(Leandro)O sorriso de vitória logo sumiu do meu rosto, eu comecei a cortar os legumes enquanto lembrava da língua do André entrando na boca da Letícia e no quanto ela estava gostando daquilo tudo.— Ai inferno!Gritei ao cortar o meu dedo.Eu corri pra pia e coloquei o dedo de baixo da água e depois fui até o quarto fazer um curativo.Eu não queria admitir pra mim mesmo que tudo o que eu estava sentido era ciúmes, pois eu achava impossível que alguém que eu conhecia a apenas alguns dias, fosse tomar conta do meu coração de forma tão repentina. Eu sempre falei em meus sermões sobre os desejos da carne, eu tinha o dever e a obrigação de fugir desses encantos, mas eu já não tinha tanta certeza que eu queria fugir.A verdade era que as minhas atitudes demonstravam o quão fraco eu estava e que talvez eu devesse mesmo buscar ajuda, mas se eu fizesse realmente isso, eu iria ter que me afastar das minhas funções por um tempo, e recuperar a minha comunhão com Deus.Eu já tinha cometido tanto
Quando a missa acabou, eu falei com todos, abençoei um por um e cada um foi pra suas casas, inclusive a Letícia e o novo namoradinho dela.Eu fui pra casa preocupado com a Santa Missa, pois ela iria acontecer no sábado, e eu teria que abençoar a hóstia e as entregar, mas eu não poderia fazer isso estando em pecado, isso seria uma afronta a Deus, e por mais que eu não tivesse chegado as vias de fato, a minha mente estava pecaminosa. Eu já não estava nem raciocinando mais com clareza, eu estava demonstrando o meu desagrado diante de todo mundo, e faltava bem pouco pras pessoas começarem a desconfiar.— O que eu estou fazendo com a minha vida?Eu tomei um banho, me vesti, escovei os meus dentes e depois fui comer, eu fiz um copo de vitamina, preparei um sanduíche e fui pra cadeira de balanço no quintal, mas antes que eu pudesse dar a primeira mordida no sanduíche ou beber um gole da vitamina, eu ouvi o som da cerca se abrindo e virei a cabeça imediatamente. Já era de se esperar que a
(Letícia)Se tem uma coisa que a vida me ensinou, foi escapar ilesa dos problemas em que eu me metia, e o Leandro havia acabado de criar um pra mim.Quando a minha mãe entrou em casa, ela pegou um cipó que estava perto do sofá e eu já sabia qual era a intenção dela.Todos nós temos algo do qual nos envergonhamos ou nos arrependemos, inclusive a minha mãe, e eu sabia onde o calo dela apertava.Ela esperava que eu fosse correr e me trancar no quarto como da última vez, mas eu me mantive imóvel, esperando ela dar passos sofridos em minha direção, mas antes que ela me alcançasse, eu usei o que eu tinha de melhor, a manipulação. — Antes que a senhora venha me bater, eu quero lembrá-la de três coisas, a primeira é que você não me criou, não trocou minhas fraldas, não me levou na escola, não fez nada que uma mãe deveria fazer por uma filha, então você não tem direito nenhum de me bater, segundo que você me deixou pra trás pra curtir a sua vida, e com certeza nessa curtição toda você fez co
Depois de ter sido interrogada e humilhada na frente de todos, o que me restou foi pedir desculpas na força do ódio pro bendito padre. No fim da missa o Leandro foi falar com as pessoas e eu saí junto com a minha mãe e o André, ela estava fugindo do padre.Mãe: Desde que você chegou aqui, eu não tive mais paz Letícia, todo dia você arruma um jeito de me constranger, custava ficar em casa já que estava atrasada?Eu preferi ficar calada, afinal eu estava esgotada de tanto bater boca com ela.O André me deu um beijo no rosto, na tentativa de sustentar a história de sermos apenas amigos e foi embora, e a minha mãe foi fofocar com a vizinha. Eu entrei em casa, jantei, escovei os dentes, depois tirei a roupa de Santa e coloquei a roupa do demônio, passei um batom nos lábios e saí de fininho enquanto a minha mãe estava de costas.Eu fui fazer o padre pagar a mal criação dele, mas o que eu achei foi um homem sexy, e com o olhar hipnotizado no meu corpo. Eu fui atrás dele pra tirar satisfaç
(Leandro)Eu fiquei olhando os pedaços da Nossa Senhora no chão do meu quarto e me ajoelhei em meio a eles.— Me perdoe minha mãe, eu só não sei o que fazer pra me livrar desse sentimento que está começando a nascer dentro de mim, e ele cresce sem controle, ao ponto de manipular minhas atitudes, a ponto de me fazer pecar e eu estou me sentindo o pior dos pecadores, e agora eu terei que lidar com as consequências dos meus atos de forma vergonhosa e isso me trará grandes sofrimentos. Eu deixei algumas lágrimas caírem, eu sempre levei muito a sério o meu relacionamento com as coisas de Deus, eu jamais pensei em agir em discordância com aquilo que Ele entregou a mim. Eu levantei do chão, caminhei até a área de serviço, peguei a pá e a vassoura e foi recolher os restos da Santa.Aquilo doeu na minha alma.Eu havia ganhado a Santa da minha mãe antes dela morrer em um trágico acidente de carro, deixando pra trás uma mansão e uma riqueza que nunca preencheu o meu coração, algo que eu havia
(Letícia)Voltar pra casa da minha mãe foi ainda mais difícil, a minha vontade era de pegar um taxi, ir pro aeroporto e ligar pro meu pai comprar uma passagens de emergência, eu não entendia como eu havia me deixado levar por algo tão sem noção como aquilo. — Se apaixonar por um padre? É sério Letícia? O que você esperava? Que ele fosse abandonar tudo por você?Falei pra mim mesma enquanto caminhava em direção a casa da minha mãe.Toda a minha marra, toda a minha auto confiança e autoestima haviam evaporado.— Eu me arreganhei todinha pra ele pra nada!Mãe: Você fez o quê Letícia?Eu dei um pulo enorme quando ouvi a voz da minha mãe atrás de mim, ela parecia uma alma, sempre estava surgindo do nada.— Ai mãe, que susto!Mãe: Você se arreganhou todinha pra quem?O olhar dela era ameaçador, e eu não sabia o que falar pra sair dessa saia justa.— Eu não falei isso mãe, a senhora tá ouvindo coisa, vamos entrar, já está tarde.Mãe: Exatamente por isso que eu ainda estou na rua, eu estava
(Leandro)Ao longo da minha caminhada eu sempre ouvi dizer que a casa de Deus devia estar sempre aberta, pra que as pessoas pudessem se libertar do peso das suas más escolhas, mas diante das circunstâncias eu vi que era preciso manter a igreja fechada, pois eu não poderia ouvi-las e exercer o meu papel.Depois que o Bispo foi embora, eu não cheguei a abrir a igreja, deixei ela fechada durante todo o dia, como só existia uma porta de acesso até a minha casa e essa era pela própria igreja, eu não tive medo que a Letícia aparecesse, e pela primeira vez desde que ela chegou na cidade, eu me senti protegido dela.Eu comecei a organizar minhas coisas dentro da mala, e foram passando pela minha mente as cenas de quando eu cheguei naquela lugar, eu tive oportunidade de ajudar muitas pessoas, e de conhecer na prática o meu papel.Eu deixei pra trás família, amigos, uma vida, pra me dedicar a igreja com a certeza que jamais eu iria me arrepender de tal escolha, eu não pensei que existiriam ten
(Letícia)Eu estava varrendo a calçada de casa quando vi o Bispo indo em direção a venda, ele passou alguns minutos lá dentro e saiu sem nada nas mãos, o que era estranho, pois era sinal que ele não havia ido lá pra comprar.Mãe: O que você tá fazendo parada igual um poste aí Letícia?Eu fechei os olhos tentando controlar a minha irritação, afinal ela sempre buscava uma forma de chamar a minha atenção de algo.— Nada, estou só pegando um vento? Não posso?Mãe: Que bicho te mordeu menina? preciso que você vá na venda comprar alguns legumes pra eu fazer o almoço.Eu fiquei animada, pois era tudo o que eu queria, assim iria descobrir o que o Bispo foi fazer na venda. Eu olhei pra igreja e ela permanecia fechada, e isso só fez aumentar as minhas desconfianças de que o Bispo havia ido até lá pra conversar com o Leandro sobre o que houve, e isso significava também que foi o próprio Leandro que o chamou lá, afinal como o Bispo iria descobrir se não pela própria boca do Leandro?Assim que ch