MALENA Surpresas aparecem em nossas vidas de várias maneiras. A maneira como a vida me surpreendeu foi colocando aquele homem em meu caminho. Eu, que julgava nunca mais amar de novo, estava ali encantada com aquele sentimento. Devido a todos os preparativos para a cerimônia de meu casamento com Henry, não consegui dimensionar o quanto minha vida estava mudando. Nossa cerimônia foi bela como sempre havia imaginado e apesar de em meus pensamentos e desejos sempre haver outra pessoa compartilhando o altar comigo, senti-me bem com a mudança. Como se, na verdade, aquele lugar sempre houvesse pertencido a Henry e sonhar com Aron foi apenas uma ilusão. Agora, estava vivendo a realidade plena e entregue a todas as sensações que ela me trazia. Dançamos tanto durante o baile que pensei que nunca mais sentiria meus pés, porém a alegria era tanta que nada mais importava, somente viver aquele momento e compartilhar daquela felicidade com meu amado e meus entes queridos. A única t
— Sim, madrinha. Essa é a triste situação entre nossas famílias e entre os nossos reinos. — Me desculpo, desde já, por eles e garanto-lhe que não estou de acordo com nada disso e que apesar de ter sido nutrido desde pequeno por esse desejo de vingança já o esqueci ao conhecer e me apaixonar por Felícia. — Nunca duvidei de seus sentimentos, meu querido, e o recebo em nossa família com muito orgulho e satisfação. Poderia dizer alegria também, contudo imagino que ela somente estará completa quando tudo isso estiver esclarecido entre nossas famílias para que a paz volte a reinar, ou devo dizer, para que enfim ela reine, pois a paz que parecia existir era apenas uma ilusão de nossa parte. — Infelizmente, sim! Apenas uma ilusão plantada por minha família e lamento muito por isso. — Obrigada, Anthony querido! Agora que faz parte da família, tenho certeza de que ganhei mais um filho de coração. — Me sinto lisonjeado por isso e quem deve agradecer sou eu por tamanh
Após o desjejum conversamos com nossos hóspedes sobre a possibilidade daquela visita estender-se e eles ficarem morando conosco e nos ajudando em nossa propriedade. Felícia ficou encantada com a possibilidade e, como previa, Anthony ficou incomodado com a situação. — Não queremos causar a vocês nenhum transtorno. Entendo que nos queiram por perto, contudo não sei se devemos permanecer aqui por muito tempo. Queremos viver por nossa conta e aprender a sobreviver com nosso trabalho. Pode parecer impossível para nós que nunca passamos por nenhuma necessidade e sempre tivemos tudo o que precisávamos, mas é um grande desafio a ser vencido! — Entendo, meu querido, no entanto aceite a nossa proposta de trabalhar por um tempo em nossas terras. Henry estava mesmo procurando alguém para nos ajudar e de qualquer forma se não for você teremos que contratar outra pessoa. Fiquem, por favor, pelo menos por um tempo. Depois disso vocês podem partir e seguir a vida que desejam. — Meu
Esperávamos naquela tarde a visita de nosso então inimigo, Rei Theodore, e sua mãe, Rainha Eugênia. Haviam enviado junto ao mensageiro o comunicado de sua vinda, que seria para tentarmos um acordo sobre os “erros” do passado, assim dizia a mensagem que recebemos. Chegaram na hora combinada e, como aprendi com minha Rainha, fui cordial e os recebi primeiramente na sala de chás, a mesa posta em um aconchegante e farto banquete. — Fico honrado em receber vossa família, afinal agora podemos dizer que somos uma só, uma única família, não é mesmo? — Apesar da cordialidade, minhas felicitações soaram um pouco irônicas. — Não entendo o que diz, Rei Serafim. Se estiver se referindo aos nossos filhos, saiba que não aprovo essa união, ainda mais por estarem fugidos e vivendo em pecado. — Pois fiz questão de vir, mesmo contra a vontade de meu filho, para saber se tens notícias de meu neto. Sua mãe Olívia e eu estamos muito preocupadas e mal conseguimos dormir sem saber c
— Agradeço pelo chá, Vossa Majestade, não desejo participar mais dos próximos assuntos, peço a licença para me retirar, pois necessito voltar a Neveri e levar as boas novas a Olívia, para que se tranquilize. Meu filho, levarei a carruagem, imagino que não se importe em voltar com seu cavalo? — Não me importo, minha mãe. Podes ir, ficarei mais tempo, pois ainda tenho alguns assuntos importantes para tratar por aqui. — Estou pensando quais seriam esses assuntos caro, Theodore. Posso imaginar, mas não consigo entendê-los. Fique à vontade, Rainha Eugênia, e saiba que apesar de tudo será sempre bem-vinda ao nosso castelo. — Grata, Vossa Majestade! Com licença, meus queridos, e tratem-se bem. Tentem resolver o que precisarem com educação, pelo menos. Em memória e honra de seus antepassados e pelos acontecimentos que estão nos ensinando que tudo é capaz de mudar.A Rainha Eugênia saiu após a despedida e parecia sincera. Foi possível perceber seu cansaço com tudo aquilo. A e
RAINHA EUGÊNIA O sentimento em saber que meu neto estava bem era, naquele momento, maior do que qualquer desejo de vingança que pudesse existir. Deixei Theodore em Minsk e ordenei ao cocheiro que me levasse de volta a Neveri, precisava contar à Olivia o que tinha acabado de descobrir: que Anthony e Felícia estavam bem e tinham mandado notícias. O que eles não sabiam é que eu estava em vantagem nas informações. Serafim não tinha nos contado todos os detalhes, porém ele nem poderia imaginar, que havia uma informante infiltrada. Uma das damas de companhia do castelo tinha trabalhado comigo também e agora servia a eles, sob minha supervisão. Quando os deixei conversando procurei-a e ela discretamente me deu a informação mais valiosa de todas: que eles estavam na nova propriedade de Malena. Foram até ela pedir abrigo e estavam vivendo lá até que se estabelecessem. A informação dada foi completa, com as coordenadas de onde ficava o local. Procurei Olívia quando cheguei a Neveri.
THEODORE Ao voltar para Neveri, meus pensamentos estavam todos na lembrança de meu irmão Estevam e do que ele passou antes de decretar uma guerra. Lá estava eu, agora, fazendo o mesmo e, assim como ele — apesar de estar nutrido pelo sentimento de vingança — , no fundo desejava que não fosse preciso chegar a tal ponto. Porém, já tínhamos ido longe demais. Desde a derrota e a morte de Estevam, plantei em meu coração um ódio que foi capaz de prevalecer até agora. Minha mãe, apesar de relutar um pouco no princípio, concordou com meus planos e quando Olívia entrou para a família compartilhamos tudo com ela, que nos ajudou a criar nosso filho desde o começo sabendo quem eram nossos inimigos e a quem deveria temer. Só não esperava que o destino fosse tão cruel, afastando meu único herdeiro por conta de um amor proibido. Não poderia imaginar que Anthony se apaixonaria por uma das herdeiras do reino inimigo. Agora teria que conviver com esse fato, não havia solução.Fui recebido
— Rainha Eugênia, fiquei muito surpresa ao descobrir sobre esse desejo de vingança de vossa família. Entendo todo o sofrimento que passaram com a guerra e a perda de Estevam, no entanto lembre-se que na época foi ele quem entendeu tudo errado e não quis um acordo. Estava disposta a fazer uma grande concessão, a dividirmos melhor as terras, porém nada do que eu dizia parecia conformá-lo. Infelizmente, o culpado por tudo o que aconteceu foi ele mesmo. Nós também perdemos muito e lamentamos até hoje, contudo nunca pensamos em nos vingar e deixamos o que aconteceu no passado, enterrado junto com nossos mortos. — Querida Malena, hoje vejo que tens razão e admito que sempre teve. Fomos muito imprudentes e teimosos. A culpa de todo o acontecido foi nossa mesmo, mas não conseguimos enxergar. Precisou esses dois se unirem e mostrarem para nós o quanto o destino pode transformar nossas vidas. Eles estão trazendo a paz de volta. — Será mesmo, Vossa Majestade? A senhora realmente acredi