ClaireA noite estava calma, mas meu coração não. Desde o dia em que levei Gabriel para visitar Lucas no hospital, algo havia mudado. Não eram as memórias que tinham retornado para ele — ainda não. Mas eu podia sentir que algo começava a despertar dentro dele, como um fogo lento prestes a ganhar força.Estávamos na sala de estar, Gabriel brincando com seus carrinhos enquanto eu olhava pela janela. As luzes da cidade ao longe eram um contraste gritante com a escuridão dentro de mim. Perguntei-me, mais uma vez, se havia algo que eu pudesse fazer para ajudar Lucas. As visitas, as memórias que compartilhávamos, tudo parecia tão insuficiente.— Mamãe? — a voz de Gabriel interrompeu meus pensamentos.— Sim, meu amor? — perguntei, me voltando para ele.— Quando vamos visitar o papai de novo? Ele parecia feliz com a música que você colocou. Acho que ele gosta de ouvir coisas que faziam parte da nossa vida. — Ele falava com a sabedoria ingênua de uma criança, mas suas palavras atingiram algo d
ClaireA manhã começou como tantas outras desde o acidente de Lucas. Gabriel estava animado para ir à escola, mas mesmo em sua empolgação, não escondia as perguntas que o inquietavam. "O papai vai se lembrar de nós hoje?", ele havia perguntado antes de sair. Era a mesma pergunta que eu fazia a mim mesma todos os dias.Depois de deixá-lo na escola, fui direto ao hospital. Carregava comigo uma pequena mala contendo coisas que, esperava, pudessem ajudar Lucas a recuperar as memórias. Fotos, bilhetes antigos, pequenos objetos que ele guardava com carinho. Estava disposta a tentar qualquer coisa.Quando cheguei, Lucas estava sentado na cama, olhando pela janela. Ele parecia calmo, mas havia uma inquietação em seu olhar.— Bom dia, — cumprimentei com um sorriso, colocando a mala no chão.Ele se virou para mim, oferecendo um pequeno sorriso de volta. — Você está sempre trazendo coisas para mim. O que é dessa vez?— Algumas lembranças, — respondi, sentando-me ao lado dele. — Achei que talvez
ClaireA manhã estava fria, e o sol tímido de inverno mal iluminava o céu. Meu coração estava pesado enquanto colocava Gabriel no banco de trás do carro. Ele parecia mais quieto do que o habitual, mas não era surpresa. A situação com Lucas estava pesando em todos nós, até mesmo nele, que geralmente tinha uma visão mais leve das coisas.— Mamãe, você acha que o papai vai lembrar da gente hoje? — ele perguntou, a voz cheia de esperança.Olhei para ele pelo retrovisor, tentando sorrir. — Não sei, meu amor, mas vamos fazer tudo o que pudermos para ajudá-lo.Gabriel assentiu, abraçando seu urso de pelúcia, um presente que Lucas havia lhe dado no seu aniversário de quatro anos. Era uma pequena conexão com o pai que ele adorava, mesmo que Lucas não se lembrasse mais disso.Chegamos ao hospital pouco depois. O ar estava cheio do cheiro de desinfetante, e o som dos passos apressados dos médicos ecoava pelos corredores. Gabriel segurava minha mão com força, como se temesse que eu o soltasse. Eu
ClaireO silêncio que envolvia a casa naquela noite era quase ensurdecedor. Gabriel já estava dormindo, exausto após o dia no hospital. Ele parecia tão confiante de que Lucas logo se lembraria, mas meu coração estava dividido. Eu queria acreditar, mas cada tentativa frustrada me deixava mais insegura. A porta do quarto de Gabriel estava entreaberta, e pude vê-lo abraçado ao seu urso de pelúcia, os lábios formando um sorriso sereno. Ele ainda tinha esperança.Desci para a sala, onde o brilho suave de uma lâmpada iluminava os móveis. Sobre a mesa, uma pilha de fotos que eu havia retirado do álbum de família. Fiquei sentada ali por um momento, observando imagens de nós três: sorrisos, viagens, aniversários... Lucas segurando Gabriel pela primeira vez, nós dois em frente à nossa primeira casa, e Gabriel no colo dele durante um passeio no parque. Cada foto era uma evidência de uma vida que agora parecia tão distante.Peguei o telefone, hesitando antes de ligar para a enfermeira responsável
ClaireA manhã seguinte começou com Gabriel correndo pela casa, insistindo para que voltássemos ao hospital. Sua determinação era admirável, mas meu coração estava apertado. Eu sabia que cada visita era um passo, mas também era uma chance de mais frustração. Ainda assim, como poderia dizer não ao sorriso esperançoso do meu filho?Enquanto arrumava as fotos que levaríamos dessa vez, escolhi momentos mais íntimos: a primeira vez de Gabriel na praia, Lucas ensinando-o a andar de bicicleta, e um dia comum em casa, todos nós no sofá, rindo de algo que agora escapava à minha memória. Esses momentos eram preciosos para mim, e talvez pudessem significar algo para ele.Pegamos o carro, e Gabriel, no banco de trás, falava sem parar sobre as coisas que queria contar ao pai.— Mamãe, eu acho que se a gente falar da viagem para a fazenda, ele vai lembrar! Ele adorava brincar com os animais, lembra?— Lembro sim, amor. Vamos contar a ele, — respondi, forçando um sorriso.Mas, por dentro, eu temia q
ClaireA manhã trouxe consigo um céu cinzento, refletindo o turbilhão de emoções que eu carregava nos últimos dias. Gabriel ainda dormia, seu pequeno corpo aconchegado em meio às cobertas, completamente alheio à luta interna que travávamos como família. Cada visita ao hospital era um teste à minha força, mas também uma prova de amor.Enquanto tomava meu café na cozinha, refleti sobre as últimas semanas. As fotos, as histórias, os pequenos detalhes da nossa vida compartilhada... nada parecia suficiente para trazer Lucas de volta. Mas desistir não era uma opção. Se ele não conseguia acessar o passado, talvez fosse hora de criarmos novas memórias.Peguei meu telefone e liguei para o hospital. O som monótono da chamada foi interrompido pela voz calorosa de Elisa, a enfermeira que cuidava de Lucas.— Bom dia, Claire. Como estão vocês hoje?— Estamos bem, obrigada, Elisa. Eu queria perguntar se há alguma chance de Lucas sair para um passeio. Algo controlado, claro. Acho que estar fora do am
ClaireO dia começou como qualquer outro desde o acidente. A rotina era sempre a mesma: levar Gabriel à escola, passar algumas horas resolvendo assuntos pendentes, e depois dirigir até o hospital para visitar Lucas. Mas naquela manhã, algo dentro de mim estava diferente. Uma sensação de inquietação, de expectativa. Como se algo estivesse prestes a mudar.Cheguei ao hospital carregando o habitual: uma bolsa com algumas roupas limpas para Lucas, o álbum de fotos que se tornara um companheiro constante, e um coração cheio de esperança. Ele estava sentado à beira da cama quando entrei, o olhar perdido na janela. A luz do sol iluminava seu rosto, tornando-o quase irreconhecível. A mesma pessoa que conheci, mas ao mesmo tempo, um estranho.— Bom dia, Lucas, — cumprimentei, tentando esconder minha ansiedade.Ele se virou lentamente, o olhar mais suave do que o normal. — Bom dia, Claire.Havia algo em sua voz que chamou minha atenção. Não era a frieza que eu estava acostumada nas últimas sema
ClaireO dia amanheceu com uma tranquilidade ilusória. Os primeiros raios de sol invadiam o quarto de Gabriel, criando formas geométricas nas paredes. Ele ainda dormia profundamente, os cabelos bagunçados e o rosto sereno. A calma no quarto dele era um contraste cruel com a tempestade que se desenrolava dentro de mim. Lucas havia começado a lembrar, mas o processo era lento e tortuoso. E cada dia que passava sem que ele se recordasse completamente de nós parecia uma eternidade.Levantei-me silenciosamente, ajeitando o cobertor sobre Gabriel antes de sair do quarto. Depois de me vestir e organizar o essencial, segui para o hospital, meu coração pesado com o misto de esperança e incerteza.Ao chegar, encontrei Lucas sentado à janela, os olhos fixos em algo além do horizonte. A luz do sol criava um halo em torno dele, fazendo-o parecer quase etéreo. Ele estava diferente, mais calmo, como se tivesse encontrado algum fragmento de paz em meio à confusão.— Bom dia, — cumprimentei, colocando