O dia de nosso casamento no cartório.O vestido rosa desliza suavemente pelo meu corpo, como se tivesse sido feito para esse momento, para esse dia. O tecido leve e delicado me abraça, e quando me olho no espelho, mal acredito na mulher que vejo refletida. Há algo diferente em mim hoje. Um brilho nos olhos, uma felicidade tímida que transborda. É o meu casamento.Desço as escadas e entro na sala, o coração batendo tão forte que parece que todos ao redor podem ouvi-lo. E então eu o vejo.Ozan se levanta do sofá, imponente em seu terno negro impecável. A gravata escura forma um contraste perfeito com a camisa branca, e ele parece ainda mais lindo do que eu me lembrava. Seus olhos, porém, são o que mais me prendem: eles me olham como se eu fosse a única coisa que importa no mundo.Por um instante, o tempo para. Eu só vejo ele.— Você está deslumbrante, — ele diz com uma voz suave, como se estivesse falando algo sagrado.Meu sorriso surge sem esforço, pequeno, tímido, mas verdadeiro. Ozan
Um casamento grego é mais que um evento: é uma celebração gravada na alma de quem o presencia. É como um poema em movimento, onde cada passo, cada sorriso e cada nota de música se transforma em memória. A dança e a diversão nunca faltam, como se o tempo tirasse um intervalo para se render à alegria.A recepção é sempre uma festa de arromba, onde tradições ancestrais e a fé ortodoxa se entrelaçam como numa dança harmoniosa. Hoje, a mansão de Ozan é o palco desse espetáculo. Preparada com esmero, cercada de verde e com o aroma da gastronomia impecável do buffet que escolhemos, ela parece um cenário tirado de um sonho.Tradicionalmente, uma recepção grega dura até o sol nascer, mas, desta vez, deixamos claro nos convites: a festa terminará às três da manhã. Mesmo assim, os momentos de alegria explodem como fogos de artifício, com comida farta, bebidas que aquecem a alma, música que eleva os espíritos e danças que unem os corações.Estamos em uma das mesas redondas no gramado, rodeados pe
É hora da serenata.Levanto-me, sentindo o cansaço suavizado pela doçura do momento, e caminho até ele ao som das cordas.— Enfim ficaremos a sós. — Ele murmura, exausto, mas com um brilho no olhar.— Sim, e teremos uma semana inteira para aproveitar.Ele segura minha mão, e todos os convidados se levantam, sabendo que estamos nos retirando. Acompanhados pelos violões, acenamos para todos, encerrando nossa festa sob o som de uma melodia romântica que nos levará ao começo de nossa vida juntos.Quando fechamos a porta, as vozes lá fora continuam a ecoar, uma melodia suave que nos envolve como um último abraço da festa. Ozan me puxa para seus braços, e por alguns instantes ficamos ali, apenas sentindo o calor um do outro. Quando a música termina e os passos se afastam, o silêncio começa a preencher o quarto, apenas quebrado pelo som distante da festa que ainda pulsa do lado de fora.Ele solta o ar como se estivesse exorcizando o cansaço e ri, um som leve e genuíno. Meu riso o acompanha,
OzanEu me inclino sobre ela, e nossos olhos se encontram em uma troca silenciosa e profunda. Meus dedos deslizam por seus cabelos com ternura, e um leve sorriso brota em meus lábios — cheio de carinho, pleno em felicidade.Quem diria que uma garota grega, com costumes tão distintos, seria a mulher certa para mim?Ainda assim, uma parte de mim permanece cautelosa, murmurando dúvidas. Bem, o tempo dirá, penso, tentando acalmar os resquícios de incerteza.Sofia sorri para mim, aquele sorriso que parece iluminar o ambiente, e algo dentro de mim se rende. O lado otimista, esperançoso, atesta com fervor: ela é minha alma gêmea, a mulher da minha vida.Aproximo meu rosto do seu, e nossos lábios se encontram em um beijo demorado, carregado de promessas silenciosas. Quando me afasto, sinto seu olhar fixo em mim, me acompanhando enquanto puxo a gaveta ao lado da cama e pego uma camisinha. O gesto é metódico, mas não passa despercebido por Sofia, que me observa atentamente.Eu deslizo a camisin
SofiaEstou feliz, como nunca me senti na vida. Ozan é um homem especial. Há algo no seu jeito conservador, o modo como abre a porta do carro para mim, puxa a cadeira no restaurante ou ajeita meu casaco, que me faz sentir protegida e valorizada. Mas o que mais tem me encantado é enxergar um outro lado dele: um Ozan mais humano, mais vulnerável, mais aberto a novas experiências e à vida em família.Que pena que essa semana maravilhosa passou tão rápido... Foram dias preciosos, que nos permitiram viver como uma família de verdade, algo que sempre sonhei.Agora, estamos jantando em um restaurante sofisticado e aconchegante, com lustres pendentes que projetam uma luz quente sobre as mesas e um leve aroma de temperos no ar. As paredes são revestidas de madeira escura, e ao fundo, uma suave música instrumental se mistura com o burburinho de vozes. Estou concentrada em desfiar a carne para Osman, que está sentado na sua cadeirinha alta ao meu lado. Coloco o prato à sua frente com um sorriso
OzanAs palavras de Sofia. Suas cobranças quanto à minha atitude trazem à tona uma lembrança que eu preferia enterrar: Ayla. Meu peito parece que vai explodir de nervoso.Não! Não quero pensar nisso, muito menos comparar Sofia a ela. Respiro fundo, lutando para controlar a tempestade dentro de mim. Tenho medo de deixar esses pensamentos me contaminarem, de permitir que eles sujem o que construímos juntos.Olho para Sofia. Minha linda, doce Sofia. Agora, ela está amuada, cutucando o prato de estrogonofe com o garfo. Sua expressão melancólica me atinge como uma facada de culpa.O que eu estou fazendo?Ela é a minha salvação. Minha chance de ser feliz de novo. Sofia afastou as sombras do medo, da solidão e daquela ojeriza por compromissos que me consumiam. Ela trouxe cor ao meu mundo cinza, pintou meu vazio com esperança e vida.Talvez ela tenha razão. Sou possessivo, dominador, perfeccionista. Carrego o peso do controle como um escudo, mas... dividir o trabalho não seria uma ideia tão a
Segunda-feira...SofiaEu e Ozan tomamos café na grande mesa de jantar e, juntos, seguimos para o escritório. A noite de amor que tivemos dissipou as minhas preocupações. Farei de tudo para que este casamento dê certo. Ele tem me feito feliz, e isso é o que importa. Não permitirei que sombras atrapalhem o que temos.Assim que chegamos, fomos recepcionados pelos cumprimentos de todos, nos felicitando pelo casamento. Pude perceber muitos olhares de inveja das mulheres. Ozan é um homem deslumbrante e frustrou diversas pretendentes interessadas. Ao entrar na antessala, Helena imediatamente se levantou e me abraçou, felicitando-me novamente.— Sofia! Que bom revê-la. Você estava tão linda no casamento. E que festa! Todas morreram de inveja de eu ter sido convidada.Helena foi uma das poucas pessoas a quem fizemos questão de convidar para o evento.— Você sempre foi uma amiga. Claro que não ficaria de fora.Ozan, que estava um pouco afastado, aproximou-se:— Senhorita Silva, haverá mudanças
A resposta vem acompanhada de um leve erguer de sobrancelhas, como se aquilo fosse algo tão óbvio quanto o ar que respiramos.— Nossa cultura não é muito diferente da sua. Até estranhamos quando Ozan não se importou de ter um casamento totalmente grego.Meu coração pulsa de forma estranha, como se antecipasse algo que minha mente ainda não captou.— Verdade? — pergunto, a curiosidade me escapando sem filtro.— Sim, até hoje estamos admiradas com a rapidez com que ele se casou. Justo Ozan, que parecia que não ia se casar tão cedo. Inclusive, ele sempre deixou muito claro isso. Nosso tio cansou de brigar com Ozan por causa disso.Não fico surpresa com suas palavras. Elas apenas confirmam o que eu já sabia. Mesmo assim, há algo incômodo na tranquilidade com que falam de Ozan, como se eu tivesse sido apenas um detalhe numa história que parecia improvável de acontecer.Antes que eu possa reagir, Ozan se aproxima por trás e me envolve com o braço, sua presença aquecendo meu ombro como uma b