Descobertas

O salão estava cheio, e eu apenas assistia, sem intenção de comprar nada. Estar aqui me traz nostalgia, me traz lembranças de quando minha mãe me levava para os leilões, eventos de caridade e museus. Para minha mãe a mulher do Dom deve ser uma mulher de gostos excêntrico e chiques, de alguma forma me sinto confortável aqui.

O leilão decorre lindamente enquanto aprecio os objetos que são leiloados.

O leiloeiro levantou um colar de pérolas:

_Senhoras e senhores, um colar elegante... Lances começam em cem mil meticais.

As pessoas começaram a disputar rápido. Cem mil. Cento e vinte. Cento e cinquenta. Assisti em silêncio enquanto o martelo batia.

_Vendida por duzentos mil meticais!

O som dos aplausos de fez presente na sala por alguns minutos antes de retornar ao silêncio, enquanto outro objecto era colocado.

_Agora temos um relógio francês do século XIX. Lances começam em cinquenta mil meticais.

Olhei para o relógio e pensei no meu marido. Eu não sei do que ele gosta, mas eu gostei do relógio. Antes que pudesse exitar, levantei a mão que continha a "placa de lance ".

_Temos cinquenta mil. Quem dá sessenta?"

Outra pessoa deu um lance. Meu coração bateu forte, mas levantei a mão de novo. Sessenta. Setenta. Oitenta. A disputa continuou, e eu não consegui parar.

_Noventa mil! Alguém dá cem?

Silêncio. O leiloeiro olhou para mim e bateu o martelo.

_Noventa mil! Vendido!

Senti um frio na barriga. Eu comprei. Imaginei o rosto do meu marido quando visse o relógio, e simplesmente não sei se ele vai receber, já que ele nunca se dirige a mim.

Depois do fim da cerimônia, algumas pessoas estavão ainda no salão, e com elas, está eu acompanhada por mais cinco senhoras.

É estranho estar no meio de gente mais velha que eu, mais me permite conhecer novas pessoas. Entre casadas e viúvas, eu estava lá. acho que eu era a única mulher casada que não estava com o seu marido, o que me fez encolher com esse pensamento.

— Eu tenho uma instituição de caridade — disse Odete, com a voz firme. — Quero convidar vocês para fazerem parte. É destinada às mulheres, para que elas possam se impor em uma sociedade machista.

Letty, ao meu lado, respondeu imediatamente mostrando estar impolgada.

— Será um prazer! Os homens são tão machistas, e é bom que mulheres como nós, da alta sociedade, façamos algo. Apesar de sermos mulheres, podemos ser tomar algumas funções importantes.

— Concordo — disse Clara. — É hora de fazermos mais por nós mesmas.

Eu ouvia tudo em silêncio, pensando no impacto daquela ideia. Foi então que Odete se virou para mim e falou:

— Natasha, você é jovem, mas vejo potencial em você. Gostaria de convidá-la para ser minha sócia na instituição.

Fiquei surpresa. Olhei para ela sem saber o que dizer.

— Sócia? — perguntei, quase sem acreditar.

— Sim. Você tem ideias novas, energia. A instituição precisa disso. Juntas, podemos ir mais longe.

As outras mulheres me olharam, esperando minha resposta. Meu coração acelerou, mas eu respondi:

— Estou honrada. Não sei se sou capaz, mas eu aceito.

Odete sorriu, aprovando minha resposta.

— Você vai se sair bem. Estaremos todas aqui para ajudar.

A conversa seguiu com ideias para a instituição. Helena sugeriu eventos para arrecadar fundos, e Margarida falou sobre workshops para ajudar as mulheres atendidas. Eu participei um pouco, ainda tentando absorver tudo.

Quando saí do salão naquela noite, senti que algo grande estava começando. Eu não sabia exatamente o que viria, mas estava pronta para o desafio. Estava pronta para sair do inferno em que me encontro, talvez recomeços existam.

Os meses se seguiram e eu já estava trabalhando na associação.

Eu está em uma viajem em São Petersburgo para apresentar os projectos que haviamos feito para obter mais financiamentos.

Nós trabalhávamos com mulheres, ajudando-às a desenvolver aptidões para liderar dentro da sociedade, além de ajudar as crianças carênciadas. Meu trabalho era gratificante e não ficava presa em meus pensamentos e preocupação como esposa.

_O que você acha de sair hoje?_Mia, minha assistente e amiga me tira dos meus devaneios me trazendo a realidade _ Haverá um evento da alta sociedade e eu acho que seria legal a gente ir.

_Eu não vejo nenhum problema, já que já temos tudo pronto e em três dias a gente vai embora para Moscovo.

_Então melhor irmos procurar os vestidos para usarmos hoje a noite._ Ela me tira os arquivos que eu estava lendo e os coloca na minha bolsa e pega às duas: sua e minha, e saí me arrastando para fora do escritório._ Vamos logo Nate, ou a gente vai se atrasar.

_Hein... Relaxa, os vestidos não vão sumir.

Ela larga meu braço enquanto entramos no elevador e me entrega minha bolsa.

_Meus pais me ligaram... _A sua expressão, que antes estava feliz, muda para uma expressão triste.

_O que aconteceu? Eles ainda continuam com aquela loucura?_ Pergunto me aproximando e tentando passar uma voz calma.

_Eu não sei o que fazer! O que você fez quando seus pais anunciaram que eles escolheram um noivo para você?

Dei um sorriso nasal antes de responder:

_Aquele dia eu estava nas nuvens, eu imaginava me casando com o meu príncipe. Eu já te contei que eu já era louca por Aleksei, então não sei se posso te ajudar muito._ segurei seus ombros e dei um leve abraço _ O que quer que aconteça eu quero que saibas que eu estou aqui! e tenho certeza que em menos de uma semana ele já estará com medo de você de tão mandona que és.

Ela me olhou sorrindo e acabei sorrindo também

_Você é péssima com conselhos!

_Eu nunca te disse que eu era boa.

saimos do elevador e subimos em um táxi em direção ao shopping, onde passamos horas procurando o vestido "perfeito". Mas depois de horas conseguimos encontrar os vestidos ideais.

A noite estava agradável, e Mia e eu aproveitávamos cada momento do evento. Era um daqueles encontros da alta sociedade que parecia ter saído de um filme, onde tudo estava meticulosamente planejado, desde a decoração até os trajes das pessoas. Conversas animadas aconteciam por todo o salão, enquanto a música suave e elegante acompanhava o ambiente.

Mia estava animada, sempre adorando esse tipo de evento. Ela se sentia em casa entre as pessoas mais sofisticadas, enquanto eu apenas observava, sempre mais discreta apesar de algumas pessoas me reconheciam e me saudavam. Nossas conversas fluíam entre risos e observações sobre o comportamento das pessoas ao nosso redor.

— Natasha, você viu aquele homem ali? Ele parece estar tentando impressionar alguém com aquele relógio! — Mia brincou, fazendo um gesto com a cabeça para um senhor que, de fato, parecia se exibir.

Eu ri, mas a verdade era que aquele tipo de evento não me empolgava como a Mia. Eu estava acostumada com esse ambiente, com os olhares, os sorrisos falsos, os cumprimentos formais. Era um lugar onde os casamentos e os segredos de todos se misturavam de uma forma desconfortavelmente previsível.

Enquanto observava a movimentação, algo me chamou a atenção. No canto oposto do salão, um homem estava parado junto de uma mulher, naquele momento, eu prendi minha respiração e só quando ele se virou é que tive a certeza de quem era. Aleksei, meu marido. estava conversando com uma mulher. Ela usava um vestido vermelho brilhante que chamava a atenção e tinha cabelos loiros, lisos e perfeitamente arrumados. Era o tipo de mulher que qualquer pessoa notaria de tão bonita que é.

Eu congelei. Meu coração bateu mais rápido, mas tentei me manter calma. "Talvez ela seja apenas uma das filhas dos seus aliados ou uma amiga", eu sussurrava para mim mesma, como se essas palavras pudessem me proteger da dor que se formava no fundo do meu peito. Eu estava tentando me convencer disso a todo custo, tentando afastar a angústia que começava a me consumir.

Mas então, ela olhou para ele de uma maneira que me fez questionar tudo. Não era apenas uma conversa casual. Não era algo superficial. Ela o olhava com um sorriso que parecia de compreensão, de cumplicidade, de algo mais profundo. Algo que eu nunca havia visto nele, algo que não me pertencia. Ele estava sorrindo para ela. Ele estava realmente sorrindo, de um sorriso sincero, de um homem apaixonado que eu nunca fui capaz de ver, mesmo depois de todos esses anos. Um sorriso que não era para mim, a esposa.

Eu senti meu peito apertar, como se uma mão invisível estivesse me esmagando. Era como se eu estivesse à beira de um abismo, prestes a cair em um poço sem fim. Meu coração se quebrou em pedaços, uma lágrima intrusa caiu dos meus olhos, rolando lentamente pela minha face. Não consegui impedir. Eu não sabia como esconder o que sentia. Mas, ao mesmo tempo, sabia que ele jamais notaria. Ele nunca me veria dessa forma, ele nunca se importaria comigo do mesmo jeito que parece se importar com ela.

Ela é mais bonita que eu? claro, que pergunta mai óbvia. ela é loira, seus lábios são carnudos e seu corpo cheio e perfeito.

Ao contrário de mim, cabelo pretos e lábios normais, um corpo magro que não tem tantas curvas.

Eu estava ali, em pé, olhando para aquela cena como uma espectadora em seu próprio sofrimento. Eu me lembrei de todas as humilhações, de todas as vezes em que me doei por completo, em que passei por situações humilhantes só para que ele me olhasse e me tratasse como sua esposa e não como uma coisa insignificante. Quantas vezes tive que engolir meu orgulho, me calar, apenas para garantir que ele não se afastasse de mim, que ele não me deixasse para trás?

E ainda assim, ele não me via. Nunca me viu. Nunca me deu aquele sorriso. Eu me tornei apenas uma sombra, uma presença que ele ignorava enquanto se perdia em outras mulheres, em outros olhares.

E como se isso não fosse suficiente, ele a puxou para os seus braços. Ele a envolveu com uma intimidade que me fez tremer por dentro, como se estivesse me rasgando lentamente. Eu vi seus braços envolverem aquela mulher, com uma suavidade que eu nunca experimentei. E então ele a beijou. Um beijo. Um beijo que me cortou como uma lâmina afiada, me deixando sem fôlego, sem forças. Era um beijo cheio de promessas, de desejos que eu nunca fui capaz de despertar nele.

Eu fiquei parada ali, assistindo a cena, como uma espectadora do meu próprio pesadelo. Aquela mulher estava recebendo tudo o que eu nunca pude ter. A atenção, o carinho, o olhar que eu sempre implorei, a paixão que ele nunca soubera dar. Eu senti uma inveja amarga crescer dentro de mim, um veneno que me corroía por dentro. Como eu poderia competir com ela? Como eu poderia lutar contra algo que eu sabia que nunca teria?

A dor que eu sentia naquele momento era mais profunda do que qualquer palavra que eu pudesse encontrar. E a humilhação que me consumia parecia não ter fim. Eu não era nada. Nada além de uma esposa esquecida, deixada para trás, observando a felicidade que nunca seria minha.

E, enquanto eles se beijavam, eu me afastei, sem forças para continuar ali. A imagem deles ficou gravada na minha mente, um reflexo cruel de tudo o que eu sempre desejei e nunca tive. Ele a tinha, ela tinha o que eu jamais conseguiria alcançar. E eu... Eu era apenas a mulher invisível, que se despedia, mais uma vez, do homem que jamais me amou.

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