Aurora acordou sozinha na cama enorme. O lugar onde ele estivera estava vazio, mas ainda quente.
No banheiro, encontrou uma toalha limpa e uma camisa masculina deixada sobre a bancada. O cheiro dele estava impregnado no tecido. Aurora foi até seu próprio quarto e trocou de roupa.
Quando desceu para o café da manhã, encontrou Enrico já à mesa, lendo o jornal. Estava impecável, como sempre, mas os olhos a seguiram com mais intensidade do que de costume.
Ela sentou-se em silêncio, sentindo o peso da noite passada entre eles.
— Dormiu bem? — ele perguntou, a voz carregada de sarcasmo.
— Mais ou menos... — ela respondeu, desafiadora. — Algo me dei
Aurora acordou lentamente, o corpo pesado e deliciosamente dolorido, como se cada músculo, cada pedaço de pele carregasse as marcas invisíveis da noite anterior. O cheiro dele ainda estava ali, entranhado nela, um perfume quente, masculino, que misturava madeira e algo mais selvagem, quase indomável. A cama era um caos: lençóis retorcidos, travesseiros desalinhados, o espaço ao seu lado vazio, mas ainda morno, como se Enrico tivesse acabado de sair. Ela passou os dedos pelo tecido, sentindo o calor residual, e um arrepio subiu por sua espinha.Então, virou-se devagar… e o encontrou. Enrico estava ali, recostado contra a cabeceira, já acordado, os braços cruzados sobre o peito nu. Ele a encarava em silêncio, um meio sorriso preguiçoso curvando o canto dos lábios — um olhar perigoso, masculino demais, que parecia despi-la de novo sem esforço. Os cabelos escuros estavam bagunçados, caindo sobre a testa, e os olhos, aqueles olhos de um castanho quase negro, brilhavam com uma intensidade q
Aurora precisava respirar, precisava desesperadamente de um pouco de normalidade. Nos últimos dias, sua vida tinha se resumido a acordar e dormir sob o olhar atento e excessivamente controlador de Enrico. Era sufocante, perigoso, viciante. E, ao mesmo tempo, enlouquecedor. A sombra de Tommaso a perseguia dia e noite, a deixando ciente que mesmo casada seguia em perigo. Enrico havia mencionado que o negócio da Villa estava definitivamente cancelado e suas relações com ele cortadas. Parece que ele não havia aceitado nada bem quando descobriu sobre o casamento de Aurora.Então ela não pediu permissão, não dessa vez. Estava cansada, exausta de se sentir prisioneira, vigiada, sufocada naquela casa luxuosa que mais parecia uma gaiola de ouro. Enrico podia controlar o mundo lá fora. Podia ter o poder, o dinheiro, os seguranças...Tommaso
O carro deslizou pelas ruas com o silêncio mais barulhento que Aurora já experimentara. Ela olhava pela janela, os braços cruzados sobre o peito, tentando fingir indiferença. Mas por dentro, seu corpo ainda fervia. A tensão em seu pulso — onde ele a segurara — ainda latejava. A sensação de pertencimento que ele impusera com aquela simples frase que havia dito mais cedo— "Você é minha esposa agora" — ainda vibrava nos seus ossos.Enrico, no banco do motorista, dirigia com os olhos fixos na estrada, a mandíbula travada, os dedos cerrados no volante como se fosse esmagá-lo. Cada músculo de seu corpo parecia tenso, como se ele lutasse contra um impulso primitivo.Quando chega
Aurora acordou na manhã seguinte com uma sensação estranha, como se algo estivesse fora do lugar. O que era estranho pois havia passado a noite nos braços de Enrico, exatamente onde queria estar. Ela tentou ignorar, mas assim que desceu do quarto foi informada que tinha recebido um pacote, seu corpo inteiro se enrijeceu. A caixa era pequena, embrulhada com um papel escuro e um laço de cetim vermelho. Algo no presente a fez hesitar antes de pegá-lo, mas a curiosidade e o medo a venceram.Com as mãos trêmulas, ela desfez o laço e levantou a tampa. Seu estômago revirou ao ver o conteúdo: um buquê de lírios brancos, já começando a murchar, e um pequeno bilhete dobrado ao lado. Ela pegou o papel com relutância e leu as palavras escritas com uma caligrafia elegante, mas carregada de ameaça:
Foram dias suspensos no tempo. Como se o mundo lá fora, com suas ameaças, seus jogos de poder e perigos invisíveis, não existisse mais.Aurora acordava e já sentia a presença dele, antes mesmo de abrir os olhos. O cheiro de Enrico impregnava os lençóis, a pele dela, o travesseiro. Ele acordava cedo, mas sempre voltava para espiar se ela ainda dormia, para deslizar os dedos devagar por sua cintura, como quem toca algo precioso demais para se desfazer do contato tão rápido.Ela fingia dormir só para sentir. Para ouvir o som abafado do sorriso dele ao perceber que ela se aninhava um pouco mais em sua direção.O homem que todos temiam... era tão silenciosamente doce naqueles gestos que Aurora se via, vez ou outra, de cora&c
Enrico se recostou na cadeira de couro escuro do escritório, iluminado apenas pela luz suave que vinha da janela, criando um ambiente sombrio, refletindo o clima da conversa. Seu olhar estava fixo nos papéis que Lucius havia colocado sobre a mesa, como se já estivesse antevendo a vingança se concretizando diante de seus olhos. Ele esfregou as mãos, uma sensação de prazer quase palpável nas pontas dos dedos.Lucius, por outro lado, parecia cada vez mais desconfortável, os óculos escorregando sobre o nariz enquanto ele tentava não demonstrar a crescente indignação. Sabia o quanto Enrico era capaz de fazer para atingir seus objetivos, mas aquilo ia além de qualquer coisa que ele já havia imaginado. O tom de voz de Enrico era calmo, mas havia um gelo nas palavras que deixava claro que a decisão estava tomada. No fundo, Lucius também sabia que seria tolo em tentar dissuadi-lo, mas o peso da ética ainda o incomodava.— Eu entendo que você esteja arrasado por tudo o que aconteceu, Enrico. Ma
Enrico Mansini era, sem dúvida, uma das figuras mais enigmáticas e influentes do setor de hotelaria e entretenimento de luxo, e sua ascensão ao topo não foi obra do acaso. Nascido em uma família de imigrantes italianos que se estabeleceram nos Estados Unidos, ele cresceu em um ambiente onde negócios e lealdades familiares se entrelaçavam de forma indissociável. Seu pai, um homem reservado e estrategista, foi quem fundou os alicerces do império de hotéis e cassinos, sempre mantendo uma estreita ligação com o submundo do crime organizado. Enrico, desde jovem, percebeu a importância dessa relação, e, ao contrário de muitos herdeiros que se distanciaram do legado familiar, ele mergulhou de cabeça nas complexas dinâmicas da máfia italiana, transformando essa herança em uma das maiores fontes de poder e influência do seu tempo.Sua habilidade de negociar com figuras do submundo, ao mesmo tempo que mantinha uma fachada impecável de empresário sofisticado, foi a chave para seu sucesso. Enrico
Aurora Vidal é uma jovem enfermeira de espírito forte e um passado marcado por tragédias. Criada em um bordel pela mãe, que era prostituta, Aurora conheceu desde muito cedo o lado sombrio da vida. As dificuldades e a violência a moldaram, tornando-a uma mulher desconfiada, especialmente em relação aos homens e ao amor. No lugar onde cresceu, viu e ouviu muitas coisas, coisas essas que eram mais que traumatizantes para uma criança. Alguns clientes que esbarravam com ela nos corredores, acreditavam que ela também estava disponível, mesmo quando ainda era apenas uma menina, e não foram poucas as propostas que ela havia recebido. Alguns eram verdadeiramente insistentes, chegando até mesmo a se tornarem perigosos. Com todas essas dificuldades ,ela havia conseguido crescer sem maiores danos, mas verdadeiramente impactada com toda a tristeza e dor que via nas mulheres que trabalhavam com sua mãe. Quando a mãe faleceu, ela tinha quase dezoito anos, seguiu morando no bordel por algum tempo,