Acordo com a sensação estranha de que está faltando algo e, quando acordo direito, noto que é porque Nicole não está na cama. Escuto um barulho vindo do banheiro e me levanto depressa ao ver que está vomitando de novo. Bato na porta para que não se assuste e entro, posicionando-me ao seu lado no chão.
Ela não fala nada porque vomita de novo, parecendo cansada. Seus olhos estão inchados e vermelhos pelo choro, os cabelos estão bagunçados, cheios de volume.
— Não precisa ficar aqui para ver isso. Já atingiu sua cota de me ver vomitando.
— Quero estar. Marquei o exame e uma consulta para você.
Nicole apenas concorda e encosta a testa na mão, apoiando-se no vaso sanitário. Fico ali também, alisando as suas costas, esperando seu tempo para conversar, para gritar, para chorar de novo.
— Esse filho é
Levanto no susto, com o barulho da minha cortina sendo aberta e a claridade invadindo o meu quarto. Tapo os olhos e solto um resmungo alto, puxando o edredom para cobrir o meu rosto, mas não demora para o tecido me descobrir.— Quando foi a última vez que tomou banho, Nicole? O que aconteceu, amorzinho? — Escuto a voz de Nat e apenas solto outro resmungo como resposta. Claro que ela não vai entender, mas só quero dormir e ficar quieta no meu quarto, sozinha, sem precisar pensar ou explicar nada. — Nicole!— Me deixe em paz, Nat!— Não, não deixo! Seu chefe me procurou para perguntar notícias sobre você, porque não atende aos telefonemas dele e nem atende a porta também! Por que seu chefe está preocupado com você e por que não sei que tinha algo para me preocupar? — pergunta. Pelo tom de voz, sei que está chateada comigo de verdade,
Eu me sinto culpada por preocupá-lo. Não imagino como deve ter ficado desesperado pensando as piores coisas sobre mim. Se teve coragem de procurar Nat, seus nervos devem estar à flor da pele. Tenho certeza de que se tivesse a chave do meu apartamento como minha melhor amiga tem, Valentin teria invadido aqui há muito tempo.— Acho que está apaixonada já.— O quê? Está doida? Já me viu apaixonada antes, Natasha Forbs? —pergunto, soltando uma risada debochada.— Não, e é por isso que estou dizendo. Você está diferente, e nem é esse lance de maternidade e tudo o mais. Bem antes disso, já estava. Algo me diz que o seu final feliz está chegando, amorzinho.Olho para a minha amiga em choque, questionando-me se ela me conhece mesmo. Porque não é possível que esteja tão iludida assim só porque vou
Acho que além de grávida, também descobri que estou louca, pois ouvi Valentin me pedir em casamento.É a única explicação, não é? Fico olhando para o anel ali depois que ele abre a caixinha, mas a ficha não cai. Estou sonhando, pode ser uma alternativa.— Valentin… Você ficou maluco?— Não é bem a resposta que um homem espera depois de pedir alguém em casamento, Nicole — ele fala, abrindo um sorrisinho de lado.— Esperava o quê? Que eu gritasse de alegria e pulasse no seu pescoço? Isso é loucura! Não posso me casar com você! Não vivemos no século passado! Tem como criarmos uma criança sem envolver um casamento, aliás, sem envolver qualquer tipo de relação.— Mas não é o que eu quero — ele fala sincero, encarando meu rosto com atenção. — Quero estar presente enquanto nosso filho cresce. Não quero estar em outra casa, perdendo coisas importantes. Ou vê-lo apenas nos finais de semana. Quero que esse bebê tenha um pai, Nicole, sei o tanto que um faz falta.— Valentin, eu entendo, ok? Mas i
Vejo o homem sair da sua sala e parar de frente para a minha mesa.— Já almoçou?— Ainda não. Tomei apenas uma canja que Nat levou mais cedo, mas já estava indo.— Tomou as vitaminas? Como estão os enjoos? — ele pergunta preocupado, olhando para mim com atenção.— Tomei. Melhoraram, mas… não comi muito nos últimos dias, então não tive nada para enjoar — respondo com vergonha, porque não quero que Valentin pense em mim como uma péssima mãe. Só é difícil me ver assim ainda.— Se você se casasse comigo, eu ia poder cuidar melhor da sua alimentação.— Valentin…— Almoça comigo? Tenho uma reunião mais tarde, nós já podemos ir direto do restaurante. — Ele olha para o relógio de pulso e espera pela
As coisas estão saindo diferentes dos meus planos. Eu gostaria de estar acompanhando a gravidez mais de perto, certificando-me de que Nicole está fazendo tudo direitinho. Tomando os remédios, alimentando- se, dormindo, evitando estresse. Infelizmente, a mulher teimosa negou o meu pedido de casamento. Já esperava, não imaginei que fosse aceitar de primeira, mas pensei que em algum momento ia conseguir convencê-la de que é a melhor opção para nós dois.Seria um casamento conveniente, para ambos os lados. Vou precisar usar uma estratégia que não gostaria, e sei que ela vai me odiar, mas vai ser por um bem maior. Só não posso deixar de viver porque estou preocupado se está precisando de mim. Sou controlador e sistemático, preciso ter a situação no meu controle, e com ela longe de mim, isso não acontece.Saio da minha sala e a encontro teclando concentrada no computador. Já faz uns dias que a pedi em casamento e não voltei a tocar no assunto, porque pedi que ela pensasse. Não sei se está f
Nunca fiquei grato com o fato de Tyler adorar dar uma festa antes, mas vai me ser útil agora. Pelo menos vou tentar fazer com que Nicole se aproxime mais de mim. Quero conhecer sobre a sua vida fora desse escritório e quero que ela conheça a minha também.— Seu aniversário é depois de amanhã. Tinha esquecido — ela comenta, parecendo pensativa. — Vou conversar com eles para ver se podem. Te aviso.— Tudo bem. Quer sair para jantar agora?— Não, estou um pouco cansada. Só quero tentar dormir um pouco.— Posso cozinhar para você, na sua casa se preferir — ofereço, querendo bater a cabeça na parede porque nunca tive que me humilhar tanto por uma mulher na minha vida inteira.— Valentin…— Nicole… — repito seu nome do mesmo jeito que fala o meu. — Por que está me afastando? As co
Ainda espero que, a qualquer momento, eu vá acordar. Isso ainda é surreal demais para que não seja um universo alternativo. Como seria real estar com meus pais em frente à casa de Valentin, pronta para apresentá-los e dizer que estou esperando um filho dele?Não foi assim que planejei contar para os dois, gostaria que fosse uma coisa mais sigilosa, menos cheia de alarde, mas estou com medo. Quanto mais testemunhas, melhor. Assim vou ter a certeza de que não vão gritar comigo ou algo do tipo. Não é a cara deles, mas vai saber. Uma gravidez inesperada não é o que precisam agora também.— Vai me dizer por que estamos aqui? — mamãe pergunta ao meu lado, curiosa, porque não dei muitos detalhes sobre a noite de hoje. Não sabia o que dizer sem entregar demais. — Você não reclamava horrores sobre como seu chefe era horrível? Por
Também não quero que meu filho cresça distante do pai, ainda mais um que parece tão disposto a participar de tudo. Tanto que me sufoca com seu excesso de cuidado, e meu bebê só tem poucas semanas. Mas gosto da atenção que ele me dá, de me sentir cuidada por ele. De saber que não estou sozinha nessa. Valentin tem sido fundamental nesse período inicial, que vem sendo bem difícil. Só que não estou sendo justa com ele, então prometi a mim mesma que, mesmo que não me case com ele, vou tentar deixar que se aproxime pelo menos pelo bem do bebê. Mas não é uma coisa fácil para mim.Em todos os meus anos de vida, nunca tive uma relação séria, nunca conheci pais de ninguém nem criei uma rotina. Nunca teve nem muita conversa, para falar a verdade, então Valentin precisa entender que não é uma mudan&ccedi