Rian
Quando eu era criança, minha mãe dizia que eu tinha o nome de um anjo. Lembro de ter ficado bem revoltado quando descobri que ela estava errada e não era exatamente isso.
Sinceramente, me senti enganado!
Rian, ou Icarus como é em latim, é o personagem de uma história grega. E como a maioria das histórias gregas, é uma tragédia. A história era a seguinte:
Icarus era filho de um inventor grego muito habilidoso, o pai dele foi quem inventou o Labirinto do Minotauro. Ele ajudou um herói a matar o Minotauro e fugir com a filha do rei, então, o rei ordenou que o inventor e seu filho fossem presos nesse mesmo Labirinto. Mas, essa ainda não é a parte trágica.
No Labirinto, o inventor juntou materiais o bastante para planejar sua fuga. Ele juntou penas que caíam, fios e fez asas de cera.
E, só uma pausa
MatheusRian parecia profundamente envergonhado enquanto tentava soletrar os palavrões para mostrar os sinais em seguida, mas sempre que ele estava quase acabando de soletrar escondia o rosto nas mãos por pelo menos dois minutos.Não vou mentir, era meio que adorável.“Pensa assim...” – falei quando ele ergueu o rosto novamente. – “Palavrões são palavras iguais todas as outras, mas que alguém decidiu que eram palavras feias. Mas, são iguais todas.”“Não são não!”“São sim!”“São palavras feias.”“Ensina logo, Rian!”“Eu to com vergonha!”“Por favor!”Ele virou o rosto respirando fundo antes de soletrar:“P-U-T-A” – ele colocou a mão aberta na frente do rosto, os
RianDuas semanas sem sair de casa e eu já estava enlouquecendo.Andava pelos cômodos em círculos, com o coração disparado e os olhos vidrados, sem saber bem o que estava fazendo, ansioso e ocioso ao mesmo tempo, a fadiga tomando conta do meu corpo. Sem forças para me mover e sem paciência para ficar parado, bagunçando meu cabelo e estalando meus dedos várias e várias vezes.A sensação de ansiedade era nauseante e os pensamentos vinham em ondas avassaladoras. As imagens daquele dia pareciam ficar indo e voltando repetidamente diante meus olhos, e, a noite, nos meus sonhos eu fugia de uma matilha de cães eternamente. Ao olhar pela janela durante o dia, era como se aqueles dois cães e o velho maldito estivessem do outro lado da rua, me observando.Lembro de ter ficado tão feliz quando ele morreu, mas de uma partezinha de mim, ter
MatheusOs últimos dois meses se resumiram na seguinte rotina:Depois da escola, eu vinha para casa, tomava um banho, almoçava e ia para casa do Rian. Lá, eu ficava tentando convencê-lo a fazer alguma coisa. Se eu insistisse demais, ele se irritava e ia para o canto. Na maior parte do tempo, acabava que ficávamos os dois quietos, então eu aproveitava para tentar fazer alguma lição. Às vezes, conseguia convencê-lo a jogar ou assistir alguma coisa, mas não era nada muito animador porque ele parecia... Não sei. Perdido. Como se não estivesse realmente prestando atenção no que fazia.Ver Rian daquela forma, frágil, me fazia sentir tão mal. Passava tanto tempo preocupado com ele... E também era cansativo. Era difícil e cansativo porque eu realmente me preocupava muito e isso acabava se somando com a afliç&
RianEu estava andando de um lado para o outro com o coração disparado. Minhas mãos suavam.Só até a garagem, tentei me convencer. Se eu conseguisse chegar só até a garagem... Levei as mãos ao pescoço, tentando lutar contra a sensação de falta de ar que esse pensamento me fez ter e dei um pulo de susto quando a porta do meu quarto abriu.“Oi.”Respirei fundo, tentando controlar o tremor em minhas mãos enquanto Matheus me observava encolhido, quase como se estivesse com medo de se aproximar, o que não era tão ridículo olhando em retrospecto. Ele usava uma camiseta preta com o logo da Marvel e uma jeans cinza, o cabelo trançado caindo sobre o ombro, com várias presilhas pequenas em formato de estrela.“Oi.”“Alexia disse que você não comeu hoje. Ela acabou de
MatheusRian continuou abraçando o travesseiro, as costas encostadas na parede, sentado encolhido no canto da cama por vários minutos. Precisei de poucos instantes para perceber que ele queria que eu me afastasse um pouco então voltei a me sentar na outra ponta da cama tornando minha atenção para meu celular.Apesar do desgaste, do cansaço, eu gostava que a ainda conseguíssemos ter essas conversas. Eram elas que vinham tornando os últimos dois meses suportáveis.[Pedro]Aula de saúde é uma merdaProfessora começou a explicar sobre DSTDescobri que um dos garotos do último ano é soropositivoE agr tá TODO MUNDO falando q ele é gayEu to tremendoDe ódioBufei.
RianMeus dedos sangraram depois de eu roer demais as unhas e arrancar muito da pele. Mesmo assim, continuei roendo e arrancando. Ardia e doía, mas eu não me importava muito. E eu definitivamente teria trancado a porta do quarto se soubesse que minha irmã tinha chamado artilharia pesada para me fazer sair de casa. Por artilharia pesada, quero dizer o Davi.Ele entrou no meu quarto de rompante, o cabelo cacheado preso num coque e a bolsa transversal onde carregava sua câmera pendurada num dos ombros.Me encolhi no lugar quando seus olhos fixaram em mim como o de um demônio que foi invocado com o único propósito de me arrastar diretamente para as profundezas do inferno, que no caso era qualquer lugar fora da minha casa.“Oi.” — cumprimentei, hesitante.“Levanta, a gente vai sair.”Mal-educado, nem me deu oi!“Não quero.&rd
Matheus– Primeiro, você é o único adolescente no mundo que ainda faz ligação, sua criatura estranha! Segundo, você precisa de terapia, mas se sinta abraçado. Você vai dar um jeito nesse negócio da escola, agora parece o fim do mundo, mas eu sei que você fez tudo que pôde, então não precisa se sentir mal. E terceiro... Você não pode falar com a sua mãe assim. - foi tudo que Pedro disse depois de eu contar o que tinha acontecido.– Eu sei. – Suspirei, com o celular no ouvido.– É sério, cara! Ela faz o que pode! Sei que é injusto ela te acusar, mas, isso não justifica surtar com ela assim. Ela não sabe o que te acontece.– Eu sei disso, Pedro! – fechei os olhos, deitando a cabeça no travesseiro. – Eu só...Me estressei. Odeio cobr
RianMeu tio disse que fonoaudiólogos realmente não eram médicos e meu mundo caiu.Mas... Tio Flávio explicou que fez medicina pensando em ser cirurgião, mas já no último semestre começou a se interessar por fonoaudiologia. Como ele já tava acabando a faculdade mesmo, resolveu acabar e depois começou a fazer fono. Então, acho que ele ainda é tipo um médico, né? Ou não?Foi difícil entrar em consenso com a Alexia de qual devia ser o nome da gatinha.Mas, no fim acabamos concordando que o nome dela devia ser Baunilha. Por quê? Não sei. Mas, eu gostei do nome. O sinal que fizemos para gatinha era uma mão na configuração de B em frente ao nariz, com um movimento de cima para baixo. Bem simples... Mas, ia ser difícil fazer Baunilha entender que aquele sinal era dela.Animais s&