ClaireO relógio marcava pouco mais de nove da manhã quando recebi o telefonema da equipe médica. Eles haviam notado mudanças sutis no comportamento de Lucas desde nossa última visita. O médico sugeriu que fosse uma boa ideia continuar com as visitas regulares, incentivando a exposição a momentos familiares.Eu concordei sem hesitar. Cada pequeno progresso era uma fagulha de esperança, e por mais desgastante que fosse, eu sabia que precisava manter essa chama acesa.— Gabriel, vamos visitar seu pai mais uma vez hoje, — anunciei enquanto o pequeno se vestia, puxando uma camiseta azul que Lucas havia comprado para ele em nosso último aniversário juntos.— Oba! — Gabriel gritou, empolgado, mas seus olhos brilharam com algo mais profundo. Era fé, pura e inabalável, no retorno de sua família.Preparei uma sacola com fotos, alguns vídeos no tablet, e itens que poderiam ajudar Lucas a recuperar as memórias. Havia álbuns de viagens, bilhetes antigos, até mesmo um dos seus relógios que havia p
ClaireNaquela manhã, o céu estava carregado de nuvens cinzentas que pareciam refletir o peso em meu coração. Desde que Lucas havia perdido a memória, cada dia era um novo desafio. Ele estava diferente — mais calmo, mais observador, mas ainda assim, um estranho em muitos aspectos.Gabriel estava na cozinha, mordendo uma torrada enquanto rabiscava algo em um pedaço de papel. Ultimamente, ele parecia determinado a ajudar Lucas a se lembrar, desenhando momentos que ele achava importantes. Hoje, ele havia desenhado uma grande árvore com um balanço pendurado em um galho.— Essa era a árvore do jardim, mamãe. A gente costumava brincar lá. O papai me empurrava no balanço, lembra? — Ele me mostrou o desenho com orgulho, seus olhos brilhando com esperança.— Sim, lembro sim, meu amor, — respondi, sorrindo. — Vamos mostrar para ele hoje.Peguei o desenho e o guardei na bolsa junto com outras memórias que esperava compartilhar com Lucas. Havia álbuns, cartas antigas e um pequeno caderno onde eu
ClaireA noite estava calma, mas meu coração não. Desde o dia em que levei Gabriel para visitar Lucas no hospital, algo havia mudado. Não eram as memórias que tinham retornado para ele — ainda não. Mas eu podia sentir que algo começava a despertar dentro dele, como um fogo lento prestes a ganhar força.Estávamos na sala de estar, Gabriel brincando com seus carrinhos enquanto eu olhava pela janela. As luzes da cidade ao longe eram um contraste gritante com a escuridão dentro de mim. Perguntei-me, mais uma vez, se havia algo que eu pudesse fazer para ajudar Lucas. As visitas, as memórias que compartilhávamos, tudo parecia tão insuficiente.— Mamãe? — a voz de Gabriel interrompeu meus pensamentos.— Sim, meu amor? — perguntei, me voltando para ele.— Quando vamos visitar o papai de novo? Ele parecia feliz com a música que você colocou. Acho que ele gosta de ouvir coisas que faziam parte da nossa vida. — Ele falava com a sabedoria ingênua de uma criança, mas suas palavras atingiram algo d
ClaireA manhã começou como tantas outras desde o acidente de Lucas. Gabriel estava animado para ir à escola, mas mesmo em sua empolgação, não escondia as perguntas que o inquietavam. "O papai vai se lembrar de nós hoje?", ele havia perguntado antes de sair. Era a mesma pergunta que eu fazia a mim mesma todos os dias.Depois de deixá-lo na escola, fui direto ao hospital. Carregava comigo uma pequena mala contendo coisas que, esperava, pudessem ajudar Lucas a recuperar as memórias. Fotos, bilhetes antigos, pequenos objetos que ele guardava com carinho. Estava disposta a tentar qualquer coisa.Quando cheguei, Lucas estava sentado na cama, olhando pela janela. Ele parecia calmo, mas havia uma inquietação em seu olhar.— Bom dia, — cumprimentei com um sorriso, colocando a mala no chão.Ele se virou para mim, oferecendo um pequeno sorriso de volta. — Você está sempre trazendo coisas para mim. O que é dessa vez?— Algumas lembranças, — respondi, sentando-me ao lado dele. — Achei que talvez
ClaireA manhã estava fria, e o sol tímido de inverno mal iluminava o céu. Meu coração estava pesado enquanto colocava Gabriel no banco de trás do carro. Ele parecia mais quieto do que o habitual, mas não era surpresa. A situação com Lucas estava pesando em todos nós, até mesmo nele, que geralmente tinha uma visão mais leve das coisas.— Mamãe, você acha que o papai vai lembrar da gente hoje? — ele perguntou, a voz cheia de esperança.Olhei para ele pelo retrovisor, tentando sorrir. — Não sei, meu amor, mas vamos fazer tudo o que pudermos para ajudá-lo.Gabriel assentiu, abraçando seu urso de pelúcia, um presente que Lucas havia lhe dado no seu aniversário de quatro anos. Era uma pequena conexão com o pai que ele adorava, mesmo que Lucas não se lembrasse mais disso.Chegamos ao hospital pouco depois. O ar estava cheio do cheiro de desinfetante, e o som dos passos apressados dos médicos ecoava pelos corredores. Gabriel segurava minha mão com força, como se temesse que eu o soltasse. Eu
ClaireO silêncio que envolvia a casa naquela noite era quase ensurdecedor. Gabriel já estava dormindo, exausto após o dia no hospital. Ele parecia tão confiante de que Lucas logo se lembraria, mas meu coração estava dividido. Eu queria acreditar, mas cada tentativa frustrada me deixava mais insegura. A porta do quarto de Gabriel estava entreaberta, e pude vê-lo abraçado ao seu urso de pelúcia, os lábios formando um sorriso sereno. Ele ainda tinha esperança.Desci para a sala, onde o brilho suave de uma lâmpada iluminava os móveis. Sobre a mesa, uma pilha de fotos que eu havia retirado do álbum de família. Fiquei sentada ali por um momento, observando imagens de nós três: sorrisos, viagens, aniversários... Lucas segurando Gabriel pela primeira vez, nós dois em frente à nossa primeira casa, e Gabriel no colo dele durante um passeio no parque. Cada foto era uma evidência de uma vida que agora parecia tão distante.Peguei o telefone, hesitando antes de ligar para a enfermeira responsável
**Capítulo 1**CLAIREO escritório da Donovan & Co. sempre foi um lugar que me intimidava, mas também me fascinava. As paredes de vidro, que se estendiam do chão ao teto, davam ao ambiente uma sensação de imensidão, como se o mundo lá fora fosse pequeno demais diante da grandiosidade daquele espaço. Tudo naquele escritório parecia pensado para exalar poder: o design moderno, o mobiliário minimalista, até o som dos passos sobre o piso polido, como uma música de sucesso tocando sem parar. Era o tipo de lugar onde as pessoas não eram apenas bem-sucedidas — elas eram imponentes.Eu nunca imaginei que algum dia faria parte daquele universo. Como alguém tão comum, sem qualquer traço de grandeza, teria alguma chance de entrar naquele círculo? Mas eu batalhei muito para chegar ali. Passei noites em claro estudando, lidando com frustrações e momentos de dúvida. Tudo para conquistar a chance de trabalhar ao lado de Lucas Donovan. E, no fundo, eu sabia que era ele quem mais me motivava. A oportun
**Capítulo 2**LUCASA noite estava quente e abafada quando entrei na boate. Dominic, um dos meus poucos amigos fora do ambiente corporativo, estava ao meu lado, puxando-me para o balcão do bar como se fosse a única saída para um dia exaustivo. Eu não era o tipo de homem que frequentava boates. Mulheres, claro, eram parte da minha rotina — desde que fosse algo simples, rápido, e sem complicações. A vida já era complexa o bastante para que eu perdesse tempo me dedicando a romances ou a situações emocionais. Mas, por alguma razão, naquele dia, aceitei o convite de Dominic para "desligar a mente" um pouco.— Vai te fazer bem, Lucas. Você precisa se soltar de vez em quando — disse Dominic, enquanto entregava ao barman uma nota generosa e pedia duas doses de uísque.Aceitei o copo que ele me ofereceu, dando um gole enquanto observava a movimentação ao redor. O ambiente estava cheio, as luzes alternando entre tons vermelhos e azuis, o que dava ao lugar um ar de mistério. Eu não conhecia nin