ClaireOs dias seguintes passaram em um ritmo delicado, como se estivéssemos caminhando sobre gelo fino. Cada conversa, cada olhar trocado com Lucas era uma tentativa de reforçar o vínculo que havíamos perdido. Apesar das pequenas vitórias, eu ainda sentia a dor de sua confusão, como se nosso mundo estivesse preso entre o passado e o presente.Hoje, porém, decidi que era hora de fazer algo diferente. Lucas precisava de um ambiente que não fosse tão carregado com a pressão de lembranças perdidas. Talvez uma mudança de cenário pudesse ajudá-lo a se reconectar de uma forma mais natural.Depois de convencer Lucas a sair, preparei uma cesta de piquenique e chamei Gabriel. Escolhemos um parque tranquilo fora da cidade, onde costumávamos ir quando Gabriel era menor. Quando Lucas entrou no carro, ele me olhou com desconfiança.— Um piquenique? — ele perguntou, arqueando uma sobrancelha.— Precisamos de ar fresco, — respondi com um sorriso. — E Gabriel está animado.Lucas olhou para Gabriel, q
ClaireOs dias que seguiram o piquenique foram repletos de pequenos avanços e momentos de esperança, mas também de frustrações silenciosas. Lucas parecia mais à vontade, menos distante, mas ainda lutava para encontrar um lugar entre as sombras do que perdeu e a realidade do presente.Naquela manhã, acordei mais cedo do que de costume. O quarto estava banhado pela luz suave do amanhecer, e, por um momento, tudo parecia calmo. Olhei para o lado, encontrando Lucas ainda adormecido. Era raro vê-lo relaxado, a tensão que parecia constante em sua expressão havia desaparecido, dando lugar a uma tranquilidade que eu não via há muito tempo.Decidi não acordá-lo. Levantei-me silenciosamente, vesti um robe e fui até a cozinha para preparar o café da manhã. Gabriel ainda estava dormindo, então aproveitei a oportunidade para organizar meus pensamentos.Estava mexendo o café quando senti uma presença atrás de mim.— Bom dia, — Lucas disse, com a voz rouca de sono.Virei-me, surpresa ao vê-lo acorda
ClaireA manhã seguinte amanheceu tranquila, com o aroma de café fresco preenchendo a cozinha. Eu havia acordado antes de Lucas, uma prática que se tornara comum desde o acidente. Enquanto cortava frutas para o café da manhã, meu coração estava dividido entre a ansiedade e a esperança. Lucas começara a se lembrar, mas os momentos fugazes de memória também traziam uma carga emocional intensa para ambos.— Bom dia, — sua voz rouca ecoou pela cozinha.Levantei o olhar para encontrá-lo parado na porta, com os cabelos bagunçados e uma expressão ainda sonolenta.— Bom dia. Dormiu bem?Ele deu um leve sorriso.— Melhor do que esperava.Puxei uma cadeira para ele e servi uma xícara de café. Gabriel ainda estava dormindo, então aproveitamos a calma para conversar.— Estava pensando em voltar ao escritório hoje, — Lucas disse, enquanto mexia o café.— Tem certeza? — perguntei, tentando medir sua expressão.Ele assentiu, um toque de determinação em seus olhos.— Não será fácil, mas preciso conti
LucasOs dias seguintes passaram como um borrão de esforços para me reconectar com a vida que um dia conheci. O retorno ao escritório havia sido menos intimidador do que eu imaginava, mas ainda era um desafio diário lembrar quem eu era. Claire estava sempre ao meu lado, paciente e firme, como uma âncora que me impedia de me perder em águas turbulentas.Hoje, porém, era diferente. Algo em meu interior pulsava, como se estivesse à beira de uma revelação. Enquanto Claire preparava o café da manhã, Gabriel brincava no chão da sala com seus carrinhos, fazendo sons de motor que preenchiam a casa com uma alegria que parecia tão familiar quanto distante.— Papai, quer brincar comigo? — ele perguntou, levantando os olhos para mim com um sorriso esperançoso.Por um momento, hesitei. Não era a primeira vez que ele fazia o convite, mas a culpa de não ser o pai que ele lembrava sempre me paralisava. Claire me lançou um olhar encorajador, e algo em sua expressão me deu coragem.— Claro, campeão, —
LucasOs primeiros raios de sol atravessavam as cortinas da sala quando acordei, sentado no sofá, com Gabriel dormindo em meu colo. A serenidade em seu rosto enquanto respirava suavemente era algo que me tocava profundamente. Ele era meu filho — disso eu tinha certeza, mesmo que a mente ainda teimasse em apagar partes de nossa história.Claire estava na cozinha, preparando algo. O aroma de café fresco preencheu o ar, trazendo uma sensação de normalidade que eu não sentia há muito tempo.— Bom dia, — ela disse ao me ver, um sorriso caloroso iluminando seu rosto.— Bom dia, — respondi, colocando Gabriel no sofá com cuidado para não acordá-lo.Enquanto me aproximava, Claire entregou-me uma xícara de café. Por um momento, ficamos em silêncio, mas não era um silêncio desconfortável. Era algo mais... cúmplice.— Você dormiu bem? — ela perguntou, olhando para mim com aqueles olhos que sempre pareciam ver mais do que eu dizia.— Melhor do que esperava. Acho que brincar com Gabriel ajudou.Ela
LucasOs dias que seguiram foram como uma montanha-russa de emoções. Algumas memórias voltavam com clareza, enquanto outras permaneciam envoltas em sombras. Era frustrante, mas Claire estava sempre ao meu lado, paciente, segurando minha mão nos momentos em que a dúvida ameaçava me consumir.Gabriel, por sua vez, era uma força constante de alegria e energia. Ele parecia determinado a me trazer de volta ao meu antigo eu, mesmo que não entendesse completamente o que estava acontecendo.— Papai, vem brincar! — ele exclamou naquela manhã, puxando minha mão com uma energia contagiante.— O que você quer fazer hoje, campeão? — perguntei, sorrindo para ele.— Quero te ensinar a desenhar um dragão!Claire riu da animação de Gabriel enquanto preparava o café da manhã. Ver os dois juntos, tão naturais e felizes, me deu uma sensação de pertencimento que eu não sabia que precisava tanto.Peguei Gabriel nos braços e o girei no ar, arrancando gargalhadas que ecoaram pela casa.— Dragões, é? Acho que
LucasAcordei com a luz suave do amanhecer invadindo o quarto, filtrando-se pelas cortinas entreabertas. Uma calmaria tomou conta de mim, mas logo veio acompanhada de uma sensação incômoda: uma memória se escondia nas sombras, a um passo de ser recuperada, mas ainda fora de alcance.Claire ainda dormia ao meu lado, sua respiração tranquila. Observei-a por alguns segundos, tentando me lembrar da primeira vez que a vi. Era algo que eu sabia ser importante, mas a imagem permanecia borrada.Levantei-me com cuidado para não acordá-la e caminhei até a varanda. O ar fresco da manhã me envolveu, e por um instante, senti uma familiaridade inexplicável. Olhando para o horizonte, o som das ondas veio à minha mente — Amalfi. Aquele nome continuava a surgir nos últimos dias, mas não conseguia conectá-lo totalmente à minha vida."Por que eu não consigo lembrar?" pensei, frustrado.— Lucas? — A voz suave de Claire me chamou, e virei-me para encontrá-la na porta da varanda, envolta no robe de seda az
ClaireLucas havia dado um pequeno passo na direção certa, e isso encheu meu coração de esperança. Ver ele se lembrar, ainda que brevemente, do passado que construímos juntos era como um raio de sol atravessando uma tempestade.Naquela manhã, decidi que faríamos algo especial. Talvez o ambiente de casa, com todos os lembretes do que ele não podia acessar, estivesse pesando sobre ele. Levaria Lucas e Gabriel para fora, longe da rotina, para um lugar que pudesse trazer mais alegria do que pressão.— Gabriel, que tal levarmos seu pai ao parque hoje? — sugeri durante o café da manhã.— Sim! Posso mostrar a ele como eu aprendi a andar de bicicleta!Lucas levantou os olhos do prato.— Tenho certeza de que vai ser divertido, — disse, com um pequeno sorriso.Apesar do entusiasmo de Gabriel, percebi que Lucas estava cauteloso. Ele temia decepcionar nosso filho, eu podia ver isso. Mas parte de mim acreditava que ele precisava desses momentos para começar a reconectar as partes de si mesmo que e