Isabela prendeu o cinto de segurança e disse:— Esqueci de pegar o remédio, quando estava voltando, encontrei meu ex-sogro e troquei algumas palavras com ele.Jorge ficou sem palavras.Ele estava prestes a comentar sobre como o mundo era pequeno, sendo incomodado pelo ex-marido e encontrando o ex-sogro no minuto seguinte.— Ele estava com a amante dele indo para fazer pré-natal. Pelo visto, meu ex-marido vai ter um irmão ou uma irmã em breve. — Isabela já havia ajustado o cinto.Jorge ficou completamente sem palavras.— Será que a traição é hereditária? — Ele perguntou.Isabela ficou sem palavras por um momento, mas logo deu uma risadinha.— Talvez.Jorge começou a dirigir o carro.Ele olhou para a frente, com um olhar repleto de sarcasmo.Isabela inclinou a cabeça e o observou.— Você não parece muito feliz.Jorge permaneceu em silêncio.Um casamento com uma família como a família Marques... Dava para imaginar os problemas que enfrentariam no futuro.A família Neves sempre foi discret
— Ela disse que foi desde pequena. Como era muito nova, não lembrava direito, mas se lembrava de alguém tocando nela, pressionando ela, coisas assim.— Você só ficou sabendo disso agora? — Isabela perguntou.A garota respondeu:— Sim, depois que meu pai e minha mãe se separaram, eu fiquei com minha mãe. Eu fui morar no exterior bem cedo, mas voltei por causa disso, por causa do meu pai.Isabela acenou com a cabeça e perguntou:— Eles moravam na mesma casa?— Sim. Minha irmã tinha o quarto dela. Meu pai entrava quando a mãe dela não estava. Ele era padrasto dela, e... Fazia essas coisas. — Ela engoliu seco. — Minha irmã sempre foi muito quieta, e a mãe dela tinha pavio curto. Por isso ela cresceu com medo da família. Na carta, ela contou que os abusos começaram na infância e continuaram até o primeiro ano do ensino médio. Foi quando ele realmente abusou dela pela primeira vez. Tipo, quando ela já entendia o que estava acontecendo.— Ela tinha essas memórias de infância, mas sem muita ce
Isabela pensou consigo mesma: "Uma criança criada em uma família assim, com certeza, deve ser mais introvertida, provavelmente por influência do ambiente."Ela então perguntou:— No dia ou no dia anterior à tentativa de suicídio, ela recebeu algum tipo de estímulo direto? Quando foi que ela escreveu a carta de despedida?— A carta de despedida ela já tinha escrito faz tempo, mas foi apagando e reescrevendo várias vezes. Eu vi no documento que a polícia nos enviou, a última alteração foi no dia 25 do mês passado.— É versão eletrônica?— Sim, foi num aplicativo de notas, e ela também escreveu uma versão à mão, mas era bem mais simples.Isabela perguntou novamente:— Ela teve algum tipo de estímulo direto antes de se suicidar, tipo no dia anterior ou dois dias antes?— Eu não sei direito, acabei de chegar.— Em que estágio está a investigação?— Está no início da investigação ainda.— Já faz quanto tempo que começou?— Deve fazer uma semana.— Já consultaram um advogado? — Isabela pergun
— Eu espero que, na comunicação entre você e seu pai, consiga refletir ou perceber alguns dos fatos. Como seu pai entende o que significa se aproximar? De que maneira ele se aproxima? Qual foi a reação da sua irmã? Quantas vezes ele tentou se aproximar? Onde isso aconteceu? Em que tipo de situação ele tentou se aproximar? Depois de entender tudo isso, você vai conseguir perceber os fatos de forma mais clara. E aí talvez você perceba a gravidade do que seu pai fez, se configura assédio ou até mesmo estupro. Quando tiver total consciência de tudo o que aconteceu, pode então pensar cuidadosamente se vai ajudar sua irmã ou seu pai. — Isabela sugeriu à garota.Isabela tomou um gole de água e continuou:— Pelo que parece, seu pai foi liberado por fiança porque os fatos ainda não estão claros e as provas são insuficientes, mas isso não significa que ele vai ficar livre desse caso. Pelo que percebi na sua conversa, você está um pouco em dúvida, mas ainda assim defende seu pai. Além disso, s
Como advogada, mesmo que não tivesse trabalhado em muitos casos, ela sabia que um profissional não podia agir com base em emoções. Era preciso falar com provas.Ela não aceitou o caso porque não queria se envolver. Embora tivesse analisado a situação de forma objetiva, no fundo, evitava encarar uma tragédia ainda mais dolorosa.Ela tinha medo de ver a maldade do ser humano. E também tinha medo de encontrar uma vítima tão traumatizada que tivesse perdido a sanidade... Ou até mesmo pensado em tirar a própria vida.A garota ficou visivelmente desapontada.— Ah, entendi...— Isso mesmo. — Isabela respondeu.— Tá bom, vou pensar melhor. — Disse a garota, se levantando.Isabela também se levantou e abriu a porta da sala de atendimento.— De qualquer forma, muito obrigada por me explicar tudo. — Disse a garota, educadamente.— Imagina. — Respondeu Isabela.Ela observou a garota se afastando.— Espere um pouco! — De repente, Isabela chamou por ela.A garota se virou.Isabela foi até ela.— Fiq
A mulher não esperava que Isabela recusasse.— Você se arrepende do divórcio? — Perguntou, surpresa.Afinal, na cabeça dela, Isabela ter se casado com a família Marques tinha sido um verdadeiro golpe de sorte. Haviam muitas mulheres bonitas, mas Isabela conseguiu se casar com um ricaço. Era privilegiada.Se fosse ela no lugar de Isabela, jamais pediria o divórcio. Mesmo que ele vivesse na farra todos os dias, contanto que não faltasse dinheiro, estava tudo certo.Na internet, ela tinha visto uma piada que dizia: "Se seu marido te desse cem mil reais por mês, mas nunca aparecesse em casa, você aceitaria?"A resposta dela seria: "Claro que sim!"Um marido ausente e com grana? Melhor dos mundos.Ela realmente não conseguia entender a decisão de Isabela.Isabela, no entanto, não respondeu à pergunta diretamente.— Hoje em dia, filhos fora do casamento também têm direito à herança. Se você tiver o bebê e fizer tudo direitinho, vai conseguir o dinheiro que quer. Eu te passei meu contato da o
A mulher se sentou no carro e continuou observando Milena.— Por que você está sempre com essa máscara? Não pode mostrar o rosto?A mulher ainda estava cautelosa com Milena. Afinal, estava prestes a dar à luz e não podia deixar que nada desse errado.Milena estava com o rosto machucado, e ainda em recuperação.— Tenho medo de te assustar. Você está grávida, acho melhor não olhar. — Ela respondeu.— E por que eu deveria confiar em você? — A mulher não era boba. Não ia acreditar em qualquer pessoa daquele jeito, sem mais nem menos.Milena conhecia um pouco da família Marques. Começou a falar sobre a situação deles, deixando claro que sabia muito bem o que estava acontecendo.— Me chamo Milena Moura. Você pode investigar e descobrir se fui eu quem causou o divórcio entre o Sandro e a Isabela. E agora, o Sandro vai se casar com a Srta. Clara. Pelo que eu investiguei, essa Clara tem um grande poder por trás, uma família bem poderosa. Se ela se casar com o Sandro, não tem como você entrar na
Milena estendeu a mão.— Me dê seu celular.— Para quê? — A mulher perguntou, olhando para ela com desconfiança.Ela achava Milena sombria, tinha algo de estranho nela.— Vou te passar meu contato, assim você não fica perdida na hora que precisar falar comigo.A mulher tirou o celular da bolsa e perguntou:— Qual é o número?Não entregou o aparelho para Milena.Milena recolheu a mão e disse os números.A mulher anotou.Milena já tinha falado tudo o que precisava. Se aquela mulher resolvesse investigar, ia descobrir que tudo que ela disse era verdade. E aí com certeza iria atrás dela para propor uma parceria.Logo depois, a mulher mandou o motorista parar. Milena desceu, ajeitou o boné e, depois de dar uma olhada rápida para os dois lados da rua, saiu andando com passos firmes.No caminho de volta para casa, a mulher ficou com a cabeça cheia de pensamentos.Assim que entrou, já foi pedindo para empregada preparar vários pratos que o Décio gostava.Ela ligou para Décio, dizendo que estav