02

O vento frio sopra o cheiro de morte para mim. Ela era chamada de Princesa, mas não vejo nenhum azul no seu sangue derramado aos meus pés, só mais vermelho como o de todo mundo.

A Princesa das Princesas. Isso certamente chamará a atenção. Eles devem colocar um cavaleiro atrás de mim. Talvez Galahad, dizem que ele é o melhor detetive deles. Não tem problemas, esse era o objetivo: que eles soubessem que eu estou de volta.

O vento sopra gelado, mas não há problema: sou o filho do vento norte, nada é mais gelado que minha alma.

Sou o Grande Lobo Mau.

O vento uiva em meus ouvidos, eu uivo com ele.

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Branca Carmim Neves.

Antes da gestão Pendragon, a família Neves dominava a cidade politicamente, mas desde a sua fundação eles eram uma das principais (se não a principal) famílias do crime organizado. Ainda assim Branca se destacou como uma das maiores mentes criminosas dos Neves, ela e seus sete capos dominavam o tráfico de drogas da cidade.

É claro que essa era a sua face oculta. A face pública era Branca Neves, a socialite e Miss. Ela havia sido a primeira a ganhar a concurso Miss Princesa das Empresas Walt, por isso ela ficou conhecida como a Princesa das Princesas.

E agora ali estava ela. Morta.

Seu corpo havia sido colocado cuidadosamente em um caixão de vidro, usando o mesmo vestido com que ela tinha ganhado o primeiro Miss Princesa. Ela sempre foi pálida, mas agora estava quase transparente de tão branca. A única parte de seu corpo ainda com cor eram seus longos cabelos negros e, estranhamente, seus lábios bem vermelhos. Olhando mais de perto, pude perceber o batom.

Na parede ao fundo dela estava escrito com sangue em letras garrafais “O GRANDE LOBO MAU”, e um desenho de uma cabeça de lobo acompanhava.

E Galahad estava analisando a cena.

- Galahad.

- Lobo.

- Eu não sou mais um lobo. O que temos aqui?

- Vou ser bem sincero ao dizer isso, Rey: eu não faço a menor ideia. É obviamente um assassinato, e o autor assinou a obra. O Grande Lobo Mau. Será ele mesmo? Será que depois de todos esses anos ele voltou?

- É possível. É um caso em aberto. E, olhando a cena do crime, é bem provável, pra não dizer que tenho certeza. Se não for ele, é um puta de um imitador.

- Certeza?

- Você sabe que sim, Galahad. Foi antes do seu tempo, mas eu estava lá. Isso é coisa dele. Mas nós demos sorte: ele não está sozinho.

- Como você sabe?

- Ele é bom, talvez o melhor, mas nem ele consegue agir nessa escala. Só sei que ninguém faz uma coisa dessas sem ajuda. Dar cabo de Branca Neves, a Princesa das Princesas, a cabeça da família Neves, manda uma mensagem: eu posso tudo. Ele quer assustar todo mundo, mas há algo mais nas entrelinhas, algo que nós estamos deixando escapar. Não sei o quê... Vejamos: ele a pegou desprevenida ou já desacordada; não houve luta; e ele permaneceu aqui por um bom tempo.

- Como...

- Olha o vestido: em perfeito estado. O quarto: tudo em perfeito estado. Olhe o desenho: apesar da relativa complexidade, está feito com precisão, o que significa que levou tempo e calma.

- O desenho foi feito com sangue – Galahad encarou a figura na parede. – De onde você acha que veio?

- Sim, de onde você acha que veio? Me mostre o corte onde o sangue foi retirado.

- Nós não achamos nada ainda...

- Nem vão. Ela não sofreu nenhum corte, foi envenenada.

- Como...

Eu limpei o batom dela com meu polegar. Os lábios estavam de um esverdeado doentio.

- Veneno – Galahad não conseguiu segurar aquele o impulso de ser óbvio.

- Quando você m****r uma amostra para seus magos nos laboratórios, eles vão te dizer que é uma overdose de Maçã de Eva, a droga mais vendida pela máfia Neves. Alucinógeno.

- Como...

- Galahad, você é meu cavaleiro preferido. Digo mais: você é uma pessoa que eu realmente gosto. Para manter assim vamos nos poupar de perguntas estupidas que você nem consegue terminar, por exemplo: “Como...”

- Sei... Instintos lupinos... Se esse sangue não é da Branca, de onde ele vem? É dele?

- Galahad, o homem é um profissional. Não, claro que não. Ele não facilitaria tanto nosso trampo. Manda para os magos nos laboratórios que eles vão te dizer, mas eu tenho um presságio bem ruim sobre isso – eu ajeitei o meu capote, recoloquei meu chapéu e me preparei para voltar para aquela maldita noite fria da porra.

- Você está partindo, Lobo?

- Eu não sou mais um lobo. Mas o Grande M me chamou para fazer um serviço que vocês não podem, e isso normalmente inclui ir em lugares que vocês não chegam e falar com pessoas que vocês não conseguiriam.

- Ou seja, basicamente ser um lobo.

Aquele bostinha loiro sorriu. Talvez por isso eu gostasse tanto de Galahad, o puto daria um excelente lobo. Talvez tivéssemos sido grandes parceiros. Mas isso era só especulação: Galahad nunca chegou a ser um lobo, e eu não era mais um.

- É sempre bom te ver Galahad, melhor ainda quando isso não inclui topar com aquele bosta do Lacenlot... Cacete, eu adoraria um trago.

- Na saída passe na cozinha e veja se eles têm palitos de dente. Até mais, Rey.

Galahad ficou olhando para o desenho na parede como se fosse uma fotografia do próprio Diabo em pessoa. Eu sabia que não era: o Diabo não era tão perigoso.

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