A pergunta pegou Gabriel completamente de surpresa, fazendo-o franzir a testa com ar de confusão.— Ué, não são os homens que geralmente preferem mulheres mais novas? — Questionou ele coçando a testa pensativamente. — Tipo você, não é?Gabriel não estava errado em sua observação. Afinal, Milena tinha acabado de se formar na faculdade e era jovem o suficiente para ser considerada um troféu. Clara, por sua vez, apesar de ser um pouco mais velha, possuía traços tão delicados que parecia recém-saída da universidade. Sandro claramente demonstrava preferência por mulheres jovens, e, na verdade, o próprio Gabriel também compartilhava dessa inclinação. Pele macia, jeito tímido e aquela ingenuidade encantadora... Qualquer homem se sentiria naturalmente atraído.Sandro virou o rosto bruscamente e lançou um olhar tão afiado que parecia cortar o ar entre eles. Percebendo imediatamente a tensão que havia criado, Gabriel decidiu se calar antes que piorasse a situação.— Mas, falando nisso... — Ele
Os olhos de Gabriel se arregalaram em sinal de alarme.— Puta que pariu! — Ele exclamou, disparando imediatamente na direção da cabine de comando.Percebendo a gravidade da situação, Fabiano correu logo atrás dele. Na cabine, eles encontraram Sandro com um olhar feroz que lembrava um demônio à espreita, os olhos injetados fixos no iate que navegava à frente deles. Gabriel tentou contê-lo pelos braços, enquanto Fabiano rapidamente assumiu o leme e reduziu a velocidade da embarcação.Com um movimento brusco, Sandro se desvencilhou.— O que você pensa que está fazendo? — Ele vociferou, encarando Fabiano com raiva.Gabriel fechou a cara, ignorando a fúria dele, e se virou para dar instruções a Fabiano:— Dê meia-volta.— Nem tente. — Sandro não hesitou em lançar um olhar cortante na direção dele.Fabiano ficou paralisado, claramente confuso com os comandos conflitantes.— Mas eu fiz alguma coisa errada? — Ele questionou, olhando nervosamente de um para o outro sem saber a quem obedecer.
— Srta. Isabela, você se parece muito com uma garota que eu amei. — Confessou Jorge, fixando nela um olhar profundo e intenso, impossível de se decifrar.Isabela arqueou uma sobrancelha e abriu um sorriso descontraído. — Nossa... Que honra a minha. — Ela respondeu com uma pitada de ironia. — Se ela era alguém que você amava, deve ser uma mulher incrível.Jorge sorriu de canto, com um quê de amargura. — Mas ela era cega e acabou se casando com um idiota.A resposta direta pegou Isabela desprevenida, deixando-a sem palavras. — Bom, foi ela quem saiu perdendo. — Ela murmurou enfim, tentando reconfortá-lo.Jorge se aproximou um pouco e abaixou o tom de voz:— Quem saiu perdendo fui eu. Não tive a chance de me casar com ela.Isabela ficou pensativa diante daquela confissão. Se até Jorge, um homem tão bem-sucedido e incrível, tinha sido deixado para trás, então talvez ser traída nem fosse algo tão absurdo assim. No final das contas, não importava o quão bom você fosse se a pessoa errada n
Se Sandro havia sido capaz de trair Isabela, certamente poderia fazer o mesmo com Clara no futuro. As pessoas raramente mudavam seus padrões de comportamento.— Deixa ela. — Jorge suspirou, passando a mão pelos cabelos.Ele conhecia bem sua irmã. Mimada desde pequena, Clara só aprendia quando se machucava. Não adiantava ninguém tentar convencê-la do contrário. Apenas a própria vida seria capaz de ensinar essa lição tão amarga.Luan abriu a boca para argumentar, mas logo desistiu. A teimosia de Clara era lendária. Se ela decidisse que o céu era verde, não haveria força no mundo capaz de fazê-la enxergar o azul.Jorge encerrou a chamada e, ao levantar os olhos, notou um iate ancorado perigosamente próximo. Franzindo a testa com desconfiança, observou a embarcação vizinha. Era estranho. Quem vinha para o mar geralmente buscava privacidade, não era comum duas embarcações ficarem tão próximas assim.Da posição onde estava, Jorge não conseguia distinguir Sandro e os outros na cabine de com
A gola levemente aberta da camisa de Jorge revelava seu pescoço longo e sedutor, enquanto seu pomo-de-Adão subia e descia quando ele quebrou o silêncio com voz rouca:— Te assustei?Isabela balançou a cabeça em negativa, mas seus olhos fugiram instintivamente dos dele. O olhar de Jorge era intenso demais, havia algo ali, indefinível e perturbador, que a deixava desconfortável.Aquela conversa anterior ainda martelava em sua mente como um eco persistente. Ele havia dito que ela se parecia com a mulher que ele nunca conseguiu ter. Será que ele estava a usando como substituta? Um estranho alívio percorreu seu peito ao chegar a essa conclusão. Só podia ser isso, a única explicação plausível para aquele olhar, porque Jorge não gostava dela de verdade. Não podia gostar."Ainda bem que percebi isso a tempo. Ainda bem que não me deixei iludir.", refletiu ela consigo mesma.— Ora...Janete apareceu de repente, prestes a dizer algo para Isabela, mas parou abruptamente no meio do caminho. A ce
— O mundo nunca foi justo. — Afirmou Jorge.Ele suspeitava que Isabela ainda enxergava as coisas de forma idealizada, já que estudar Direito era uma coisa, mas ver como a justiça funcionava na prática era algo completamente diferente. Muitas vezes, trabalhar nos limites da lei se tornava necessário para atingir certos objetivos, e nem sempre se tratava apenas de buscar a justiça. Desde o início dos tempos, a injustiça não era exclusividade de um país ou outro, era uma realidade universal, presente em todos os cantos do mundo.Isabela mergulhou num silêncio reflexivo. Ela já sabia disso, era claro. A vida nunca foi justa. Desde o momento em que nasciam, os destinos já eram moldados por fatores que estavam completamente fora do controle. Algumas pessoas vinham ao mundo em meio à pobreza extrema e, para mudarem de vida, precisavam lutar incansavelmente contra obstáculos intransponíveis. Outras já nasciam cercadas de luxo e privilégios incontestáveis. Para aquelas que naciam ricas, o qu
Na verdade, não era que a família não pudesse criar a menina. Eles simplesmente queriam ter um filho homem. Devido à rígida política de controle de natalidade vigente na época, seriam severamente multados caso tivessem mais de um filho e, incapazes de arcar com essa penalidade, optaram por deixar a pequena sob os cuidados dos avós.A criança jamais chegou a ter documentos oficiais. Era considerada uma filha excedente, nascida fora da cota permitida pelo governo. Para registrá-la legalmente, seria necessário pagar uma taxa substancial, mas a família alegava não ter recursos para isso ou, mais provavelmente, não julgava que valia a pena investir numa menina. Era apenas mais uma boca para alimentar, um fardo desnecessário na visão da tia.Os vizinhos frequentemente comentavam sobre os maus-tratos. A tia batia na sobrinha por qualquer motivo, xingava-a e muitas vezes a deixava passar fome como castigo. E quanto aos avós? Não tinham coragem suficiente para defendê-la, temerosos de desagr
Assim que pisaram em terra firme, Viviane agarrou Isabela pelo braço com urgência. O outro iate estava se aproximando rapidamente do cais, e se permanecessem ali por mais um minuto sequer, Isabela inevitavelmente encontraria Sandro. "Que dia desastroso. Primeiro, o Jorge apareceu do nada durante o que deveria ser uma comemoração tranquila, e agora, como se não bastasse, o Sandro também decidiu aparecer no mesmo lugar!".— Isa, será que na hora que você nasceu não olharam direito o calendário? — Brincou Viviane.Senão, não tinha explicação para tanto azar concentrado numa pessoa só!Isabela ficou sem palavras, seu rosto virou uma mistura de confusão e resignação. Antes que conseguisse sequer responder, a outra embarcação já havia atracado no cais.Fabiano foi o primeiro a desembarcar com seu característico ar despreocupado. Assim que avistou Viviane, abriu um sorriso largo e caminhou diretamente em sua direção.— Olha só que coincidência! — Exclamou ele com falsa surpresa. — Você tamb