LucasO barulho ritmado das rodas do carro no asfalto preenchia o silêncio entre Claire e eu. Havíamos decidido voltar para casa após o passeio no hospital, mas a verdade era que o peso da memória ausente me sufocava. Cada gesto dela, cada olhar de Gabriel parecia um lembrete do que eu deveria ser, mas não era.Enquanto Claire dirigia, Gabriel estava no banco de trás, segurando o desenho que havia feito para mim no hospital. Ele falava sem parar, descrevendo como queria me mostrar seu quarto e as coisas que ele e Claire tinham feito enquanto eu estava ausente. Por mais que eu quisesse mergulhar naquelas histórias, algo dentro de mim me puxava para longe. Eu não me sentia digno daquele carinho incondicional.— Você está quieto, Lucas, — Claire disse, desviando o olhar para mim por um breve instante. — Está tudo bem?— Estou processando, — respondi, forçando um sorriso que não me convencia. — São muitas informações de uma só vez.Ela assentiu, compreensiva, mas não insistiu. Claire era
ClaireA manhã começou com uma leve neblina cobrindo o jardim da nossa casa, uma visão que eu costumava considerar calmante, mas que agora parecia carregada de incerteza. A rotina da casa começava a se ajustar, mesmo com o peso das circunstâncias. Lucas ainda estava perdido dentro de si mesmo, mas pequenos sinais de progresso eram tudo o que eu tinha para me agarrar.Enquanto preparava o café da manhã, ouvi passos descendo as escadas. Lucas apareceu na cozinha, com o cabelo bagunçado e ainda visivelmente cansado. Ele olhou ao redor, parecendo um pouco deslocado, mas se esforçou para sorrir quando nossos olhares se encontraram.— Bom dia, — ele disse, a voz ainda rouca.— Bom dia. Dormiu bem?Ele hesitou, como se considerasse mentir, mas decidiu pela verdade. — Não muito. Estive pensando... sobre tudo.Coloquei uma xícara de café à sua frente. — É normal. Você está tentando juntar as peças, Lucas. Isso leva tempo.Ele segurou a xícara, mas não bebeu. — Claire, eu quero lembrar. De verd
ClaireOs dias começaram a seguir um ritmo peculiar, uma dança de esperança e frustração. Cada pequeno progresso que Lucas fazia era motivo de celebração, mas as memórias ainda se mostravam fragmentadas e evasivas. Eu sabia que não poderia apressar o processo, mas meu coração ansiava por vê-lo lembrar de nós — lembrar de mim.Era uma tarde nublada quando decidi tentar algo novo. As palavras do médico ainda ecoavam na minha mente: “Leve-o a lugares que possam evocar memórias”. Então, pedi a Lucas que me acompanhasse a um lugar especial.— Aonde estamos indo desta vez? — ele perguntou, a voz tingida de curiosidade e um leve cansaço.— Surpresa, — respondi com um sorriso enigmático.Ele arqueou uma sobrancelha, mas não protestou. Isso, por si só, era um progresso.LucasO caminho era familiar de uma forma que eu não conseguia explicar. As ruas de Milão passavam pelas janelas do carro como fragmentos de um quebra-cabeça incompleto. Algo dentro de mim dizia que aquele trajeto tinha signifi
LucasA luz da manhã atravessava a janela do quarto, derramando-se sobre o piso de madeira e criando padrões abstratos. Acordei sentindo algo diferente — como se a névoa em minha mente tivesse clareado apenas um pouco. Não eram memórias completas, mas havia imagens, sensações que eu não conseguia ignorar.Claire já estava acordada, vestindo-se para descer. Seus movimentos eram suaves, quase cuidadosos, como se temesse quebrar algo.— Bom dia, — murmurei, e ela se virou para mim com um sorriso gentil.— Bom dia. Dormiu bem? — ela perguntou, amarrando o cabelo em um coque despretensioso.Eu hesitei por um momento antes de responder. — Acho que sim. Tive alguns… flashes. Nada claro, mas algo está começando a se formar.O sorriso dela se alargou, mas era temperado por cautela. Claire estava feliz por ouvir aquilo, mas eu sabia que ela não queria criar falsas esperanças.— Isso é ótimo, Lucas. Talvez seja o começo.Levantei-me, determinado a aproveitar aquela pequena faísca de progresso.—
ClaireA chuva batia suavemente contra as janelas da mansão, criando um ritmo constante que parecia acompanhar meu coração inquieto. Lucas estava no escritório, imerso em uma pilha de documentos que ele insistia em analisar. Não importava o que acontecesse, ele permanecia o mesmo homem meticuloso e dedicado que sempre foi. Ou, pelo menos, era o que eu queria acreditar.— Mamãe? — a voz de Gabriel chamou do corredor.Ele apareceu na porta com um livro na mão, os olhos ansiosos brilhando com curiosidade.— Posso mostrar algo ao papai? — perguntou, segurando o volume com ambas as mãos.Eu olhei para ele, hesitante. Lucas ainda estava em um estado delicado, e não sabia como ele reagiria a um gesto tão inocente, mas potencialmente carregado de significado.— Claro, querido. Vamos juntos, — respondi, oferecendo minha mão.Gabriel me seguiu alegremente enquanto caminhávamos em direção ao escritório. Quando abrimos a porta, encontramos Lucas com as sobrancelhas franzidas, os olhos fixos em um
ClaireA manhã nasceu tranquila, com os raios de sol penetrando pela janela, criando padrões suaves no chão do quarto. O calor do dia anunciava um novo começo, mas eu sabia que os desafios ainda estavam presentes, mesmo com o progresso de Lucas na noite anterior. Pequenos fragmentos de memória estavam começando a retornar, mas o processo era tão lento que às vezes parecia um teste de paciência.Desci para a cozinha, onde Gabriel estava sentado à mesa, desenhando em um pedaço de papel. Ele estava tão concentrado que mal percebeu minha presença até que me sentei ao seu lado.— Bom dia, meu amor. O que você está desenhando? — perguntei, passando a mão em seus cabelos macios.Ele levantou os olhos e me mostrou o desenho. Era uma casa simples, com três figuras na frente: um homem, uma mulher e uma criança.— Nossa família, — ele respondeu com um sorriso. — Eu fiz para o papai. Acho que ele vai gostar.Meu coração apertou. Gabriel tinha um otimismo contagiante, e mesmo diante das dificuldad
ClaireA manhã nasceu com um céu nublado, mas ainda assim carregava um sentimento de esperança. Após as pequenas conquistas do dia anterior, eu sentia que Lucas estava começando a se reconectar com pedaços do homem que sempre foi. Cada memória recuperada era como uma peça do quebra-cabeça sendo encaixada novamente.Eu estava na cozinha, preparando o café da manhã, quando Gabriel entrou correndo, com sua energia habitual.— Mamãe, papai já acordou? — perguntou, animado.— Ainda não, meu amor. Ele deve estar se levantando, mas vamos dar um tempinho para ele. Por que você não ajuda a arrumar a mesa?Gabriel assentiu com entusiasmo e começou a organizar os pratos e talheres. Observá-lo tão envolvido era um lembrete constante de que, apesar de tudo, ele mantinha a esperança viva. Para Gabriel, Lucas não era apenas um pai distante tentando se reencontrar; ele era seu herói, mesmo que agora não se lembrasse disso.Alguns minutos depois, ouvi os passos de Lucas no corredor. Ele apareceu na po
ClaireOs dias seguintes passaram em um ritmo delicado, como se estivéssemos caminhando sobre gelo fino. Cada conversa, cada olhar trocado com Lucas era uma tentativa de reforçar o vínculo que havíamos perdido. Apesar das pequenas vitórias, eu ainda sentia a dor de sua confusão, como se nosso mundo estivesse preso entre o passado e o presente.Hoje, porém, decidi que era hora de fazer algo diferente. Lucas precisava de um ambiente que não fosse tão carregado com a pressão de lembranças perdidas. Talvez uma mudança de cenário pudesse ajudá-lo a se reconectar de uma forma mais natural.Depois de convencer Lucas a sair, preparei uma cesta de piquenique e chamei Gabriel. Escolhemos um parque tranquilo fora da cidade, onde costumávamos ir quando Gabriel era menor. Quando Lucas entrou no carro, ele me olhou com desconfiança.— Um piquenique? — ele perguntou, arqueando uma sobrancelha.— Precisamos de ar fresco, — respondi com um sorriso. — E Gabriel está animado.Lucas olhou para Gabriel, q