Explodo aumentando consideravelmente o tom de voz, mediante ao seu cinismo.-Sim, eu te amo muito.Afirma com convicção sem tirar os olhos dos meus.-Ama tanto, que nesse exato momento está falando merda para uma mulher, sendo casado com outra, e com duas filhas pequenas.A cor some de seu rosto.-Como soube? Quem te contou?-Seu pai me contou, estava com ele, a metade da tarde inteira, quase até agora. Ele sim, é uma boa pessoa, e não mente para mim. Disse que você mudou, queria falar comigo.-Não era para ter dercoberto assim.Suspira fundo abaixando os ombros, em um ar de derrota.-Ah. Você queria que eu soubesse quando tivesse enganado a trouxa aqui, levando para cama, jurando um bando de porcaria, igual os filmes clichês, e quando eu estivesse caída na sua conversa, boba, apaixonada como uma adolescente, me diria: Não, desculpe Iara, mas eu não posso ficar com você, porque eu tenho uma família!-Nao sabe o que tá falando! Reverbera nervoso. -Eu construí uma família, com uma mulher
-Onde você estava?Vejo Iara sair do elevador, mais linda do que antes. Os cabelos um pouco maiores, a pele corada. Arrumada em um vestido amarelo, com fundo geométrico, bela como sempre.Torço os lábios. Passei um inferno, não sabendo onde estava. Me tranquei em uma bolha gigante, cheia de espelhos, onde eu só via Iara, levantava da bolha, tentando toca-la, era impossível, não estava aqui. Minha filha, ficou igual a mim. Irreconhecível. A saudade nos consumia todo dia, e a olhando neste momento, vejo que para ela, o sentimento não foi o mesmo. Creio que não fizemos tanta falta.Toma um susto ao me ver, colocando a mão ao peito. É normal. Estamos há quase seis meses sem nos ver. Só Deus sabe o quanto eu fiquei louco a procurando, ninguém sabia seu paradeiro, ou não queriam me falar. Agora estou aqui, sentado ao chão em frente a sua porta, encostado a madeira. Camiseta desgrenhada, sem gravata, cabelos revoltos, barba a fazer, olhar perdido, muito assustado.-O que está fazendo aqui?
Coço os olhos cansado. Minha rotina não está sendo fácil. Cuido de Bibi sozinho, e depois que Liandra fez com ela, não confio em ninguém para cuidar da minha bebê. Se ao menos, minha loira, estivesse comigo...Vejo a hora. Está bem tarde. Tiro os pratos, e os talheres do jantar da mesa. Lavo a pilha de louça que se formou. Não gosto de deixar nada para amanhã, se não tenho que lavar com água extremamente gelada, e ninguém merece isso.Acabo de lavar tudo, seco a mão, e vou até o quarto da minha filha. Ainda está acordada, olhando o teto.-Porque ainda não dormiu?-Num conxigo.Fecha os olhos que vai conseguir. Lembro que minha mãe falava isso para mim. Sempre ficava com raiva. Como se fosse simples.-Tenho medo dos pesadelos.-Eles não vão te atingir se você pedir a papai do céu para eles não virem. Eles não virão.Concorda.-Vamos rezar.Ela sai da cama. Larga o mingau na mesma. Se ajoelha, deixando os cotovelos apoiados no colchão e faço a mesma coisa que ela fechando os olhos.Reza
Iara LaurenAcordei cedo. Mal dormi, pensando na visita que tive ontem. Meu vôo não foi dos melhores, e ao encontrar o homem que tanto evitei durante meses, só aumentou minha dor de cabeça.Confesso que ver Joaquim me tirou o chão. Fiquei desnorteada, principalmente quando disse ter vindo todos os dias ao meu apartamento, estatelado em frente a minha porta. Se fosse outro homem eu não acreditava, conhecendo Joaquim, como conheço, não tenho dúvidas.É louco. Impulsivo e insensato. Nunca pensa antes de agir, e foi por isso que me apaixonei por ele. Tê-lo visto ontem, e não correr para seus braços, foi dolorido. Apesar de ter passado tantos meses, ainda não engoli tudo que aconteceu. Até a nossa briga de antes. Tudo se misturou, e gerou essa confusão de sentimentos que estou agora.Faço minha higiene matinal. Penteio os cabelos médios, batendo na altura dos ombros, acariciando cada mecha, com cuidado. Já que cresceu um pouco, pesco duas mexas laterias, faço trancinhas, e as prendo na par
Comemos tudo o que eu trouxe, não tudo, um dos sonhos, eu dei para um morador de rua, que vi logo ao chegar. Se eu pudesse, dava casas para todos que não tem. É tão triste vê-los dessa forma, a impotência é enorme, é algo que acaba comigo.-Eu tenho que ir.Falo ao voltar do quarto de Bibi. Dormiu em meu colo, enquanto eu contava como linda é a Itália. Ficou fascinada por cada detalhe e acabou capotando ao sofá.-Fica hoje aqui, dorme comigo.Fecho os olhos ao carinho que faz ao meu pescoço. É tão bom.-Não posso, fiquei muito tempo longe dos trabalhos aqui. Deve estar uma loucura a empresa. Deixei ótimos funcionários pra cuidar, só que nunca é a mesma coisa, e eu sou contraladora, você sabe.-Eu sei. Mas já que ficou tanto tempo longe, o que custa mais um dia somente?Rolo os olhos.-Joaquim...Franzo o cenho, o olhando indignada. Sabe que não posso ficar, e faz essa cara de cachorro.-Lauren...-Joaquim...-Iara...-Joca...-Posso fazer isso o dia todo.O fuzilo com os olhos. Parece
—Oi.Chego ao apartamento um pouco cansada. Joaquim responde um "oi" rouco, e volta a mexer em alguns papéis que estava a analisar. Ele anda muito esquisito ultimamente. Sei que precisa desestressar, desabafar de alguma forma, e quero que seja comigo.—O que houve?Beijo delicadamente sua testa.—Nada linda, só preocupação. —sorri, o que não ameniza minha certeza que algo não vai bem. —Nada que tenha que se estressar.Circula minha cintura, põe a cabeça na minha pele, encostando em minha barriga. Está estranho, quieto, e distante. Sei que não anda nada bem. Essas "preocupações" estão tirando seu sono. Preciso ajuda-lo.—Eu sei que não está bem, me diga o que é, talvez eu possa saber o que fazer.Olha para mim. Imploro por dentro, que me diga. Tenha confiança em mim, em qualquer situação que esteja passando, eu ficarei ao seu lado.—É sobre sua mulher? —arrisco um palpite.—Não.Balança a cabeça.—Minha mulher é você. Vem cá.Puxa minha cintura, sento em seu colo, e acaricio seus cabelo
—Incansável hoje senhor.—Digo o mesmo de você senhora.Estamos ao banho. Deixo a água molhar meus cabelos. Faz muitos anos, que não os deixo crescer, sempre cortava, quando batiam a nuca.Sinto meu couro cabeludo ser acariciado. Inalo o cheiro de condicionar masculino ao ar, bom gosto. Joaquim está terminando de lavar meus cabelos, tenta não ser bruto, o que é muito difícil, por ser uma parede de músculos. Admiro seu esforço, seu carinho.Suas mãos descem aos meus ombros, os massageando. Como sei o que quer, paro suas investidas.—Não. —reprimindo os lábios, viro meu corpo para o dele. —Temos que buscar Bibi, está quase na hora, e com tanto sexo, não comemos nada.—Não fizemos sexo Iara. —mira meus olhos, guardando uma mecha atrás de minha orelha. —Nós fazemos amor.Subo a ponta do pé, lhe dando um selinho.—Que seja.Antes de sair, vejo um sorriso triste em seus lábios, ou seria só impressão minha? Fico com a última opção.Antes de sair, faço um breve sanduíche de frango com maionese
Amanda ligou a caixa de som. Pop, é seu ritmo preferido, se bem que está em uma onda de dance house. Eu gosto.Organizamos quase uma pool party. Marco e Joaquim estão cuidando do churrasco, com todo o tipo de carne possíveis. Marco planejou tudo muito rápido. Joca fala muito alto pelos corredores, foi assim que seu amigo soube que viemos para cá.Pus minha parte de cima novamente. Busquei em minha mala uma saída de praia fresca, ela é quase transparente, e caminhei até a cozinha para ajudar Amanda nos acompanhamentos.-Não acredito que não sabe fazer vinagrete.Achando graça, reprimo os lábios, negando.-Eu sei cozinhar bastante coisa Amanda. Em cada país que passei, aprendi alguns pratos, ingredientes para acrescentar em outras receitas, mas vinagrete eu nunca precisei fazer. Não lembro nem se já comi.-Quem em sã consciência, não sabe que basicamente se trata de tomate, cebola e pimentão picadinho? -Sorri, me tirando da posição em frente a tábua.-Eu faço isso, pode deixar princesa.