eu me sentia, de certa forma, feliz por essa nomeação. O príncipe não parecia ser alguém que precisava de mim, ele lutava tão bem quanto eu. Mas eu faria isso com maestria. O defenderia com a minha vida.

Nunca havíamos tido contato em não ser no último dia do treinamento, ele sempre fora muito reservado, imaginava que por ser o príncipe. Mas não parecia haver nele o mesmo instinto de deboche e ironia que os magos carregavam, sua marca registrada era a

seriedade. Nunca o vi sorrindo. Sequer falava muito, e sempre que falava era sobre suas responsabilidades. Ele parecia diferente do seu reino, seu poder lhe denunciava, mas sua personalidade diferenciada era intrigante.

Umbranos geralmente eram desordeiros, irônicos, debochados, e estavam sempre deixando seu amargor evidente. Eram sedentos de guerra, e destruição e caos eram seus sobrenomes. Faziam festas e estavam sempre dispostos a consumir almas luxuriosas.

Banquetes, mulheres e almas infelizes eram servidas sempre que uma guerra estava ganha. Mas embora sua reputação fosse de que ele sempre se servia desses banquetes, em todas às vezes em que o vi, ele não parecia um desordeiro. Parecia mais um ser solitário. Eu poderia facilmente confundi-lo com uma alma infeliz se não fosse sua aparência e áurea mágica.

O primeiro dia começou com uma apresentação minuciosa da casa principal, uma construção imponente que exalava história e autoridade. Seus salões amplos, decorados com tapeçarias bordadas à mão, exibiam cenas das grandes batalhas do reino. O piso, de madeira escura, rangia levemente sob os passos, enquanto lustres de cristal pendiam do teto alto, iluminando o ambiente com um brilho cálido. Os quartos eram igualmente majestosos, com camas de dossel adornadas por tecidos finos e janelas largas que ofereciam uma vista privilegiada dos campos ao redor.

Havia ainda as saídas de emergência, escondidas atrás de painéis discretos, cuja existência apenas um seleto grupo conhecia — uma lembrança constante de que, mesmo na segurança do lar, o perigo era iminente.

Mais tarde, fui conduzida à sala de reuniões, um espaço com uma longa mesa de carvalho polido cercada por cadeiras pesadas, onde os líderes já estavam reunidos. As paredes eram decoradas com mapas detalhados do reino, marcados por pinos que indicavam territórios conquistados e zonas de ameaça. O ar estava carregado de tensão e murmúrios baixos entre os comandantes, interrompidos apenas quando a porta se abriu para o início oficial da reunião.

Eu, agora como protetora oficial do príncipe, tinha uma posição de destaque ao lado dele.

Ele estava sentado à cabeceira da mesa, mas seu comportamento era curioso: permaneceu em completo silêncio, os olhos fixos em cada pessoa que falava, como se registrasse tudo sem demonstrar qualquer emoção. Sua postura era tão contida que, por vezes, parecia que ele não estava ali.

Quanto a mim, minha memória apurada estava em pleno uso. Cada palavra dita era absorvida, cada plano traçado se fixava em minha mente. O itinerário do príncipe foi apresentado com precisão — deslocamentos pelo reino, eventos diplomáticos e visitas a zonas de conflito eram apenas parte da rotina que eu deveria acompanhar.

A partir de agora, eu comandaria sua segurança, assim como fazia com os caçadores em nossas missões passadas. Minha reputação entre eles era o que me garantia sucesso; eles obedeciam sem questionar, e eu esperava que o mesmo se aplicasse aos homens que agora estariam sob minha supervisão.

O foco principal da reunião, no entanto, era a ameaça crescente. Pequenos territórios haviam sido anexados ao reino, despertando a fúria de nossos rivais. Mas a verdadeira preocupação era maior: a alcateia prateada, cujos próximos passos eram imprevisíveis.

Enquanto os líderes discutiam estratégias, mapas eram apontados, rotas de fuga sugeridas, e possibilidades de emboscada consideradas.

Embora a tensão fosse palpável, senti uma estranha sensação de familiaridade. Planejar, antecipar e liderar em meio ao caos era algo em que eu era boa. O que era novo, no entanto, era a presença silenciosa do príncipe ao meu lado, como um lembrete constante de que agora minha missão ia além da sobrevivência: eu era a guardiã da peça central do reino.

Enquanto as palavras se desenrolavam na sala de reuniões, o peso da história parecia ecoar em cada pedra das paredes. A tensão era palpável, e os líderes começaram a traçar suas estratégias. Eu me mantive em silêncio, como o príncipe, mas meus ouvidos estavam atentos a cada palavra.

“A alcateia prateada não é apenas um inimigo forte; eles são calculistas. Há anos eles têm usado a guerra para nos desgastar, esperando o momento certo para o golpe final. Mas desta vez, não cometeremos os mesmos erros.” Disse o General Luthor. Ele apontou para o mapa na mesa, indicando os territórios perdidos. “Estas três regiões ao norte são nossas prioridades. Se não as recuperarmos, eles terão acesso direto ao coração do reino.”

“Concordo, mas precisamos ser inteligentes. Atacar diretamente pode ser suicídio. Se plantarmos espiões nos postos deles, podemos descobrir as rotas de suprimento e enfraquecê-los.” Disse capitão Exalin.

“Não acho que espiões seriam uma boa ideia. Não temos magia suficiente para esse disfarce, seria perigoso. Temos que nos defender.” Disse a comandante Vanya.

“Defender não é o suficiente, a cada dia eles ficam mais fortes.” Retrucou o General Luthor. 

“Esse é o momento de agir!”

Eu aproveitei o silêncio que se seguiu para intervir, consciente de que minha voz era uma novidade na sala.

“Posso falar?”

Os olhos de todos se voltaram para mim, surpresos.

“Vocês têm razão em suas preocupações, mas precisamos de equilíbrio. Se usarmos os caçadores para rastrear os movimentos da alcateia e interceptarmos suas comunicações, saberemos exatamente onde atacar. Além disso, eu mesma liderarei a escolta do príncipe. Qualquer movimento que fizerem será coberto por minha equipe. Nossa força está na precisão, não no impulso.”

“E o que garante que sua equipe esteja pronta para um inimigo como a alcateia?” O general Luthor me encarou, cruzando os braços.

“Minha reputação.” Minha resposta foi firme, e o silêncio que se seguiu foi prova de que não havia muito o que contestar.

“Então está decidido. Usaremos os caçadores para rastrear e reunir informações. Reforçaremos as defesas e lançaremos um ataque coordenado assim que soubermos os pontos fracos da alcateia.” Foi a comandante Vanya quem confirmou.

O príncipe, ainda em silêncio, fez um leve movimento com a cabeça, aprovando o plano. A reunião continuou com os detalhes sendo afinados, mas eu sabia que aquele momento era apenas o início de algo muito maior. As sombras do reino de Umbra estavam se movendo, e a guerra estava cada vez mais próxima.

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