Meus pais não se conformavam com o rumo que as coisas haviam tomado. Minha mãe entendia tudo o que estava acontecendo, sabia de todos os motivos pelos quais tive que renunciar, porém, não aceitava que eu me conformasse, e meu pai me cobrava uma atitude. Senti que havia chegado o momento de contar-lhe toda a verdade. Sabia que não seria uma conversa fácil, no entanto, fiquei surpresa em descobrir que ele já sabia de tudo, que minha mãe havia contado a ele, que estava fingindo o tempo todo não saber para que Gerald não desconfiasse. Enfim, ele podia conversar comigo sobre o assunto e estava furioso se culpando pelo fato de ter trazido um traidor para a minha vida. — Como pude acreditar nesse farsante? Não entendo a minha cegueira! Vitória, minha filha, peço o seu perdão por só ter visto o lado bom de seu enlace com Gerald, devido ao seu nome e sua posição na sociedade. Além de imaginar que, por ter muitas posses, não estaria interessado na herança do reino, ledo engano o meu, era iss
Sabia que um dia Gerald nos cobraria a traição e nos manter afastados não foi o bastante para satisfazê-lo, ele precisava de mais. Algo mais para suprir o seu desejo de vingança. Planejou convocar Aron para a guerra, acreditando que ele se recusaria e com isso pudesse obter a desculpa perfeita para executá-lo por traição ao Rei. Ele enganou-se, pois Aron não fugiria de seus deveres, apesar de eu ter tentado persuadi-lo a fugir, temendo por sua segurança. Não haveria lugar mais perfeito do que o castelo de Neveri para todos nós irmos. Serena já estava por lá, junto de suas amigas da floresta, como eu preferia as chamar. Minha avó as apoiava totalmente e fazia de tudo para ajudá-las. Só faltava agora convencer Aron a se esconder e ficar longe, e estaríamos todos juntos afinal, no entanto, eu sabia que minha tentativa seria em vão. — Jamais! Não posso fugir de minha responsabilidade, Malena. Não me peça isso, não posso fugir e dar esse gosto a Gerald. Com certeza é isso o que ele esper
O fato de os guardas não terem encontrado Serena em lugar algum, fez com que Gerald desse a ordem de prender e torturar Arthur, acreditando que ele saberia onde ela estava e lhes contasse. No instante em que ele se apresentou para servir a guerra e tornar-se um soldado treinando para a batalha, o prenderam. Uma de minhas damas de companhia, Gisela, era casada com Filipe, que fazia parte da Guarda Real. Ambos eram honestos e exerciam muito bem os seus trabalhos, e não concordavam com as atitudes de meu esposo, e muito menos com suas ordens. Foi Gisela quem me contou tudo o que acontecia com Arthur: — Minha Rainha, não concordamos com o que ele está fazendo. Sinto arrepios quando Filipe me conta sobre os planos dele para a guerra e suas confabulações com o Bispo sobre os planejamentos da batalha, além dessa perseguição absurda à Serena e Arthur. — Como era minha dama, ela sabia muitas coisas sobre minha vida e minha rotina, confiava em sua discrição e honestidade. — Serei eternament
— Você teima em pensar que sou um covarde, minha querida. Ainda está com a ideia de que desistirei à véspera da guerra? Pois saiba que está enganada em seu julgamento. Não pretendo desistir! Essa luta é minha, eu mesmo a incentivei e escolhi um lado. Aguardo essa guerra chegar como quem espera o maior acontecimento de sua vida! Gerald havia treinado de forma constante nos últimos meses, aguardando a guerra que ele mesmo incentivou, e apesar de minhas investidas para tentar mudar seus pensamentos e evitar o pior, manteve seu propósito em ver os clãs lutarem. Ele estava firme em sua decisão e não demonstrava que poderia desistir quando o momento chegasse, isso me surpreendeu! — Realmente será, meu caro. Temo apenas por sua segurança. Apesar de tudo o que fez e vem fazendo a mim, não guardo rancor de vossa pessoa e desejo de coração que tenha sucesso. Devido a isso, fico apreensiva com a sua segurança e acredito que não esteja preparado para liderar um campo de batalha. — Continuei m
Estava cada vez mais habituada àquele lugar. Neveri era um pouco menor do que Minsk, no entanto, com a unificação entre eles e a quebra das divisas, haviam se tornado um grande reino. Fui sempre muito bem tratada, cresci perto de Vitória, e foi assim que nos tornamos grandes amigas. Entretanto, estar distante agora me reforçava, apesar de não poder ajudá-la da forma que gostaria, me sentia em paz naquele lugar. A avó de Vitória, Condessa Olívia, era uma pessoa maravilhosa. Entendia melhor agora de onde vinha toda a força de minha amiga, ela realmente estava cercada de mulheres encantadoras. Fui acolhida com muita gentileza e, aos poucos, ela foi me perguntando tudo o que fazia, percebi que Vitória já havia contado a ela muito mais do que imaginava. Tudo corria bem, fazíamos nossos rituais ao redor do castelo e em seus ambientes internos também, purificando e energizando tudo o que fosse possível. Um dia, porém, um acontecimento inesperado nos tirou da zona de conforto. Uma carruag
A guerra havia começado, todos no reino comentavam sobre o que acontecia no campo de batalha. As famílias temiam por seus soldados que lá estavam, lutando e seguindo o caminho de seu Rei. Aquele que lhes foi empurrado, uma liderança inesperada que apesar de não ser desejada, fazia o povo acreditar que era merecedor de ser seguido e respeitado, afinal ele era o esposo da Rainha e foi nomeado Rei Consorte pela própria, que sofria por uma gestação complicada e devia cuidar de sua saúde e do bem-estar de seu futuro herdeiro, todos confiavam na veracidade dos fatos. Se soubessem o verdadeiro motivo pelo qual tudo acontecia, com certeza não respeitariam Gerald, contudo, perderiam o respeito por mim também. Como era possível uma Rainha trair o seu esposo com o próprio primo? Com certeza sofreria muitas represálias do povo e dos nobres, principalmente. Seria condenada pela igreja por adultério e perderia os meus direitos, prejudicando o futuro de meu filho, que teria sua vida marcada como bas
Gerald A manhã estava cinzenta, o dia mal havia começado e já estávamos nos preparando para lutar. Conforme o combinado, os clãs se encontrariam bem perto de onde estávamos acampados, em uma clareira onde seria possível os dois lados se posicionarem de igual maneira, para que não houvesse privilégios para nenhum dos lados, apesar do fato de os Griersons estarem em vantagem, por terem o meu apoio e do clero. Todavia, os Sutherlands estavam em um número bem maior do que nós, não conseguia entender como isso era possível, decerto fizeram algumas alianças também com outros clãs e isso não tinha chegado ao meu conhecimento. Percebi o quanto era impressionante a organização para uma guerra. Os soldados e o comandante me indicaram o que deveria ser feito, devido a minha inexperiência em liderar uma luta. Era tudo planejado com muito respeito antes da batalha. Os clãs enviavam seus mensageiros e organizavam tudo, fazendo acordos e até tentando algum que, mesmo naquele momento, pudesse impe
Pensei em como as situações ali eram contraditórias. Aron, que havia se tornado meu principal inimigo, aquele que desejava e tinha o amor de minha esposa, estava lutando ao meu lado, mesmo que aquela não fosse de verdade a sua vontade. Quando o convoquei para se apresentar e servir à guerra, não imaginei que fosse aceitar. Na verdade, a minha intenção era de nomeá-lo traidor da coroa, pois tinha a certeza de que ele se recusaria a lutar ao meu lado na guerra. Sendo assim, poderia condená-lo à forca por traição ao Rei, o que confesso, me traria muita satisfação. No entanto, fui surpreendido por sua aceitação e permanência ao meu lado durante todos os planejamentos finais, ele se opunha em determinadas situações, porém, sempre acabava concordando e aceitando minhas vontades, decerto por causa de Vitória e seu filho, para protegê-los. Apesar de odiá-lo por isso, tinha que aplaudir sua honestidade e fidelidade aos que ama, passei a acreditar no seu verdadeiro amor por Vitória, entretanto,