Pensei em como as situações ali eram contraditórias. Aron, que havia se tornado meu principal inimigo, aquele que desejava e tinha o amor de minha esposa, estava lutando ao meu lado, mesmo que aquela não fosse de verdade a sua vontade. Quando o convoquei para se apresentar e servir à guerra, não imaginei que fosse aceitar. Na verdade, a minha intenção era de nomeá-lo traidor da coroa, pois tinha a certeza de que ele se recusaria a lutar ao meu lado na guerra. Sendo assim, poderia condená-lo à forca por traição ao Rei, o que confesso, me traria muita satisfação. No entanto, fui surpreendido por sua aceitação e permanência ao meu lado durante todos os planejamentos finais, ele se opunha em determinadas situações, porém, sempre acabava concordando e aceitando minhas vontades, decerto por causa de Vitória e seu filho, para protegê-los. Apesar de odiá-lo por isso, tinha que aplaudir sua honestidade e fidelidade aos que ama, passei a acreditar no seu verdadeiro amor por Vitória, entretanto,
Aron Não sei se ele percebeu, mas entrei em desespero. A última coisa que esperava, naquela guerra, era vê-lo ferido de morte. Estava perto ajudando em sua defesa, pois percebi que aumentavam gradativamente o número de soldados do clã oposto investindo em ataques contra o Rei. Tive a certeza então que o principal objetivo deles era matá-lo e, assim, ganhar a guerra. Uma estratégia exemplar, contando com o fato de que aquele líder não se importou em promover a paz, não fez nenhum esforço para beneficiar ambos os lados e impedir a batalha, como era a vontade de Vitória. Eles não foram poupados e se viram obrigados a lutar por seus direitos que já eram adquiridos, uma grande ironia a tudo o que ele havia planejado. Pensando dessa forma, passei a concordar que eles tinham a absoluta razão e venceriam aquela guerra com a melhor das estratégias. Seriam o clã líder da região, dali em diante os Griersons teriam que se render a absoluta soberania dos Sutherlands, que começaram a batalha em
Vitória Aguardei aquele dia com o coração a todo vapor, seria o retorno de grandes amores. Até mesmo meu bebê, que já estava grande, fazendo com que minhas roupas ficassem apertadas e não fosse mais possível usar o espartilho, mexia muito mais do que o normal. Acredito que ele sentia minha tristeza, saudade e angústia pela distância das pessoas amadas, e toda tensão que nos envolveu nos últimos meses. Retornei para Minsk com meus pais assim que recebi a notícia de que a guerra havia terminado, necessitava estar presente para receber o corpo de Gerald para o sepultamento, e mesmo considerando as minhas condições, nada favoráveis para a viagem, não consegui evitá-la. Naquele dia, porém, a comitiva de carruagens estava chegando, vinda de Neveri, trazendo de volta Serena, Arthur e sua família. Aron retornaria também do acampamento, onde ficou alguns dias a mais, ajudando no que era necessário. Muitos feridos já haviam retornado e sabia que ele ajudava os curandeiros para que todos con
O inesperado aconteceu, a morte do Rei. O líder é sempre muito bem protegido em uma batalha, no campo de guerra ele luta junto de seus guerreiros e soldados. Todos visam a sua proteção e a luta pelo objetivo que lhes foi proposto. Assim como em um tabuleiro de xadrez, há aquela barreira de proteção, onde o inimigo trama estratégias para chegar ao seu objetivo: vencer aquela proteção e dominar as peças reais. Gerald foi dominado, o Rei foi vencido! Seus guardas reais fizeram de tudo para tentar protegê-lo, no entanto falharam e também perderam suas vidas. Ficamos sabendo da morte deles em batalha, Peter e Arnold morreram defendendo seu Rei, foram fiéis até o fim. Com isso, teria um problema a menos para resolver, pois teria que puni-los por traição a mim e não desejava sujar minhas mãos com eles, o máximo que faria seria expulsá-los do reino, contudo, com suas mortes, tudo estava resolvido. Lamentei por sentir mais aquele alívio com uma situação tão terrível quanto aquela, contudo,
Uma conversa inevitável. A pedido de meu pai, aguardei o primeiro mês de luto passar. Não me apresentei ao Conselho e deixei tudo ao cuidado dele, porém, havia uma coisa que eu queria fazer, tinha que ser eu mesma e ninguém poderia me tirar essa satisfação. Caminhando nos corredores do castelo, em direção a sala onde seria a reunião que fora marcada em separado do Conselho e amparada por minha mãe, ouvia atentamente os conselhos de meu pai: — Não seja rude com ele, minha filha. Apesar de tudo, lhe devemos respeito por sua posição. — Olhei para meu pai e sorri, confirmando com um aceno que havia entendido seu conselho. — Anthony, nossa filha sabe o que fazer e concordo que é necessário. Ela não faltará com respeito, nós a educamos muito bem para isso! — a piscada que ela me direcionou aumentou meu sorriso, o transformando quase em uma gargalhada, porém me contive para não parecer insolente. — Quanto a isso tenho certeza, Felícia. Temo apenas que Vitória possa ouvir coisas um tanto
O tempo de sofrimento, angústia e saudades havia chegado ao fim. Com o fim da guerra, a morte de Gerald e o Bispo Dom Charles longe do reino, muitas coisas estavam voltando ao normal. Retornei ao meu posto de Rainha em uma cerimônia simples abençoada pelo Padre Gustav, que chegou ao reino logo após a partida de Dom Charles e agora vive conosco no reino. Ele tornou-se um fiel conselheiro religioso, desde o primeiro instante em que o vi, senti um forte carinho por aquele senhor quase sem cabelos, de estatura média e forte. Suas palavras pareciam flutuar no ambiente, ele pregava a palavra de Deus com uma doçura que nunca tive o prazer de presenciar. Preenchia o ambiente e nos trazia uma luz que irradiava a todos por onde passava, um ser iluminado. Celebrava nossos encontros religiosos e conquistou muitos fiéis nos vilarejos em suas andanças. Seria ele que abençoaria meu bebê e sentia uma felicidade imensa ao pensar nisto, confiaria sua educação religiosa a ele sem pestanejar. Enfim,
Passamos a falar sobre outros assuntos enquanto tomamos chá e o tempo passou voando. Quando percebi, relaxei tanto na poltrona de Serena que acabei dormindo, um sono bom que não tinha há muito tempo. Despertei sem muita noção de onde estava, até que avistei um par de olhos negros me observando do outro canto da sala. Ele veio até mim, e beijou-me segurando minhas mãos. — Enfim, acordastes, minha Rainha. — Aron sorriu com carinho. — Estava há muito me esperando? Poderia ter me acordado. — De maneira nenhuma. Fazia muito tempo que não a via descansar assim, de forma tão profunda. — Agradeço por velar meu sono e me esperar para voltarmos juntos aos nossos aposentos. — Estava esperando para irmos cear, você precisa se alimentar melhor, não comeu quase nada hoje. — Pedirei algo para comer em meus aposentos mesmo, se não se importar. Prefiro ficar descansando. — Como quiser. Precisa mesmo descansar. — Serena, muito obrigada pela bela tarde. Sua energia me renova, sempre — ela abraç
Para muitos pode parecer uma loucura dizer que o amor sempre vence, no entanto, a bem da verdade, não há outra definição. Novamente, o amor vencia e nós estávamos presenciando a fase mais pura daquele amor. Foram necessárias muitas perdas novamente para que aquilo fosse entendido. A relutância de muitos de nós à guerra, deixou aquele gosto amargo de indignação. Ela deu um jeito de se embrenhar pelas paredes do castelo e por todas as partes do reino. Veio arrasadora e mostrou aos que achavam que seria a única solução para resolver os conflitos, não ser a melhor solução. Devemos admitir que as perdas que uma guerra causa servem também de reflexão, e algumas vezes podem sim resolver alguns conflitos. No nosso caso, atual, ela serviu apenas para mostrar que os que pareciam mais fortes, não eram de verdade. A morte de Gerald causou grande comoção aos que não o conheciam tão bem e o viam como o fabuloso Rei que assumiu o trono por amor a sua Rainha e pelo bem de sua saúde e resguardo, p