A resposta de Jorge chegou num piscar de olhos: [Por quê?]Isabela suspirou, imaginando que Jorge provavelmente desconhecia os burburinhos que corriam pelo escritório. Se ela mesma não tivesse captado aquelas conversas por mero acaso, estaria completamente alheia à situação. Não suportaria ver o nome dele envolvido em fofocas por sua causa.Embora soubesse que quem não deve não teme, reconhecia o poder devastador dos burburinhos. Como profissional com ambições, ainda almejava crescer na empresa. E aqueles comentários maldosos sugerindo que havia conquistado a promoção vendendo o próprio corpo só ganhariam força com o passar do tempo.Encarou a mensagem no celular e, após alguns instantes de reflexão, ela digitou: [Acho que não estou preparada ainda. E, sinceramente, uma promoção tão acelerada foge das normas do escritório.][Entendi.]Com um gesto lento, Isabela retirou o crachá que havia acabado de pendurar no pescoço. Apesar da decepção palpável, ela se encaminhou ao departamento de
Com os braços entrelaçados sobre o peito, Viviane não conseguia esconder sua evidente irritação. O seu quarto foi reservado pelo próprio Danilo, e agora ela precisava fazer um teatrinho, a contragosto, para manter essa encenação toda.— É o 802. — Respondeu ela secamente, quase cuspindo os números.Num teatro que só convenceria os desavisados, Danilo arregalou os olhos com exagerada surpresa.— Não me diga! Eu estou bem no 803.Viviane revirou os olhos de forma dramatica.Observando a interação, Isabela comentou com genuína inocência:— Nossa, que coincidência incrível, não?— É mesmo. — Retrucou Viviane com sarcasmo na voz. — Como dizem por aí, a arte imita a vida, não é? Nossa situação daria um romance e tanto.Desconcertado pela transparência da amiga, Danilo desviou o olhar para o chão.Percebendo a tensão inexplicável no comportamento de Viviane, mas sem compreender sua origem, Isabela puxou delicadamente a amiga pelo braço para evitar mais constrangimentos.— Vamos entrar, vai?N
Evitando cruzar o olhar com Isabela, Viviane virou o rosto para o lado.— Não estou a fim de pedalar, estou morta de cansaço. — Murmurou ela, com visível indisposição.Foi quando Danilo, percebendo a oportunidade, se intrometeu:— Vamos nós dois então, Isabela. O trajeto é demorado e, se continuarmos enrolando, já vai ser hora do almoço quando chegarmos.Com um gesto desinteressado, Isabela apenas respondeu:— Beleza, vamos lá.Os dois se acomodaram lado a lado no carrinho de passeio, e a proximidade era tanta que Danilo conseguia captar cada detalhe da respiração de Isabela, aquele perfume delicado que emanava dela. O coração dele disparou, totalmente fora de controle. Parecia inacreditável que, com toda sua trajetória e maturidade, ainda se sentisse tão vulnerável apenas por estar próximo a uma mulher. Não era ele quem deveria manter a frieza diante de situações complexas? Mas ali estava, se sentindo como um adolescente apaixonado pela primeira vez.Em sua mente, tentava se repreend
Danilo permaneceu atônito, sem conseguir articular palavra alguma. Se virando lentamente, seus olhos encontraram os de Viviane.Com o queixo erguido e um brilho desafiador no olhar, ela parecia transmitir, mas sem palavras: "O que foi? Tem a audácia de me ameaçar? Agora vai arcar com as consequências."Como ainda necessitava da colaboração dela para se aproximar de Isabela, Danilo não podia se dar ao luxo de provocar sua ira.— A Vivi tem razão. — Murmurou ele, num suspiro resignado.Um sorriso de satisfação iluminou o rosto de Viviane.Percebendo aquela troca de olhares, Isabela franziu o cenho com desconfiança.— Vocês dois andam escondendo algo de mim? — Indagou ela, os olhos saltando de um para o outro.Era evidente que havia ali um jogo velado de interesses.— Que bobagem! — Danilo se apressou em negar, com uma risada nervosa. — Você conhece a Vivi, né? Sabe como ela é.Isabela soltou uma gargalhada despreocupada e abandonou o assunto.Durante o trajeto, Danilo tentou, por divers
A tensão pairou no ar quando Viviane percebeu Sandro levantar uma sobrancelha. De repente, Danilo parecia até mais tolerável em comparação com a figura verdadeiramente irritante que havia acabado de chegar.Recostada na borda da piscina, Isabela mantinha o rosto impassível. Todo aquele drama aparentava ser completamente insignificante aos seus olhos.Um leve remorso atravessou o peito de Danilo. Não podia negar que tinha sido mesquinho. Sandro havia cometido erros, certamente, mas falar mal dele pelas costas não o tornava uma pessoas melhor. Contudo, diante de Isabela, recuar não era uma opção. Como homem, precisava manter a postura.Ele saiu da água fingindo naturalidade.— O que te traz aqui? — Indagou com falsa casualidade.A fúria emanava de Sandro como ondas de calor. Seu peito inflava e esvaziava rapidamente, denunciando a raiva contida na respiração pesada.— Se não tivesse vindo, jamais teria o prazer de escutar as merdas que você fala de mim pelas costas! — Ele vociferou, os d
As palavras lançadas durante o fervor da ira raramente passavam pelo crivo da sensatez.Ao escutar aquela declaração, Viviane sentiu o sangue ferver nas veias.— Que filho da puta! Canalha desgraçado! — Bradou ela, os punhos cerrados.Isabela, por sua vez, se limitou a lançar um olhar gélido na direção de Sandro. Sem proferir uma única palavra, deixou as águas, caminhando descalça pelo piso encharcado, nem sequer se dignando a olhar para trás.Do outro lado, Viviane berrou em direção ao Danilo:— Ei, Danilo! Se você derrotar esse idiota, juro que te ajudo a conquistar a Isa!Ao captar aquelas palavras no ar, Danilo sentiu uma onda de adrenalina lhe percorrer o corpo. Sua determinação se transformou em brasa viva.Naquele instante, a fisionomia de Sandro demonstrou um lampejo de arrependimento, como se finalmente compreendesse a gravidade do que havia acabado de pronunciar. Sua expressão vacilou por um breve momento, tempo suficiente para que Danilo aproveitasse a chance e desferisse um
Com os lábios selados e a garganta sufocada por um nó, Isabela permanecia em silêncio. Sete anos ao lado de Sandro, quatro deles como membro oficial da família Marques. Durante todo esse tempo, ela se dedicou com devoção ao marido e demonstrou respeito inabalável pelos sogros. Como esposa e nora, ela se entregou por completo, jamais negligenciando suas responsabilidades familiares. No entanto, Maria nunca escondeu seu desprezo. Suas palavras, afiadas como navalhas, cortavam fundo. Isabela suportou tudo em silêncio.E por quê? Simplesmente por ela ser a mãe do homem que amava. Nunca quis colocar Sandro numa posição delicada entre mãe e esposa, então engolia em silêncio cada humilhação, guardando para si as feridas invisíveis.E qual foi sua recompensa por tanto sacrifício? Difamações ainda mais maldosas e humilhações sem fim. Mesmo após o divórcio, Maria continuava a menosprezá-la, zombando de sua família e ridicularizando sua própria existência.Encarando Sandro com olhos marejados,
Sando ficou em silêncio, encarando Isabela com um olhar intenso. Não estava nos planos dele vir para Serra Verde. Acabou cedendo quando André ligou mencionando aquele evento acadêmico imperdível. A princípio, recusaria o convite, mas bastou saber que Viviane participaria para mudar de ideia. Num fim de semana assim, era quase certo que encontraria Isabela também. Afinal, as duas eram inseparáveis. Foi isso que o convenceu.A surpresa veio ao descobrir que Danilo também marcava presença. Por isso mesmo se dirigiu ao complexo de águas termais, sabia que encontraria as duas por lá.O que jamais imaginaria era chegar justo no momento em que Danilo falava pelas suas costas.— Olha, Sandro, a Clara anda comentando que você não larga da garrafa ultimamente. Vive caindo de bêbado por aí. Isso não é nada bom. Já que estamos falando nisso, dei uma olhada no calendário e notei que 20 de janeiro seria uma data perfeita. Que tal oficializarmos seu noivado com a Clara nesse mês? O que me diz...— Q