LUCASA tensão na sala parecia aumentar à medida que as palavras do meu pai pairavam no ar. Os membros do Conselho trocavam olhares discretos, claramente divididos entre o progresso inegável e as dúvidas plantadas pelas palavras cuidadosamente escolhidas dele. Eu sabia que este era o momento decisivo. Não bastava mostrar os resultados; era necessário enfrentar a questão implícita que todos estavam pensando, mas ninguém ousava dizer em voz alta.Meu pai se inclinou levemente para frente, colocando as mãos sobre a mesa com um ar de superioridade.— Lucas, não estou questionando sua competência financeira, mas sim se a sua liderança reflete os valores que esta empresa sempre defendeu. A conexão entre a sua vida pessoal e profissional... não pode ser ignorada.A referência indireta a Claire era clara. Ele estava jogando baixo, tentando usar nosso relacionamento como arma para me desestabilizar.— A minha vida pessoal nunca interferiu na minha gestão da empresa — rebati, mantendo a voz fir
LUCASO silêncio que se seguiu à reunião era quase tão ensurdecedor quanto a tensão que preenchera a sala minutos antes. Eu caminhei em direção ao meu escritório, sentindo cada passo mais pesado do que o anterior. Claire me seguia de perto, mas não disse nada, respeitando o turbilhão de pensamentos que certamente percebia em mim.Ao fechar a porta atrás de nós, finalmente deixei escapar um suspiro longo, como se estivesse segurando o peso do mundo nos ombros.— Eles estão determinados a me derrubar, Claire. Especialmente meu pai — comentei, esfregando o rosto com as mãos.Claire, sempre calma e centrada, se aproximou e colocou uma mão reconfortante no meu ombro.— Eles não têm argumentos sólidos contra você, Lucas. Tudo o que têm são insinuações e rumores. Você apresentou os fatos, e ninguém pode negar os resultados.Olhei para ela, e por um momento, senti a segurança que sempre encontrava em sua presença. No entanto, havia algo diferente em seus olhos, uma hesitação que raramente via
LUCASO dia parecia interminável. As palavras de Claire, tão simples e rápidas, ecoavam na minha mente. "Nada." Mas o tom de sua voz e o jeito que ela desviou o olhar contavam outra história. Havia algo ali, algo que ela estava tentando esconder, e, por mais que eu quisesse ignorar, minha intuição não me deixava em paz.Claire saiu do meu escritório logo após nossa breve conversa, alegando que precisava finalizar alguns relatórios urgentes. Fiquei sozinho, encarando os números em uma planilha que já não faziam sentido algum. Meus pensamentos estavam fixos nela.Decidi que precisava de uma pausa. Talvez um pouco de ar fresco me ajudasse a clarear a mente. Peguei meu casaco e desci para o estacionamento da empresa, onde um silêncio quase reconfortante me recebeu.Mas o conforto durou pouco. Enquanto caminhava até o carro, ouvi risos e conversas próximas ao lado do prédio. Quando me aproximei, vi dois funcionários trocando mensagens no celular e rindo. Normalmente, não prestaria atenção,
CLAIREA chuva lá fora acompanhava a tempestade interior que me assolava. Sentada na janela, observava as gotas escorrendo pelo vidro, cada uma como uma lágrima solitária. A campainha tocou, estridente e insistente. Era Lucas.Levantei-me lentamente, a cada passo sentindo o peso da decisão que estava prestes a tomar. Abri a porta e lá estava ele, encharcado e com os olhos vermelhos.— Claire, precisamos conversar—, sua voz saiu rouca, carregada de emoção.Assenti com a cabeça, incapaz de encontrar palavras. Ele entrou e fechou a porta, isolando-nos do mundo exterior.— Eu descobri tudo —, continuou ele, seus olhos fixos nos meus. — Sobre o Red Velvet, sobre a dançarina... sobre você.Um nó se formou em minha garganta. Sabia que esse momento iria chegar, mas não estava preparada para a intensidade de sua dor. “Eu sei que você tem suas razões”, disse ele, a voz mais suave agora. “Mas mentir para mim foi a pior coisa que você poderia ter feito.”— Eu sei, Lucas —, respondi, as lágrimas c
CLAIREOs dias passaram como um borrão, cada um trazendo uma nova onda de emoções. A dor da traição ainda estava ali, mas lentamente fui me reconectando com partes de mim que há muito tempo estavam adormecidas. Minha mãe me apoiou em cada passo, oferecendo um ombro para chorar e um ouvido para escutar, mas nunca pressionando.Voltar à casa dela foi como um retorno às minhas raízes. As praias e os sons familiares me deram uma sensação de calma que eu havia esquecido que existia. E foi em um desses dias tranquilos, enquanto caminhava pelo calçadão, que conheci Javier.Javier era o novo professor de dança na academia local. Um homem com uma energia contagiante e uma paixão pela dança que rivalizava com a minha. Ele me incentivou a voltar a dançar de verdade, não apenas pelos movimentos, mas pela expressão pura e pela liberdade que ela me trazia. Sob sua orientação, redescobri minha paixão e, aos poucos, comecei a me sentir mais confiante e segura.LUCASEnquanto isso, em São Paulo, minha
CLAIREVoltar à rotina de aulas de dança foi como renascer. Javier se tornou não só meu professor, mas também um grande amigo e confidente. Ele entendia a importância da dança na minha vida de uma forma que ninguém mais parecia compreender. Nossos treinos diários eram intensos, mas também eram terapêuticos. Cada movimento, cada batida de música, ajudava a aliviar a dor que ainda carregava dentro de mim.Comecei a dar aulas na academia local, ensinando crianças e jovens a se expressarem através da dança. Ver a alegria nos rostos deles me trouxe uma sensação de propósito que eu havia perdido. A dança se tornou minha válvula de escape, minha forma de enfrentar o mundo e, aos poucos, comecei a me sentir mais em paz comigo mesma.Certa tarde, depois de uma aula particularmente inspiradora, Javier se aproximou de mim com um sorriso enigmático.— Claire, tem um festival de dança acontecendo na cidade na próxima semana. Acho que você deveria participar — disse ele.— Participar? Não sei se es
CLAIREOs meses que se seguiram à grande apresentação foram um turbilhão de emoções e novos começos. Lucas e eu estávamos mais próximos do que nunca, redescobrindo a nós mesmos e nosso relacionamento. Cada dia parecia trazer uma nova esperança e uma nova razão para acreditar no futuro.Mas então, uma manhã, tudo mudou. Acordei sentindo-me estranha, uma sensação de náusea que não conseguia ignorar. Pensei que talvez fosse algo que comi na noite anterior, mas à medida que os dias passavam, a sensação persistia. Decidi que era hora de fazer um teste, apenas para ter certeza.Comprei um teste de gravidez na farmácia local, meu coração batendo acelerado. Voltei para casa, ansiosa e nervosa, e fiz o teste. Os minutos de espera pareceram uma eternidade, cada segundo aumentando minha ansiedade.Finalmente, o resultado apareceu. Duas linhas. Positivo. Estava grávida.Sentei-me na borda da banheira, tentando processar a avalanche de emoções que me invadiam. Alegria, medo, incerteza. Tudo mistur
CLAIREOs dias transformaram-se em semanas e, a cada manhã, a realidade da minha gravidez se tornava mais evidente. Lucas continuava a ser um apoio constante, embora eu percebesse sua preocupação crescente. Mas o medo de sua reação à notícia da gravidez me paralisava. Simplesmente não conseguia encontrar o momento certo para contar.Certa manhã, enquanto dava minha aula de dança, senti uma tontura repentina. Consegui disfarçar e continuar a aula, mas sabia que esses episódios estavam ficando mais frequentes. Precisava lidar com isso logo.No fim da aula, sentei-me no vestiário, tentando recuperar o fôlego. Javier entrou, observando-me com preocupação.— Claire, você está bem? — perguntou ele, sua voz cheia de preocupação.— Estou, só um pouco cansada — respondi, forçando um sorriso.— Sabe que pode falar comigo, certo? — insistiu ele, sentando-se ao meu lado.Respirei fundo, sabendo que precisava desabafar com alguém. Javier era um amigo confiável e sabia que podia confiar nele.— Jav