Nos dias que se seguiram, Aurora provou que sua competência ia além do que Enrico esperava. Ele lhe dava tarefas cada vez mais complicadas, esperando que ela falhasse, mas ela nunca o fazia. Organizava reuniões de última hora com perfeição, resolvia contratos problemáticos e antecipava soluções antes que os problemas surgissem. Se ele queria testar seus limites, ela estava mais do que disposta a mostrar que não tinha nenhum.
Mas Enrico não estava disposto a facilitar. Ele queria desestabilizá-la, provocar alguma reação que mostrasse que ela não era tão inabalável assim. Então começou a agir.
— Aurora, mande um belo buquê de rosas para Marcela. Algo clássico, sofisticado. E escreva um cartão p
Na sexta-feira pela manhã, Aurora fora informada de que, no sábado à noite, deveria comparecer a um evento acompanhando Enrico. Ele lhe dissera que se tratava de um coquetel e fora categórico ao afirmar que ela deveria se vestir adequadamente para a ocasião. A mera ideia daquilo a incomodava, mas sabia que não havia escolha. Seu contrato agora exigia esse tipo de comprometimento, e contrariar Enrico não lhe parecia uma alternativa sensata naquele momento.Ainda assim, havia questões mais urgentes a resolver. Durante o horário de almoço, decidiu que procuraria Clarice para tentar obter informações sobre o roubo que ocorrera recentemente. Sentia que havia muito mais por trás daquela história do que os rumores indicavam, e se queria manter-se segura, precisava compreender melhor o que estava acontecendo nos basti
Leonardo fitava o irmão com incredulidade, os olhos carregados de indignação e preocupação.— Você fez o quê? — perguntou, a voz carregada de espanto. — Como pôde inventar essa história absurda de roubo no hotel? Se isso se espalhar, as pessoas vão começar a questionar e, inevitavelmente, teremos que dar explicações. Isso pode prejudicar seriamente nossa reputação.Enrico suspirou, recostando-se na poltrona de couro de seu escritório luxuoso.— Talvez eu tenha sugerido, de maneira sutil, que algo tenha desaparecido e que Aurora pudesse ser uma suspeita — admitiu, mantendo um tom despreocupado. — Mas eu não afirmei nada com clareza. Você está exagerando,
Após o almoço, Aurora voltou para o andar da presidência. Mal havia saído do elevador quando seu telefone vibrou com uma mensagem de Enrico, convocando-a imediatamente à sua sala. Ela revirou os olhos, soltou um suspiro impaciente e deixou a bolsa sobre a mesa antes de se dirigir ao escritório dele. — Em que posso ajudar agora, senhor Mancini? — perguntou, sua voz carregada de cinismo. Se ele percebeu o tom, simplesmente escolheu ignorá-lo. — Sabe aquele relatório que pedi para segunda-feira? Vou precisar dele para amanhã. Então você terá que fazer horas extras esta noite. Aquilo já era demais. Justamente hoje, quando havia planejado sair com Clarice. — Lamento, mas hoje não será possível, senhor. O relatório de segunda ficará para segunda mesmo. Eu já tenho planos. Enrico ergueu os olhos do computador, claramente surpreso. — Como assim, já tem planos? Eu preciso desse relatório pronto! — E eu disse que hoje não será possível. Se quiser, ele estará na sua mesa dentro
Aurora tentou não deixar que Enrico estragasse sua noite. Seguiu realizando suas tarefas normalmente até o final do expediente. Quando deu seu horário, foi para seu quarto. Havia combinado com Clarice de saírem cedo para voltar cedo, afinal, as duas teriam que trabalhar no dia seguinte. Aurora tinha que terminar o maldito relatório antes de segunda-feira.Tomou um longo banho e depois foi escolher uma roupa. Iriam a um bar latino que ficava próximo ao hotel. Pelo que viu nas avaliações, o lugar tinha boas músicas e a comida era boa. Escolheu uma saia jeans e uma camiseta. Nos pés, resolveu usar seu All Star branco, achou que o conjunto ficou bom para a ocasião. Na hora combinada, saiu para encontrar Clarice no saguão do hotel.Enrico tamborilou os dedos sobre a mesa de seu escritório, o olhar fixo no telefone enquanto a mente trabalhava com rapidez. Não gostava da ideia de Aurora saindo à noite sem saber exatamente com quem estaria. A ideia de que ela pudesse se encontrar com outro ho
Aurora acordou com uma dor de cabeça terrível no sábado pela manhã. Talvez não devesse ter misturado tantos drinks na noite anterior. Tomou banho e se vestiu, e o gosto amargo da ressaca ainda impregnava sua boca enquanto ela se arrastava até a cozinha do quarto, preparando um café forte. Pegou um copo grande e levou a bebida quente até o escritório. Sabia que teria que enfrentar Enrico logo cedo, e encará-lo naquele estado não parecia a melhor das ideias.Contudo, para sua surpresa, ele parecia de ótimo humor naquela manhã. Isso a deixou desconfiada. Enrico nunca era uma pessoa matinal, e menos ainda tão bem-humorado. Havia algo por trás daquele sorriso discreto e dos olhares furtivos que ele lançava em sua direção.— Você t
Aurora chegou ao evento sozinha, como combinado. Enrico avisara que precisaria resolver algo antes e que a encontraria diretamente no salão. Ela se manteve firme ao entrar, ignorando o leve nervosismo que se instalara desde que saíra de seu quarto. O ambiente luxuoso era iluminado por um brilho dourado e preenchido pelo murmúrio de conversas refinadas. Sentia olhares sobre si, mas o único que realmente a interessava ainda não estava ali.Quando finalmente o viu, parado perto do bar com um copo de uísque na mão, sentiu um estranho aperto no estômago. Mas nada comparado à expressão de Enrico ao avistá-la. Ele ficou imóvel por um instante, como se tivesse levado um golpe inesperado. Os olhos escuros percorreram seu corpo com um misto de fascinação e incredulidade. Aurora segurou o olhar dele, fingindo indiferen&cc
O calor da dança ainda pulsava no corpo de Aurora quando Enrico se afastou, inclinando-se para sussurrar em seu ouvido:— Preciso tratar de um assunto. Não demoro.Ela apenas assentiu, observando enquanto ele se afastava com passos firmes. Pegou outra taça de champanhe da bandeja de um garçom que passava, mesmo sem intenção de beber. O simples ato de segurar a taça era uma distração para a inquietação que começava a se instalar em seu peito.Decidiu circular pelo salão, seus olhos analisando os convidados com indiferença, até que avistou uma escada discreta que levava ao mezanino. Subiu os degraus devagar, aproveitando a vista ampla que dali se tinha do evento. O brilho dourado dos lustres refletia nos cris
Enrico saiu do salão a passos largos, o coração martelando no peito. O que diabos havia acontecido com Aurora? O medo em seu rosto, a forma como fugira... algo estava terrivelmente errado.Ao virar a esquina da mansão, ele parou abruptamente. Seu olhar percorreu o jardim escuro até encontrar uma silhueta encolhida contra a parede de pedra. Seu peito apertou. Mesmo à distância, reconheceu o vestido azul-marinho.— Aurora? — chamou, sua voz carregada de urgência.Ela não respondeu.Ele avançou depressa, agachando-se ao lado dela. Seu corpo tremia, os braços apertados ao redor de si mesma. Lágrimas escorriam pelo rosto, e a respiração vinha em arquejos errático