— Fugir! Como assim, fugir? Abandonar tudo e vivermos juntos em outro lugar, longe disso tudo e sem nos casarmos?— Se insistirmos em ficar e lutar contra eles, provavelmente não haverá casamento algum. Minha família não permitirá! Nossa única solução é fugirmos e casarmos escondido. Devemos fazer isso antes que eles percebam alguma resistência minha. Resolvi fingir que concordo e que estou do lado deles. Percebi que não adiantava protestar e lutar contra, eles não me ouvem. Só assim entendi que não há alternativa para ficarmos juntos que não seja essa.— Não sei, Anthony! Claro que a ideia de me casar logo com você é maravilhosa, mas fugir e casar às escondidas, longe de todos? Não foi exatamente isso que sempre sonhei! Além do mais, estarei traindo minha família que não tem culpa nenhuma do que está acontecendo porque é a favor da nossa união. Isso tudo me deixa muito confusa.— Sei disso, minha querida! Pense apenas no nosso amor e em como minha família vai contaminar a sua e fazer
SERAFIM Devia estar bem cedo na sala de reuniões para me encontrar com meus conselheiros que me aguardavam para nossa reunião matinal. Dessa vez, a reunião não tinha nada de habitual, pois tínhamos assuntos urgentes para resolver: um conflito estava surgindo com o reino vizinho, o reino de Neveri, que após muitos anos adormecido, retornava para nossas vidas. Foi com uma imensa surpresa que me deparei com os acontecimentos que me traziam um grande desgosto e muita culpa por não ter percebido antes. A maior surpresa foi descobrir que minha querida prima Felícia, a quem estimava muito e desejava toda a felicidade, havia fugido e deixado apenas uma carta, dizendo estar partindo com seu amor em busca da paz que não encontrariam aqui em um breve futuro. Permaneci atônito por alguns minutos, tentando entender tudo o que estava acontecendo. Segundo a mensagem, a família de Anthony estava contra nós e planejava uma vingança desde que Estevam morreu em batalha pelas mãos de meu pai Ar
Ficamos horas e horas discutindo na sala do Conselho e tudo nos levava a caminho da guerra, mesmo buscando a paz e não vendo nenhum sentido para retomarmos aquela briga do passado que deixou tantas marcas, inclusive em mim mesmo, pois perdi aquele que seria meu grande exemplo. Não tive momentos com meu pai e nem a chance de ter sua companhia. Era muito pequeno quando tudo aconteceu e tenho apenas vagas lembranças de tudo. Às vezes, algum cheiro me faz lembrar um instante que devia estar guardado comigo. Minha mãe nunca me deixou esquecê-lo, sempre contava sobre como eles se conheceram, do casamento dos dois, da vida que compartilhavam no castelo, do trabalho de meu pai como cavaleiro e da amizade com minha madrinha Malena. Apesar de não ter vivido cada um desses dias, uma boa parte daquelas lembranças estavam vivas dentro de mim, meu pai estava vivo ali. Pensando bem, essa vingança que o Rei Theodore cultuava por nós deveria ser minha, pois qual pode ser a maior perda do que a d
MALENA Surpresas aparecem em nossas vidas de várias maneiras. A maneira como a vida me surpreendeu foi colocando aquele homem em meu caminho. Eu, que julgava nunca mais amar de novo, estava ali encantada com aquele sentimento. Devido a todos os preparativos para a cerimônia de meu casamento com Henry, não consegui dimensionar o quanto minha vida estava mudando. Nossa cerimônia foi bela como sempre havia imaginado e apesar de em meus pensamentos e desejos sempre haver outra pessoa compartilhando o altar comigo, senti-me bem com a mudança. Como se, na verdade, aquele lugar sempre houvesse pertencido a Henry e sonhar com Aron foi apenas uma ilusão. Agora, estava vivendo a realidade plena e entregue a todas as sensações que ela me trazia. Dançamos tanto durante o baile que pensei que nunca mais sentiria meus pés, porém a alegria era tanta que nada mais importava, somente viver aquele momento e compartilhar daquela felicidade com meu amado e meus entes queridos. A única t
— Sim, madrinha. Essa é a triste situação entre nossas famílias e entre os nossos reinos. — Me desculpo, desde já, por eles e garanto-lhe que não estou de acordo com nada disso e que apesar de ter sido nutrido desde pequeno por esse desejo de vingança já o esqueci ao conhecer e me apaixonar por Felícia. — Nunca duvidei de seus sentimentos, meu querido, e o recebo em nossa família com muito orgulho e satisfação. Poderia dizer alegria também, contudo imagino que ela somente estará completa quando tudo isso estiver esclarecido entre nossas famílias para que a paz volte a reinar, ou devo dizer, para que enfim ela reine, pois a paz que parecia existir era apenas uma ilusão de nossa parte. — Infelizmente, sim! Apenas uma ilusão plantada por minha família e lamento muito por isso. — Obrigada, Anthony querido! Agora que faz parte da família, tenho certeza de que ganhei mais um filho de coração. — Me sinto lisonjeado por isso e quem deve agradecer sou eu por tamanh
Após o desjejum conversamos com nossos hóspedes sobre a possibilidade daquela visita estender-se e eles ficarem morando conosco e nos ajudando em nossa propriedade. Felícia ficou encantada com a possibilidade e, como previa, Anthony ficou incomodado com a situação. — Não queremos causar a vocês nenhum transtorno. Entendo que nos queiram por perto, contudo não sei se devemos permanecer aqui por muito tempo. Queremos viver por nossa conta e aprender a sobreviver com nosso trabalho. Pode parecer impossível para nós que nunca passamos por nenhuma necessidade e sempre tivemos tudo o que precisávamos, mas é um grande desafio a ser vencido! — Entendo, meu querido, no entanto aceite a nossa proposta de trabalhar por um tempo em nossas terras. Henry estava mesmo procurando alguém para nos ajudar e de qualquer forma se não for você teremos que contratar outra pessoa. Fiquem, por favor, pelo menos por um tempo. Depois disso vocês podem partir e seguir a vida que desejam. — Meu
Esperávamos naquela tarde a visita de nosso então inimigo, Rei Theodore, e sua mãe, Rainha Eugênia. Haviam enviado junto ao mensageiro o comunicado de sua vinda, que seria para tentarmos um acordo sobre os “erros” do passado, assim dizia a mensagem que recebemos. Chegaram na hora combinada e, como aprendi com minha Rainha, fui cordial e os recebi primeiramente na sala de chás, a mesa posta em um aconchegante e farto banquete. — Fico honrado em receber vossa família, afinal agora podemos dizer que somos uma só, uma única família, não é mesmo? — Apesar da cordialidade, minhas felicitações soaram um pouco irônicas. — Não entendo o que diz, Rei Serafim. Se estiver se referindo aos nossos filhos, saiba que não aprovo essa união, ainda mais por estarem fugidos e vivendo em pecado. — Pois fiz questão de vir, mesmo contra a vontade de meu filho, para saber se tens notícias de meu neto. Sua mãe Olívia e eu estamos muito preocupadas e mal conseguimos dormir sem saber c
— Agradeço pelo chá, Vossa Majestade, não desejo participar mais dos próximos assuntos, peço a licença para me retirar, pois necessito voltar a Neveri e levar as boas novas a Olívia, para que se tranquilize. Meu filho, levarei a carruagem, imagino que não se importe em voltar com seu cavalo? — Não me importo, minha mãe. Podes ir, ficarei mais tempo, pois ainda tenho alguns assuntos importantes para tratar por aqui. — Estou pensando quais seriam esses assuntos caro, Theodore. Posso imaginar, mas não consigo entendê-los. Fique à vontade, Rainha Eugênia, e saiba que apesar de tudo será sempre bem-vinda ao nosso castelo. — Grata, Vossa Majestade! Com licença, meus queridos, e tratem-se bem. Tentem resolver o que precisarem com educação, pelo menos. Em memória e honra de seus antepassados e pelos acontecimentos que estão nos ensinando que tudo é capaz de mudar.A Rainha Eugênia saiu após a despedida e parecia sincera. Foi possível perceber seu cansaço com tudo aquilo. A e