O portão da fortaleza se abriu com um rangido ancestral, ecoando pelos corredores como um presságio. Todos pararam. Lobos em forma humana, servos, guerreiros… ninguém ousava dar um passo ou sequer respirar alto. Porque o ar tinha mudado.Um cheiro novo... ou melhor, antigo, tão forte quanto sangue derramado e tão doce quanto o cio da lua cheia.Aurora estava de volta.Caminhava entre eles de cabeça erguida, coberta de terra, ferida, mas invencível. Os olhos dela — brilhantes como prata fundida — não desviavam de nada. Quem a olhava nos olhos, abaixava a cabeça. A fêmea que saíra da fortaleza era uma loba dividida. A que retornava… era uma rainha forjada na guerra.No alto da escadaria, Darius esperava.Quando seus olhos encontraram os dela, algo se partiu dentro dele. Era o desejo bruto, sim, o amor que não cabia no peito… mas também a culpa. Porque mesmo sem ter cedido à Elena, ele se sentia sujo por ter sido manipulado, fraco por não ter enxergado antes.— Aurora… — ele sussurrou.E
A noite caiu pesada sobre os telhados da nova fortaleza. O vento assobiava entre as torres como um presságio antigo, e a lua, quase cheia, parecia observar tudo lá do alto — silenciosa, cúmplice, julgadora.Aurora caminhava pelos corredores escuros como uma sombra. Não queria ser vista, não ainda. Darius dormia, exausto depois de uma reunião com os anciãos das duas matilhas. E ela… precisava fazer aquilo sozinha.O ventre pesava. Não fisicamente — ainda não. Mas o lobo que crescia dentro dela pulsava com poder. Às vezes, ela sentia como se outra alma tocasse a dela, chamando, sussurrando segredos que ainda não sabia decifrar.Parou diante da porta coberta por folhas secas e símbolos ancestrais. A caverna de Morgra.Aurora bateu uma vez. A madeira gemeu. A voz da velha surgiu do escuro, rouca como pedra:— Eu senti você. Entra.A jovem loba respirou fundo e entrou. O ambiente era abafado, repleto de ervas penduradas e velas acesas que pareciam queimar com um fogo que não vinha desse mu
Prepara o coração, que o herdeiro está despertando.A lua estava baixa no céu, ainda em fase crescente, mas já espalhava um brilho estranho sobre a floresta que cercava a fortaleza. Os lobos mais antigos diziam que aquele tipo de luz não era normal — que parecia observar, em vez de apenas iluminar.Na ala norte da fortaleza, Aurora dormia. Ou pelo menos tentava. Desde o ritual com Morgra, seu corpo estava mais sensível. Cada movimento no ventre parecia um trovão. Cada sonho… um prenúncio.Aquela noite, no entanto, não foi um sonho. Foi uma visão.Ela se viu de pé, sozinha, em meio a um campo de neve. O vento gelado cortava a pele, mas Aurora não tremia. Havia uma presença ali — forte, poderosa, e ao mesmo tempo... familiar.— Mamãe...A voz era de criança, mas ecoava como se viesse de dentro da terra. Aurora se virou. E o viu.Um menino de uns cinco anos, cabelos prateados como o luar, olhos dourados como o próprio sol, e ao redor dele… uma energia que fazia o mundo se curvar. Caelum.
O tempo na fortaleza parecia ter se dobrado.Meses haviam se passado desde o casamento de Aurora e Darius, desde que a união das matilhas trouxe paz ao território. Mas aquela paz era apenas a superfície. Por baixo, algo novo germinava. E não era só a tensão crescente com os sinais da bruxa viva… Era Caelum.Aurora andava diferente. Seus olhos estavam mais profundos, os sentidos mais aguçados, os poderes à flor da pele — mas o que poucos sabiam é que dentro dela crescia uma vida marcada pela profecia antiga.Na noite do eclipse, quando a lua se pintou de vermelho e os lobos uivaram como se sentissem algo no ar, Aurora caiu de joelhos no centro do salão, com as mãos pressionando a barriga.Darius correu, os olhos arregalados, o lobo dele quase tomando o controle.— Está na hora — ela sussurrou, o suor escorrendo pela testa. — Ele… ele quer nascer agora.E ele não queria esperar.As anciãs das duas matilhas cercaram a alfa, preparando a câmara sagrada no coração da fortaleza. Era o antig
A noite caía como um véu prateado sobre a floresta. O céu, limpo, deixava a lua cheia brilhar com uma fúria silenciosa. Ela parecia maior naquela noite — quase viva, pulsando no alto como um coração de luz.Dentro da clareira sagrada, onde só os alfas e seus escolhidos pisavam, Aurora estava ajoelhada na grama, com Caelum nos braços. Darius estava ao lado, calado, os olhos fixos no pequeno corpo do filho, que se contorcia inquieto.— Ele sente — disse Aurora, baixinho, como se falasse para si mesma. — A lua o chama.Caelum, ainda bebê, soltava pequenos rosnados, o corpinho quente tremendo como se algo dentro dele tentasse romper a pele. A noite estava pesada, o ar vibrando de energia. Darius franziu o cenho, sentindo o cheiro metálico que só surgia quando a magia tocava o mundo físico.— Ele está se transformando… — murmurou o alfa, incrédulo.Aurora olhou para o filho, os olhos brilhando com lágrimas. Não de medo. Mas de reverência. Ela sabia. Sempre soube. O sangue dentro dele era o
A noite caiu serena sobre o território unificado das duas matilhas. A lua cheia brilhava como se estivesse mais próxima da terra, como se observasse, silenciosa, a história sendo escrita ali. Dentro da fortaleza, na ala mais protegida, onde o silêncio era quase sagrado, Caelum repousava nos braços da mãe, enroscado como um filhote que encontra seu refúgio no cheiro de casa.Aurora estava sentada sobre um tapete felpudo diante da lareira, penteando lentamente os fios castanhos escuros do filho. Seu toque era cuidadoso, mas o olhar… o olhar era distante. Ela o encarava com uma ternura melancólica, como quem carrega amor demais no peito e medo de não ser suficiente para tudo que o futuro promete.Caelum, com os olhos já semicerrados de sono, soltou um suspiro que soou como um sussurro da própria lua.— Mamãe… — chamou baixinho, a voz carregada de inocência e um mistério que ele ainda não compreendia — …quando você chora por dentro, eu sinto. Aqui — ele apontou o pequeno peito. — Dói em m
Darius Blackwood e Aurora Hale cresceram em alcateias vizinhas, mas seus caminhos raramente se cruzaram. Ele era o herdeiro do título de Alfa da Lua, criado para comandar com força e respeito. Ela, filha de uma família respeitável, mas sem posição de liderança, sempre esteve à margem dos círculos de poder.A primeira vez que Aurora ouviu falar de Darius, ele já carregava a fama de ser um conquistador implacável, alguém que nunca levava um relacionamento a sério. Suas histórias eram sussurradas entre as fêmeas da matilha—todas o desejavam, mas nenhuma o possuía.Ela, por outro lado, nunca deu importância a isso. Sempre acreditou que sua alma gêmea viria no momento certo, alguém que a respeitaria e a amaria de verdade. Nunca cedeu a flertes vazios, pois seu coração e seu corpo pertenciam apenas ao seu verdadeiro companheiro.Darius, por mais que fosse cercado por pretendentes, também nunca encontrou uma conexão real com ninguém. Mas, ao contrário de Aurora, ele escondeu esse desejo sob
O silêncio entre eles era sufocante. Aurora sentia o peso do olhar de Darius sobre si, intenso e predatório. Seu corpo respondia ao chamado do laço, cada célula ansiando por ele, mas sua mente se recusava a ceder.Não podia ser ele.Ela deu um passo para trás, tentando recuperar o fôlego.— Eu não sou sua. — Sua voz era mais firme desta vez.Darius franziu o cenho, seu lobo rosnando dentro dele. O ar ao redor pareceu vibrar com sua fúria reprimida.— Não minta para mim, Aurora. — Ele deu um passo à frente, diminuindo a distância entre eles. — Você sentiu. Eu sei que sentiu.Ela engoliu em seco. Sim, sentiu. O vínculo era inegável, ardia em sua pele como uma marca invisível. Mas aceitar isso significava aceitar um homem que, até aquele momento, ela só conhecia por sua fama.Ela cruzou os braços, tentando esconder o tremor nas mãos.— Eu não confio em você.As palavras foram um golpe mais forte do que qualquer ferimento. Os olhos de Darius brilharam em fúria e algo sombrio passou por se