Isabela apenas deu um leve aceno de cabeça para Jorge, que observava ela enquanto a porta do elevador se fechava. Ela ajeitou o casaco ao seu redor, sentindo o frio do estacionamento subterrâneo, onde o vento parecia entrar de todos os lados. Encolhendo os ombros, Isabela seguiu em direção à saída. Mas, ao chegar ao nível superior, a temperatura parecia ainda mais baixa. Ela decidiu voltar ao escritório. Lá, em um andar dedicado exclusivamente a livros raros e edições esgotadas, ela encontrou um refúgio perfeito para suas leituras e estudos. Aproveitar o tempo ali era sempre um prazer, e quando se deu conta, o céu já estava completamente escuro.As luzes no ambiente acenderam automaticamente, banhando o espaço com uma iluminação suave e acolhedora.Foi então que o som de uma vibração no bolso interrompeu sua concentração. Ao verificar, viu que era uma ligação de Viviane. Imediatamente, ela atendeu.— Bora sair? Hoje o jantar é por minha conta!— Olha só, que poder, hein? — Isabela riu
Danilo sabia que Viviane estava tentando ajudar ele, mas também queria dar uma "alfinetada" em Sandro. Porém, para ele, o que realmente importava era o que Isabela pensava. Com um olhar cheio de esperança, ele se voltou para ela.— Isabela, me dá uma chance? Eu nunca faria com você o que o Sandro fez. Se fosse preciso, eu daria até a minha vida para te proteger.No passado, palavras como essas teriam deixado Isabela emocionada, talvez até levada às lágrimas. Mas agora, depois de tudo o que passou, ela não conseguia mais se deixar levar. Experiências dolorosas tinham endurecido seu coração e ela sabia que confiar cegamente em promessas era arriscado. Mesmo sabendo que iria machucar Danilo, ela respirou fundo e se forçou a dizer:— Danilo, eu acabei de me divorciar, você sabe por que isso aconteceu. Simplesmente não consigo entrar em outro relacionamento agora. Sinto muito.O rosto de Danilo ficou abatido, seus lábios se comprimiram e uma ruga profunda surgiu em sua testa.— Talvez eu es
Isabela ficou em silêncio. Ela se sentia um pouco desconfortável, como se fosse apenas um peão nas mãos de outras pessoas. Seu olhar se voltou para Danilo, que parecia ter percebido seus pensamentos.— Se serve de consolo, eu é que sou o verdadeiro peão aqui. — Comentou ele com um leve sorriso, tentando suavizar o clima.Isabela se sentiu ainda mais constrangida e hesitou antes de responder:— Danilo...Ele rapidamente interrompeu ela, declarando com firmeza:— Mesmo que seja assim, eu aceito de bom grado.Isabela soltou um suspiro, sentindo um misto de gratidão e tristeza.— Você sempre será um grande amigo para mim.As palavras, embora gentis, deixavam claro que seu sentimento por ele era apenas de amizade. O brilho nos olhos de Danilo diminuiu visivelmente, como se tivesse sido apagado.Do outro lado da rua, Sandro observava a cena, com o olhar fixo no momento em que Isabela entrava no carro de Danilo. Ao lado dele, Viviane não perdeu a oportunidade de mostrar seu descontentamento e
Danilo ficou em silêncio, o que soava como um consentimento silencioso. Aquela resposta bastou para alegrar o humor de Sandro, que relaxou e abriu um meio sorriso.— Vou te pagar uma bebida. — Ofereceu Sandro.— Nem pensar. — Danilo recusou, direto.— Você quer tentar? Vai fundo. Estamos divorciados, afinal, você tem todo o direito de tentar a sorte. Só preciso ver se consegue, né? — Sandro persistiu, com um tom confiante.Aquela última frase vinha carregada de autoconfiança. Ele estava convencido de que Isabela havia rejeitado Danilo porque, no fundo, ainda guardava sentimentos por ele.Com isso, toda a irritação que estava guardada dentro de Sandro pareceu desaparecer.— Naquele dia, acho que exagerei um pouco. — Admitiu Sandro, quebrando o gelo.Danilo não era do tipo que guardava rancor, e a amizade de anos entre os dois pesava mais.— Você mesmo disse que eu posso tentar? — Ele perguntou, se lembrando de que, no passado, tinha sentimentos pela mulher do amigo, o que não era exatam
Ao ouvir o nome de Isabela, Fabiano franziu a testa e, com um tom de curiosidade, perguntou:— O que o Sandro está dizendo?Gabriel balançou a cabeça e respondeu:— Não ouvi direito. Vamos embora.Fabiano acenou com a cabeça.A noite se arrastava, e Sandro, deitado em sua cama, se virou incessantemente até que, finalmente, no meio da madrugada, vomitou. O cheiro nauseante se espalhou rapidamente pelo quarto, tornando o ambiente insuportável. Ele sentia a boca seca, como um peixe fora d'água, sufocando pela sede.— Água... Água... — Ele murmurou com a voz rouca.No passado, quando ele se embriagava, Isabela sempre ficava ao seu lado, cuidando dele a noite toda. Quando ele tinha sede, ela rapidamente levava água para ele. Quando se sentia mal, ela o acalmava com palavras suaves. Mas agora, Isabela não estava lá, e ele nunca se sentiu tão mal como naquele momento, como se estivesse sendo esvaziado, prestes a desfalecer.De manhã, a empregada finalmente chegou para limpar a casa. Isabela
Sandro achava o comportamento de Clara um tanto infantil.Ele se lembrava de que nunca havia se preocupado em ajustar o cinto de segurança para Isabela como fazia com ela, e Isabela nunca sequer havia pedido isso. A aparência de Isabela, sempre tão pura e delicada, despertava o instinto protetor nas pessoas, mas, na verdade, ela era muito corajosa.Sandro balançou a cabeça, irritado por não conseguir parar de pensar nela.— Vamos para a rua de pedestres. — Clara sugeriu. Ela havia pesquisado sobre o local na internet. O local era famoso pelas lojas, mas também pelos ipês que ladeavam a calçada. Embora fosse inverno e os galhos estivessem despidos de folhas, sem a beleza vibrante das outras estações, a neve acumulada nos ramos criava uma paisagem serena e única.Sandro acenou com a cabeça, quase automático.Quando chegaram perto da rua, Clara desceu do carro primeiro, enquanto Sandro foi procurar uma vaga para estacionar. Assim que estacionou, o celular de Sandro tocou repentinamente.
— Não vou comprar para mim, vou comprar para você. — Disse Isabela, com suavidade na voz.Lara arregalou os olhos, surpresa, e perguntou, incrédula:— Comprar para mim?Caio, que estava por perto, interveio com um tom descontraído:— Ela já comprou coisas para você antes, não é motivo para tanto espanto.— Ah, lembrei que da última vez você até a irritou. — Lara replicou, rindo timidamente e com um leve tom de desculpa.— Mas desta vez o significado é diferente. — Interrompeu Isabela, sorrindo com orgulho, enquanto seus olhos brilhavam. — Antes, até quando eu mostrava gratidão a vocês, usava o dinheiro do Sandro. Agora é o meu próprio dinheiro!— Você conseguiu um emprego? — Perguntou Lara, misturando surpresa e preocupação.Isabela acenou com a cabeça, com um olhar decidido.Lara apertou os lábios e, com um toque de melancolia, murmurou:— Isso é bom, realmente é bom.Ela não parava de se preocupar. Sua filha, que nunca havia trabalhado, seria capaz de se adaptar ou acabaria se sobrec
Maria estava preocupada que a filha visse a cena, temendo que ela não conseguisse lidar com aquilo.Caio engoliu em seco, e com uma voz grave disse:— Eu realmente queria dar uma lição nele.Lara, preocupada que o marido se deixasse levar pela raiva, temia que ele fosse realmente enfrentar Sandro. Apesar de Caio ter sido muito forte quando mais jovem, com a idade, não sabia se ele seria capaz de lidar com a situação.Quando Isabela saiu da cafeteria, Lara foi imediatamente ao seu encontro, pegando sua mão e dizendo:— Vamos logo almoçar, estou morrendo de fome.Isabela aceitou o convite, mas logo percebeu que os olhos de seu pai ainda estavam vermelhos, sua testa ligeiramente franzida. Abaixando a voz, perguntou:— Eu fiquei fora apenas por um momento, você voltou a brigar com meu pai?Lara levantou a voz involuntariamente:— Quem está brigando com ele?Ela tinha ouvido tudo o que Isabela lhe havia dito e, por isso, estava tratando Caio com muito mais gentileza, tentando evitar as disc