RAINHA EUGÊNIA O sentimento em saber que meu neto estava bem era, naquele momento, maior do que qualquer desejo de vingança que pudesse existir. Deixei Theodore em Minsk e ordenei ao cocheiro que me levasse de volta a Neveri, precisava contar à Olivia o que tinha acabado de descobrir: que Anthony e Felícia estavam bem e tinham mandado notícias. O que eles não sabiam é que eu estava em vantagem nas informações. Serafim não tinha nos contado todos os detalhes, porém ele nem poderia imaginar, que havia uma informante infiltrada. Uma das damas de companhia do castelo tinha trabalhado comigo também e agora servia a eles, sob minha supervisão. Quando os deixei conversando procurei-a e ela discretamente me deu a informação mais valiosa de todas: que eles estavam na nova propriedade de Malena. Foram até ela pedir abrigo e estavam vivendo lá até que se estabelecessem. A informação dada foi completa, com as coordenadas de onde ficava o local. Procurei Olívia quando cheguei a Neveri.
THEODORE Ao voltar para Neveri, meus pensamentos estavam todos na lembrança de meu irmão Estevam e do que ele passou antes de decretar uma guerra. Lá estava eu, agora, fazendo o mesmo e, assim como ele — apesar de estar nutrido pelo sentimento de vingança — , no fundo desejava que não fosse preciso chegar a tal ponto. Porém, já tínhamos ido longe demais. Desde a derrota e a morte de Estevam, plantei em meu coração um ódio que foi capaz de prevalecer até agora. Minha mãe, apesar de relutar um pouco no princípio, concordou com meus planos e quando Olívia entrou para a família compartilhamos tudo com ela, que nos ajudou a criar nosso filho desde o começo sabendo quem eram nossos inimigos e a quem deveria temer. Só não esperava que o destino fosse tão cruel, afastando meu único herdeiro por conta de um amor proibido. Não poderia imaginar que Anthony se apaixonaria por uma das herdeiras do reino inimigo. Agora teria que conviver com esse fato, não havia solução.Fui recebido
— Rainha Eugênia, fiquei muito surpresa ao descobrir sobre esse desejo de vingança de vossa família. Entendo todo o sofrimento que passaram com a guerra e a perda de Estevam, no entanto lembre-se que na época foi ele quem entendeu tudo errado e não quis um acordo. Estava disposta a fazer uma grande concessão, a dividirmos melhor as terras, porém nada do que eu dizia parecia conformá-lo. Infelizmente, o culpado por tudo o que aconteceu foi ele mesmo. Nós também perdemos muito e lamentamos até hoje, contudo nunca pensamos em nos vingar e deixamos o que aconteceu no passado, enterrado junto com nossos mortos. — Querida Malena, hoje vejo que tens razão e admito que sempre teve. Fomos muito imprudentes e teimosos. A culpa de todo o acontecido foi nossa mesmo, mas não conseguimos enxergar. Precisou esses dois se unirem e mostrarem para nós o quanto o destino pode transformar nossas vidas. Eles estão trazendo a paz de volta. — Será mesmo, Vossa Majestade? A senhora realmente acredi
Henry mandou chamar o curandeiro da vila próxima para me examinar e descobrir o que eu tinha. Minha sogra alertou-me que estava desconfiada do que seria, mas não queria dizer, enquanto não tivesse certeza. Após muitas perguntas e exames do curandeiro, fiquei surpreendida com a notícia. — A senhora está esperando um bebê! — afirmou ele. Não sabia se ria ou se chorava. Ao entrar no quarto, Anthony e os demais, surpreenderam-se também com a novidade. Todos pareciam felizes e meu amado esposo começou a chorar feito uma criança, abraçando e afagando meu ventre. — Era exatamente essa a minha desconfiança, meus queridos, pois tive os mesmos sintomas quando descobri que esperava Anthony. Que alegria em saber que serei avó! Oh! Meu Deus! Serei avó! Mal posso acreditar nisso. — Eu é que não posso acreditar, serei bisavó com muito orgulho e felicidade. — Rainha Eugênia também demonstrava muito felicidade. — Bem, posso dizer que também serei avó, afinal madrinha também
SERAFIM Havia chegado a hora e nada doía mais em meu coração do que ter que colocar nossos soldados em um acampamento, aguardando o momento de guerrear. Ficaríamos em guarda, esperando um ataque para nos defender. Estaríamos em um campo de batalha. Foi inevitável não pensar no meu pai. Se estivesse vivo, seria meu principal cavaleiro. Estaria ali ao meu lado, dando-me o apoio que necessitava. Estava treinado e preparado para aquele momento, mas não desejava passar por ele. — Meu caro Elmos, enfim, teremos que sair para lutar. Não estou satisfeito por esse dia ter chegado, porém agora não há nada mais que possa ser feito! — Infelizmente, não há mesmo, Vossa Majestade! Siga em frente, sabes o que está fazendo, confio em Vosso discernimento e Vossa sabedoria. Foi muito bem treinado para isso! — Agradeço pela força, caro amigo! Vou tranquilo, pois sei que estarás aqui, por mim, cuidando de tudo! — Estarei sim! Por Vossa Majestade e Vossa família! Que a sor
MALENA A mensagem veio no início da noite e trouxe com ela a tristeza e tensão que não experimentamos há um bom tempo. Estava decretada a guerra. Aquele momento que esperava nunca mais ter de presenciar iria mais uma vez acontecer. Temia por todos que aguardavam no acampamento. Recordo-me de como foi no passado, da tristeza dos preparativos para aquela ocasião e foi inevitável não pensar em Aron. Uma saudade dilacerante cortou meu coração e a imagem de sua morte e de suas últimas palavras vieram à tona de forma clara, como se estivesse vivenciando tudo novamente. Doeu também a certeza de Serafim estar à frente da batalha, afinal, havia seguido a tradição dos Reis de Minsk e se tornou um guerreiro, treinado por mim a pedido de seu pai. Como ele poderia não lutar? Como eu poderia sobreviver se algo de ruim acontecesse com ele nessa batalha? Se iríamos vencer novamente, não poderia ter certeza. Mas sabia de sua competência e sei que ele faria todo o possível e o impossível
— Talvez você esteja certa, meu amor! Ainda não falamos com ele. Meu pai nem a conhece direito e também não sabe que teremos um bebê, ele ainda não sabe que será avô. — Você acredita que isso o fará mudar de ideia, Anthony? — Talvez sim, minha mãe! Acredito que vale a pena tentar. — Acredito também! — concordei com Anthony. Enquanto eles discutiam se seria mesmo uma boa ideia, fiquei pensando que talvez desse certo e concordei que valia a pena tentar. Percebi também, pela atitude de Felícia, que nada do que falássemos a ela mudaria sua ideia e que ela iria até o fim naquela última tentativa de impedir a guerra para unir nossas famílias. — Mas minha filha, você está grávida. Não estás pensando nesse bebê que carrega em seu ventre e de como isso tudo pode afetá-lo? — Estou pensando nele, sim, minha mãe, somente nele. Como será o seu futuro, sabendo que seu avô quis se vingar de nós, devido a acontecimentos do passado e acabou causando uma guerra? O
MALENA Quando foi possível avistar, no horizonte, as montanhas que separavam os dois reinos, outro dia já estava partindo. O sol escondia-se por trás daqueles morros imponentes de terra e verde. Havia uma clareira à nossa frente, pela qual teríamos que passar para chegar a Neveri. Foi surpreendente o que vimos dali de onde nos encontrávamos. Era possível visualizar os dois acampamentos, entre as divisas. Ambos estavam preparados. De um lado, estavam prestes a atacar e do outro se preparavam para a defesa. Um arrepio percorreu todo meu corpo. Fantasmas do passado pareciam ganhar vida novamente, trazendo recordações de um momento triste e perturbador. Senti um vento estranho e uma voz sussurrando em meu ouvido direito. “Vá, a vitória está contigo.” Reconheci no mesmo instante de quem era aquela voz, mas mesmo sem acreditar, virei para Henry e perguntei: — O que dissestes? — Como assim? Não disse nada! Você está bem, Malena? — Sim, estou! — foi a única coisa que c